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Agenda da semana conta com IPCA-15 de junho, ata do Copom e debate entre Biden e Trump; confira

A agenda política de Brasília, que deveria estar focada em questões fiscais urgentes, está desacelerada devido às festas juninas no final do mês.

Por Matheus Spiess

24 jun 2024, 09:01 - atualizado em 24 jun 2024, 09:01

Imagem representando a inflação, mostrando gráficos e setas subindo.

Bom dia, pessoal. A semana passada intensificou as tensões no mercado financeiro brasileiro, com mais um confronto entre o presidente Lula e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Embora o discurso de Lula tenha sido fortemente demagógico, é significativo que até os diretores do Banco Central indicados por ele tenham votado junto com Campos Neto na recente decisão de política monetária.

Apesar desses esforços para adotar uma política mais restritiva, o dólar ainda alcançou R$ 5,46, a maior cotação em quase dois anos, aproximando-se de R$ 5,50.

Contudo, a decisão unânime do Copom de manter as taxas de juros indica um passo inicial importante para a estabilização econômica, embora ainda haja um longo caminho a percorrer.

No cenário internacional, os mercados financeiros passaram por ajustes após sucessivas altas recordes. Nesta manhã, os mercados europeus registraram ganhos, enquanto os futuros americanos sugeriram uma possível recuperação.

Por outro lado, as bolsas asiáticas enfrentaram dificuldades na segunda-feira, especialmente na China, onde as perdas foram significativas devido às preocupações com uma potencial guerra comercial com a União Europeia.

Além disso, a expectativa em torno dos dados de inflação dos EUA contribuiu para um clima de cautela nos mercados.

A agenda desta semana destaca importantes indicadores econômicos dos EUA e o aguardado debate presidencial entre Donald Trump e Joe Biden, programado para quinta-feira.

A ver…

· 00:54 — O que esperar para a semana?

No Brasil, a agenda política de Brasília, que deveria estar focada em questões fiscais urgentes, está desacelerada devido às festas juninas no final do mês, resultando em um esvaziamento temporário do Congresso.

A reta final antes do recesso legislativo será emocionante. Com isso, o foco se desloca para a divulgação de importantes indicadores econômicos.

A semana começa com a publicação da ata da última reunião do Copom, marcada para amanhã, seguida pela divulgação da prévia da inflação oficial de junho, o IPCA-15, na quarta-feira (26).

Espera-se que o documento do Banco Central mantenha o tom conservador observado no comunicado anterior, projetando uma leve aceleração da inflação de 0,44% em maio para 0,45% em junho, o que elevaria a taxa anual para 4,11%, comparada aos 3,70% registrados anteriormente.

Além das questões monetárias, na quinta-feira (27) serão reveladas as contas do Governo Central, o Relatório Trimestral de Inflação e os dados de emprego do Caged.

A semana se encerra na sexta-feira (28) com mais dados de emprego pela Pnad Contínua e o resultado fiscal consolidado do setor público.

Espera-se que os dados de arrecadação da Receita Federal mostrem um robusto aumento anual, impulsionado significativamente pelo imposto de renda de pessoa física, que somou R$ 23 bilhões, refletindo um crescimento real de 45%.

Contudo, as despesas têm crescido a um ritmo ainda mais acelerado, o que deve resultar em um déficit superior a R$ 58 bilhões em maio. Sem uma revisão cuidadosa desses gastos, a sustentabilidade fiscal do país permanece em risco.

· 01:49 — A inflação americana

Nos EUA, após uma série de recordes recentes, os mercados passaram por alguns dias de correção. A Nvidia foi destaque, registrando uma queda de quase 10% em relação ao seu pico recente logo após se tornar a empresa mais valiosa do mundo, posição que já perdeu novamente.

A atenção se voltou para os múltiplos elevados da empresa, com suas ações negociadas a 25 vezes as receitas projetadas para 2025.

A incerteza sobre as receitas futuras da fabricante de chips é grande – nem mesmo os melhores analistas do setor ou os próprios executivos da Nvidia conseguem prever com precisão. Nos últimos trimestres, a empresa superou consistentemente essas projeções, e não seria surpreendente se esse padrão continuasse.

No entanto, o destaque da semana nos EUA não é corporativo, mas econômico. A atenção se volta para o índice básico de preços das despesas de consumo pessoal (PCE), a medida de inflação preferida do Fed.

Espera-se que o núcleo do índice, que exclui itens mais voláteis, aumente 0,1% na comparação mensal, elevando a taxa anual para 2,6%, marcando uma desaceleração em ambas as leituras em relação a abril. Se confirmado, isso representaria um progresso significativo, mantendo viva a possibilidade de um corte de juros em setembro.

Além disso, haverá uma nova estimativa de crescimento econômico dos EUA com a revisão do PIB do primeiro trimestre. Um número em linha com as expectativas ou uma revisão levemente para baixo poderia reforçar essa perspectiva.

· 02:38 — Uma nova dor de cabeça para a Apple

Quem tem acompanhado minhas análises recentes sobre o mundo da tecnologia já sabe que a Apple está investindo pesado em inteligência artificial para impulsionar as vendas do iPhone, especialmente na China, onde a demanda tem caído.

