Os especialistas políticos recorrentemente nos lembram sobre a importância dos primeiros cem dias de um governo eleito.
Nesta “lua de mel” eleitoral, o recém-empossado governante carrega para seu mandato o prestígio amealhado durante a campanha vencedora.
Trazendo a boa vontade da sociedade, o novo governante aproveita seu começo no cargo para emplacar apoios e divulgar medidas de impacto, dando o tom de como será a sua administração.
Com Lula se aproximando de completar a marca dos primeiros cem dias de governo, me impressiona o desperdício que o presidente tratou esse valioso período do seu mandato.
Embora o atual presidente nunca tenha sido um exemplo de organização, Lula conseguiu em seus mandatos anteriores coordenar com habilidade as diferentes forças políticas, atingindo níveis elevados de popularidade.
Dentro do seu estilo aparentemente caótico, Lula lograva resultados, angariando a fama de fazedor.
Sua reputação atravessava fronteiras, tendo sido reconhecido como “o cara” por nada menos que Barack Obama.
Durante a campanha presidencial e, mesmo após a eleição, debatemos à exaustão como seria o Lula presidente caso fosse eleito. Na vã tentativa de anteciparmos o futuro, criamos as duas caixinhas, Lula I e Lula II, como se houvesse a possibilidade de apenas duas versões de uma pessoa, ainda mais de um político.
Frustrando a muitos, o Lula atual tem mostrado fraquezas inesperadas, trazendo mais incertezas ao futuro do País, especialmente para nossa economia.
Lula parece ter perdido aquela capacidade de dominar o jogo político, tornando-se refém de cansadas narrativas de sua base de apoio, sobre a qual sempre exerceu total domínio.
Em vez de tentar ampliar seu leque de sustentação, Lula busca exclusivamente agradar os já convertidos, tendo devotado seu início de governo a lacrações e fanfarronices que parecem dedicadas a fornecer material aos seus apoiadores mais incondicionais.
Mesmo os seus críticos mais ferrenhos reconheciam em Lula um gênio da articulação. Como um grande mestre do xadrez político, Lula parecia antecipar as jogadas dos adversários, demonstrando total domínio do tabuleiro.
Muito diferente do Lula fatigado, confuso e, talvez senil, que temos visto. A própria disputa que emergiu esta semana entre os chefes das duas casas do legislativo aparece como demonstração da falta da devida atuação política do líder do executivo.
Deve-se registrar também a inacreditável e desgastante sequência de tropeços cometidos pelo presidente ao comentar sua relação com Sergio Moro, mostrando uma falta de habilidade política que não condiz com o currículo de Lula.
Lula também parece perdido na coordenação das ações dos seus próprios ministros, com cada um sentindo-se autônomo para divulgar seus planos, por mais heterodoxos que sejam.
Por fim, vemos uma participação, para não dizer intromissão, desproporcional da primeira-dama no dia a dia de Lula. Ao criticar o Banco Central, o presidente sempre relembra que Roberto Campos não foi eleito pelo povo. Da mesma forma, não me recordo de termos escolhido Janja para a virtual copresidência da República.
Como toda essa confusão, não há como se surpreender com o atual momento do mercado, com a nossa Bolsa figurando entre as piores do mundo.
O Ibovespa perdeu seus 100 mil pontos nesta quinta-feira, quando o mercado pareceu jogar a toalha apesar dos níveis atuais de preços das ações já estarem extremamente depreciados.
Por pior que fosse a nossa expectativa para um governo do PT com Lula no comando, começa a tomar contorno um cenário ainda pior: um governo do PT sem Lula no comando.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço.