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Mercado em 5 minutos

Abril termina com rali das ações tech americanas após fortes resultados, boa relação entre Haddad e Campos Neto e política monetária frouxa no Japão

Confira também notícias sobre os índices de atividade na Zona do Euro e acerca da dívida que países subdesenvolvidos têm com a China

Por Matheus Spiess

28 abr 2023, 08:45 - atualizado em 28 abr 2023, 08:45

ações de tecnologia
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam em alta nesta sexta-feira (28), acompanhando as movimentações positivas de Wall Street durante o pregão de ontem (27), com os investidores reagindo bem ao rali impulsionado por resultados corporativos das ações de tecnologia dos EUA e compensando as preocupações persistentes sobre o setor bancário americano. Adicionalmente, o Banco Central do Japão (BoJ) manteve sua política acomodatícia, enfraquecendo o iene e puxando a Bolsa de Tóquio. 

Os mercados europeus e os futuros americanos, por outro lado, caem nesta manhã. Há certa ansiedade pelo indicador de inflação preferido do Federal Reserve (o PCE), que poderá dar mais dicas sobre quando o Fed pode considerar uma pausa nos aumentos das taxas de juros (a reunião será na semana que vem). Os resultados da Amazon não foram lá grande coisa, provocando uma queda no pre-market de hoje. O Brasil repercute o ambiente internacional, enquanto se preocupa também com fatores locais. 

A ver… 

· 00:46 — Pintou um clima 

Por aqui, pegou bem a boa relação entre Fernando Haddad e Roberto Campos Neto demonstrada durante mais uma audiência no Senado Federal. A cordialidade e elegância entre os dois permite que consigamos estabelecer um cenário um pouco mais construtivo, pelo menos afastando os atritos que vimos no início do ano. Aliás, o próprio presidente do BC reconheceu formalmente o esforço da Fazenda para estabilizar a trajetória de endividamento brasileiro.  

Sabemos que o arcabouço fiscal não é bom o bastante, mas pelo menos impede que o Brasil exploda no curto prazo — é positivo a Fazenda ter saído vitoriosa na questão da cobrança de IRPJ e CSLL sobre benefícios fiscais do ICMS —, permitindo que haja devolução de prêmio na curva de juros. Isso não muda o fato de que na semana que vem o Copom provavelmente manterá a taxa de juros inalterada, uma vez que a desinflação ainda é muito lenta, mas pelo menos poderá começar a flexibilizar seu tom. 

· 01:34 — O indicador favorito do Fed 

Nos EUA, as ações experimentaram um forte rali ontem (27), impulsionadas por uma dose de fortes resultados trimestrais e algum otimismo de que o Federal Reserve está chegando perto de terminar seus aumentos de juros. O destaque foi a Meta Platforms, controladora do Facebook, cujas ações subiram quase 14% com os fortes resultados divulgados após o fechamento do mercado na quarta-feira. 

O índice Nasdaq teve seu melhor dia desde meados de março, enquanto S&P 500 teve seu maior ganho desde 6 de janeiro. As ações estão ganhando espaço com fortes resultados corporativos e com o otimismo de que a atividade diminuirá gradualmente e reduzirá a inflação — o Fed será capaz de avançar com um, talvez mais dois aumentos de juros, no máximo, para então encerrar o ciclo de aperto monetário. 

O Comitê Federal de Mercado Aberto, que define a política de taxas, deve se reunir na próxima terça e quarta-feira para decidir seu movimento, possivelmente outro aumento de 25 pontos-base nas taxas de curto prazo. O PIB de ontem, desacelerando para uma taxa anualizada de 1,1%, ante 2,6% no trimestre anterior, e o dado do PCE de hoje, que deve aumentar 4,5% na comparação anual, serão fundamentais para a reunião. 

· 02:34 — A atividade europeia e o próximo passo dos mercados 

No velho continente, o crescimento do PIB da Zona do Euro desacelerou no primeiro trimestre, mostrando alta de 0,1% na comparação trimestral e 1,3% na anual. Não foi só mais fraco que o trimestre anterior, mas também abaixo das expectativas de mercado. Sabemos que o ciclo econômico europeu é mais moderado do que o dos americanos, mas há um receio de que a recessão por lá seja muito pior.  

Vivemos em um mercado comandado por fatores macroeconômicos nos últimos três anos, impulsionado por choques: i) Covid, ii) maior pacote fiscal de todos os tempos em diferentes regiões, iii) um ciclo agressivo de aperto monetário para conter a inflação descomunal. Agora, supondo que os bancos centrais sejam bem-sucedidos em domar a inflação, os microfatores podem voltar ao centro das atenções.  

Os gatilhos para essa mudança incluem a construção de confiança entre os investidores de que estamos chegando ao fim de um ciclo de alta dos juros, bem como mais visibilidade sobre o momento e a profundidade de uma recessão. Por isso, os dados de PIB são tão importantes: eles podem elevar o grau de percepção dos investidores sobre qual momento do ciclo estamos. 

· 03:32 — Manteve o tom flexível 

O mercado de ações japonês teve um desempenho significativamente mais forte nesta sexta-feira, ampliando os ganhos da sessão anterior, não só acompanhando as movimentações positivas de Wall Street durante a noite, mas também repercutindo positivamente a decisão de política monetária do Banco do Japão (BoJ).  

O novo governador (presidente) do Banco do Japão, Kazuo Ueda, em sua primeira reunião de política monetária. Como esperado, a autoridade monetária manteve sua política ultrafrouxa inalterada, com taxa de depósitos negativa em -0,1% e a faixa de variação do juro do JGB de 10 anos na faixa entre -0,5% e +0,5%. 

Pelo comunicado que acompanha a decisão, sabemos que teremos uma revisão dessa política em algum momento no futuro, mas não agora. Até lá, os japoneses continuarão ostentando a única taxa negativa da atualidade. 

· 04:11 — Se você deve US$ 100 ao banco, o problema é seu, mas se você deve US$ 100 milhões ao banco, o problema é do banco 

A frase acima pode ser aplicada em inúmeros exemplos, inclusive na relação entre países. Quem se encontra em uma situação semelhante é a China, depois de emprestar quase um trilhão de dólares para países em desenvolvimento sob a Iniciativa da Nova Rota da Seda, que o presidente Xi Jinping apelidou de “projeto do século” ao revelar sua política externa em 2013. 

Muitos descreveram o esforço de empréstimo que financia projetos de infraestrutura como uma “armadilha da dívida”, projetada para criar boa vontade política e consolidar a influência chinesa no cenário mundial. Com 151 países até agora listados como signatários do projeto, a série de crises recentes (as consequências da pandemia, os desafios da inflação, a desaceleração do crescimento global e os juros elevados) coloca tensão sobre os líderes chineses.  

Desde o ano passado, 60% da carteira de empréstimos no exterior da China apoiava devedores em dificuldades, contra apenas 5% uma década antes. Nações como a Zâmbia e o Gana, bem como a Etiópia e o Quénia, estão todas tentando evitar um calote, enquanto o Sri Lanka e o Paquistão têm problemas de dívida semelhantes, com Pequim a tornar-se o seu maior credor bilateral. Se houver um problema de crédito na China, o amortecedor da desaceleração global pode também ser jogado em uma crise.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.