A gigante da tecnologia pretende utilizar o Apple Intelligence para oferecer novos e atraentes recursos de IA, além de ter anunciado uma parceria com a OpenAI para incorporar o popular ChatGPT de forma limitada.

No entanto, há um obstáculo: o ChatGPT, que em breve será integrado ao Siri, é proibido na China.

A China é um dos primeiros países a regulamentar a tecnologia generativa de IA que sustenta esses serviços populares.

Em agosto do ano passado, o principal órgão de fiscalização da Internet do governo chinês estabeleceu novas diretrizes para a indústria, exigindo que as empresas buscassem aprovação antes de implementarem suas soluções.

Até março, a organização já havia aprovado mais de 100 modelos de IA, todos de empresas chinesas.

Portanto, é provável que haja uma alternativa mais limitada para utilizar o Apple Intelligence na China, mas o seu potencial será, sem dúvida, inferior ao que se verá no Ocidente.

03:22 — E por falar na China…

Com a crescente narrativa em torno de uma suposta Nova Guerra Fria ganhando força nos últimos meses, muitos questionam a dominância americana nos próximos anos. Embora essa dúvida seja válida, a supremacia econômica dos EUA deve perdurar.

Os EUA continuarão liderando o mundo em termos econômicos, financeiros, militares e tecnológicos, apesar dos desafios em algumas áreas, como a expansão da economia chinesa ou a inovação e tecnologia de Cingapura e Suíça.

Segundo a Capital, o estado precário e “insustentável” das finanças públicas dos EUA poderia levar a uma crise fiscal, embora esse não seja o cenário principal previsto pela consultoria. Além disso, as divisões políticas internas também representam um obstáculo significativo.

No entanto, é positivo ver os EUA e a China retomarem o diálogo de forma madura. No primeiro semestre deste ano, por exemplo, os dois países retomaram negociações sobre armas nucleares pela primeira vez em cinco anos, um progresso importante.

A mesma harmonia não pode ser observada na relação entre China e Europa, que atravessam um período conturbado. Os mercados chineses têm enfrentado perdas prolongadas após a União Europeia impor, no início de junho, tarifas elevadas sobre as importações de veículos elétricos chineses.

Essa medida provocou a ira de Pequim e aumentou a possibilidade de uma guerra comercial, não só com os EUA, mas também com os europeus.

Olhando para o futuro, o bloco europeu e a China concordaram em iniciar negociações sobre as tarifas. Enquanto alguns países enfrentam a presença chinesa com resistência, outros a abraçam. Esse é o caso do Brasil, que se tornou líder na importação de carros elétricos chineses, beneficiando-se das disputas comerciais dos mercados desenvolvidos com a China.

Embora o Brasil lidere em quantidade, a Bélgica ainda lidera em termos de valores, uma diferença explicada pela composição dos embarques, com os belgas adquirindo mais veículos totalmente elétricos.

· 04:15 — E o Oriente Médio?

O Irã aprovou seis candidatos para as eleições antecipadas de 28 de junho, que visam substituir o presidente Ebrahim Raisi, falecido em um acidente de avião no mês passado. Desses candidatos, cinco são conservadores de linha dura, e um é um reformista que parece ser uma escolha segura.

A inclusão do reformista Masoud Pezeshkian surpreendeu muitos, ainda mais pelo fato de ele ter se mostrado um concorrente inesperadamente forte contra os mais radicais. Pezeshkian está ganhando o apoio dos eleitores mais jovens e dos iranianos desiludidos, que boicotaram as eleições nos últimos anos. Enquanto isso, o voto conservador está se dividindo entre os outros cinco candidatos.

Curiosamente, Pezeshkian expressou sua intenção de melhorar as relações com os EUA, incluindo a revitalização do acordo nuclear de 2015.

Embora sua crescente popularidade preocupe os líderes iranianos, é improvável que até mesmo um presidente reformista traga mudanças significativas no governo do país, dada a falta de confiança no processo eleitoral iraniano.

Enquanto o Irã se prepara para as eleições, Israel pode estar próximo de encerrar sua incursão militar em Gaza. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu indicou essa possibilidade após perder bastante apoio em seu governo de união nacional. Netanyahu ainda rejeita a ideia de um cessar-fogo com o Hamas, o que poderia eventualmente levar ao fim da guerra.

Vale destacar que o Hamas também é diretamente responsável pela ausência de um cessar-fogo. Se os atritos na região diminuírem, poderemos ver uma menor volatilidade no preço do petróleo.

· 05:03 — Depois da correção

A correção das ações da Nvidia nos EUA foi rápida, logo após nossa realização parcial de lucros. Conforme mencionei na semana passada, a fabricante de chips é a ação mais cara do índice S&P 500, com suas ações sendo negociadas por cerca de 25 vezes as vendas projetadas para 2025. No entanto, há um detalhe importante: como observado nos últimos trimestres, essas projeções de vendas provavelmente estão subestimadas; afinal, a empresa tem surpreendido o mercado de forma recorrente. Já discutimos bastante sobre a Nvidia anteriormente e, considerando que já realizamos parte dos lucros, vale a pena direcionar nossa atenção para outras empresas relacionadas à indústria de tecnologia.

Hoje, gostaria de destacar a…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.