O problema da renda variável é que ela varia.
O Felipe sempre nos lembra dessa idiossincrasia desta classe de ativos no seu áudio matutino, “Ideias Antifrágeis”.
Na quinta-feira, chegamos ao nono pregão consecutivo de baixa do Ibovespa, a pior sequência dos últimos 12 meses, e ainda não vimos o índice brasileiro de ações ter uma variação diária positiva desde quando entramos em agosto.
Enquanto escrevo, na sexta de manhã, o índice opera timidamente no campo positivo, abrindo a possibilidade para a quebra desta longa sequência negativa.
Nem o corte na Selic, acima do esperado por alguns agentes de mercado, promovido pelo Banco Central na semana passada foi suficiente para animar as cotações das ações brasileiras.
Após romper os 120 mil pontos, o Ibovespa voltou a ser negociado abaixo desse nível, frustrando aqueles que esperavam que a resistência desse nível passaria a ser suporte para os próximos pregões.
Na mesma direção, nossa moeda tem se desvalorizado contra o dólar nos últimos dias. Após ameaçar romper os R$ 4,70, a moeda americano subiu rapidamente, estabilizando-se acima dos R$ 4,90.
No tripé dos nossos investimentos, somente os juros tiveram bom comportamento em agosto, mantendo a trajetória de queda dos últimos meses.
Voltando às ações, diante do fraco desempenho recente, torna-se inevitável certo questionamento quanto à perspectiva do tão aguardado bull market nas ações brasileiras.
Teria sido apenas um voo de galinha o bom desempenho no segundo trimestre, impulsionado pela redução do risco fiscal e consequente diminuição dos prêmios, fatores já devidamente incorporados aos preços atuais?
De fato, nossos analistas já haviam alertado que, apesar do entusiasmo quanto às perspectivas para a renda variável brasileira, enfrentaríamos testes importantes no curto prazo que, caso superados, validariam a consistência do movimento de alta.
Por sinal, a superação dos testes é parte integral da validação de teses robustas. Especificamente em teses de mercado, como a atual perspectiva de bull market, faz-se necessária a suplantação dos desafios que potencialmente ameaçam sua própria desconstrução.
Na Empiricus 24/7 de 24 de julho, com o índice ainda acima dos 120 mil pontos, citei que as duas condições necessárias para a manutenção, no curto prazo, do movimento de alta da Bolsa brasileira:
“Daqui em diante, uma boa temporada de resultados seria necessária para apoiar uma segunda fase de alta, consolidando o bull market. Uma maior clareza sobre os juros nos EUA também contribuiria para um cenário mais benigno.”
Note que os dois fatores têm jogado contra o desempenho do mercado.
Apesar de alguns bons resultados individuais, como os fortes números do BTG Pactual, Direcional e Arezzo, por exemplo, ainda vemos as empresas brasileiras sofrendo com o ambiente macro no segundo trimestre, afetando as expectativas dos investidores, pelo menos no curto prazo.
Nos Estados Unidos, as incertezas quanto à condução da política monetária seguem pesando sobre os mercados, provocando queda nas bolsas americanas e elevação na curva de juros.
Adicionalmente, somam-se outros fatores adversos mais recentes, como os fracos números da economia chinesa e a crescente dificuldade fiscal do nosso governo federal.
Quando abrimos a lente, porém, a despeito da volatilidade recente, as perspectivas para as ações brasileiras seguem positivas, especialmente diante do momento atual, com o início do processo de afrouxamento monetário.
O Kiki Knudsen, head da Empiricus Gestão, trouxe recentemente um estudo interessante que historicamente os ciclos de corte na Selic têm impacto positivo importante na Bolsa brasileiros, com a única exceção sendo a barbeiragem promovida por Alexandre Tombini durante o primeiro mandato de Dilma Rousseff.
Assim, seguimos bastante otimistas com a renda variável brasileira, apesar de sabermos da sua teimosa variação.
Deixo você agora com os destaques da semana,
Boa leitura e um abraço,