Bom dia, pessoal. Lá fora, as bolsas de valores asiáticas fecharam em baixa nesta quarta-feira, acompanhando sinais amplamente negativos dos mercados globais durante o pregão de ontem, em meio a preocupações com crescimento e taxas de juros, sem falar das crescentes preocupações com um impasse do teto da dívida americana. O presidente dos EUA, Joe Biden, e o presidente da Câmara, Kevin McCarthy, disseram que mantiveram conversas produtivas, mas não houve acordo sobre como aumentar o teto.
Os mercados europeus e os futuros americanos amanhecem em queda, seguindo as movimentações negativas na Ásia — ainda temos a ansiedade do mercado com relação à atividade chinesa. Para hoje, contamos com as atas da última reunião de política monetária do Fed, que devem atrair a atenção dos investidores na busca de pistas adicionais sobre as perspectivas para as taxas de juros. No Brasil, os temores de uma desaceleração econômica global podem ser sentidos por meio das commodities.
A ver…
· 00:41 — Aprovado, enfim
Por aqui, a aprovação do arcabouço fiscal com ampla aprovação dos deputados (372 versus 108, sendo que só eram necessários 257 votos) gera impacto no mercado, após ajustes que eliminaram o aumento automático de 2,5% acima da inflação nas despesas de 2024 (uma mudança positiva. Agora, depois da votação dos destaques hoje, o projeto será enviado ao Senado para apreciação.
No final, o relator Cláudio Cajado removeu do parecer o ponto mais controverso, que permitia o aumento dos gastos no teto no próximo ano, independentemente da arrecadação (a medida ampliaria os gastos no próximo ano em cerca de R$ 80 bilhões). Em linhas gerais, foi respeitada a regra original enviada pelo governo do arcabouço fiscal. Isso mostrou unidade política em torno de pautas econômicas.
O movimento também uniu os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, em prol do fortalecimento do arcabouço fiscal e da reforma tributária, o próximo tema macroeconômico a ser debatido. Deu um indicativo importante ao mercado, que temia revisionismo na Lei do Saneamento e privatização da Eletrobras. No contexto atual, loucuras econômicas parecem fáceis de serem evitadas.
· 01:39 — Ninguém mais aguenta a novela do teto da dívida americana
Nos EUA, ontem, outra falta de resolução do teto da dívida, que poderia evitar um calote americano desastroso, pesou sobre os mercados. Os negociadores do Congresso e da Casa Branca continuam presos à escala de cortes propostos para gastos e possíveis medidas de aumento de receita. Washington provavelmente precisa de pelo menos um acordo difícil esta semana para ter tempo suficiente para o Congresso debater e aprovar a legislação resultante antes da chamada “data X” de 1º de junho, quando o Tesouro fica sem dinheiro.
Alguns republicanos da Câmara, porém, levantaram ceticismo sobre o prazo da secretária do Departamento do Tesouro, Janet Yellen, para aumentar o teto da dívida e evitar um calote. Os parlamentares dizem querer ver mais transparência sobre como o Tesouro chegou nesta data. Essa indicação pegou muito mal e o cenário de default começa a ficar mais provável. Ainda sobre os republicanos, vale acompanhar o anúncio da pré-candidatura à Presidência dos EUA do governador da Flórida, Ron DeSantis. Ele é o principal rival de Trump nas primárias do partido (Elon Musk parece apoiar).
Por fim, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deverá divulgar hoje a ata de sua reunião de política monetária do início de maio. O interesse do mercado se concentrará em:
- i) as consequências econômicas dos problemas bancários;
- ii) a velocidade do declínio da inflação nos EUA. Ainda prevalece a perspectiva de uma pausa no aperto monetário, com 67% das expectativas nessa direção.
No entanto, as apostas em um novo aumento de 25 pontos-base ganharam força, sendo hoje 32% das projeções, devido ao discurso hawkish de membros do Fed.
· 02:32 — E os ingleses?
No velho continente, a inflação dos preços ao consumidor no Reino Unido registrou uma queda em abril, conforme esperado, porém em uma magnitude um pouco menor do que o previsto. Já na cadeia de abastecimento, os preços ao produtor caíram, como esperado, porém, em uma proporção maior do que o previsto. A inflação dos preços dos alimentos teve pouca variação, o que mantém o foco nas pressões inflacionárias impulsionadas pelos lucros corporativos (repasse de preço) — os descontos recentes nos preços chegaram tarde demais para impactar esses dados divulgados.
Complementarmente, o governador do Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês), Andrew Bailey, está abordando a questão da sustentabilidade em suas declarações. Embora alguns investidores possam considerar isso como uma política de menor relevância no curto prazo, é importante reconhecer que o mundo da economia está passando por uma transformação significativa, avançando da simples produção para uma abordagem de economia de impacto. A conscientização sobre a importância da sustentabilidade está aumentando e é um reflexo da crescente preocupação com questões como mudanças climáticas e esgotamento de recursos naturais.
· 03:29 — Os vencedores da inteligência artificial
Recentemente, as ações de tecnologia ganharam em parte com otimismo sobre mais oportunidades para inteligência artificial. A Microsoft, por exemplo, relatou recentemente fortes resultados e orientações — espera-se que a gigante do software se beneficie do Chat GPT. Aliás, algumas das maiores empresas de tecnologia dos EUA são as vencedoras predominantes da inteligência artificial, pelo menos nesta primeira fase da corrida. Foi o que argumentou o Goldman Sachs em relatório recente.
O mercado vê hoje quatro grandes empresas construindo o que é chamado de grandes modelos de linguagem: Amazon, Meta, Alphabet e Microsoft. Esses gigantes da tecnologia correram para apresentar suas próprias versões ou ferramentas de IA para rivalizar com o chatbot ChatGPT da OpenAI. Para ilustrar, a Alphabet, empresa controladora do Google, está lançando o Bard. Faz sentido; afinal, você precisa de uma escala de capital e talento de engenharia para construir esses grandes modelos.
· 04:07 — A festa de reabertura da China pode ter acabado antes mesmo de começar
Após uma forte recuperação pós-Covid no primeiro trimestre, a segunda maior economia do mundo está mostrando sinais de arrefecimento, com produção industrial, vendas no varejo e investimento fixo crescendo em um ritmo muito mais lento do que o esperado em abril. A recuperação imobiliária também está ficando para trás, enquanto a taxa de desemprego juvenil atingiu um recorde e provavelmente piorará.
Foi apenas a evidência mais recente de que o crescimento da China, que até agora foi impulsionado pela liberação da demanda reprimida, está perdendo força. A lenta recuperação do país não poderia vir em um momento pior para o crescimento global. Os EUA estão sob pressão do pior susto bancário desde a crise financeira, bem como um impasse de teto de dívida que ameaça um calote. O setor industrial em dificuldades da Alemanha corre o risco de levar a potência da Europa à recessão.
Ora, se o FMI disse que a China deve responder por cerca de um terço do crescimento global em 2023, frustrações com esse crescimento devem preocupar os mercados mesmo. Na China, a preocupação com empregos pode estar desacelerando o consumo doméstico. Consequentemente, muitas empresas permanecem cautelosas quanto ao aumento de gastos de capital ou contratação de mais pessoas. Com isso, os dados recentes deixaram os analistas se perguntando se os números otimistas do primeiro trimestre foram apenas “uma marolinha” e se a economia está caminhando para a turbulência no resto do ano.
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