Os investidores que tinham decidido esperar pela apresentação do pacote fiscal no Brasil acabaram optando por vender sem hesitar ontem (28), refletindo a frustração com o anúncio.
Hoje (29), os mercados globais ganham um pouco mais de liquidez, mas ainda estão longe da normalidade, já que Nova York opera em horários reduzidos nesta Black Friday. As bolsas americanas fecharão às 15h, enquanto o mercado de Treasuries encerra às 16h. Nesse ambiente, continuamos lidando com nossas demandas domésticas, que permanecem no centro das atenções.
No cenário internacional, após uma recuperação vista ontem, os índices europeus voltam a apresentar quedas nesta sexta-feira. Os investidores do continente buscam novos vetores, enquanto enfrentam incertezas relacionadas às tarifas comerciais ameaçadas por Donald Trump e à turbulência política na França, onde o governo luta para aprovar o orçamento.
· 00:57 — Não tem muito para onde correr: vai ser difícil recuperar a confiança
O governo agora precisará se empenhar para recuperar a credibilidade perdida (devemos ver medidas adicionais em breve). Será difícil reconquistar 100% dessa confiança, mesmo que opte por deixar de lado o pacote de isenções. O problema não foi o pacote em si ou a falta de interesse do mercado pela isenção, mas sim a forma como ele foi apresentado, que destruiu a grande oportunidade que o governo tinha de encerrar o ano de maneira positiva. Agora, fica na mão do Congresso eventualmente endurecer as regras (como Brasília não gosta de dólar alta, deve acontecer)
Ainda há espaço para alguma recuperação tímida, uma vez que recuperações, ainda que modestas, são normais após correções como a de ontem. No entanto, isso não altera o fato de que agora precisamos de um aperto monetário mais rigoroso. Lembrem-se: na ausência de uma âncora fiscal, necessitamos de uma âncora monetária. Podemos considerar mais dois aumentos de 75 pontos-base na taxa Selic após a falha do governo (sendo que o segundo aumento ocorreria porque Galípolo não poderá assumir reduzindo o ritmo de flexibilização da política — o que seria ainda pior).
· 01:49 — Um dia mais curto
O mercado americano terá hoje um pregão mais curto, devido ao feriado de Ação de Graças celebrado ontem. Enquanto isso, o panorama político permanece no radar, com destaque para as tensões na relação entre os EUA e a China.
Em um movimento que pode aliviar parcialmente essas tensões, o governo americano parece inclinado a diluir seu plano de restrições adicionais às vendas relacionadas a chips para a China, evitando implementar algumas das medidas mais duras inicialmente consideradas. As novas restrições, que devem ser anunciadas na próxima semana, ainda reforçarão a repressão dos EUA às ambições tecnológicas de Pequim, mas agora espera-se que menos empresas sejam incluídas na lista de restrições.
Essa mudança de postura reflete a pressão exercida por fabricantes americanos de equipamentos para chips, que argumentam que medidas mais rígidas os colocariam em desvantagem competitiva em relação aos rivais estrangeiros e causariam danos severos à indústria de semicondutores nos EUA. O intenso lobby desse setor parece ter influenciado a suavização das propostas iniciais.
Entretanto, as perspectivas de longo prazo para as relações EUA-China permanecem sombrias. O retorno de Donald Trump ao poder, caso se concretize, deverá intensificar ainda mais o clima de confronto entre as duas maiores economias do mundo, exacerbando disputas comerciais e tecnológicas.
· 02:32 — O clima está pesado
Após realizar mais um ataque massivo de mísseis durante a noite contra o sistema energético da Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin intensificou suas ameaças, declarando que poderia por em seu alvo centros de decisão em Kiev com novos mísseis balísticos. Esse aviso surge como parte da resposta de Moscou ao uso, pela Ucrânia, de armas de longo alcance fornecidas pelos Estados Unidos e Reino Unido para atingir alvos dentro da própria Rússia.
As recentes escaladas no conflito, incluindo a crescente dependência da Rússia de tropas norte-coreanas, levantaram preocupações de que a guerra possa se expandir ainda mais. Enquanto isso, a Europa enfrenta um dilema estratégico, tentando definir seus próximos passos em meio à incerteza sobre o futuro do apoio dos EUA à Ucrânia. A eleição de Donald Trump reacendeu temores de que, sob sua liderança, os Estados Unidos reduzam ou encerrem o suporte militar a Kiev, uma decisão que poderia forçar a Europa a assumir um papel mais central no financiamento e na sustentação do esforço de guerra ucraniano.
Um indício inicial da abordagem de Trump é sua decisão de nomear Keith Kellogg, ex-general e conselheiro de longa data, como enviado especial para a Ucrânia e a Rússia. Kellogg compartilha da visão de Trump de buscar um fim rápido para o conflito, possivelmente por meio da redução da ajuda militar à Ucrânia. Essa postura sugere uma mudança significativa na política externa americana, que poderá redefinir não apenas a dinâmica do conflito, mas também o equilíbrio estratégico global.
· 03:24 — E Taiwan?
Durante seu primeiro mandato, Donald Trump adotou uma postura linha-dura em relação à China. Agora, em seu segundo mandato, uma área que merece atenção especial é a política de Trump em relação a Taiwan, um ponto crítico nas tensões sino-americanas. A vitória de Trump gerou ansiedade em Taiwan, uma democracia autônoma que enfrenta pressões crescentes de uma China cada vez mais agressiva, que considera a ilha uma província separatista.
Há dúvidas sobre até que ponto Trump continuará a apoiar Taiwan em sua luta pela autonomia. Em um movimento controverso, o presidente eleito já sugeriu que Taiwan deveria começar a pagar aos Estados Unidos pela defesa militar que recebe. Assim, com uma postura potencialmente mais ambivalente em relação a Taiwan e um foco renovado no protecionismo econômico, Trump 2.0 promete uma dinâmica ainda mais complexa nas relações EUA-China e na geopolítica do Indo-Pacífico.
· 04:18 — Muitas volatilidade
Nesta semana, o preço do barril de petróleo deve apresentar recuo, mesmo após as trocas de acusações entre Israel e Hezbollah ontem sobre supostas violações do cessar-fogo, que havia entrado em vigor no dia anterior. Inicialmente, o acordo parecia ter aliviado as preocupações em torno de uma possível ampliação do conflito, que vinha adicionando um prêmio de risco ao preço do petróleo.
Entretanto, é importante notar que o fornecimento de petróleo do Oriente Médio não foi diretamente impactado pelos conflitos recentes entre Israel e Hezbollah no Líbano, ou mesmo pelos confrontos paralelos com o Hamas em Gaza. Apesar disso, o cenário permanece sensível, e é provável que a volatilidade nos preços do petróleo continue nas próximas semanas, à medida que o mercado monitora de perto os desdobramentos geopolíticos na região.
· 05:02 — Um gigante entre os bancos
No início da semana, o BTG Pactual realizou seu encontro anual com investidores, em formato totalmente online, apresentando suas perspectivas para o próximo ano. Em síntese, o banco reforçou a expectativa de forte expansão de receitas acompanhada de controle rigoroso de despesas, o que deve continuar impulsionando um sólido crescimento de lucro em 2025, seguindo a trajetória observada em 2024.
A questão que surge é: ainda faz sentido manter as ações do BTG em carteira após um ano desafiador para o mercado?