Investimentos

Bolsas globais aguardam índice de preços dos EUA e ausência de postura fiscal segura Ibovespa; veja destaques do dia

Os dados do índice de preços ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos deve liderar a agenda econômica desta quarta-feira (15).

Por Matheus Spiess

15 jan 2025, 09:18 - atualizado em 15 jan 2025, 09:18

brasil mercosul união europeia mercado

Imagem: iStock/ reisegraf

Após a divulgação da inflação ao produtor nos EUA (PPI) na terça-feira (15), todas as atenções se voltam para o principal dado da semana no cenário internacional: o índice de preços ao consumidor (CPI). A questão central é se os consumidores americanos estão sentindo a mesma pressão inflacionária que os produtores, especialmente considerando que o dado de ontem veio abaixo das expectativas, trazendo um alívio à curva de juros.

Um número mais robusto na inflação ao consumidor, por outro lado, poderia minar qualquer expectativa de cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve ainda este ano. O inverso, por sua vez, reforçaria a tese de uma política monetária menos restritiva.

Enquanto isso, os mercados europeus abrem em alta nesta manhã (15), sustentados pela inflação de dezembro no Reino Unido, que também ficou abaixo das projeções, levando à percepção de um possível alívio na política monetária local. Os futuros americanos seguem a mesma tendência positiva, acompanhados pelo desempenho das commodities, que continuam subindo mesmo após o anúncio de que Israel e o Hamas chegaram a um acordo preliminar para um cessar-fogo. Caso os detalhes finais sejam aprovados e o governo de Israel ratifique a decisão, o cessar-fogo poderá ser implementado já neste fim de semana, encerrando 15 meses de conflito — estrategicamente a tempo da posse de Donald Trump na próxima segunda-feira.

No entanto, o clima no Ocidente contrasta com o pessimismo predominante na Ásia, onde a maioria dos índices encerrou o pregão em queda. A região enfrenta apreensões ligadas às crescentes restrições econômicas impostas pelos EUA sobre semicondutores, elevando as tensões comerciais com a China. Além disso, há uma maior instabilidade política na Coreia do Sul, com a prisão histórica do presidente em exercício, Yoon Suk Yeol, acusado de tentar impor lei marcial (foi interpretado como uma tentativa de golpe). Paralelamente, os investidores asiáticos também precificam uma possível alta nos juros pelo Banco do Japão, que pode ser anunciada na semana que vem, adicionando volatilidade aos mercados regionais e valorizando o yen.

· 00:59 — Sem perspectiva

No Brasil, o pregão de ontem (14) apresentou sinais de maior apetite ao risco, com o Ibovespa registrando alta e o dólar recuando. Contudo, já começamos a observar os primeiros indícios de perda de fôlego na atividade econômica, especialmente na indústria e no varejo. Esses sinais poderão ser reforçados hoje com a divulgação dos dados do setor de serviços.

Como mencionei anteriormente, o otimismo que dominou o cenário econômico real no final de 2024 parece ter sido desproporcional, enquanto o mercado financeiro, amplamente criticado de forma demagógica, já antecipava os desafios previstos para 2025, os quais agora começam a se materializar nos números. O mercado financeiro sempre antecipa. Ainda assim, na ausência de uma postura fiscal mais assertiva por parte do governo, os movimentos de maior apetite ao risco entre os ativos locais carecem de sustentação real, deixando o Brasil refém do humor internacional, como vimos ontem após os dados de inflação ao produtor nos EUA.

No âmbito fiscal, o resultado primário do governo referente a novembro será divulgado hoje (15). A expectativa é de mais um déficit, alinhando-se à tendência de 2024, quando o país acumulou um dos maiores déficits nominais do mundo, superando amplamente a média das economias emergentes. Essa situação reflete a perda de credibilidade fiscal, agravada por um arcabouço fiscal desacreditado, incapaz de convencer o mercado. Medidas adicionais para contenção de gastos, aguardadas com ansiedade pelos agentes econômicos, continuam a ser adiadas, reforçando a impressão de uma gestão fiscal ineficiente e procrastinadora. Não basta ao governo apenas reformular sua liderança de comunicação; as atitudes concretas precisam mudar.

Ainda há uma oportunidade para salvar a ponte até 2026, mas as decisões cruciais devem ser tomadas no primeiro semestre de 2025. Caso contrário, permaneceremos sob a sombra das incertezas fiscais, com os mercados cada vez mais pressionados, até que uma mudança efetiva do pêndulo político se concretize nas eleições do próximo ano.

· 01:42 — A chance de cortar juros

Nos Estados Unidos, o mercado de ações encerrou o dia em alta, enquanto os rendimentos dos títulos do Tesouro recuaram, impulsionados pela divulgação do primeiro de dois relatórios de inflação aguardados nesta semana. O PPI avançou 0,2% em dezembro, mostrando desaceleração em relação ao mês anterior e ficando abaixo das expectativas do mercado. No acumulado anual, o índice registrou alta de 3,3%. Embora relevante, a métrica que guia o Federal Reserve é o índice de preços das despesas de consumo pessoal (PCE), que considera tanto os preços ao consumidor quanto ao produtor e tem como meta uma inflação anual de 2%. Os dados do PCE de dezembro, no entanto, serão divulgados apenas em 31 de janeiro. Até lá, o foco do mercado recai sobre os números desta semana.

Hoje, todas as atenções estarão voltadas para o CPI, que é o principal dado de inflação desta semana. O consenso espera uma alta anualizada de 2,8%. Caso o número surpreenda para baixo, poderá aliviar as pressões sobre as taxas de juros, a força do dólar e os mercados acionários, replicando o movimento positivo observado ontem. Além disso, o Fed divulgará o Livro Bege, que reúne informações econômicas das 12 regiões monitoradas pelas autoridades monetárias, sendo a primeira publicação do tipo neste ano. Este relatório poderá oferecer mais detalhes sobre as condições econômicas e expectativas regionais, auxiliando na avaliação do caminho da política monetária.

No lado corporativo, o início da temporada de resultados ganha destaque, liderado pelos grandes bancos americanos, como JPMorgan Chase, Goldman Sachs, Citigroup e Wells Fargo. A expectativa é de forte crescimento dos lucros no quarto trimestre, com os maiores bancos de investimento projetando ganhos impressionantes. Os resultados desses gigantes financeiros não apenas refletem o desempenho do setor, mas também ajudam a moldar o tom para a temporada de balanços como um todo, influenciando o humor dos mercados nas próximas semanas. Terá desdobramento internacional.

· 02:35 — Problemas no orçamento

Como venho reiterando há bastante tempo, os problemas orçamentários não são exclusividade do Brasil; trata-se de uma questão global, que ficou evidente nas sucessivas crises políticas que abalaram diversas nações no final do ano passado. Agora, o recém-empossado primeiro-ministro da França, François Bayrou, parece ter conquistado uma pequena margem de manobra para manter seu governo, ao propor a revisão da controversa reforma previdenciária aprovada em 2023.

No entanto, essa tentativa de apaziguar os ânimos já parece esvaziada. O França Insubmissa, principal partido da esquerda francesa, sinalizou que pretende apresentar um voto de desconfiança contra o governo, demonstrando o quão frágil é a coalizão de Bayrou.

Vale lembrar que a crise fiscal foi a pedra angular que derrubou seu antecessor, Michel Barnier, no final do ano passado, tornando-o o primeiro-ministro mais breve na história recente da França. A situação de Barnier lembra o caso de Liz Truss no Reino Unido, que também sucumbiu diante de problemas orçamentários pouco mais de dois anos atrás, em um episódio que desestabilizou os mercados britânicos.

E por falar no Reino Unido, a ministra das Finanças, Rachel Reeves, reiterou ontem o compromisso do governo britânico com a sustentabilidade fiscal. A declaração vem em um momento de turbulência no mercado de Gilts, os títulos da dívida pública do país, que têm enfrentado forte volatilidade. Este é mais um reflexo de um problema que transcende fronteiras. Crises fiscais pós-pandêmicas semelhantes têm pressionado economias de ponta como Alemanha, Canadá, Estados Unidos e Coreia do Sul. No caso sul-coreano, aliás, a instabilidade atingiu o ápice com a prisão do presidente Yoon Suk Yeol, acusado de corrupção e tentativa de imposição de lei marcial.

Esses exemplos reiteram o caráter global da questão fiscal, destacando que governos ao redor do mundo enfrentam o desafio de equilibrar suas contas em meio a crescentes tensões políticas e econômicas. A sustentabilidade orçamentária, mais do que nunca, tornou-se uma linha tênue entre estabilidade e crise. Estamos nesse barco.

· 03:24 — Falta de liderança global

Os Estados Unidos, sob a égide do unilateralismo transacional de Donald Trump, têm seguido uma política externa marcada pela centralidade de seus próprios interesses, deixando aliados tradicionais lidarem com um cenário político de fragilidade sem precedentes.

O governo canadense, por exemplo, acaba de colapsar, enquanto a Alemanha enfrenta dificuldades similares. Na França, a crise política é profunda, e o Reino Unido, sob a liderança de um novo governo já impopular, luta para encontrar estabilidade. O Japão também enfrenta turbulências políticas, com o partido governante perdendo sua maioria. Na Coreia do Sul, o sistema político encontra-se em completo caos. Diante desse quadro, em vez de assumirem uma posição de liderança para preencher o vácuo geopolítico, essas nações optam por uma postura defensiva, tentando manter um perfil discreto para evitar serem alvos de maiores perturbações. 

Vivemos uma recessão geopolítica, na esteira do que tem sido promovido pelo Eurasia Group, de Ian Bremmer. Paralelamente, o chamado Sul Global, apesar de seu peso econômico crescente, ainda carece da coesão e da capacidade necessárias para assumir um papel de liderança global. A Índia, que desponta como um dos líderes mais plausíveis entre as nações em desenvolvimento, continua sendo um país de baixa renda, focado principalmente em articular parcerias que atendam a seus interesses nacionais. Estados do Golfo, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos, mesmo com ambições globais crescentes, carecem da posição necessária para impulsionar reformas significativas em escala mundial. O Brasil, por sua vez, está atolado em uma crise fiscal sem solução à vista. Enquanto isso, a China, único desafiante viável à hegemonia dos EUA, encontra-se incapaz de liderar mesmo que quisesse. A ausência de legitimidade global e de “soft power” necessário para angariar seguidores estáveis é agravada por seus problemas econômicos internos. 

Esse cenário revela um mundo cada vez mais desprovido de liderança. Sem nenhum país ou grupo disposto e capaz de assumir as rédeas, o resultado é uma crescente instabilidade geopolítica, marcada por perturbações constantes e conflitos latentes. Os vácuos de poder continuarão a se expandir, a governança global ficará cada vez mais enfraquecida, e a proliferação de atores desonestos se tornará mais evidente. 

·04:12 — Barragem chinesa

Por falar em China, o gigante asiático está avançando com um ambicioso projeto de infraestrutura que promete se tornar uma das maiores obras de engenharia do mundo: a construção de uma mega-barragem no rio Yarlung Tsangpo, no Tibete, próximo à fronteira contestada com a Índia. Esse empreendimento monumental será capaz de gerar energia equivalente a três vezes a capacidade da Barragem das Três Gargantas, atualmente a maior do mundo. Com um custo estimado de US$ 137 bilhões, o projeto se posiciona como um dos mais caros da história da infraestrutura global.

Embora o potencial energético seja inegável, a construção dessa barragem carrega implicações geopolíticas significativas. O curso do rio Yarlung Tsangpo, ao cruzar o Tibete e seguir em direção à Índia, torna-se o rio Brahmaputra, um dos mais importantes para a agricultura e o abastecimento de água no país vizinho. Alterações no fluxo do rio podem impactar diretamente a segurança hídrica da Índia, alimentando tensões em uma relação bilateral que acaba de se estabilizar após um impasse de quatro anos, desencadeado por um conflito de fronteira em junho de 2020.

A construção da barragem também suscita sérias preocupações quanto ao seu potencial uso como instrumento de alavancagem geopolítica. Em cenários extremos, o controle chinês sobre o fluxo do rio poderia ser empregado como uma ferramenta de pressão estratégica, seja restringindo o fornecimento de água à Índia ou, em um cenário ainda mais drástico, liberando o volume armazenado de forma irresponsável, com o risco de inundar vastas regiões. A situação evoca os antigos temores argentinos relacionados à construção da usina de Itaipu, período em que as tensões entre Brasil e Argentina se intensificaram devido à percepção de que o norte argentino poderia ser inundado em caso de uso estratégico ou inadequado da barragem.

O momento para essa decisão não poderia ser mais sensível. Apesar da recente trégua nas relações sino-indianas, a perspectiva de uma obra dessa magnitude em uma área de disputas territoriais reacende os temores de instabilidade na região. A barragem, ao mesmo tempo em que simboliza o poderio econômico e tecnológico da China, destaca a crescente competição entre as duas potências asiáticas e o impacto que disputas por recursos naturais podem ter na geopolítica contemporânea. Em um cenário onde a cooperação regional é cada vez mais necessária, parece que o projeto tem potencial para gerar mais ruídos do que energia.

· 05:03 — Um nome americano

Nos Estados Unidos, os últimos resultados divulgados reforçam a resiliência e o bom momento da economia americana, elevando as expectativas para a temporada de resultados que se inicia hoje. Para 2024, projeta-se que o S&P 500 apresente um crescimento de 9% no lucro por ação, alcançando US$ 242, ligeiramente acima da média histórica desde 1991.

As previsões para 2025 são ainda mais otimistas, apontando para um crescimento de 12%, totalizando US$ 272 por ação. No entanto, o valuation nos Estados Unidos permanece como um ponto de atenção. Nos últimos dois anos, uma parte significativa dos ganhos nos índices americanos decorreu da reprecificação dos múltiplos, o que exige maior seletividade por parte dos investidores.

Dentro desse contexto, acredito que nomes bem escolhidos ainda possam proporcionar retornos expressivos. Um exemplo é a…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.