Depois de um hiato de duas semanas, quando estive de férias com a família, volto aqui ao Empiricus 24/7 e a um mercado mais benigno do que o que tivemos no trimestre passado.
Por mais que goste do meu trabalho, o ajuste à rotina me exige um certo esforço.
Os dias passados integralmente com a família ficam para trás. Agora, na escola, o convívio com os filhos volta a se restringir à correria da manhã e ao encerramento do dia somente.
Felizmente, encontro na minha volta telas com cotações crescentes para os ativos brasileiros, com o Ibovespa firmemente em seu nível histórico mais alto.
E o alívio vai além das bolsas, com o dólar e os juros voltando a patamares mais amenos.
Um novo cenário parece ter emergido em seguida ao “tipping point” de 5 de agosto, quando fortes quedas nas cotações das bolsas internacionais e também nas taxas de juros tangibilizaram um cenário onde uma eventual recessão, e não mais a inflação, seria o risco a ser enfrentado pela economia americana.
Felizmente, o mercado foi gradualmente se acalmando, reduzindo as apostas em um hard landing americano, passando a enxergar um copo meio-cheio, que traria o tão esperado alívio monetário que tanto merecemos.
Como o Felipe havia apontado, ainda naquele agitado 5 de agosto, a correção indicava um cenário que poderia beneficiar o Brasil:
“Se nós fomos um dos mercados mais afetados negativamente quando o juro subiu, deveríamos ser um dos maiores beneficiados quando o juro cair,” diz Felipe Miranda, fundador e estrategista-chefe da Empiricus Research.
“Além disso, quando o investidor decide sair de growth para value, busca todo o resto, inclusive mercados emergentes, inclusive aquilo que ficou muito para trás, como é o caso brasileiro.”
Será então que, de repente, os problemas que pesavam sobre nós, especialmente fiscais, se dissiparam abrindo caminho para que animados investidores voltassem a colocar suas fichas por aqui?
De fato, o próprio governo reconheceu, sob pressão é verdade, o esgotamento do esforço arrecadatório como instrumento único de equilíbrio, trazendo à tona discussões sobre limitações, e até cortes, nos gastos públicos.
A postura do provável novo presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, que vem ativamente defendendo a manutenção da ortodoxia da gestão da política monetária, também tem contribuído para acalmar os ânimos dos investidores.
Se abrirmos, porém, a lente objetiva, temos uma perspectiva melhor do que realmente está afetando a dinâmica do mercado.
O cenário de uma acomodação da economia americana, pavimentando o caminho para o Federal Reserve baixar os juros de forma consistente, ganhou consenso após a chacoalhada de 5 de agosto.
Parece que finalmente teremos o tão esperado pouso suave (soft landing) dos Estados Unidos.
Assim, parafraseando o Felipe, se sofremos tanto com o aperto lá fora nos últimos dois anos e meio, nada mais natural do que nos beneficiarmos de uma política monetária americana mais amena, agora que o pior da inflação parece estar ficando definitivamente para trás.
Vamos torcer para que a volta das férias em Brasília não traga de volta ruídos que terminem por desperdiçar essa boa oportunidade de recuperação, fazendo nos afogar em um copo d’água, como nos lembrou Roberto Sallouti, CEO do Banco BTG Pactual.