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BCE corta juros na Europa, futuros americanos sobem e Brasil aguarda IBC-Br de outubro: veja destaques da sexta-feira

O mercado encerra esta semana enfrentando embates políticos na Europa e questões fiscais no Brasil. Leia mais.

Por Matheus Spiess

13 dez 2024, 08:22 - atualizado em 13 dez 2024, 08:22

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Imagem: iStock/ Nikada

Os futuros americanos registram alta nesta manhã de sexta-feira (13), após os principais índices de ações dos EUA terem recuado na quinta-feira (12) em resposta à divulgação do índice de preços ao produtor (PPI), que subiu 0,4% no último mês, superando as expectativas do mercado.

O dado gerou preocupação inicial de que pudesse comprometer as chances de um corte na taxa de juros pelo Federal Reserve na próxima semana. Entretanto, a leitura predominante é de que esse indicador isolado não será suficiente para alterar a trajetória esperada do Fed, que, ao reforçar sua postura de suporte aos ativos de risco, ajuda a aliviar o receio nos mercados nesta sexta-feira (13).

Na Europa, o otimismo persiste, com os índices de ações em alta nesta manhã, embalados pela recente decisão do Banco Central Europeu (BCE) de cortar mais 25 pontos-base na taxa de juros. Esse movimento reforça a expectativa de novos cortes no futuro. Em contrapartida, os mercados asiáticos não compartilharam do mesmo entusiasmo — mesmo após a China sinalizar um aumento na meta de déficit fiscal para o próximo ano, a ausência de medidas de estímulo mais robustas frustrou as expectativas. O governo chinês parece adotar uma abordagem incremental, liberando poucos estímulos, o que tem gerado uma interpretação de cautela excessiva.

O pessimismo também é evidente no mercado brasileiro, onde o temor de dominância fiscal ganha força. O sentimento negativo reflete o fracasso do governo em apresentar um plano convincente de recuperação da credibilidade fiscal. Ao adiar um ajuste estrutural mais robusto, o governo optou por atravessar uma ponte esburacada rumo a 2026, em vez de caminhar sobre uma ponte novinha e recapeada (caso tivesse apresentado um pacote fiscal robusto e adequado em tempo hábil). A hesitação e a falta de clareza na condução da política fiscal elevam os riscos percebidos, prejudicando ainda mais os ativos domésticos e aumentando a pressão local.

· 00:54 — Uma ponte esburacada para 2026

Por aqui, os investidores estão atentos à divulgação do IBC-Br de outubro, que, embora relevante, dificilmente desviará o foco principal do mercado: a agenda fiscal. O comportamento do mercado ontem foi emblemático. Apesar da elevação de 100 pontos-base na Selic, anunciada pelo Copom na noite de quarta-feira (11), acompanhada da sinalização de mais dois aumentos de igual magnitude em 2025, o real se desvalorizou e a curva de juros voltou a disparar.

Esse movimento reflete dois fatores principais: i) incertezas sobre a aprovação das medidas fiscais no Congresso, com um crescente receio de que o pacote de contenção do crescimento dos gastos públicos fique travado, especialmente com a recuperação de Lula após dois procedimentos cirúrgicos delicados na cabeça; e ii) risco crescente de entrarmos em um cenário de dominância fiscal, que tem ganhado força nas discussões econômicas.

O conceito de dominância fiscal refere-se a um cenário em que a política fiscal limita ou mesmo domina a política monetária. Nessa situação, o Banco Central perde autonomia para controlar a inflação ou a taxa de juros, pois suas decisões passam a ser condicionadas pela necessidade de financiar déficits fiscais elevados ou gerenciar uma dívida pública insustentável (o fiscal ruim demanda mais juros que piora ainda mais o fiscal, numa referência circular). A consequência é que o ajuste macro, que deveria recair nos juros, recai sobre a inflação, já que o câmbio é perdido, levando a uma dinâmica que remete a países como Turquia e Argentina — escolhas desastrosas.

Neste caso, mesmo que o Copom tenha agido corretamente ao elevar os juros, o efeito pode ser insuficiente ou até contraproducente. O aumento da Selic eleva o custo da dívida pública, ampliando o déficit nominal e agravando a trajetória de endividamento, criando uma dinâmica perversa que retroalimenta a desconfiança do mercado.

Embora o Brasil ainda não tenha alcançado esse ponto crítico, os sinais de alerta emitidos ontem reforçam a necessidade urgente de ajustes mais profundos. O atraso na apresentação do pacote fiscal e a entrega de uma proposta aquém das expectativas colocaram o governo em um caminho significativamente mais difícil para 2026, ano de eleições. A escolha de adiar medidas estruturais de maior impacto acabou aumentando a complexidade do cenário econômico.

Seguindo a lógica da teoria da reflexividade de George Soros, em que a percepção pode moldar a realidade e vice-versa, o Brasil enfrenta agora um círculo vicioso: a percepção negativa sobre a sustentabilidade fiscal amplia os desequilíbrios macroeconômicos, que, por sua vez, intensificam ainda mais a desconfiança. Neste contexto, o ajuste fiscal e monetário necessário se torna maior e mais doloroso, contratando uma desaceleração econômica expressiva à frente. O cenário exige medidas rápidas e eficazes para restaurar a confiança.

· 01:49 — O corte ainda virá

Nos Estados Unidos, o mercado de ações apresentou ontem uma leve correção, com dois terços das empresas listadas no S&P 500 registrando quedas. Apesar disso, as perdas parecem estar mais associadas à realização de lucros de curto prazo do que a qualquer preocupação estrutural com a economia. De fato, até o momento, não há sinais concretos de desaceleração iminente, o que reforça a leitura de que o movimento foi técnico e não fundamentado em mudanças substanciais na economia.

O que ofereceu justificativa para as vendas foi a inflação ao produtor, que veio levemente acima das expectativas. Esse dado reduz marginalmente a probabilidade de um novo corte na taxa de juros na reunião do Federal Reserve marcada para os dias 17 e 18 de dezembro. No entanto, é importante destacar que, em minha visão, essa leitura não é suficiente para impedir um corte adicional de 25 pontos-base pelo Fed.. O debate mais relevante se concentra em 2025, quando o Federal Reserve pode optar por pausar o ciclo de flexibilização já em janeiro, enquanto avalia dados econômicos mais recentes e acompanha as primeiras ações do novo governo Trump. Complementarmente, a agenda traz os dados de preços de importação e exportação.

· 02:31 — Entre cortes de juros e quedas políticas

Falando em cortes, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu novamente as taxas de juros, desta vez para 3% ao ano, reforçando as expectativas de mais reduções em 2025, à medida que a inflação na Zona do Euro se aproxima da meta de 2%. O corte de 25 pontos-base já era amplamente esperado pelo mercado, mas ocorre em um momento de significativa fragilidade econômica e política no continente europeu, ilustrando os desafios enfrentados por seus principais líderes.

Na França, o presidente Emmanuel Macron enfrenta turbulências políticas após a destituição do ex-primeiro-ministro Michel Barnier, liderada por Marine Le Pen. Como resposta, Macron deve anunciar hoje (13) a nomeação de um novo primeiro-ministro, que terá a difícil tarefa de estabilizar a situação política e avançar com o orçamento.

Na Alemanha, a crise política também se intensifica. O chanceler Olaf Scholz está programado para enfrentar um voto de confiança no Bundestag no dia 16 de dezembro. Caso o governo não consiga sustentação parlamentar, o país deverá realizar eleições antecipadas no final de fevereiro. Uma pesquisa recente indica que os conservadores e os verdes poderiam formar uma coalizão majoritária, o que mudaria significativamente a configuração política do maior motor econômico da Europa.

Essa onda de instabilidade política tem uma origem comum que transcende fronteiras: a pressão sobre os orçamentos nacionais após anos de estímulos fiscais massivos para mitigar os impactos da pandemia de Covid-19. A “conta fiscal da Covid” começou a chegar, e os governos estão sendo forçados a lidar com déficits elevados, enquanto tentam equilibrar suas políticas econômicas com a realidade de orçamentos limitados.

