Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em baixa nesta quinta-feira (13), seguindo as movimentações negativas dos mercados globais no pregão de ontem (12), acompanhando os investidores que reagiram com cautela à ata do Fed, dos EUA, de sua última reunião de política monetária. No agregado, o índice de mercados globais (o índice das ações de 47 países caiu pelo sétimo dia consecutivo) alcançou a sua mínima de dois anos, enquanto o iene, a moeda japonesa, chegou ao seu nível mais baixo desde 1998. Os movimentos refletem a ansiedade dos agentes frente aos dados de inflação de preços ao consumidor dos EUA. O número de hoje provavelmente moderará o tamanho do próximo aumento da taxa de juros do Federal Reserve, fazendo com que a maior parte dos investidores acompanhe a entrega de perto. Por enquanto, entretanto, ainda que haja receio, os mercados europeus e os futuros americanos conseguem sustentar uma modesta alta. Na Alemanha, também digerimos a inflação de preços ao consumidor de setembro, que alcançou mais de 10% na comparação anual. A ver… |
00:53 — Catch-up |
Ontem, enquanto o mercado estava fechado por aqui para o feriado do dia 12 de outubro, o EWZ (ETF de empresas brasileiras listado nos EUA) caiu quase 1%, acompanhando o movimento de desvalorização das principais ADRs brasileiras, como as de Petrobras e de Vale. Para hoje, portanto, já haveria uma queda contratada, mas o mercado na volta de um feriado “funciona em termos líquidos” e se a quinta-feira for muito boa poderemos apagar o desempenho ruim de ontem — com as commodities em alta, as mesmas ADRs que caíram ontem sobem nesta manhã no pre-market americano, por exemplo. A agenda está um pouco esvaziada por aqui, sem grandes eventos econômicos ou políticos. Deveremos reagir aos dados de inflação americana, bem como podemos ter sensibilidade ao relatório mensal sobre mercado de petróleo da Agência Internacional de Energia. Por enquanto, as commodities brasileiras sobem no exterior, indicando que há espaço para otimismo com o dia, mas tudo pode se inverter ao longo do pregão. |
01:39 — As preocupações internacionais |
O ambiente internacional não é dos mais fáceis. As crescentes preocupações da Rússia com a escalada de sua guerra na Ucrânia e a volta das restrições contra a Covid-19 na China pesam no sentimento geral. Ao mesmo tempo, espera-se que os dados de inflação de hoje, nos EUA, forneçam algumas pistas sobre a provável postura do banco central sobre o tamanho do aumento da taxa de juros no próximo mês. Ontem, a ata do Federal Reserve mostrou que os membros do Fed esperam que as taxas de juros permaneçam altas até que os preços caiam, mostrando que a autoridade está optando por dar prioridade ao compromisso de controlar a inflação crescente. Os membros também reduziram suas projeções para a economia e esperam que o PIB cresça a um ritmo anualizado de apenas 0,2% em 2022 e apenas 1,2% em 2023. |
02:20 — E como esse dado deve vir? |
Não há como fugir. A inflação e a política monetária do Federal Reserve dominam qualquer roda de conversa no mercado financeiro. Ontem, o índice de preços ao produtor de setembro subiu 0,4% no mês (acima do esperado pelo mercado), o que se traduz em uma aceleração frente ao aumento de 0,2% em agosto. É difícil enxergar um pivô por parte do Fed (mudar o tom ou a direção do aperto) com a inflação acelerando. Ainda vemos níveis de inflação inaceitavelmente altos, sem perspectivas para que os riscos deixem de aumentar. Há um debate entre duas frentes no mercado: muitos investidores enfatizaram que o custo de tomar poucas medidas contra a inflação supera o custo de fazer demais, enquanto outros tanto enfatizaram a necessidade de manter uma postura restritiva pelo tempo que for necessário. De fato, a experiência histórica demonstrou o perigo de encerrar prematuramente os períodos de política monetária restritiva destinada a reduzir a inflação. Para hoje, o índice de preços ao consumidor para setembro deveria recuar para 8,1% na comparação anual, segundo o consenso do mercado, enquanto o núcleo do indicador, que exclui os itens mais voláteis, poderia avançar para 6,5%. Isso se compara às altas de 8,3% e 6,3%, respectivamente, em agosto. Eventuais surpresas acima do esperado podem afetar negativamente o mercado americano, podendo espraiar para o resto do mundo. |
03:27 — O problema inglês segue no radar |
Muito se comenta sobre o fato de o Banco da Inglaterra ter destacado o fato de que seu apoio emergencial ao mercado de títulos deverá ser encerrado na sexta-feira, conforme anunciado originalmente, contrariando relatos da mídia de ajuda contínua, se necessário. Em outras palavras, os fundos de pensão britânicos (os maiores compradores de dívida do governo do Reino Unido) e outros investidores atingidos pela queda nos preços dos títulos ingleses têm até esse prazo para resolver seus problemas. A nova informação irritou os mercados. Todos continuam preocupados com a estabilidade dos mercados financeiros do Reino Unido. Para piorar, a primeira-ministra britânica, Liz Truss, declarou que não haveria cortes de gastos públicos. Na sequência, o próprio porta-voz do governo teve que esclarecer, argumentando que haveria “decisões difíceis” sobre gastos. Se nem o próprio governo sabe como lidar com a situação, imaginem os mercados. Consequentemente, a libra voltou a se enfraquecer e deverá continuar assim, até que a questão seja resolvida (não parece ser o caso no curto prazo). |
04:17 — O corte do FMI |
Como esperávamos, o Fundo Monetário Internacional reduziu novamente sua perspectiva econômica para o mundo, de 2,9% para 2,7% em 2023, destacando a situação volátil à medida que os formuladores de políticas lutam com a inflação, a crescente pobreza e o risco de endividamento. Notadamente, a depender do inverno, do aperto monetário, da continuidade da inflação, da desaceleração chinesa e da guerra na Ucrânia, as projeções podem piorar ainda mais, o que seria provável — a atual previsão de crescimento econômico de 3,2% para 2022 pode cair abaixo de 2%. Chama atenção o fato de que o crescimento está estagnado nas três maiores economias do mundo. O FMI espera que os EUA expandam apenas 1,6% este ano, uma queda de 0,7 ponto percentual em relação à previsão anterior, e cresçam 1% no próximo ano. A Europa deverá crescer 3,1% este ano e 0,5% no próximo. O FMI também reduziu suas perspectivas para a China e agora espera que a China cresça 3,2% este ano e 4,4% no próximo. Esses números ainda podem (e devem) ser revisados para baixo. Um dos fatores de preocupação é a crise energética e alimentar. Para ilustrar, os preços do gás na Europa quadruplicaram desde 2021. Ao mesmo tempo, o aumento dos preços dos alimentos provocou uma crise de fome, com 345 milhões de pessoas enfrentando insegurança alimentar aguda ou em risco de morrer, e mais de 850 milhões desnutridos — os preços internacionais dos alimentos devem atingir um pico neste ano e permanecer altos. A inauguração da década não está saindo do que pensávamos. |