Como dizem que o ano só começa depois do Carnaval, finalmente podemos ir à luta.
Passado o curto reinado de Momo, que neste ano felizmente foi já em fevereiro, nada mais resta ao brasileiro do que encarar o desafio deste “restinho” de ano.
Por aqui, nos tristes trópicos, seguimos rigorosamente na mesma toada que encerramos 2023.
Como o tempo é contínuo, as convenções do ano-calendário não passam de ser somente isso, convenções.
Assim, viramos o ano mas não viramos a página.
O ponto de atenção segue sendo o fiscal, dada a baixa convicção do partido do atual governo nos benefícios de uma gestão prudente das finanças públicas.
Apesar disso, o Ministro Haddad, o dono do cofre, segue tendo êxito no seu trabalho de equilibrista.
Jeitoso, parece ter encontrado o tom certo para conduzir o samba das finanças do País.
Quando todos davam como certo o estouro dos limites previstos pelo recém-aprovado arcabouço fiscal já em seu primeiro ano, os últimos dados da arrecadação parecem indicar um futuro mais promissor do que o previsto.
Por sinal, impressiona a calmaria nos mercados brasileiros.
Se de um lado a nossa Bolsa não sobe, por outro, tanto câmbio como juros têm tido menor volatilidade do que nos mercados desenvolvidos.
A contumaz cacofonia de Brasília parece ter afinado, dando um pouco de paz para o resto do país trabalhar.
Curiosamente, é justamente do chefe do Executivo e seus improvisados comentários, que recebemos razões para volatilidade, tanto nos mercados como na política.
A absurda declaração de Lula comparando a guerra em Gaza com o Holocausto foi apenas a última de uma longa série de pronunciamentos cujos princípios mais básicos da racionalidade escapam à lógica.
Lula parece deslocado no seu próprio governo. Desde seu início, observamos uma progressiva diminuição de comentários infelizes por parte dos membros do governo e de sua base de apoio.
A guerra armada contra Roberto Campos Neto e sua condução da política monetária, somente para dar um exemplo, simplesmente evaporou, juntando-se a outros retrocessos ensaiados e descartados.
Revogação da reforma trabalhista, revisão do marco legal do saneamento, reversão da privatização da Eletrobrás. Esses e outros temas que nos assombraram na primeira metade do ano passado felizmente foram esquecidos ou, pelo menos, deixaram de ser mencionados.
Além de um clima institucional mais ameno, contribui também para a calmaria a melhora estrutural em nossas contas externas.
O superávit comercial deste ano deve ser próximo ao nível recorde do ano passado, quando registrou cerca de 100 bilhões de dólares. A enxurrada de divisas externas proveniente do comércio exterior deve quase zerar nosso déficit em conta corrente, feito não atingido desde o primeiro mandato de Lula.
Por falar em exterior, dado que os gringos não têm Carnaval, o ano por lá já está na sexta marcha.
Por lá, o tema principal segue sendo a política monetária, com todos tentando interpretar os sinais mandados pelo Fed sobre sua intenção de quando iniciar o afrouxo nos juros.
Os números de inflação já divulgados neste ano tiraram a confiança em um corte iminente. Como resposta, a curva de juros americana vem subindo desde a virada do ano.
Outro tema que vem ganhando cada vez mais importância parece ser mesmo o advento da Inteligência Artificial, como os espetaculares resultados da Nvidia indicando que o futuro parece ter definitivamente chegado.
Na junção desses temas, a combinação de juros ainda altos na renda fixa com a perspectiva de ganhos importantes na renda variável tem atraído os fluxos de capital do mundo, e daqui, de volta para os Estados Unidos.
O carnaval das techs americanas segue animado, com valorizações cada vez mais impressionantes, e o Brasil fica apenas observando de longe, vendo a banda passar.
Sem razões para sustos, dada a relativa calmaria doméstica, tampouco há muito para se animar por aqui.
Acho que o ano só vai começar mesmo depois da Páscoa.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Boa leitura e um abraço,
Abraços.