· 03:26 — Abordagem chinesa

A China anunciou planos para aumentar os gastos públicos em 2025, com uma mudança estratégica na política econômica, agora voltada para estimular o consumo interno. Essa iniciativa busca fortalecer o que Pequim identifica como o ponto mais vulnerável de sua economia: a dependência das exportações. A medida ganha relevância diante da iminente escalada das tensões comerciais com os Estados Unidos, agravadas pelas novas tarifas impostas pelo governo de Donald Trump, que colocam em risco a competitividade dos produtos chineses no mercado internacional.

Essa sinalização de maior ativismo fiscal ocorre em um momento delicado para a economia chinesa, marcado por desafios tanto domésticos quanto externos. Além do foco no consumo, a China também indicou, ao longo desta semana, a possibilidade de desvalorizar sua moeda, o yuan, como uma resposta direta às ações protecionistas dos EUA. Essa abordagem sugere que Pequim está disposta a adotar uma combinação de políticas monetárias, cambiais e fiscais para mitigar os impactos de uma possível intensificação da guerra comercial e preservar sua estabilidade econômica em meio a um cenário global cada vez mais incerto. Algo que veremos nos próximos anos…

· 04:12 — Instabilidade regional

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, declarou que os eventos recentes na Síria, incluindo a queda do regime de Bashar al-Assad, foram resultado de uma suposta conspiração articulada entre os Estados Unidos e Israel. Surpreendeu um total de zero pessoas. Essa acusação reflete a posição de fragilidade na qual o Irã se encontra após a perda de um de seus mais importantes aliados na região. Com o colapso do governo sírio, a situação no país tornou-se um terreno de disputas. Israel, aproveitando a oportunidade, intensificou seus ataques contra instalações militares remanescentes na Síria e deslocou tropas para o território sírio, numa tentativa de prevenir o surgimento de novas ameaças em um momento de vácuo de poder.

Dentre os atores que mais se beneficiaram dessa reconfiguração, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, destaca-se como um dos grandes ganhadores. Erdogan, que há tempos se opôs ao regime de Assad, é visto por muitos rebeldes sírios como uma figura heroica, e agora encontra espaço para ampliar sua influência na região. Por outro lado, o Irã emerge como um dos maiores prejudicados. Com sua política externa em desordem, Teerã luta para lidar com as consequências dessa perda estratégica. A queda da Síria representa um golpe severo para a estratégia iraniana de projeção de poder no Oriente Médio, particularmente após já ter visto um enfraquecimento significativo de grupos radicais extremistas como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza. Essas derrotas são agravadas pela redução do apoio direto da Rússia, que está profundamente envolvida em suas próprias crises.

A combinação desses fatores pressiona o Irã a reconsiderar sua estratégia de longa data de disseminar influência militar e ideológica no mundo árabe. Para os Estados Unidos e Israel, essa mudança representa uma vitória significativa, reduzindo a capacidade de Teerã de sustentar redes de aliados e proxies na região. Com a iminente posse de Donald Trump e a provável retomada de uma postura de confronto por parte de seu governo, a perspectiva de maior isolamento e contenção do Irã parece ainda mais provável. O “Eixo do Mal” das autocracias começará 2025 enfraquecido.

· 05:07 — Lá e De Volta Outra Vez

O Bitcoin acaba de alcançar uma nova vitória significativa. A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, declarou que a criptomoeda merece um espaço em portfólios multiativos.

Segundo um artigo divulgado pela gestora, alocar entre 1% e 2% do portfólio em Bitcoin resultaria em um perfil de risco semelhante ao das ações de tecnologia do grupo “Magnificent Seven” dentro de uma alocação tradicional de 60/40. Essa avaliação reforça o que venho defendendo há tempos: o Bitcoin tem um papel estratégico, ainda que moderado, na diversificação de investimentos…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.