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Bolsas internacionais abrem mistas na semana, com novos estímulos da China e receio de inflação nos EUA; confira

Nesta segunda-feira (9), ressoa nos mercados os últimos indicadores da sexta-feira. Confira.

Por Matheus Spiess

09 dez 2024, 09:15 - atualizado em 09 dez 2024, 09:23

crescimento bolsa investimentos simulador

Imagem: iStock/ Cristina Gaidau

Os mercados internacionais começaram a semana com um tom positivo na Ásia, impulsionados pela sinalização de novos estímulos fiscais por parte da China. Durante a semana, o evento das lideranças chinesas promete trazer mais indicações nesse sentido, embora o mercado espere que os anúncios sejam seguidos por ações concretas nas próximas semanas para sustentar esse ânimo, algo ainda incerto.

Ainda no continente asiático, o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol conseguiu sobreviver a um processo de impeachment, o que trouxe algum alívio político para o país. Na Europa, o clima de otimismo também prevalece, mesmo com o aumento das incertezas políticas e fiscais decorrentes do colapso do governo francês. 

Nos Estados Unidos, os índices futuros começaram a semana em queda, refletindo a formação das expectativas dos investidores em relação ao índice de inflação de novembro, que será divulgado na quarta-feira. Apesar disso, é pouco provável que esse dado altere a perspectiva amplamente consolidada de mais um corte de juros pelo Federal Reserve na semana que vem.

Ainda esta semana, teremos reuniões de política monetária importantes: na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) deve seguir o caminho de cortes de juros, enquanto no Brasil, espera-se uma nova alta na Selic. No cenário geopolítico, o final de semana trouxe uma notícia marcante: a queda do governo de Bashar al-Assad na Síria, encerrando mais de duas décadas de poder. 

· 00:54 — 100 pontos?

No cenário doméstico, o mercado segue cauteloso diante da ausência de avanços significativos na agenda fiscal na última semana. A proposta do governo para conter o crescimento dos gastos públicos enfrenta possíveis resistências no Congresso, gerando incertezas que foram claramente refletidas no comportamento dos mercados na última sexta-feira (6). O ruído em torno dos ativos locais permaneceu elevado na semana que se seguiu ao anúncio do ministro Fernando Haddad, sem sinais de diluição no pessimismo. Agora, as atenções se voltam para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre entre terça e quarta-feira desta semana. 

O IPCA de novembro, que será divulgado amanhã (10), deve ter impacto limitado sobre a decisão do Banco Central, com uma alta de 75 pontos-base já amplamente esperada pelo mercado como o piso mínimo. Contudo, a deterioração das expectativas na semana passada tem levado muitos investidores a precificar uma alta de 100 pontos-base, refletindo o aumento da pressão sobre a política monetária.

O estresse nos mercados é evidente: o Ibovespa recuou para os 125 mil pontos, o dólar permanece acima de R$ 6, e a curva de juros aponta para uma Selic terminal de 15,50%. Embora eu não acredite que será necessário chegar a esse patamar, dada a natureza dinâmica da situação e a possibilidade de ajuste nas expectativas ao longo do tempo, os preços atuais são um indicativo claro de como o governo perdeu o pouco de credibilidade fiscal que ainda possuía. A confiança do mercado, já fragilizada, foi ainda mais corroída, aumentando os desafios para reverter a percepção negativa.

· 01:41 — Um passo importante para o Brasil

Em meio ao movimento local de aversão ao risco, o histórico acordo comercial entre Mercosul e União Europeia (UE) acabou ficando em segundo plano, mesmo representando um marco significativo após mais de duas décadas de negociações. Como antecipei aqui, na última sexta-feira (6), ambos os blocos finalmente chegaram a um entendimento sobre os termos do pacto.

O acordo simboliza uma mudança de postura para a UE e para o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), ao estabelecer novas oportunidades de mercado para seus produtos em um cenário global de competição crescente com a China e diante das ameaças tarifárias vindas dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump. Embora um acordo preliminar tenha sido alcançado em 2019, os avanços subsequentes foram praticamente congelados, em parte devido à pandemia e à resistência europeia ao governo Bolsonaro.

Mesmo atrasado e firmado em um contexto global muito diferente daquele de 1999, quando as negociações começaram, o acordo é um marco que une um mercado consumidor de mais de 700 milhões de consumidores e um PIB combinado de mais de US$ 22 trilhões. Contudo, sua ratificação enfrentará um longo e árduo caminho dentro da UE. Vários países europeus, como França e Polônia, permanecem fortemente contrários ao pacto, citando preocupações sobre os impactos no setor agrícola.

Por outro lado, Alemanha, responsável por cerca de 20% da população da UE, e Espanha figuram entre os principais defensores do tratado. Para o Brasil, os benefícios são claros. O acordo promete impulsionar as exportações do setor agrícola, já gigantesco, com estimativas de que as vendas relacionadas à agricultura para o bloco europeu possam crescer em até US$ 7,1 bilhões até 2040. No entanto, a demora para sua concretização sublinha a perda de oportunidades que um pacto dessa magnitude poderia ter proporcionado em um cenário econômico mais favorável no passado.

