Os futuros americanos registram alta nesta manhã de sexta-feira (13), após os principais índices de ações dos EUA terem recuado na quinta-feira (12) em resposta à divulgação do índice de preços ao produtor (PPI), que subiu 0,4% no último mês, superando as expectativas do mercado.
O dado gerou preocupação inicial de que pudesse comprometer as chances de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve na próxima semana. Entretanto, a leitura predominante é de que esse indicador isolado não será suficiente para alterar a trajetória esperada do Fed, que, ao reforçar sua postura de suporte aos ativos de risco, ajuda a aliviar o receio nos mercados nesta sexta-feira (13).
Na Europa, o otimismo persiste, com os índices de ações em alta nesta manhã, embalados pela recente decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar mais 25 pontos-base na taxa de juros. Esse movimento reforça a expectativa de novos cortes no futuro. Em contrapartida, os mercados asiáticos não compartilharam do mesmo entusiasmo — mesmo após a China sinalizar um aumento na meta de déficit fiscal para o próximo ano, a ausência de medidas de estímulo mais robustas frustrou as expectativas. O governo chinês parece adotar uma abordagem incremental, liberando poucos estímulos, o que tem gerado uma interpretação de cautela excessiva.
O pessimismo também é evidente no mercado brasileiro, onde o temor de dominância fiscal ganha força. O sentimento negativo reflete o fracasso do governo em apresentar um plano convincente de recuperação da credibilidade fiscal. Ao adiar um ajuste estrutural mais robusto, o governo optou por atravessar uma ponte esburacada rumo a 2026, em vez de caminhar sobre uma ponte novinha e recapeada (caso tivesse apresentado um pacote fiscal robusto e adequado em tempo hábil). A hesitação e a falta de clareza na condução da política fiscal elevam os riscos percebidos, prejudicando ainda mais os ativos domésticos e aumentando a pressão local.
· 00:54 — Uma ponte esburacada para 2026
Por aqui, os investidores estão atentos à divulgação do IBC-Br de outubro, que, embora relevante, dificilmente desviará o foco principal do mercado: a agenda fiscal. O comportamento do mercado ontem foi emblemático. Apesar da elevação de 100 pontos-base na Selic, anunciada pelo Copom na noite de quarta-feira (11), acompanhada da sinalização de mais dois aumentos de igual magnitude em 2025, o real se desvalorizou e a curva de juros voltou a disparar.
Esse movimento reflete dois fatores principais: i) incertezas sobre a aprovação das medidas fiscais no Congresso, com um crescente receio de que o pacote de contenção do crescimento dos gastos públicos fique travado, especialmente com a recuperação de Lula após dois procedimentos cirúrgicos delicados na cabeça; e ii) risco crescente de entrarmos em um cenário de dominância fiscal, que tem ganhado força nas discussões econômicas.
O conceito de dominância fiscal refere-se a um cenário em que a política fiscal limita ou mesmo domina a política monetária. Nessa situação, o Banco Central perde autonomia para controlar a inflação ou a taxa de juros, pois suas decisões passam a ser condicionadas pela necessidade de financiar déficits fiscais elevados ou gerenciar uma dívida pública insustentável (o fiscal ruim demanda mais juros que piora ainda mais o fiscal, numa referência circular). A consequência é que o ajuste macro, que deveria recair nos juros, recai sobre a inflação, já que o câmbio é perdido, levando a uma dinâmica que remete a países como Turquia e Argentina — escolhas desastrosas.
Neste caso, mesmo que o Copom tenha agido corretamente ao elevar os juros, o efeito pode ser insuficiente ou até contraproducente. O aumento da Selic eleva o custo da dívida pública, ampliando o déficit nominal e agravando a trajetória de endividamento, criando uma dinâmica perversa que retroalimenta a desconfiança do mercado.
Embora o Brasil ainda não tenha alcançado esse ponto crítico, os sinais de alerta emitidos ontem reforçam a necessidade urgente de ajustes mais profundos. O atraso na apresentação do pacote fiscal e a entrega de uma proposta aquém das expectativas colocaram o governo em um caminho significativamente mais difícil para 2026, ano de eleições. A escolha de adiar medidas estruturais de maior impacto acabou aumentando a complexidade do cenário econômico.
Seguindo a lógica da teoria da reflexividade de George Soros, em que a percepção pode moldar a realidade e vice-versa, o Brasil enfrenta agora um círculo vicioso: a percepção negativa sobre a sustentabilidade fiscal amplia os desequilíbrios macroeconômicos, que, por sua vez, intensificam ainda mais a desconfiança. Neste contexto, o ajuste fiscal e monetário necessário se torna maior e mais doloroso, contratando uma desaceleração econômica expressiva à frente. O cenário exige medidas rápidas e eficazes para restaurar a confiança.
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· 01:49 — O corte ainda virá
Nos Estados Unidos, o mercado de ações apresentou ontem uma leve correção, com dois terços das empresas listadas no S&P 500 registrando quedas. Apesar disso, as perdas parecem estar mais associadas à realização de lucros de curto prazo do que a qualquer preocupação estrutural com a economia. De fato, até o momento, não há sinais concretos de desaceleração iminente, o que reforça a leitura de que o movimento foi técnico e não fundamentado em mudanças substanciais na economia.
O que ofereceu justificativa para as vendas foi a inflação ao produtor, que veio levemente acima das expectativas. Esse dado reduz marginalmente a probabilidade de um novo corte na taxa de juros na reunião do Federal Reserve marcada para os dias 17 e 18 de dezembro. No entanto, é importante destacar que, em minha visão, essa leitura não é suficiente para impedir um corte adicional de 25 pontos-base pelo Fed.. O debate mais relevante se concentra em 2025, quando o Federal Reserve pode optar por pausar o ciclo de flexibilização já em janeiro, enquanto avalia dados econômicos mais recentes e acompanha as primeiras ações do novo governo Trump. Complementarmente, a agenda traz os dados de preços de importação e exportação.
· 02:31 — Entre cortes de juros e quedas políticas
Falando em cortes, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu novamente as taxas de juros, desta vez para 3% ao ano, reforçando as expectativas de mais reduções em 2025, à medida que a inflação na Zona do Euro se aproxima da meta de 2%. O corte de 25 pontos-base já era amplamente esperado pelo mercado, mas ocorre em um momento de significativa fragilidade econômica e política no continente europeu, ilustrando os desafios enfrentados por seus principais líderes.
Na França, o presidente Emmanuel Macron enfrenta turbulências políticas após a destituição do ex-primeiro-ministro Michel Barnier, liderada por Marine Le Pen. Como resposta, Macron deve anunciar hoje (13) a nomeação de um novo primeiro-ministro, que terá a difícil tarefa de estabilizar a situação política e avançar com o orçamento.
Na Alemanha, a crise política também se intensifica. O chanceler Olaf Scholz está programado para enfrentar um voto de confiança no Bundestag no dia 16 de dezembro. Caso o governo não consiga sustentação parlamentar, o país deverá realizar eleições antecipadas no final de fevereiro. Uma pesquisa recente indica que os conservadores e os verdes poderiam formar uma coalizão majoritária, o que mudaria significativamente a configuração política do maior motor econômico da Europa.
Essa onda de instabilidade política tem uma origem comum que transcende fronteiras: a pressão sobre os orçamentos nacionais após anos de estímulos fiscais massivos para mitigar os impactos da pandemia de Covid-19. A “conta fiscal da Covid” começou a chegar, e os governos estão sendo forçados a lidar com déficits elevados, enquanto tentam equilibrar suas políticas econômicas com a realidade de orçamentos limitados.
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· 03:26 — Abordagem chinesa
A China anunciou planos para aumentar os gastos públicos em 2025, com uma mudança estratégica na política econômica, agora voltada para estimular o consumo interno. Essa iniciativa busca fortalecer o que Pequim identifica como o ponto mais vulnerável de sua economia: a dependência das exportações. A medida ganha relevância diante da iminente escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos, agravadas pelas novas tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, que colocam em risco a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional.
Essa sinalização de maior ativismo fiscal ocorre em um momento delicado para a economia chinesa, marcado por desafios tanto domésticos quanto externos. Além do foco no consumo, a China também indicou, ao longo desta semana, a possibilidade de desvalorizar sua moeda, o yuan, como uma resposta direta às ações protecionistas dos EUA. Essa abordagem sugere que Pequim está disposta a adotar uma combinação de políticas monetárias, cambiais e fiscais para mitigar os impactos de uma possível intensificação da guerra comercial e preservar sua estabilidade econômica em meio a um cenário global cada vez mais incerto. Algo que veremos nos próximos anos…
· 04:12 — Instabilidade regional
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, declarou que os eventos recentes na Síria, incluindo a queda do regime de Bashar al-Assad, foram resultado de uma suposta conspiração articulada entre os Estados Unidos e Israel. Surpreendeu um total de zero pessoas. Essa acusação reflete a posição de fragilidade na qual o Irã se encontra após a perda de um de seus mais importantes aliados na região. Com o colapso do governo sírio, a situação no país tornou-se um terreno de disputas. Israel, aproveitando a oportunidade, intensificou seus ataques contra instalações militares remanescentes na Síria e deslocou tropas para o território sírio, numa tentativa de prevenir o surgimento de novas ameaças em um momento de vácuo de poder.
Dentre os atores que mais se beneficiaram dessa reconfiguração, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, destaca-se como um dos grandes ganhadores. Erdogan, que há tempos se opôs ao regime de Assad, é visto por muitos rebeldes sírios como uma figura heroica, e agora encontra espaço para ampliar sua influência na região. Por outro lado, o Irã emerge como um dos maiores prejudicados. Com sua política externa em desordem, Teerã luta para lidar com as consequências dessa perda estratégica. A queda da Síria representa um golpe severo para a estratégia iraniana de projeção de poder no Oriente Médio, particularmente após já ter visto um enfraquecimento significativo de grupos radicais extremistas como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza. Essas derrotas são agravadas pela redução do apoio direto da Rússia, que está profundamente envolvida em suas próprias crises.
A combinação desses fatores pressiona o Irã a reconsiderar sua estratégia de longa data de disseminar influência militar e ideológica no mundo árabe. Para os Estados Unidos e Israel, essa mudança representa uma vitória significativa, reduzindo a capacidade de Teerã de sustentar redes de aliados e proxies na região. Com a iminente posse de Donald Trump e a provável retomada de uma postura de confronto por parte de seu governo, a perspectiva de maior isolamento e contenção do Irã parece ainda mais provável. O “Eixo do Mal” das autocracias começará 2025 enfraquecido.
· 05:07 — Lá e De Volta Outra Vez
O Bitcoin acaba de alcançar uma nova vitória significativa. A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, declarou que a criptomoeda merece um espaço em portfólios multiativos.
Segundo um artigo divulgado pela gestora, alocar entre 1% e 2% do portfólio em Bitcoin resultaria em um perfil de risco semelhante ao das ações de tecnologia do grupo “Magnificent Seven” dentro de uma alocação tradicional de 60/40. Essa avaliação reforça o que venho defendendo há tempos: o Bitcoin tem um papel estratégico, ainda que moderado, na diversificação de investimentos…