Investimentos

BCE deve cortar mais taxas de juros na Europa e Nvidia (NVDC34) se recupera após balanço: principais destaques do mercado na semana

Nvidia volta a alinhar cotação após resultado mal recebido e mercado asiático encerra semana misto. Veja os destaques econômicos.

Por Matheus Spiess

22 nov 2024, 09:32 - atualizado em 22 nov 2024, 09:32

Ontem, chamou atenção a recuperação da Nvidia (NVDC34) ao longo do pregão, após uma reação inicial negativa ao seu robusto resultado trimestral. Conforme mencionei anteriormente, os números apresentados pela empresa foram excelentes, mas a resposta do mercado foi inicialmente distorcida. No entanto, ao final do dia, as ações encerraram em alta, sinalizando uma melhora no sentimento dos investidores.

Esse otimismo repercutiu no mercado asiático, que fechou de forma mista, mas com um viés majoritariamente positivo. Ainda assim, a região teve que lidar com o impacto de alguns resultados corporativos desfavoráveis vindos da China, o que limitou o apetite por risco. Uma falta de direção semelhante foi observada na Europa, onde os mercados oscilaram após os ganhos de ontem.

Por um lado, indicadores de atividade econômica mais fracos na zona do euro alimentaram expectativas de novos cortes na taxa de juros pelo Banco Central Europeu, com especulações de uma redução de até 50 pontos-base em dezembro. Por outro lado, esses mesmos dados reforçam a percepção de estagnação econômica que aflige o continente, em contraste direto com o dinamismo econômico dos Estados Unidos, reforçando a ideia do “excepcionalismo americano”.

No cenário geopolítico, as preocupações foram renovadas após o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar o lançamento de um novo míssil balístico hipersônico contra a Ucrânia. Esse evento elevou o sentimento de aversão ao risco global, refletido na alta do ouro e do dólar, bem como no avanço do preço do petróleo. Em suma, o mercado segue navegando entre sinais econômicos mistos e uma crescente tensão geopolítica.

· 00:56 — A interminável espera

No Brasil, além do impacto do sentimento global de aversão ao risco devido às tensões geopolíticas, enfrentamos a persistente e frustrante espera pelo pacote fiscal, que segue ampliando a inquietação do mercado diante do receio de um anúncio aquém das expectativas. Após diversos adiamentos, a nova previsão para a divulgação do pacote é entre segunda e terça-feira da próxima semana, coincidindo com a reunião da Comissão Mista de Orçamento (CMO), onde será discutido o andamento da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2025.

Supostamente, todo o ajuste já estaria pronto, aguardando apenas a aprovação final do presidente Lula. Como venho apontando, o atual governo carece tanto de força política quanto de disposição para implementar um ajuste fiscal mais abrangente. É natural, portanto, que opte por postergar decisões, mas esse atraso tem consequências severas. Os juros futuros disparam para níveis acima de 13% em diversos vértices, o dólar aproxima-se perigosamente da marca de R$ 6,00, e o Ibovespa recua para abaixo dos 127 mil pontos. Isso reflete a insistência da ala política/petista do governo em adotar o que poderia ser descrito como um “terraplanismo econômico”.

Paralelamente, no calendário de hoje (22), destaque para a divulgação do Relatório Bimestral de Avaliação de Receitas e Despesas, que, na última edição, gerou grande decepção. A expectativa é de que o relatório indique um bloqueio de cerca de R$ 5 bilhões — um valor ainda muito modesto — e, ao que tudo indica, sem contingenciamentos adicionais, devido ao avanço das receitas. No entanto, a Instituição Fiscal Independente (IFI) estima que o governo ainda precisará de R$ 13,6 bilhões até dezembro para atingir o piso da banda da meta fiscal deste ano, um objetivo que parece cada vez mais desafiador. Apesar de um possível relatório positivo, o foco do mercado segue concentrado no aguardado programa de cortes de gastos.

Por outro lado, a notícia de que a Petrobras (PETR4) distribuirá R$ 20 bilhões em dividendos extraordinários trouxe um alívio pontual. Desse montante, a União receberá R$ 7,32 bilhões, o que ajuda a aliviar a situação fiscal do governo. Além disso, a Petrobras também anunciou seu Plano Estratégico para 2050 e o Plano de Negócios para o período de 2025-2029, cujos detalhes serão apresentados em uma coletiva de imprensa na manhã de hoje (21). O desempenho das ADRs da petroleira lá fora, que registraram alta ontem, deve contribuir positivamente para o humor do mercado local na sessão de hoje (o peso no índice dá um caráter sistêmico à companhia).

· 01:47 — O caminho para 2026

Temos reforçado aqui na Empiricus uma tese que aponta para uma possível virada do pêndulo político no Brasil em 2026, seguindo a dinâmica observada recentemente na Argentina e nos Estados Unidos. Aliás, esse movimento tem precedentes históricos interessantes: primeiro, Kirchner, Obama e Rousseff; depois, Macri, Trump e Bolsonaro; seguidos por Fernández, Biden e Lula. Agora, o trio Milei, Trump e… Quem será o próximo nome a emergir nas eleições presidenciais brasileiras? O processo eleitoral municipal de 2024 trouxe indícios claros da direção que o país pode seguir, especialmente se a ala pró-mercado conseguir evitar divisões internas excessivas.

A unidade será crucial. O eleitorado, assim como o mercado, parece preferir uma direita mais moderada, capaz de construir alianças políticas viáveis e com maior competitividade eleitoral. Uma fragmentação excessiva pode ser desastrosa para a tese de alternância, abrindo espaço para nomes mais polarizadores e menos moderados. Figuras como Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado despontam como opções robustas da direita, com menor rejeição e maior potencial de atrair uma base ampla de eleitores. Em contraste, Romeu Zema, de Minas Gerais, enfrenta dificuldades, como evidenciado por sua derrota em Belo Horizonte, enquanto Ratinho Jr., do Paraná, talvez encontre mais sucesso disputando uma vaga no Senado.

Naturalmente, o cenário também foi impactado pelo episódio infeliz na Praça dos Três Poderes e pelo recente indiciamento de Bolsonaro, que reduzem consideravelmente a probabilidade de uma anistia relacionada ao 8 de janeiro, praticamente inviabilizando sua elegibilidade para 2026. Essa dinâmica pode fortalecer ainda mais a posição de uma direita renovada, com menor rejeição e maior apelo político, alinhada ao que o mercado considera politicamente viável e economicamente promissor.

Se essa tese se confirmar, os patamares de preço que vemos hoje nos ativos brasileiros poderão ser vistos com nostalgia. No curto prazo, mesmo um pequeno ajuste fiscal seria suficiente para acalmar os ânimos do mercado em 2025, pavimentando o caminho para um rali eleitoral em 2026, seguido por dois mandatos pró-mercado. O resultado dessa combinação poderia ser notável, como observado recentemente na Argentina sob o comando de Javier Milei. Desde sua eleição, ativos argentinos tiveram uma valorização expressiva, enquanto o país apresenta avanços concretos no controle da inflação e no ajuste fiscal — apesar das dificuldades iniciais, a Argentina já superou o pior da recessão, com taxas de pobreza começando a recuar. Esse cenário é mais do que possível para o Brasil. Com medidas bem estruturadas e uma liderança política pró-mercado capaz de inspirar confiança, o país pode trilhar um caminho semelhante, basta não fazer bobagem na escolha do candidato para 2026…

· 02:34 — Excepcionalismo

Nos Estados Unidos, as ações da Nvidia mostraram resiliência ao reverterem perdas iniciais e encerrarem o pregão de ontem com alta de 0,5%, destacando-se como o único membro do grupo “Magnificent Seven” a registrar ganhos no dia. Em contrapartida, a Alphabet foi o destaque negativo, caindo quase 5% após o Departamento de Justiça dos EUA avançar em um processo judicial que acusa a controladora do Google de comportamento monopolista. 

Apesar do impacto sobre a Alphabet, o dia foi amplamente positivo para o mercado. Um total de 438 das 500 empresas do S&P 500 registraram ganhos, levando o índice a fechar em alta de 0,5%. Esse desempenho foi impulsionado, em parte, pelo otimismo em relação à economia americana, reforçado pela queda nos pedidos de auxílio-desemprego, um sinal de robustez do mercado de trabalho.

O “excepcionalismo americano” segue firme, destacando a capacidade dos EUA de manterem um desempenho econômico superior em meio a desafios globais. Esse contexto continua a alimentar a confiança dos investidores, posicionando o mercado americano como uma referência de estabilidade e crescimento.

· 03:29 — Moderação

O ex-congressista Matt Gaetz retirou-se da disputa para assumir o cargo de procurador-geral dos Estados Unidos no segundo governo de Donald Trump. Gaetz, que tem sido alvo de investigações envolvendo alegações de tráfico sexual de menores e uso de drogas, nega veementemente qualquer irregularidade. Ele era um dos nomes mais controversos entre os indicados até agora por Trump.

Entretanto, os desafios políticos para o presidente eleito vão além dessa saída. As nomeações de Tulsi Gabbard como diretora nacional de inteligência, Robert F. Kennedy Jr. como secretário de Saúde e do apresentador de TV Pete Hegseth para secretário de Defesa também enfrentam resistência considerável. Inclusive, há quem interprete a retirada de Gaetz como parte de uma estratégia deliberada de Trump, visando tornar as demais escolhas menos controversas aos olhos do público e do mercado.

Independentemente das intenções, o afastamento inicial de figuras mais polarizadoras no futuro gabinete pode trazer um alívio para o mercado, que ainda aguarda com grande expectativa a definição do nome para o cargo de secretário do Tesouro. Como mencionado anteriormente, escolhas como Scott Bessent, fundador da Key Square Group, ou Marc Rowan, CEO da Apollo Global Management, seriam recebidas com entusiasmo pelos investidores, potencialmente gerando um impacto positivo nos ativos.

· 04:11 — Uma grande avenida

À medida que o mundo avança em direção à digitalização, os data centers assumem um papel central, sustentando desde buscas simples na internet até aplicações complexas como o desenvolvimento de inteligência artificial (IA). Essas instalações são, literalmente, a espinha dorsal da economia digital. Seja uma tarefa básica ou avançada, qualquer processo que exija computação depende de um data center para armazenar, processar e transmitir os dados necessários para sua execução.

Os chamados hiperescaladores — grandes empresas que operam os maiores e mais avançados data centers — gerenciam vastos complexos que abrigam milhares de servidores e sistemas de armazenamento. Com a crescente demanda por IA e o aumento exponencial no poder de processamento requerido, a atenção agora se volta para o consumo energético dessas instalações. Atualmente, existem mais de 11.000 data centers de grande escala globalmente, e as projeções indicam que seu consumo de energia deverá mais do que dobrar até 2030. Até 2026, espera-se que essas instalações consumam mais energia anualmente do que países inteiros como Alemanha ou França.

Nesse cenário, o Brasil tem uma oportunidade estratégica de se posicionar como um protagonista no mercado global de data centers, aproveitando seu potencial para oferecer instalações alimentadas por energia verde. Essa abordagem não apenas atende à crescente demanda por eficiência energética e sustentabilidade, mas também alinha duas tendências de ponta: a expansão da economia digital e a transição energética global. Para investidores, o setor apresenta um espectro diversificado de oportunidades, que vão desde o financiamento de infraestrutura até tecnologias inovadoras associadas ao armazenamento e processamento de dados. 

· 05:05 — O beneficiado

As ações da Tesla acumularam uma alta de 35% em dólares desde que Donald Trump foi novamente eleito como presidente dos EUA. A expectativa do mercado é de que a proximidade de Elon Musk com o republicano possa facilitar a criação de uma estrutura federal para veículos autônomos.

Essa iniciativa simplificaria o processo de obtenção de licenças para direção autônoma e permitiria que carros autônomos transitassem entre estados sem restrições.

Além disso, políticas de Trump, como novas tarifas sobre veículos elétricos chineses e europeus, poderiam fortalecer a competitividade da Tesla no mercado global. Contudo, com a empresa avaliada em mais de US$ 1 trilhão, surge a pergunta: há espaço para mais valorização?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.