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Sem saída

“O frustrado Michael Corleone reconheceu, na terceira parte de O Poderoso Chefão […]”.

Por Caio Mesquita

19 dez 2022, 09:37 - atualizado em 19 dez 2022, 09:39

Imagem: Freepik

“Just when I thought I was out, they pull me back in.”
“Quando pensei que estava fora, eles me puxaram de volta.”
O frustrado Michael Corleone reconheceu, na terceira parte de O Poderoso Chefão, que todos os seus esforços para se livrar da vida de gangster teriam sido em vão.

Sem saída para Michael Corleone

Assim como o caçula de Don Vito, tento me afastar também mas, no meu caso, o escape pretendido é do nosso pavoroso noticiário político.

Como liberal que sou, ciente de que somente o setor privado cria valor, costumo manter distância do burburinho de Brasília.

Ano de eleição presidencial, porém, não há como evitar algum tipo de acompanhamento da disputa para quem vai chefiar o Poder Executivo nos próximos quatro anos.

Respirei aliviado ao fim de outubro, menos pelo o resultado final e mais pela expectativa de colocar os temas políticos no seu devido e secundário lugar.

Ledo engano.

Diferente de eleições anteriores, a volatilidade nos mercados tem sido maior depois do que antes da votação.

De fato, as primeiras sinalizações do novo governo têm frustrado, e muito, aqueles que esperavam a reedição do primeiro mandato do presidente eleito, o chamado Lula I.

A sequência de notícias ruins teve seu clímax na última terça-feira, quando Lula anunciou, de forma provocadora, Aloizio Mercadante como novo presidente do BNDES. Para completar, descobrimos, na manhã de quarta, que a Câmara dos Deputados atropelou a Lei das Estatais, abrindo espaço para que o petista assumisse o comando do banco de desenvolvimento.

Em vez de se dedicar a pavimentar de forma responsável o seu governo, Lula parece seguir em campanha, jogando exclusivamente para sua plateia de apoiadores.

Enquanto escrevo esta newsletter, leio que Lula aproveitou sua visita a um evento de catadores de lixo para detonar, mais uma vez, a necessidade de equilíbrio fiscal. Abusando de sua verve populista, o presidente eleito afirmou que não se pode cuidar dos pobres “se só ficar olhando para orçamento e questão fiscal”.

Neste cenário desolador, confesso ter sido positivamente surpreendido por Fernando Haddad, o futuro ministro da Fazenda, que vem mostrando um discurso mais alinhado com o que se espera de alguém com tamanha responsabilidade.

Diferente do seu futuro chefe, Haddad tem reconhecido que desequilíbrios fiscais comprometem a capacidade do Governo de apoiar programas sociais e afirmou que “Estado forte não é Estado grande, não é Estado que sai torrando”.

Apesar de ainda termos que aguardar os demais nomes de sua equipe, Haddad, pelo menos por enquanto, é o único ponto positivo neste péssimo pré-governo.

A maneira violenta com que os mercados reagiram nas semanas recentes, com centenas de bilhões de reais sendo evaporados dos mercados de títulos e ações (somente a Petrobras perdeu mais de 200 bilhões de reais em valor de mercado), demonstra o peso do Governo e da política na economia e em nossos investimentos.

Por mais que queiramos nos concentrar nos chamados aspectos micro, a importância dos aspectos macro é demasiado grande para serem ignorados no Brasil.

E assim, com os políticos brasileiros, quando pensamos que estamos fora, eles nos puxam de volta.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Um abraço e boa leitura.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus