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Mercado em 5 minutos

ADRs da Petrobras estabilizam e inflação desacelera nos EUA

Mercados europeus enfrentam dificuldades enquanto Brasil segue com muitas incertezas

Por Matheus Spiess

16 maio 2024, 09:10 - atualizado em 16 maio 2024, 09:10

Bandeira da Petrobras (PETR4) ao lado de bandeira do Brasil dividendos petróleo
Fonte: Shutterstock

Bom dia, pessoal. Entre ontem e hoje, o mercado demonstrou um otimismo renovado, impulsionado por um relatório que revelou uma desaceleração da inflação nos Estados Unidos em abril. O índice de preços ao consumidor subiu 3,4% em comparação ao ano anterior, uma ligeira melhora em relação à taxa registrada em março. Embora essa inflação ainda seja elevada, a tendência de queda trouxe alívio aos investidores.

Como reflexo, as ações asiáticas apresentaram alta nesta quinta-feira, acompanhando o desempenho positivo do mercado ocidental do dia anterior. Os juros dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, que haviam ultrapassado 4,70% ao ano, recuaram para perto de 4,30%, alimentando esperanças de que a inflação esteja finalmente se dirigindo para um patamar normalizado. Ainda que a inflação siga alta, já é um avanço.

Na manhã de hoje, os mercados europeus enfrentam dificuldades para manter o bom ritmo de ontem, enquanto os futuros americanos apresentam uma leve alta, ao menos temporariamente. Existe ainda a expectativa de um possível corte de juros em setembro, se as condições econômicas continuarem a melhorar.

No radar econômico, temos discursos de autoridades monetárias e dados de produção industrial de abril nos EUA, que podem influenciar ainda mais a trajetória dos juros. No mercado de commodities, o destaque vai para o minério de ferro, que subiu mais de 2% no mercado internacional, podendo ter um impacto positivo no Brasil.

A ver…

· 00:53 — O dia depois da saída de Prates

Ontem, o mercado brasileiro encerrou em queda de 0,38% pelo Ibovespa, aos 128.028 pontos, influenciado principalmente pela queda das ações da Petrobras. Os papéis preferenciais da estatal de petróleo caíram 6,04% durante a sessão devido à saída do CEO Jean Paul Prates. Na manhã de hoje, observamos uma estabilização das ADRs da Petrobras listadas em Nova York, sugerindo que o pior já passou.

A incerteza agora recai sobre as mudanças que a nova direção pode implementar na companhia, especialmente em relação ao risco de maior intervenção governamental. Sem o impacto negativo da estatal, o desempenho do mercado brasileiro poderia ter sido melhor, impulsionado também pela queda dos juros no exterior.

Entre os indicadores divulgados, o destaque foi o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, que registrou uma queda de 0,3% em março na comparação mensal, e uma redução de 2,2% em termos anuais. Esses números refletem a crescente dificuldade na atividade econômica doméstica, um sintoma que tende a piorar com a manutenção das taxas de juros em níveis elevados. Como indicado no último Boletim Focus, há uma preocupação crescente sobre a alta das projeções para o IPCA em prazos mais longos.

Cenários de inflação mais alta exigem taxas de juros mais elevadas. Paralelamente, o mercado especula que o Conselho Monetário Nacional (CMN) poderá adiar a publicação do decreto que estabelece o regime de meta contínua de inflação no Brasil, anteriormente prevista para 2025. Isso significa que o CMN poderá definir a meta de inflação como tradicionalmente faz, projetando três anos à frente.

· 01:45 — Dificuldade em se vender

Mohamed El-Erian, economista-chefe da Allianz e ex-CEO da PIMCO, abordou recentemente as mudanças substanciais que estão ocorrendo na economia mundial, ressaltando a dificuldade de realizar previsões precisas no ambiente pós-pandêmico. Ele aponta que os modelos econômicos convencionais muitas vezes falham em captar a realidade atual, mas calcula que há uma probabilidade de 35% de uma recessão nos Estados Unidos, também percebendo 50% de chances para um ajuste suave da economia do país. Curiosamente, ele também mencionou, como já destaquei no M5M, que Brasil e Índia estão bem posicionados para aproveitar a reconfiguração geopolítica global, podendo manobrar eficazmente entre as grandes potências.

No entanto, El-Erian identifica um desafio significativo para o Brasil: a necessidade de melhorar sua projeção no cenário internacional. Precisamos aprender a nos vender. Respondendo a perguntas sobre a situação atual do Brasil e estratégias para atrair mais investimentos, ele destacou a crucial necessidade de estabilidade macroeconômica.

Como já discutimos, não é suficiente apenas contar com um ambiente global favorável; é essencial que façamos nossa parte. Isso significa manter as reformas iniciadas durante o governo Temer. Embora estejamos progredindo, nos últimos meses houve momentos de hesitação, com riscos desnecessários sendo assumidos. É imperativo que continuemos nossos esforços para modernizar o país.

· 02:31 — Depois da inflação

Nos EUA, o S&P 500 atingiu hoje um novo recorde, o primeiro desde o final de março, impulsionado por novos sinais de que a inflação está, de fato, diminuindo. O índice de preços ao consumidor subiu 3,4% em abril em relação ao ano anterior, uma queda em relação à taxa de 3,5% registrada em março. Esse foi o primeiro relatório de inflação bom em quatro meses, suficiente para desencadear uma alta tanto nas ações quanto nos títulos do Tesouro, cujos rendimentos caem à medida que os preços sobem.

O rendimento do Tesouro a 10 anos recuou para perto de 4,3%, seu nível mais baixo desde o início de abril. Esse otimismo nos bastidores foi alimentado pela queda de 0,1% nos preços subjacentes dos bens e pelo aumento de apenas 0,4% nos preços básicos dos serviços, o menor ganho desde dezembro. O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 0,3% em abril na comparação mensal. Diante deste cenário, a possibilidade de um corte de juros em setembro voltou a ser considerada viável.

· 03:29 — O vigor americano

Apesar da normalização da inflação, a atividade econômica dos EUA continua a atrair bastante atenção. Como a economia conseguiu crescer mais de 3% no ano passado e manter uma taxa de desemprego abaixo de 4% em meio ao aperto monetário mais agressivo do Federal Reserve em quatro décadas, ao mesmo tempo em que a inflação desacelerava? Alguns atribuem esse fenômeno a uma “força externa”, essencialmente como o presidente do Fed, Jerome Powell, vê a situação, destacando o papel do aumento da imigração.

Já discutimos anteriormente esse desenvolvimento. A verdade é que o aumento da imigração ajudou a suavizar parte da escassez de mão-de-obra, o que significa que os empregadores não precisaram recorrer tanto ao pool existente de trabalhadores potenciais no país. Isso implica que a capacidade da economia aumentou, talvez mais do que a produção real. Trata-se de uma economia maior, não mais restrita.

A métrica chave aqui é o valor do crescimento neutro das folhas de pagamento, que representa um limite de velocidade para o crescimento das folhas de pagamento sem apertar o mercado de trabalho e sem aumentar as pressões salariais. Uma aceleração na imigração efetivamente eleva essa taxa de equilíbrio mensal, que os economistas agora estimam entre 160 mil e 265 mil este ano. Isso é significativamente superior ao ritmo de cerca de 100 mil que Powell identificou em 2022. Estamos vivendo uma nova normalidade na economia americana.

· 04:16 — Erros persistentes e sistemáticos

Recentemente, o Banco da Inglaterra (BoE) admitiu falhas recorrentes e significativas em suas projeções de inflação. Swati Dhingra, membro do comitê de política monetária do banco e uma das duas autoridades que votaram pela redução da taxa de juros de 5,25% para 5%, destacou esses erros, embora a decisão final tenha mantido as taxas inalteradas. Tais falhas, que já existiam no passado, só se agravaram após a pandemia, que trouxe uma nova realidade para os mercados.

Os modelos estatísticos utilizados pelas autoridades monetárias frequentemente erram ao estimar as tendências econômicas, superestimando ou subestimando-as. Quando ocorre uma mudança crucial no cenário econômico, esses modelos geralmente falham na direção oposta. Mesmo os melhores sistemas de previsão econômica possuem uma quantidade inerente de incerteza e imprecisão. Essa questão não é exclusiva do Reino Unido; Brasil e Estados Unidos também enfrentam desafios semelhantes em suas previsões econômicas.

· 05:04 — Abrindo o caminho para mais recordes…

No início desta semana, o BTG Pactual (BPAC11) divulgou seus resultados do primeiro trimestre de 2024, estabelecendo novos recordes de receita e lucro, conforme o esperado. Já mencionei anteriormente que esta ação é uma das minhas principais escolhas em uma seleção de até 15 empresas de alta qualidade, adequada para compor entre 10% a 30% de um portfólio com ações brasileiras, dependendo do perfil de risco do investidor. Desde minha primeira recomendação em outubro do ano passado, as ações valorizaram mais de 15%. A pergunta agora é: vale a pena manter essa posição, considerando a recente valorização e os últimos resultados?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.