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Calmaria voltou aos mercados em meio à temporada de balanços; veja o que esperar dessa semana

Depois de baixas intensas nas bolsas globais, o mercado começa esta semana em clima de calmaria. Confira os destaques do noticiário econômico da semana.

Por Matheus Spiess

12 ago 2024, 09:05 - atualizado em 12 ago 2024, 09:05

Maiores altas do Ibovespa em novembro: MGLU3, CMIN3 e mais 8 ações

Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Uma aparente calmaria voltou aos mercados após o turbulento início da semana passada. Na Ásia, as ações registraram alta, e os futuros americanos e os mercados europeus também começaram o dia em terreno positivo, sugerindo que há espaço para uma recuperação contínua.

No entanto, o caminho à frente não será fácil, pois os investidores estarão atentos aos principais indicadores econômicos dos EUA nesta semana, com destaque para o índice de inflação ao consumidor de julho, que será divulgado na quarta-feira (14).

É esperado que a inflação tenha subido modestamente em julho, mas provavelmente não o suficiente para desviar o Federal Reserve do corte de taxa de juros amplamente antecipado para setembro. Pelo menos, a histeria que marcou a semana passada parece ter ficado para trás.

A ver…

· 00:46 — De volta aos trabalhos

No Brasil, a recente agitação nos mercados internacionais tem reduzido ainda mais as chances de um aumento na taxa Selic. Apesar da ata do Copom da última semana e das declarações de Gabriel Galípolo terem sinalizado uma postura mais rígida, a tendência é que a taxa básica de juros permaneça estável por um período mais prolongado.

Mesmo um IPCA acima das expectativas não deve alterar significativamente essa perspectiva. Um fator que pode favorecer o cenário atual é a valorização do real, como indicado pela cotação do dólar abaixo de R$ 5,55. Estamos caminhando nessa direção: ao longo da semana passada, o dólar acumulou uma queda de 3,4% em quatro sessões.

Um dado de inflação ao consumidor nos Estados Unidos que venha abaixo do esperado ou que permaneça controlado, possibilitando um corte nos juros norte-americanos, poderia intensificar essa tendência, beneficiando não apenas o real, mas também outras moedas de mercados emergentes. Esse otimismo foi refletido por economistas em uma recente reunião com o Banco Central.

Paralelamente, esta semana traz à tona importantes indicadores econômicos, como os dados do setor de comércio e serviços, que ajudarão a avaliar a atividade econômica e, consequentemente, a inflação. Um dos destaques é a divulgação do IBC-Br de junho, uma prévia do PIB, prevista para sexta-feira (16).

A temporada de divulgação de resultados corporativos também continua, agora em sua reta final.

Entretanto, o foco principal se volta para Brasília, com a retomada das atividades legislativas após o recesso do Congresso. Nesta semana, já estão previstas discussões sobre a renegociação da dívida dos estados e as medidas para compensar a renúncia fiscal de mais de R$ 26 bilhões decorrente da desoneração da folha de pagamento.

No entanto, alguns temas, como a reforma tributária, provavelmente só avançarão após as eleições municipais, especialmente considerando que o relatório do Senado já indicou a inviabilidade do teto de 26,5% aprovado na Câmara. Com a retomada da agenda política, espera-se um aumento na pressão sobre a curva de juros.

· 01:51 — Movimentações mais saudáveis

Nos EUA, o índice S&P 500 registrou uma alta de 0,5% na sexta-feira (9), fechando em 5.344,16. Apesar disso, o índice encerrou a semana apenas 2,4 pontos, ou 0,04%, abaixo do nível em que havia terminado na semana anterior. Em outras palavras, o S&P 500 conseguiu reverter a queda de 3% sofrida na segunda-feira.

O Dow Jones Industrial Average também subiu 0,1% na sexta-feira, mas fechou a semana com uma leve queda de 0,6%. Já o Nasdaq 100 avançou 0,5% no dia e acumulou uma alta semanal de 0,4%. O que chama mais a atenção é que o Nasdaq 100 conseguiu se recuperar de uma queda intradiária de 5,5% ao longo da semana, alcançando seu melhor desempenho semanal desde 25 de fevereiro de 2022.

Após o pânico dos mercados na segunda-feira (5) passada, quando os investidores reagiram à alta do iene japonês e às preocupações econômicas, o clima se estabilizou nos dias seguintes, com essa tendência de recuperação continuando na manhã de hoje.

