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Sem chance de vitória

Em uma missão de treinamento, a nave aproxima-se de uma zona neutra, território de entrada proibida a um veículo militar.

A jovem capitã aplica serenamente os conhecimentos recém-adquiridos na academia, orientando a execução de uma rota parabólica tendo a zona neutra como referência à trajetória.

Por Caio Mesquita

11 out 2021, 17:14

Em uma missão de treinamento, a nave aproxima-se de uma zona neutra, território de entrada proibida a um veículo militar.

A jovem capitã aplica serenamente os conhecimentos recém-adquiridos na academia, orientando a execução de uma rota parabólica tendo a zona neutra como referência à trajetória.

Os experientes oficiais da ponte de comando, veteranos de inúmeras expedições, executam a manobra com precisão, deslizando a nave na direção planejada.

De repente, a tranquilidade é abruptamente interrompida. A oficial responsável pela comunicação reporta o recebimento de sinais de perigo. A pedido da capitã, o sinal é imediatamente colocado no viva-voz.

Apesar da baixa qualidade do sinal, não há dúvida de que se trata de um pedido de socorro urgente. Em meio a bastante interferência, é possível entender que se trata de um problema grave envolvendo uma embarcação civil.

Sob claro estresse, o interlocutor consegue reportar sua localização. Familiarizada com a área, a capitã indica o local como dentro da zona neutra.

Enquanto isso, o computador de bordo processa a identificação do objeto. São mais de 380 vidas a bordo, entre tripulação e passageiros.

Serena até este momento, a capitã sussurra para si mesma uma palavra de frustração. Segundos depois, recuperando rapidamente a postura, ordena a efetivação do resgate.

Depois de alertarem para os riscos do resgate, os oficiais da ponte redirecionam a nave e rapidamente entram na zona neutra.

A tensão aumenta drasticamente como se a tripulação já antecipasse o que estava para acontecer.

Instantes depois, a voz metálica do computador de bordo aponta para a aproximação de naves inimigas. São três, como mostra o monitor principal. 

Após frustradas tentativas de comunicação com os adversários, resta pouco a se fazer a não ser levantar os escudos de proteção contra o ataque iminente.

Numa última tentativa de evitar o pior, a jovem capitã ordena a fuga imediata. Infelizmente, é tarde demais e torpedos inimigos furam os escudos de proteção e atingem a ponte de comando.

Os ataques são devastadores, atingindo mortalmente a tripulação. Em segundos, todos os oficiais perdem a vida, com exceção da capitã, que, desolada, contempla o macabro cenário.

A cena de destruição é interrompida repentinamente pela entrada de um oficial de alta patente. A luz acende e os oficiais, os mesmos que pareciam mortos instantes antes, levantam-se e cumprimentam a chegada do almirante com um leve sorriso.

E assim se encerrou a tentativa de resgate do Kobayashi Maru, a prova de treinamento para jovens oficiais da legendária série de ficção científica “Star Trek”, apresentada nas cenas iniciais do filme de 1982, “Star Trek 2 – A Ira de Khan”.

Caso queira assistir à cena, protagonizada pela bela vulcana Kirstie Alley, clique aqui.

A maravilhosa série fascinou minha infância e juventude. Entre suas inúmeras qualidades, “Jornada nas Estrelas”, como ficou conhecida por aqui, tinha a capacidade de apresentar com naturalidade situações e temas da condição humana, sem perder o dinamismo da ficção científica.

Voltando ao Kobayashi Maru, o episódio traz um cenário sem chance de vitória, “no-win scenario”. A ideia é observar como os jovens oficiais reagiriam dentro deste contexto, avaliando sua capacidade de decisão.

Capitão James T. Kirk, meu ídolo de infância

No posto de comando do Banco Central, Roberto Campos Neto busca resgatar seu Kobayashi Maru, domando a inflação, que, impertinentemente, segue subindo.  

Ao elevar juros, o Bacen faz o que tem que ser feito. Assim como a jovem capitã entendeu que não podia dar as costas a um navio com centenas de vidas em perigo, a autoridade monetária sabe que precisa agir para conter a inflação. O descontrole de preços é cruel, especialmente para as faixas mais carentes da população.

Por outro lado, a economia mostra sinais incômodos de frouxidão, haja vista os recentes números fracos do varejo, divulgados nesta semana. Subir juros é entrar na zona neutra onde terríveis klingons armam a emboscada. 

Na série, o único que conseguiu superar o desafio do Kobayashi Maru foi o próprio Capitão Kirk, cuja estratégia passou pela reprogramação do próprio desafio.

Esperamos que o nosso Roberto Campos, por sinal com boa pinta para o papel, também tenha sucesso na sua missão de resgate da nossa economia.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus