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Agravamento nos conflitos do Oriente Médio aumentam aversão ao risco no mercado nesta quarta-feira (2); leia mais

O aumento de tensão nos conflitos do Oriente Médio balançam o mercado nesta quartap-feira (2).

Por Matheus Spiess

02 out 2024, 09:32 - atualizado em 02 out 2024, 09:32

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Imagem: iStock/ Stadtratte

Ontem, nos mercados globais, a atenção esteve centrada na alta dos preços do petróleo, impulsionada pelo agravamento das tensões no Oriente Médio. A região, já há algum tempo sob vigilância, tem visto seus conflitos se intensificarem e se expandirem para outras áreas, como já era esperado.

Esses eventos geopolíticos costumam ter implicações profundas e trágicas, exigindo uma abordagem responsável e sóbria, tanto pelos seus impactos humanitários quanto pelas consequências sociais. No entanto, é inegável que tais conflitos também têm repercussões econômicas significativas.

Os recentes ataques com mísseis do Irã contra Israel diferiram dos episódios de abril, quando as movimentações militares foram mais previsíveis. Desta vez, os ataques ocorreram de forma mais súbita e com maior intensidade, levando a uma resposta imediata de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, que prometeu retaliação. Esse cenário intensificou o sentimento de aversão ao risco nos mercados, resultando em quedas nas principais bolsas mundiais e uma valorização subsequente do petróleo.

Em contrapartida, o índice Hang Seng, de Hong Kong, registrou um ganho expressivo de mais de 6% após o fim do feriado, ainda em resposta aos estímulos econômicos anunciados por Pequim para impulsionar a economia chinesa. No entanto, a liquidez no mercado asiático continua reduzida, já que diversas bolsas permanecem fechadas devido à Golden Week.

Na Europa, os índices acionários operaram em queda nesta manhã, acompanhando a tendência negativa dos futuros americanos.

Hoje, o foco dos investidores está voltado para os pronunciamentos de pelo menos seis representantes do Banco Central Europeu (BCE), além das atualizações aguardadas sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos. Paralelamente, uma série de discursos de membros do comitê do Federal Reserve (Fed) está programada, o que pode adicionar volatilidade às curvas de juros e ao mercado de câmbio ao longo do dia.

A ver…

· 00:57 — Isso diz mais sobre as agências de rating do que sobre o Brasil

No Brasil, os investidores foram surpreendidos na noite de ontem com uma notícia inesperada: a agência de classificação de risco Moody’s desafiou o pessimismo generalizado do mercado em relação à situação fiscal do país e elevou a nota de risco soberano de “Ba2” para “Ba1”, mantendo a perspectiva positiva. Isso indica que o Brasil pode receber um novo upgrade nos próximos 12 a 18 meses, caso continue no rumo atual.

Com essa decisão, o país se aproxima do tão cobiçado grau de investimento, estando agora a apenas um nível de alcançá-lo. A justificativa da Moody’s se baseia, principalmente, no crescimento econômico sustentado desde 2021, na melhoria material do crédito e no fortalecimento da balança comercial. No entanto, a agência classificou a credibilidade do novo arcabouço fiscal como “moderada”.

Embora a decisão da Moody’s pareça um alívio para o mercado, considero essa avaliação controversa. Ela reflete mais sobre o funcionamento das agências de rating do que propriamente sobre o cenário brasileiro. Desde a crise de 2008, essas agências enfrentam questionamentos em relação à sua credibilidade, e são frequentemente criticadas por serem “lagging indicators” (indicadores tardios), que reagem a eventos já passados. Como essa elevação na nota ocorre em um momento em que há sinais claros de deterioração nas contas públicas, a decisão é ainda mais surpreendente. E o déficit nominal de mais de 9% piorando? E as medidas heterodoxas parafiscais?

Independentemente das ressalvas, a notícia deve provocar uma reação positiva no mercado local, com a possibilidade de uma redução dos prêmios na curva de juros e maior interesse por parte dos investidores estrangeiros. Em outras palavras, espera-se que o mercado reaja de forma otimista, antecipando novos upgrades que podem surgir no futuro. No entanto, é importante lembrar que a elevação da nota de crédito não altera a percepção de risco fiscal, já que o governo ainda enfrenta desafios significativos até o final do ano. Decisões impopulares, como cortes de gastos, provavelmente serão adiadas para depois das eleições municipais.

· 01:49 — E as bets?

Ainda no Brasil, o Ministério da Fazenda divulgou ontem uma lista provisória com 89 empresas, representando 192 marcas de apostas online, autorizadas a operar no país até 31 de dezembro deste ano. Após esse período, será divulgada a lista definitiva das empresas e plataformas que poderão atuar no mercado regulado de apostas a partir de 1º de janeiro de 2025. Neste contexto, entre 500 e 600 sites de apostas serão bloqueados. O presidente Lula, de volta de sua viagem ao México, deve discutir hoje a proibição do uso de cartões de crédito em plataformas de apostas e outras medidas que evitem a participação de beneficiários do programa social.

As medidas contra as casas de apostas são vistas como não apenas necessárias, mas também urgentes, diante dos danos que essa indústria pode causar ao país. Para dimensionar o problema, dados do Banco Central revelam que, apenas em agosto, 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família transferiram cerca de R$ 3 bilhões para essas plataformas, com uma mediana de gastos de R$ 100 por pessoa. O cerne da questão não é a prática das apostas em si, mas a urgência de uma regulamentação que corrija os abusos e excessos desse mercado.

Segundo o Raio-X do Investidor Brasileiro, 22,4 milhões de brasileiros, ou 14% da população, realizaram algum tipo de aposta em 2023, número que ultrapassa amplamente os 2% da população que investem na bolsa de valores. Um estudo do Itaú revelou que os brasileiros gastaram R$ 68,2 bilhões com taxas de serviços de apostas, enquanto os prêmios distribuídos somaram R$ 44,3 bilhões, gerando um saldo negativo de R$ 23,9 bilhões — o equivalente a 0,2% do PIB ou 1,9% da massa salarial. Essa diferença entre gastos e prêmios tem contribuído para o vício em apostas e grandes perdas financeiras, além de criar um ambiente propício para o crime organizado, como evidenciado por operações da Polícia Federal.

Diante desse cenário, a falta de regulamentação adequada no setor de apostas não pode persistir. A urgência de regular e tributar o setor, minimizando seus impactos sociais e econômicos, é evidente. Somente assim o mercado de apostas no Brasil poderá operar de forma ética e sustentável, garantindo proteção aos consumidores e contribuindo de maneira positiva para a economia do país.

· 02:35 — Mais dados de emprego

Nos Estados Unidos, os principais índices passaram o dia inteiro em território negativo ontem, com as perdas inicialmente se intensificando e, em seguida, moderando, à medida que o Irã lançou mísseis contra Israel, aumentando os temores de uma possível ampliação do conflito no Oriente Médio.

Esses receios foram amplamente refletidos no mercado de energia, com as ações do setor se destacando como as de melhor desempenho no S&P 500, registrando uma alta de 2,3% no dia. O Índice de Volatilidade Cboe, popularmente conhecido como o “Índice do Medo”, subiu 15%, alcançando 19,26 pontos. No entanto, vale lembrar que no início de agosto, durante um breve surto de preocupações com uma recessão em Wall Street, o VIX havia dobrado esse patamar. Isso sugere que, apesar da escalada no Oriente Médio, o mercado não demonstra níveis elevados de apreensão.

O foco principal dos investidores, no entanto, permanece na atividade econômica. Hoje, o destaque será o Relatório Nacional de Emprego para setembro, divulgado pela ADP. O consenso do mercado aponta para um aumento de 120 mil vagas no setor privado, o que representaria 21 mil empregos a mais em relação a agosto.

Vale ressaltar que a criação de empregos entre os empregadores privados já desacelerou por cinco meses consecutivos até agosto. Um resultado acima das expectativas reforçaria a perspectiva de um corte de 25 pontos-base na taxa de juros na próxima reunião de novembro do Federal Reserve.