· 02:35 — Um corte de 25 pontos vem aí

Nos Estados Unidos, o mercado de ações recebeu na última sexta-feira (6) um relatório de empregos que pareceu atingir exatamente o equilíbrio desejado pelos investidores. Em novembro, foram adicionados 227 mil postos de trabalho às folhas de pagamento não agrícolas, um número suficiente para indicar crescimento econômico, mas não tão robusto a ponto de pressionar o Federal Reserve a reconsiderar seus planos de redução nas taxas de juros. Diante desse cenário, os investidores encerraram o dia precificando uma probabilidade de 85% de um corte de 25 pontos-base na próxima reunião do Fed, agendada para terminar em 18 de dezembro. Essa combinação de uma postura ainda acomodatícia por parte do banco central e uma economia que se mantém sólida cria um ambiente favorável para novas altas no mercado de ações.

O foco agora se volta para a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) nesta quarta-feira, que pode dissipar quaisquer dúvidas remanescentes sobre o próximo corte de juros do Fed. A questão mais significativa, no entanto, reside no horizonte de 2025: quando e em que patamar a flexibilização monetária será interrompida. Atualmente, as expectativas sugerem que o Fed possa finalizar o ciclo de cortes com taxas entre 3,5% e 4%, mas a trajetória dependerá dos próximos dados econômicos e da evolução do cenário macroeconômico global.

· 03:21 — Mais pragmático

Pouco após perder Matt Gaetz como sua escolha inicial para o cargo de procurador-geral, o presidente eleito Donald Trump pode em breve afastar Pete Hegseth, indicado para secretário de Defesa e que enfrenta uma série de acusações graves. Diante dessas controvérsias, Trump parece inclinado a adotar uma abordagem mais pragmática, similar à que adotou ao substituir Gaetz. Ao que tudo indica, Trump estaria considerando nomear Ron DeSantis, governador da Flórida, para o cargo de secretário de Defesa. Essa possível escolha tem um peso simbólico, já que ambos foram rivais durante as primárias republicanas para a eleição de 2024. Esse movimento indica um Trump mais estratégico, com gestos que agradam ao mercado e sinalizam um tom de maior moderação.

Essa mudança também segue na mesma direção de outras nomeações recentes, como a de Scott Bessent para a Secretaria do Tesouro, e reflete um discurso mais conciliador percebido no encontro de Trump com líderes europeus no final de semana. Além disso, durante uma entrevista no final de semana, o presidente eleito reconheceu a importância da independência do Federal Reserve e admitiu que tarifas sobre produtos estrangeiros, que impactam diretamente os consumidores americanos, podem ser inflacionárias. Esses gestos têm sido bem recebidos, sugerindo que Trump pode estar disposto a adotar uma abordagem mais pragmática e menos polarizadora em sua nova administração. Excelentes sinalizações.

· 04:17 — A queda de Assad

A ofensiva rebelde que derrubou o regime do presidente sírio Bashar al-Assad marca o fim de mais de meio século de domínio da família Assad no país. A fuga de Assad para Moscou encerra um governo que começou em 2000 com promessas de modernização, mas que rapidamente se tornou um dos mais opressivos da história recente. Sob sua liderança, a guerra civil, iniciada em 2011 no contexto da Primavera Árabe, resultou na morte de centenas de milhares de pessoas e no deslocamento de milhões, configurando a maior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Mais da metade dos 23 milhões de habitantes da Síria foi forçada a deixar suas casas, agravando uma crise humanitária sem precedentes e remodelando a política europeia, ao alimentar o crescimento de movimentos mais radicais em diversos países.

Apesar de o regime ter sido derrubado, o futuro da Síria continua incerto. O grupo que assume o poder se opõe ao Irã e à Rússia, mas sua ideologia radical xiita pode aprofundar os desafios políticos e sociais na região. Embora os efeitos imediatos nos mercados globais sejam limitados, o impacto estratégico é significativo, destacando a fragilidade do eixo Irã-Rússia-China. Esse bloco já vinha enfrentando pressões com os recentes ataques de Israel ao Hezbollah e ao Hamas, grupos extremistas apoiados pelo Irã, que representam desafios diretos à estabilidade regional. Este momento reforça a instabilidade do Oriente Médio, com potencial para reconfigurar alianças e influenciar de maneira duradoura a geopolítica global.

· 05:02 — Vendendo ativos

A Raízen (RAIZ4) confirmou que está avaliando a alienação de ativos considerados não estratégicos, conforme resposta ao questionamento da CVM sobre notícias na imprensa indicando que a empresa pretende vender um pacote de usinas por cerca de R$ 1 bilhão. Há algum tempo temos acompanhado essa possibilidade, que inclui a busca por um sócio para o segmento de etanol de segunda geração (E2G) e a eventual venda da rede Oxxo. O objetivo desse movimento é claro: levantar capital para aliviar a alavancagem financeira da Cosan (CSAN3).

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.