“Just when I thought I was out, they pull me back in.”
“Quando pensei que estava fora, eles me puxaram de volta.”
O frustrado Michael Corleone reconheceu, na terceira parte de O Poderoso Chefão, que todos os seus esforços para se livrar da vida de gangster teriam sido em vão.
Sem saída para Michael Corleone
Assim como o caçula de Don Vito, tento me afastar também mas, no meu caso, o escape pretendido é do nosso pavoroso noticiário político.
Como liberal que sou, ciente de que somente o setor privado cria valor, costumo manter distância do burburinho de Brasília.
Ano de eleição presidencial, porém, não há como evitar algum tipo de acompanhamento da disputa para quem vai chefiar o Poder Executivo nos próximos quatro anos.
Respirei aliviado ao fim de outubro, menos pelo o resultado final e mais pela expectativa de colocar os temas políticos no seu devido e secundário lugar.
Ledo engano.
Diferente de eleições anteriores, a volatilidade nos mercados tem sido maior depois do que antes da votação.
De fato, as primeiras sinalizações do novo governo têm frustrado, e muito, aqueles que esperavam a reedição do primeiro mandato do presidente eleito, o chamado Lula I.
A sequência de notícias ruins teve seu clímax na última terça-feira, quando Lula anunciou, de forma provocadora, Aloizio Mercadante como novo presidente do BNDES. Para completar, descobrimos, na manhã de quarta, que a Câmara dos Deputados atropelou a Lei das Estatais, abrindo espaço para que o petista assumisse o comando do banco de desenvolvimento.
Em vez de se dedicar a pavimentar de forma responsável o seu governo, Lula parece seguir em campanha, jogando exclusivamente para sua plateia de apoiadores.
Enquanto escrevo esta newsletter, leio que Lula aproveitou sua visita a um evento de catadores de lixo para detonar, mais uma vez, a necessidade de equilíbrio fiscal. Abusando de sua verve populista, o presidente eleito afirmou que não se pode cuidar dos pobres “se só ficar olhando para orçamento e questão fiscal”.
Neste cenário desolador, confesso ter sido positivamente surpreendido por Fernando Haddad, o futuro ministro da Fazenda, que vem mostrando um discurso mais alinhado com o que se espera de alguém com tamanha responsabilidade.
Diferente do seu futuro chefe, Haddad tem reconhecido que desequilíbrios fiscais comprometem a capacidade do Governo de apoiar programas sociais e afirmou que “Estado forte não é Estado grande, não é Estado que sai torrando”.
Apesar de ainda termos que aguardar os demais nomes de sua equipe, Haddad, pelo menos por enquanto, é o único ponto positivo neste péssimo pré-governo.
A maneira violenta com que os mercados reagiram nas semanas recentes, com centenas de bilhões de reais sendo evaporados dos mercados de títulos e ações (somente a Petrobras perdeu mais de 200 bilhões de reais em valor de mercado), demonstra o peso do Governo e da política na economia e em nossos investimentos.
Por mais que queiramos nos concentrar nos chamados aspectos micro, a importância dos aspectos macro é demasiado grande para serem ignorados no Brasil.
E assim, com os políticos brasileiros, quando pensamos que estamos fora, eles nos puxam de volta.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura.