Investimentos

Brasil começa semana ainda sem âncora fiscal e pacote de estímulos da China permanece abstrato: acompanhe a agenda desta segunda-feira (14)

Os principais índices asiáticos apresentaram um desempenho misto na segunda-feira (14), enquanto as atenções europeias se voltam para a ruenião do BCE.

Por Matheus Spiess

14 out 2024, 09:17 - atualizado em 14 out 2024, 09:19

Imagem para representar o value investing, uma estratégia de investimento que se baseia na busca por ações que estejam subvalorizadas no mercado.

Do outro lado do mundo, a coletiva de imprensa do Ministério da Economia da China, aguardada com grande expectativa no fim de semana, trouxe poucas informações concretas, mesmo que tenha indicado um tamanho de pacote potencial. Faltaram propostas claras e objetivas. Os investidores internacionais, que há algum tempo esperam por um pacote fiscal robusto, seguem céticos. Apenas a flexibilização monetária, como a de setembro, dificilmente será suficiente para estimular a economia de maneira significativa.

Dentro desse cenário, os principais índices asiáticos apresentaram um desempenho misto na segunda-feira (14), ainda que o sentimento geral tenha permanecido levemente positivo, já que as principais indicações da coletiva ainda foram boas.

Na Europa, a atenção está voltada para a reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira (17), quando espera-se o anúncio de novos cortes nas taxas de juros. Com os consumidores europeus menos retraídos por incertezas em relação ao futuro, essas medidas podem oferecer um estímulo adicional à economia da região.

Os mercados europeus, no entanto, iniciam a semana sem uma direção clara. Nos Estados Unidos, o foco está nos dados de vendas no varejo e de produção industrial, que serão divulgados em breve. Esses indicadores ajudarão a avaliar a força da economia americana antes da próxima reunião de política monetária do Federal Reserve, marcada para 7 de novembro, podendo influenciar as expectativas do mercado quanto ao próximo corte de juros. Além disso, a temporada de resultados corporativos começa a ganhar força, o que deve trazer mais movimentação aos mercados.

A ver…

· 00:58 — Risco de perder a direção

No Brasil, enquanto aguardamos a divulgação do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) referente a agosto, as preocupações em torno das contas públicas ganham cada vez mais destaque. Hoje, declarações esperadas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, podem trazer algum alívio ao mercado.

Entretanto, a paciência dos investidores com promessas vazias está se esgotando. Sem a implementação de medidas concretas, os ativos de risco continuarão sob intensa pressão. Na ausência de uma âncora fiscal sólida, o Brasil parece depender exclusivamente da política monetária, com o BC recorrendo à elevação dos juros para tentar estabilizar a formação de expectativas.

Na sexta-feira (18), por exemplo, para piorar a situação, declarações do presidente Lula sobre a compra de novos aviões presidenciais e a promessa de isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil aumentaram as tensões no mercado financeiro. Isso levou a uma alta do dólar e dos juros, além de uma queda do Ibovespa, que recuou abaixo dos 130 mil pontos.

Nesse cenário de crescente estresse sobre a curva de juros futuros, o mercado passou a precificar uma taxa Selic final entre 13,25% e 13,5%, bem acima dos atuais 10,75%. Esse movimento reflete a percepção de que o governo não está tomando as medidas estruturais necessárias para equilibrar as contas públicas, demonstrando pouco interesse em cortar despesas. O crescimento econômico, embora significativo, é visto como insustentável devido ao aumento da dívida.

O déficit orçamentário nominal do Brasil alcançou 9,8% do PIB nos últimos 12 meses até agosto, elevando a dívida bruta para 78,5% do PIB, em comparação com 71,7% no final de 2022, colocando o país em uma trajetória que deve ultrapassar os 80% do PIB em breve. Com esse panorama, a definição da taxa de juros terminal parece mais dependente das decisões do Ministério da Fazenda do que do Banco Central. Mesmo um pequeno sinal de comprometimento com a responsabilidade fiscal já seria suficiente para aliviar parte da pressão atual sobre o mercado.

