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Donald Trump, o eterno protagonista do caos midiático, volta a dominar as manchetes, reafirmando sua obsessão pelo holofote. Não digam que não avisei: este será um mandato de quatro anos repletos de reviravoltas diárias, capazes de sacudir os mercados globais e, por tabela, o Brasil.
Hoje (13), o presidente americano monopoliza as atenções por dois motivos principais: i) a possível costura de um acordo para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia, o que já fez o petróleo despencar entre ontem e hoje; e ii) o iminente anúncio de novas tarifas recíprocas sobre parceiros comerciais dos EUA, ampliando o escopo das tarifas já impostas sobre aço e alumínio.
O primeiro ponto, se concretizado, seria um forte catalisador positivo, impulsionando o euro e os ativos europeus, levando as bolsas europeias a novos recordes nesta manhã. O segundo, por outro lado, tende a alimentar novas tensões inflacionárias justamente quando o mercado ainda digere os dados quentes do CPI de ontem (12).
Para hoje (13), o foco se volta para os números da inflação ao produtor (PPI), que podem reforçar a preocupação com os preços e o impacto das políticas protecionistas de Trump. O ambiente de cautela já se reflete no humor do mercado: os futuros americanos operam no vermelho, após uma sessão de desempenho misto na Ásia.
· 00:51 — Sob pressão
O mercado brasileiro sentiu o peso das perspectivas menos favoráveis para o crescimento global e da inflação nos Estados Unidos, que pressionou a curva de juros americana e, consequentemente, elevou as taxas por aqui. O reflexo foi imediato: o Ibovespa recuou novamente para a casa dos 124 mil pontos no pregão de ontem.
Outro fator de preocupação é o pacote tarifário de Donald Trump, que pode atingir diretamente o Brasil. A lógica da reciprocidade pode se voltar contra nós, já que o país impõe uma tarifa média de 11% sobre produtos importados dos EUA, enquanto os americanos aplicam apenas 2% sobre nossas exportações. No entanto, vale lembrar que o Brasil mantém um déficit comercial com os Estados Unidos, o que abre margem para negociação de termos mais favoráveis com a Casa Branca. O próprio vice-presidente Geraldo Alckmin já mencionou que a definição de novas cotas seria uma solução viável para mitigar os impactos das tarifas sobre o aço, e algo semelhante pode ser discutido para outros setores, dependendo do que Trump oficializar hoje (13).
Na agenda econômica, a atenção se volta para os dados do varejo, que devem reforçar a desaceleração da economia no quarto trimestre, algo já evidenciado por outros indicadores recentes, como o fraco desempenho do setor de serviços em dezembro. Se por um lado essa desaceleração reduz a pressão para que o Banco Central eleve ainda mais a Selic, por outro, o cenário fiscal continua sendo um ponto de incerteza.
O governo, ao invés de focar em medidas mais amplas para contenção de gastos, parece concentrado exclusivamente na isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O movimento é tão prioritário que Lula já incluiu Hugo Motta e Davi Alcolumbre nas negociações da reforma ministerial, buscando alinhamento para aprovação do projeto. Ainda assim, a viabilidade política dessa proposta na forma como foi apresentada segue em dúvida.
Será preciso aguardar os detalhes da versão final do texto, que deve ser oficializado nos próximos dias. Enquanto isso, o mercado brasileiro deve continuar operando sob pressão, com possíveis momentos de respiro pontuais, mas sem uma tendência clara de alívio sustentado.
· 01:42 — Rebalanceamento
Ainda no Brasil, o rebalanceamento do índice MSCI Brazil deve desencadear um fluxo de saída estimado em US$ 615 milhões, aumentando a pressão vendedora sobre as ações que serão removidas da carteira teórica do índice a partir de 3 de março. No entanto, o efeito mais intenso tende a ocorrer em 28 de fevereiro, quando gestores que replicam o índice precisarão ajustar seus portfólios para incorporar as mudanças.
Entre os papéis que serão excluídos do MSCI Brazil estão Hapvida, Cosan, Hypera, CSN, Stone&Co e Inter&Co — com as duas últimas não sendo listadas na B3. Paralelamente, a exclusão de ações brasileiras do MSCI Emerging Markets, considerando tanto ativos negociados na bolsa brasileira quanto ADRs listados nos Estados Unidos, pode gerar um fluxo adicional de saída de US$ 270 milhões.
Por outro lado, haverá fluxos de entrada provenientes do aumento da participação de outras empresas no índice, como Nu Holdings, Energisa e Vale, o que pode compensar parte do impacto da retirada dos papéis excluídos. Diante desse cenário, o mercado brasileiro deve enfrentar um período de maior volatilidade entre o final de fevereiro e o início de março, conforme os ajustes de portfólio ganham força.
· 02:34 — Uma inflação complicada
Nos EUA, o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) registrou alta de 0,5% em janeiro, elevando a inflação anual para 3%. O avanço veio acima das expectativas do mercado, representando uma aceleração em relação ao aumento mensal de 0,4% observado em dezembro e à taxa anual de 2,9% anteriormente registrada. Grande parte dessa pressão inflacionária foi impulsionada pelo aumento no custo dos alimentos, que subiram 0,4% no mês, superando a variação de 0,3% registrada em dezembro.
Esse movimento reforça a percepção de que os cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve estão ainda mais distantes. Na terça-feira, antes da divulgação dos novos números, o presidente do Fed, Jerome Powell, já havia sinalizado cautela quanto a mudanças na política monetária. Na quarta-feira (12), ele reforçou essa postura, destacando que os dados recentes indicam que ainda há mais trabalho a ser feito para conter a inflação.
Embora fatores sazonais, como aumentos no salário mínimo e ajustes anuais de preços, tenham contribuído para o avanço da inflação em janeiro, isso não reduz a preocupação do mercado. A perspectiva de pelo menos um corte nos juros ainda existe para o segundo semestre, mas o caminho até lá deve ser marcado por volatilidade.
Para acompanhar melhor essa dinâmica, os investidores estarão atentos à divulgação do Índice de Preços ao Produtor (PPI) de janeiro, que pode reforçar a necessidade de manutenção da política monetária atual. Na agenda corporativa, os destaques do dia incluem os resultados financeiros de Airbnb, Brookfield, Coinbase, Digital Realty Trust, Duke Energy, GE HealthCare, Palo Alto Networks e Zoetis.
· 03:26 — Acordo de paz
Donald Trump e o presidente russo Vladimir Putin conversaram por telefone e concordaram em iniciar negociações para um possível acordo de paz na Ucrânia. A notícia impulsionou os mercados europeus, que reagiram positivamente, enquanto o dólar perdeu força. No entanto, um acordo que permita à Ucrânia ingressar na OTAN não parece ser uma possibilidade realista. O próprio secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, descartou essa hipótese, afirmando que não haverá envio de tropas americanas para o país como parte de um pacote de garantias de segurança.
Além disso, ele reforçou que não é viável reverter as fronteiras da Ucrânia para o período pré-2014, antes da anexação da Crimeia pela Rússia. Na prática, qualquer tratativa de paz sob essa ótica significaria a perda permanente de território pela Ucrânia e a exclusão do país da aliança militar ocidental, o que representa uma mudança drástica na abordagem dos EUA em relação ao conflito. Embora essa postura possa gerar resistência entre os aliados europeus, ela sinaliza uma nova estratégia americana para encerrar a guerra. A simples possibilidade de um acordo já teve reflexos imediatos no mercado de commodities, levando o petróleo a cair ontem e novamente hoje, diante da perspectiva de um cenário geopolítico menos tensionado.
· 04:13 — Não deu em nada
No final do ano passado, avaliei aqui a possibilidade de uma grande fusão no setor automobilístico, que poderia redefinir o setor no mercado global. No entanto, o acordo morreu antes mesmo de sair do papel. Honda e Nissan encerraram formalmente suas negociações, frustrando a expectativa de uma parceria que poderia criar uma das maiores montadoras do mundo. Para a Nissan, que já enfrenta dificuldades financeiras e registrou um prejuízo líquido de US$ 519 milhões no ano fiscal até março, o fracasso nas tratativas representa um revés significativo.
Agora, a empresa precisará buscar novas alternativas estratégicas para se manter competitiva. Entre as possibilidades, a Hon Hai Precision Industry (Foxconn) já sinalizou interesse em adquirir a participação de 36% da Renault na Nissan, o que poderia redesenhar o controle acionário da montadora. No entanto, essa movimentação não necessariamente resolveria os desafios enfrentados pela Nissan.
A empresa perdeu espaço em segmentos-chave e ficou para trás na corrida dos veículos elétricos na China e dos híbridos nos EUA. Sem o respaldo de uma fusão com a Honda, que poderia oferecer uma rota de recuperação, a Nissan se vê agora em uma posição vulnerável, precisando urgentemente de uma estratégia para recuperar sua competitividade no mercado global.
· 05:08 — Demitiu ao vivo
Na manhã de ontem, o presidente Lula praticamente exonerou ao vivo o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, durante uma entrevista, tornando inevitáveis as mudanças na cúpula do órgão. O movimento ocorre em meio às negociações para a reforma ministerial e representa mais um revés para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que já sofreu sucessivas derrotas políticas desde o início do governo.
Agostinho, filiado ao PSB — partido de Geraldo Alckmin —, é um dos principais aliados de Marina, mas acabou sendo alvo direto da insatisfação de Lula, que criticou a demora na concessão da licença ambiental para a exploração de petróleo na Margem Equatorial.