· 03:26 — Chance de escalada

Os preços do petróleo subiram, enquanto o ouro permaneceu próximo de suas máximas históricas, após o Irã lançar de 300 a 400 mísseis contra Israel, intensificando ainda mais as tensões no Oriente Médio. As Forças de Defesa de Israel informaram que muitos dos mísseis foram interceptados, semelhante ao que ocorreu no ataque de abril. Em resposta, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu prometeu retaliação. Esse agravamento da situação elevou a aversão ao risco nos mercados, com investidores aguardando o desenrolar das ações israelenses. A possibilidade de um conflito de maior escala se torna cada vez mais evidente, especialmente com o envolvimento de atores globais relevantes, como os EUA, que já manifestaram apoio irrestrito a Israel.

As tensões aumentaram ainda mais com a ameaça de facções no Iraque de atacar bases americanas caso os EUA apoiem as retaliações de Israel contra o Irã. Daniel Hagari, porta-voz das Forças Armadas de Israel, anunciou que o exército continuará suas operações com total capacidade, com ataques previstos em várias regiões do Oriente Médio, incluindo Gaza, Líbano e, agora, o Irã. Diante dessa escalada, cresce o receio nos mercados quanto ao possível fechamento do Estreito de Hormuz, uma rota estratégica vital para o transporte global de petróleo. O bloqueio desse canal poderia causar graves perturbações na cadeia de suprimentos global de petróleo, ampliando as preocupações econômicas globais.

· 04:11 — Empossada

Quando Andrés Manuel López Obrador perdeu por uma margem estreita sua primeira corrida presidencial em 2006, ele denunciou fraude, exigiu uma recontagem e convocou massivos protestos nas ruas, que paralisaram a Cidade do México por sete semanas. Quando suas queixas não foram atendidas pelo tribunal eleitoral, o líder esquerdista se autoproclamou “presidente legítimo” e chegou a formar um governo paralelo, que muitos críticos consideraram uma estratégia lunática.

Após outra derrota eleitoral em 2012, AMLO fundou seu próprio partido, o Movimento de Regeneração Nacional (Morena), e finalmente conquistou uma vitória esmagadora na eleição de 2018. Agora, ao encerrar seu mandato, ele permanece uma figura influente, uma presença constante que continuará a pairar sobre sua sucessora, Claudia Sheinbaum, empossada ontem como a primeira mulher a ocupar a presidência do México.

Sheinbaum foi cuidadosa ao formular suas propostas de governo, mantendo-se em sintonia com as políticas de López Obrador.

No entanto, ela enfrentará o desafio de criar um ambiente mais favorável aos negócios, se o México quiser aproveitar plenamente o realinhamento das cadeias globais de suprimento, conhecido como nearshoring. Até o momento, as empresas que optaram por transferir suas operações para o México, atraídas pela proximidade com o mercado dos EUA, o fizeram com pouca ou nenhuma ajuda da administração de AMLO.

Durante seu discurso de posse, Sheinbaum sinalizou uma postura de continuidade, o que pode gerar preocupações, especialmente em relação a políticas menos ortodoxas defendidas por López Obrador, como a polêmica reforma do judiciário. Esse é um tema que deverá ser monitorado de perto nos próximos anos, à medida que o governo de Sheinbaum buscará equilibrar essa herança política com as necessidades econômicas do país.

· 05:02 — Como está seu Kit Geopolítico?

Conforme já mencionado, o Irã lançou ontem um ataque com mísseis balísticos contra Israel. Até esse ponto, as operações israelenses estavam focadas em neutralizar grupos terroristas financiados pelo Irã, como Hamas e Hezbollah, sem atacar alvos de soberania de qualquer nação específica.

Contudo, esse novo ataque direto ao território israelense altera significativamente a dinâmica geopolítica, aumentando os riscos e a possibilidade de uma escalada mais ampla no conflito regional.

Diante desse cenário, é fundamental revisitar e atualizar o “Kit Geopolítico” que tenho recomendado há algum tempo. Você já está preparado com essas sugestões?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.