O seu nome é Shohei Ohtani, mas seus fãs o chamam de “Sho-time”.
Exceto se você acompanha de perto o beisebol, provavelmente nunca ouviu falar dele.
Pouco familiar do esporte nacional americano – e de outros países tanto na América Latina como na Ásia –, eu também nunca tinha ouvido falado o nome desse japonês até recentemente.
A fama de Ohtani só transbordou para o mundo quando do anúncio de sua transferência ao tradicional Los Angeles Dodgers no final do ano passado, em um contrato que já tem seu lugar na história do esporte profissional.
Antes de tratarmos do aspecto financeiro deste contrato, cuja estrutura sui-generis de pagamento merece algumas considerações relevantes, vale a pena conhecermos um pouco mais sobre Ohtani e seus atributos únicos como jogador de beisebol.
Com 29 anos, portanto já na fase mais madura de sua carreira, Ohtani já disputa na imaginação dos torcedores o título de GOAT do beisebol, ou seja, “Greatest Of All Time“.
O japonês é frequentemente comparado a Babe Ruth, ídolo do esporte das décadas de 20 e 30 do século passado, cuja fama no esporte equivale à do nosso Pelé.
A comparação é inteiramente justificada já que Ohtani, assim como Ruth, é um dos raríssimos rebatedores no beisebol que também jogam como arremessador, destacando-se nas duas posições.
Especialistas o apontam com potencial para transformar o seu esporte, da mesma forma como Michael Jordan e Tiger Woods levaram suas respectivas modalidades a novos patamares.
Depois de uma premiadíssima carreira em seu país natal, o craque foi transferido em 2018 para outro, e menos famoso, time de Los Angeles, os Angels.
Desde que chegou aos Estados Unidos, Ohtani coleciona prêmios, tendo sido considerado o MVP da Liga Americana em 2021 e em 2023, e recordes.
Com tamanho sucesso, o inevitável aconteceu, e o japonês teve seu talento reconhecido ao final de 2023 na forma do maior salário já previsto em contrato a um atleta profissional, nada menos do que 700 milhões de dólares por um período de dez anos.
Vamos agora entender melhor essa contratação.
Como escrevi acima, o contrato de Ohtani tem uma estrutura peculiar, com os pagamentos descasados da prestação de serviços.
Diferente dos contratos tradicionais de atletas profissionais, em que os valores pagos pelo clube são uniformemente distribuídos pelo prazo contratado, o acerto prevê que os Los Angeles Dodgers desembolsarão a maior parte após o encerramento dos dez anos contratados.
Para ser mais específico, Ohtani receberá apenas 2 milhões de dólares anuais nos 10 anos do seu contrato de trabalho, sendo que os 680 milhões de dólares restantes serão pagos em dez parcelas anuais iguais durante os dez anos subsequentes.
Tal engenharia financeira tem como objetivo principal criar espaço na folha salarial dos Dodgers a fim de manter ou contratar outros talentos que complementariam a atuação do craque japonês.
Do ponto de vista estritamente financeiro, também vale lembrar que, ao empurrar os fluxos para o futuro, o contrato tem um valor menor quando trazido a valor presente. Como não há atualização monetária dos valores e dependendo da taxa de desconto, o real valor do contrato cai para cerca da metade dos 700 milhões de dólares previstos.
Entendo, porém, haver um outro benefício embutido, talvez não propositalmente, mas de qualquer forma válido.
Ao empurrar os fluxos para além do fim do contrato, o acordo de certa forma libera o jogador das distrações que a fortuna pode gerar, especialmente dada a juventude do atleta.
Não é incomum histórias de descontrole financeiro que terminam por arruinar verdadeiras fortunas acumuladas por atletas de destaque.
Um estudo divulgado pela revista especializada Sports Illustrated mostrou 78% dos ex-profissionais da NFL e 60% da NBA pedem falência ou se encontram em estresse financeiro em somente dois anos de aposentadoria.
Os fluxos no final funcionam como uma poupança forçada, garantindo uma estabilidade financeira perene.
É claro que Ohtani disporá de um fluxo financeiro bastante folgado nos 10 primeiros anos do contrato, posto que já é um dos atletas mais disputados por patrocinadores. De qualquer forma, o formato dos pagamentos dos seus salários constituem a um pé de meia de dar inveja a qualquer um.
Deixo você agora com os destaques da semana.
Um abraço e boa leitura.