· 01:43 — Crise na distribuição de energia paulistana

Na noite da última sexta-feira (11), a Grande São Paulo foi atingida por uma tempestade severa, com ventos que ultrapassaram os 100 km/h em algumas regiões (desde 1995, quando começaram as medições da Defesa Civil, a cidade não havia registrado ventos tão fortes). Embora o fenômeno tenha sido breve, seus efeitos foram devastadores, principalmente devido à vulnerabilidade da infraestrutura elétrica da cidade, cuja rede de distribuição é majoritariamente aérea.

Como resultado, ocorreu um colapso significativo no fornecimento de energia, deixando aproximadamente 2,6 milhões de consumidores, entre residências e estabelecimentos comerciais, sem eletricidade. Destes, 2,1 milhões são clientes da Enel, concessionária que opera em 24 municípios da região metropolitana de São Paulo. Mesmo 48 horas após o incidente, 760 mil consumidores ainda estavam sem energia, e muitos semáforos em cruzamentos críticos permaneciam apagados. Esse evento revela a fragilidade da infraestrutura urbana, uma característica comum em países em desenvolvimento.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) declarou que tomará providências em relação à qualidade dos serviços prestados pela Enel, enquanto o Ministério de Minas e Energia divulgou um comunicado apontando falhas não apenas por parte da Enel, mas também na própria fiscalização conduzida pela Aneel.

É importante destacar, entretanto, que o problema não está relacionado à privatização do setor de energia em São Paulo, que ocorreu em 1998, durante a gestão do governador Mário Covas. Na época, a Eletropaulo, estatal criada em 1981 no governo de Paulo Maluf, foi desmembrada em quatro empresas, e o nome Eletropaulo foi mantido até 2018 (de 2001 a 2018 foi AES Eletropaulo), quando a Enel adquiriu 70% da distribuidora após um leilão, tornando-se responsável por 7,5 milhões de unidades consumidoras.

Com isso esclarecido, o foco do problema de agora parece residir em três questões principais:

i) aumento dos eventos climáticos extremos: a frequência e a gravidade desses eventos estão crescendo, e interrupções no fornecimento de energia já ocorreram anteriormente devido a condições climáticas severas (no final de 2023, as fortes chuvas causaram os mesmos problema);

ii) falta de investimentos: a ausência de um plano concreto para a implantação de redes subterrâneas em São Paulo agrava a vulnerabilidade do sistema de distribuição de energia (embora o projeto seja caro e demorado, é uma necessidade urgente);

iii) necessidade de modernização regulatória: as regras que regulam as concessionárias precisam ser atualizadas, de modo a garantir que falhas como essa sejam corrigidas mais rapidamente, permitindo maior celeridade na substituição de concessões caso os serviços não melhorem.

Embora o incidente tenha sido grave, é essencial que as críticas sejam bem fundamentadas e focadas nos problemas reais. Por exemplo, usar as falhas no fornecimento de energia para criticar a privatização da Sabesp (SBSP3) não faz sentido. Duas coisas completamente diferentes.

Em relação ao impacto deste evento no segundo turno das eleições municipais em São Paulo, ele provavelmente será limitado, mantendo o cenário base de reeleição de Ricardo Nunes, mas traz à tona a necessidade de discussões mais profundas sobre a infraestrutura e a regulação.

· 02:39 — Menor liquidez

Nos Estados Unidos, o feriado do Dia de Colombo é celebrado hoje (14), resultando no fechamento do mercado de renda fixa, enquanto o mercado de ações permanece aberto, embora com liquidez reduzida. Paralelamente, a Flórida continua se recuperando dos recentes furacões Milton e Helene. Embora os danos tenham sido consideráveis, o pior cenário foi evitado.

Agora, no entanto, o foco dos investidores está voltado para a temporada de resultados corporativos, especialmente após os fortes números apresentados pelos bancos na última sexta-feira, que impulsionaram o S&P 500 e o Dow Jones a novas máximas históricas ao longo do ano.

O JPMorgan Chase se destacou como a ação de melhor desempenho no Dow, após superar as expectativas tanto em lucros quanto em receitas. Wells Fargo e BlackRock também registraram alta nas ações após divulgarem resultados positivos. Isso é visto como um sinal encorajador para a economia, uma vez que o desempenho dos bancos é tradicionalmente um termômetro da saúde financeira dos consumidores e das atividades corporativas.

Esta semana promete mais movimentação com a divulgação dos balanços de várias empresas importantes, sendo que cerca de 10% das companhias do S&P 500 reportarão seus números trimestrais até sexta-feira. Entre os destaques, temos Bank of America, Citigroup, Goldman Sachs, Johnson & Johnson, United Airlines, UnitedHealth, Walgreens, ASML, Morgan Stanley, Prologis, Intuitive Surgical, Netflix, Taiwan Semiconductor Manufacturing, American Express e Procter & Gamble. Além disso, os dados de varejo e produção industrial também são esperados, o que ajudará a ajustar as expectativas para o próximo corte de juros em novembro. No momento, o mercado espera um corte de 25 pontos-base, mantendo o ciclo de queda dos juros nos EUA em andamento.

· 03:27 — Mais ou menos

Na China, os dados referentes aos preços ao consumidor e ao produtor em setembro vieram abaixo das expectativas. Na noite de hoje, o país divulgará os números de importação e exportação, que também são aguardados pelo mercado. No entanto, o verdadeiro foco esteve na tão esperada coletiva de imprensa do Ministério das Finanças, realizada no último fim de semana. Embora tenha sido mencionado um pacote de mais de 2 trilhões de yuans, o equivalente a aproximadamente US$ 300 bilhões, a apresentação foi considerada vaga e sem detalhes suficientes para os analistas mais otimistas, que esperavam maior clareza nas medidas econômicas. 

Embora isso seja um progresso, fica claro que medidas adicionais serão necessárias para sustentar a economia chinesa, que mostra sinais de desaceleração. Com isso, a atenção dos investidores se volta agora para a próxima reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, órgão legislativo com poder para aprovar emissões adicionais de títulos do governo. No ano passado, em sua reunião de outubro, o comitê autorizou a emissão de mais 1 trilhão de yuans em dívida soberana, elevando o déficit fiscal de 2023 para cerca de 3,8% do PIB, acima do tradicional limite de 3%. Muitos esperam que a China siga um caminho semelhante este ano, buscando novas iniciativas para impulsionar a economia.

· 04:14 — Condições piorando

O preço do barril de petróleo reverteu os ganhos da semana passada, refletindo a frustração dos investidores com os estímulos econômicos da China, além do agravamento das pressões deflacionárias no país em setembro. O mercado agora volta suas atenções para os aguardados relatórios da Opep+ e da Agência Internacional de Energia, que serão divulgados esta semana, ao mesmo tempo em que monitora de perto os desdobramentos no Oriente Médio.

No domingo, o governo dos Estados Unidos anunciou o envio de um sistema antimíssil para Israel, poucas horas após autoridades iranianas alertarem Washington para manter suas forças militares afastadas de Israel. Até a última sexta-feira, o gabinete de segurança de Israel havia se reunido, mas ainda não havia votado pela aprovação de uma ação militar contra o Irã, aumentando a incerteza sobre a possibilidade e o momento de um eventual ataque. Como disse o CEO do JP Morgan, Jamie Dimon, as condições geopolíticas estão cada vez mais instáveis e apresentam riscos crescentes.

· 05:13 — Só problema

Quatorze estados dos EUA entraram com processos contra o TikTok, acusando a plataforma de ser viciante e prejudicar a saúde mental dos jovens. Os procuradores-gerais que lideram essa ação vêm de estados governados por democratas e republicanos, com a Califórnia e Nova York à frente, representando milhões de usuários da plataforma. Como já mencionei anteriormente…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.