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Voltando a voar

“No seu Crypto Legacy desta semana, o Vinícius Bazan, nosso head de análise de criptomoedas, trouxe a seguinte lembrança […]”.

Por Caio Mesquita

18 mar 2023, 08:00

Crypto
Imagem: Freepik

No seu Crypto Legacy desta semana, o Vinícius Bazan, nosso head de análise de criptomoedas, trouxe a seguinte lembrança:

A imagem acima mostra o primeiro bloco da rede do Bitcoin e traz a manchete do jornal The Times de 3 de janeiro de 2009, reportando a iminência da atuação do Tesouro britânico no sentido de resgatar bancos em dificuldade financeira.

Como lembrou Bazan, o armazenamento da manchete tinha como objetivo mostrar o marco inicial da mineração do bitcoin, provando seu início naquela data.

Provavelmente não foi coincidência que Satoshi Nakamoto tenha escolhido justamente o tema que embala a própria razão existencial da primeira e mais importante criptomoeda: a sua natureza antissistêmica.

Em um mundo capturado – e fragilizado – por crescentes intervenções monetárias, a ideia de uma moeda digital protegida de governos e grupos de interesse, com uma política monetária própria e predefinida, surgia como um conceito com um potencial disruptivo.
Catorze anos depois, a visão de Satoshi Nakamoto parece mais viva do que nunca.
A criação do bitcoin acontece no rescaldo da crise de 2008. O necessário resgate do sistema financeiro, à custa do dinheiro do pagador de impostos, gerou imensa raiva e indignação, exemplificado pelo movimento “Occupy Wall Street”.

Desde então, a confiança nas autoridades trincou de forma irreversível. Não adiantou Janet Yellen, a secretária do Tesouro dos EUA , ter afirmado em 2017 que não veríamos uma nova crise financeira em nossas vidas.

Como estamos assistindo nos últimos dias, os desequilíbrios são estruturais. O aperto monetário em curso, promovido pelo Fed e outros bancos centrais, ainda não logrou resultado pretendido, com uma inflação ainda teimando em manter-se elevada, mas já faz vítimas indesejadas.

Nos Estados Unidos, três bancos já afundaram, e há risco de outros irem pelo mesmo caminho. Na Europa, a ameaça do colapso do Credit Suisse forçou o banco central de seu país a oferecer uma linha de crédito equivalente a inacreditáveis 6% do PIB suiço.

Desta vez, porém, ao contrário de 2008, os bancos não haviam apostado seus balanços nas arriscadas estruturas subprime, tendo apenas alocado recursos captados em títulos de longo prazo.

É bem verdade que esses mesmos bancos têm, sim, parcela de culpa, já que simplesmente rasgaram o manual de gerenciamento de risco e de gestão entre ativos e passivos (asset liability management). Todavia, o cavalo de pau promovido pelos Bancos Centrais, que durante anos fomentaram taxas de juros artificialmente baixas, negativas em certas ocasiões, foi o principal causador do debacle.

Vamos lembrar que Jerome Powell, o presidente do Fed, passou boa parte de 2021 afirmando que não havia nada com que se preocupar, já que a alta da inflação era um fenômeno transitório. Quem acreditou, como pode ter sido o caso dos bancos agora em apuros, teve prejuízos enormes.

Da mesma forma, quem seguiu as orientações do mesmo Powell há duas semanas e entendeu que os juros nos Estados Unidos seguiriam subindo, sofreu perdas enormes por conta da dramática queda nas taxas que ocorrem depois do debacle do Sillicon Valley Bank e companhia.

Sabemos que o aperto do ciclo monetário atual derrubou os preços dos ativos de longa duração (long duration). A dramática queda nas cotações da criptomoedas faz parte desse processo de ajuste. Os mais críticos apontaram o dedo, afirmando que a promessa de proteção inflacionária do bitcoin havia sido assim desbancada.

Note, porém, que a mera possibilidade de termos chegado próximo ao topo do ciclo trouxe novamente ar para debaixo das asas das criptos.

Ademais, a atual crise nos sistemas bancários dos países desenvolvidos vem resgatando a promessa antissistêmica do bitcoin e demais criptomoedas.

Depois do inverno de 2022, as criptomoedas começam a resgatar a visão inicialmente lançada por Satoshi Nakamoto. Baseadas em um sistema descentralizado e livre das intervenções incompetentes de governos e burocratas, as criptos demonstram sua relevância para as incertezas do mundo moderno.

Deixo você agora com os destaques da semana.

Boa leitura e um abraço.

Sobre o autor

Caio Mesquita

CEO da Empiricus