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Mercado em 5 minutos

Bancos centrais de economias desenvolvidas escalam as taxas para novas alturas; confira o que mexe bom seu bolso hoje (23)

Além disso, EUA e Índia fazem acordos relacionados ao segmento de semicondutores e a Europa quer se tornar o primeiro continente neutro em carbono até 2050.

Por Matheus Spiess

23 jun 2023, 08:56 - atualizado em 23 jun 2023, 08:56

taxa de juros
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos caíram nesta sexta-feira (23), com os investidores preocupados com o fato de que mais aumentos nas taxas de juros pelos principais bancos centrais podem prejudicar o crescimento econômico global — o desempenho foi afetado pela falta de liquidez derivada do feriado chinês, que fechou os mercados por lá. Sobre o aperto monetário, os bancos centrais da Suíça, Noruega e Inglaterra elevaram suas taxas de juros recentemente: o Banco Central da Suíça aumentou em 25 pontos para 1,75%, o Banco Central da Noruega aumentou em 50 pontos para 3,75%, e o Banco Central da Inglaterra aumentou em 50 pontos para 5,00%. Essas elevações seguem as decisões da Zona do Euro, Austrália e Canadá. 

Os mercados europeus abrem em queda, assim como os futuros americanos. A ansiedade reflete a fala do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que disse ao Congresso que mais aumentos nas taxas de juros podem ser necessários este ano para reduzir a inflação dos EUA para a meta de 2% do banco central, em linha com as demais autoridades monetárias. Sim, a inflação moderou um pouco desde meados do ano passado, mas as pressões inflacionárias continuam altas e o processo de reduzir a inflação para 2% ainda tem um longo caminho a percorrer. Para hoje, contamos com índices de atividades em diversas regiões já sob forte contração de liquidez. Ainda sofremos com a ressaca pós-pandêmica e não sabemos quanto tempo ela vai durar. 

A ver… 

· 00:57 — E realizou 

No Brasil, os investidores optaram por descontar a frustração frente ao comunicado do Copom nos ativos locais. A ata da reunião será divulgada na semana que vem, mas sua importância, ainda que grande, foi relativamente esvaziada pelo tom do documento da noite de quarta-feira e pela reação do mercado durante o pregão de ontem. Consequentemente, não devemos ver muitas novidades na ata que possam alterar a percepção do mercado — no final ainda espero o início do ciclo de cortes em agosto. 

Mais importante será a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), marcada para o dia 29, na qual poderemos ter algumas mudanças na condução da política monetária. Será muito importante não ocorrer uma mudança de meta de inflação, que poderia comprometer a credibilidade do BC. Uma surpresa negativa pode afetar a curva de juros, as ações e o dólar — não me espantaria ver um BC ainda duro em agosto se for o caso. Discussões sobre o arcabouço e a reforma tributária fazem parte da agenda. 

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· 01:37 — Mais aumentos 

Nos EUA, após Jerome Powell sinalizar possíveis mais dois aumentos do juro americano, as falas de alguns diretores do Fed previstas para esta sexta-feira podem ajustar as apostas do mercado — as participações incluem comentários de incluindo James Bullard, Raphael Bostic e Loretta Mester. A política monetária continua a ser uma prioridade para os investidores. No fundo, a autoridade monetária depende de dados do banco central a partir daqui. 

A chance dos americanos acompanharem os europeus é grande. O Banco da Inglaterra continua lutando contra a inflação mais aquecida entre as economias desenvolvidas este ano (preços ao consumidor do Reino Unido subiram 8,7% em maio em relação ao ano anterior), tendo elevado sua meta de taxa de juros em meio ponto percentual — esse foi o 13º aumento consecutivo do BoE desde dezembro de 2021, colocando sua taxa de referência para 5%. 

Em outras partes da Europa, outros bancos centrais também continuam a apertar. O Banco Nacional Suíço elevou sua taxa-alvo em um quarto de ponto percentual hoje, enquanto o Banco Norueguês elevou em meio ponto e sinalizou que mais aumentos estão por vir. Segue-se a alta de 24 pontos do Banco Central Europeu na semana passada. Consequentemente, há muita preocupação por aí sobre uma possível recessão nos EUA no próximo ano e como isso pode acontecer. 

· 02:29 — Acordos 

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, anunciaram uma série de acordos comerciais e de defesa destinados a melhorar os laços militares e econômicos entre suas nações durante a visita de estado de quinta-feira na Casa Branca, em linha com o que havíamos comentado anteriormente. 

Para ilustrar, a General Electric planeja fabricar motores F414 em conjunto com a empresa estatal indiana Hindustan Aeronautics para a aeronaves de combate leves, como parte de um esforço para melhorar o compartilhamento de defesa e tecnologia à medida que a China se torna agressiva em suas ambições na Ásia. 

Os dois líderes também lançaram uma série de acordos relacionados com o segmento de semicondutores projetados para aproveitar os subsídios indianos destinados a trazer fabricação de tecnologia avançada para o país do sul da Ásia. A relação amistosa entre os americanos e os indianos deve incomodar bastante os chineses. 

· 03:15 — Por falar na China… 

A China iniciou uma nova rodada de inspeções em todo o país para descobrir quanto dinheiro os governos locais devem. As autoridades serão pressionadas a esclarecer suas chamadas dívidas ocultas, enquanto os líderes nacionais tentam obter uma imagem mais completa das responsabilidades em todos os níveis do governo. 

A campanha está sendo liderada pelo Ministério das Finanças. Não está claro quando a pesquisa terminará ou o que virá a seguir, mas uma contabilidade precisa do tamanho dos passivos seria fundamental para formular políticas para lidar com o problema. Um ajuste fiscal nas províncias deverá acontecer nos próximos anos. 

· 04:08 — Ambições europeias 

A tentativa da Europa de se tornar o primeiro continente neutro em carbono do mundo até 2050 pode acabar causando dor de cabeça para os bancos centrais da região; afinal, a transição pode alimentar os preços ao consumidor. Estudos mostram que a inflação na Zona do Euro pode chegar a ser 30 pontos-base maior até o final da década. O motivo? Bem, os preços da energia aumentarão durante a transição, pois a eliminação gradual de tecnologias com alto teor de carbono reduz a oferta agregada e o investimento em novas tecnologias reforça a demanda. 

O problema é que aumentar as taxas de juros em resposta a isso (o aumento da inflação) pode prejudicar o investimento em energia mais limpa. Portanto, a política monetária e os esforços para salvar o planeta correm o risco de trabalhar um contra o outro. Ao mesmo tempo, se houver remoção dos incentivos dos investimentos, pode ser contraproducente para a transição energética. Em outras palavras, existe um trade-off complexo entre suas ações e seu mandato de estabilidade de preços. A transição energética, um dos grandes temas do século, será bem mais complexa do que se esperava. 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.