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Mercado em 5 minutos

Acordo para aumentar teto da dívida dos EUA ‘acalma’ mercado; veja este e outros destaques desta segunda (29)

Presidente dos EUA, Joe Biden, fecha acordo para aumentar teto da dívida e abre caminho para evitar calote sem precedentes

Por Matheus Spiess

29 maio 2023, 08:52 - atualizado em 29 maio 2023, 08:52

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Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam predominantemente em alta nesta segunda-feira, depois que o presidente dos EUA, Joe Biden, fechou um acordo com o presidente da Câmara, o republicano Kevin McCarthy, que aumentaria o teto da dívida dos EUA e evitaria um calote sem precedentes no início de junho. Ao mesmo tempo, há um crescente debate em torno da desaceleração da economia chinesa, evidenciado tanto pelos dados de alta frequência quanto pelos indicadores oficiais — nos últimos dias, surgiu uma nova preocupação em relação à possibilidade de uma “segunda onda” de Covid no país, seu impacto na economia e a possível resposta governamental. 

Sem negociações nos EUA hoje por conta do feriado do Memorial Day, os mercados europeus iniciam os trabalhos instáveis. Para os próximos dias, com a crise do teto da dívida resolvida, os investidores se debruçam sobre os dados do mercado de trabalho americano, com os famosos números do payroll programados para sexta-feira. Paralelamente, o setor de tecnologia pode ser um foco importante depois que a Nvidia registrou um dos maiores aumento de valor de mercado em um dia na história — a tese de investimento na companhia é baseada na visão de que estamos nos estágios iniciais de uma quarta revolução industrial impulsionada por inteligência artificial. 

A ver… 

· 00:55 — Inflação tira umas férias: aproveita para relaxar e desacelerar 

No Brasil, temos o início da tramitação do novo arcabouço fiscal no Senado Federal. O processo já foi bem precificado pelo mercado, logo não espero novas surpresas nesta frente de batalha. Outro debate a se colocar na mesa é sobre a expectativa de inflação. Em breve, teremos novas sequências de revisão para a inflação de 2023, principalmente depois da surpresa positiva do IPCA-15 de maio, que veio abaixo do esperado (a inflação de maio e junho ainda contam com combustíveis mais baratos). 

A desaceleração da inflação (que ainda terá um repique no segundo semestre) e a aprovação do arcabouço fiscal são dois vetores importantes para o mercado, que trabalha com a chance de cortes na Selic no terceiro trimestre. Para melhorar, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tem se mostrado bastante otimista e alinhado com a equipe econômica do governo Lula. Essa maior institucionalidade também é positiva para os ativos de risco locais. 

· 01:37 — Segunda-feira é feriado nos EUA 

Na sexta-feira, a alta do S&P 500 teve um significado adicional, com o índice rompendo o nível de 4.200 pela primeira vez desde 19 de agosto de 2022. Esse pico anterior ocorreu pouco antes de o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, fazer seu discurso em Jackson Hole reiterando a postura agressiva da autoridade monetária em torno da inflação. Antes da semana passada, o índice havia fechado entre 4.100 e 4.200 por 15 dias consecutivos de negociação. Com isso, o S&P 500 sobe 9,5% este ano, embora ainda esteja 12% abaixo da alta de janeiro de 2022. 

O principal lançamento econômico da semana será o relatório de empregos de maio em 2 de junho. Prevê-se uma queda nas criações mensais de folha de pagamento para 180 mil dos 253 mil em abril, enquanto a taxa de desemprego deve subir de 3,4% para 3,5%. Estima-se que ganhos médios por hora caiam para um ritmo de +0,3%, de +0,5% em abril. Uma possível desaceleração do relatório de empregos chegará logo antes da próxima reunião do Fed (13 e 14 de junho) e provavelmente dará início a mais debates sobre se o BC americano aumentará as taxas novamente.  

O núcleo do PCE (índice de gastos com consumo) divulgado na sexta adicionou calor ao debate do ciclo de juros. O relatório sugeriu que a inflação permanece estável. Os dados mais recentes podem colocar em risco a pausa nos aumentos das taxas do Fed. Tanto é verdade que o mercado indica na curva uma chance implícita de 71% de uma alta de um 25 pontos-base na reunião do Fed em meados de junho. Isso representa um aumento de apenas 17% há uma semana, quando os investidores estavam quase certos de que a pausa finalmente havia chegado. 

 · 02:54 — Um acordo preliminar 

Houve um acordo preliminar para acabar com o debate do teto da dívida dos EUA. Joe Biden e Kevin McCarthy selaram o acordo durante um telefonema de 90 minutos no final do sábado, abrindo caminho para um esforço para conduzi-lo ao Congresso.  Agora, os líderes devem convencer um número suficiente de membros de seus respectivos partidos de que o acordo elaborado pelos negociadores é melhor do que as consequências de um calote — o projeto ainda precisa passar pelo Congresso. 

Ao que tudo indica, ficou acertado um aumento do teto da dívida por dois anos, o que significa que não haverá necessidade de negociá-lo em 2024, em meio às eleições presidenciais. Adicionalmente, os gastos não relacionados à defesa em 2024 devem ser mantidos no mesmo patamar deste ano e terão um aumento de apenas 1% em 2025. Essa medida resultaria em uma redução de aproximadamente US$ 650 bilhões nos gastos federais ao longo de uma década. 

· 03:36 — A estratégia chinesa que não deu tão certo 

O governo de Xi Jinping fez modificações sérias em muitas áreas futuras da competição global desde que lançou sua estratégia Made in China 2025. Mas há um setor que não obteve o mesmo nível de sucesso, apesar do governo injetar bilhões de dólares nele: a biotecnologia. Investidores investiram mais de US$ 216 bilhões no setor desde 2015, mas o segmento quase não produziu medicamentos completamente novos, que são conhecidos na indústria como medicamentos “primeiros da categoria”. 

Os contratempos destacam as dificuldades em desenvolver novos produtos em um país que se concentrou durante décadas na fabricação em massa e na produção apenas de versões locais de medicamentos desenvolvidos por estrangeiros. A pandemia poderia ter sido o momento para as empresas farmacêuticas chinesas brilharem. Em vez disso, o país aprovou sua primeira vacina de mRNA apenas recentemente, mais de dois anos após as injeções da Moderna e da Pfizer. Inovação e falta de parceria internacional para P&D são desafios que a China enfrentará. 

· 04:21 — Reeleito 

Internacionalmente, o foco está na Turquia, após a vitória de Erdogan, reeleito para mais um mandato (o terceiro) com cerca de 52% a 48% dos votos — os mercados já antecipavam o resultado após a liderança de Erdogan no primeiro turno de votação, tanto que a lira turca esteve mais fraca na sexta-feira, antes dos resultados. 

A questão mais premente para os investidores agora é se ele cumprirá sua promessa de manter uma política econômica que provocou um êxodo de dinheiro estrangeiro. Agora, é possível criar uma visão bastante pessimista sobre a lira turca como resultado da manutenção do cargo de Erdogan após a eleição. 

As perspectivas econômicas e de mercado são muito sombrias para a Turquia, uma vez que ele pretende manter sua política econômica pouco convencional com baixas taxas de juros, alta inflação e controle cambial. Aumento da dívida pública e rebaixamento dos ratings devem acontecer, sem dúvida. 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.