Para os investidores atentos à economia dos EUA e às políticas do Federal Reserve, o foco da semana será o novo dado de inflação, além do encerramento da temporada de resultados do segundo trimestre, que trará os números de várias grandes empresas do setor varejista.

· 02:45 — Os que se sentiram deixados para trás

Se houve uma grande lição a ser extraída dos importantes eventos políticos de 2016 para o mercado, é que avaliar uma economia apenas por meio de estatísticas nacionais pode significar não perceber grandes riscos emergentes.

O ano em que o Reino Unido votou pelo Brexit e Donald Trump conquistou a presidência dos EUA também trouxe à tona o termo “deixados para trás”, destacando pessoas e regiões que foram marginalizadas durante uma era de hiperglobalização. Essa lição influenciou o que se tornou uma revolução na política econômica dos EUA durante o governo do presidente Joe Biden.

Sob sua administração, políticas industriais e subsídios governamentais foram adotados para incentivar o investimento em setores estratégicos, além de iniciativas “baseadas em local” destinadas a revitalizar comunidades que ficaram para trás, em nome do que foi denominado “economia moderna do lado da oferta” e “liberalismo construtivo”.

Não há dúvida de que os EUA colheram benefícios. O investimento na construção de novas fábricas aumentou, e a recuperação da recessão pandêmica de 2020 foi impressionante. Portanto, em 2016, testemunhamos o início de uma trajetória mais protecionista e menos globalizada.

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· 03:32 — Normalizado

Os mercados de trabalho nas economias desenvolvidas estão gradualmente retornando a padrões mais normais. Com menos rotatividade de empregos, a relação entre vagas disponíveis e o desemprego começou a se estabilizar. A diminuição no número de trabalhadores pedindo demissão reduziu o incentivo para que os empregadores acumulassem mão de obra.

Embora isso não tenha resultado em um aumento nas demissões — a demanda nas economias desenvolvidas ainda não está fraca o suficiente para tal —, pode tornar os mercados de trabalho mais sensíveis à futura demanda do consumidor.

Atualmente, os mercados de trabalho diferem das normas pré-pandemia. Há sinais de maior automação, uma resposta à escassez de mão de obra, que tem contribuído para o aumento da produtividade.

O trabalho flexível também pode estar aprimorando a eficiência do mercado de trabalho, ao diminuir as restrições geográficas e permitir que as pessoas alinhem melhor suas habilidades com as oportunidades de emprego. Ciclicamente, o que mais importa é se o temor do desemprego permanece baixo. Como a redução nas contratações sinaliza uma desaceleração econômica, e não uma recessão, esse receio tende a continuar em níveis baixos.

· 04:27 — Ativos emergentes

Os ativos de países emergentes atraíram US$ 36,5 bilhões em julho, de acordo com estimativas do Instituto Internacional de Finanças (IIF). Deste total, US$ 7,1 bilhões foram direcionados para ações de mercados emergentes, enquanto US$ 29,4 bilhões foram alocados em títulos de dívida. Em contraste, a China registrou uma saída líquida de US$ 900 milhões em ações, desafiando a tendência positiva observada nas demais regiões emergentes, que captaram capital.

A Ásia emergente se destacou, atraindo US$ 21 bilhões. O desempenho da dívida dos mercados emergentes, excluindo a China, foi notável no mês, com entradas totais de US$ 33,2 bilhões, impulsionadas por novas emissões de dívida em países como Coreia do Sul, Turquia e México.

Esse fluxo de capital deve se intensificar à medida que os juros nas economias desenvolvidas, especialmente nos EUA, começarem a cair. Com a China perdendo sua posição como principal destino de investimentos, outros mercados emergentes estão ganhando mais destaque.

No Brasil, a saída de investidores estrangeiros no primeiro semestre, especialmente no primeiro trimestre, impactou negativamente o mercado, em grande parte devido à expectativa de juros mais altos nos EUA. Se fomos um dos mercados mais afetados pela alta dos juros, é provável que sejamos um dos maiores beneficiados quando as taxas começarem a diminuir.

· 05:18 — Ainda sobre o rotation trade

A recente correção no mercado foi excepcionalmente profunda, superando até mesmo a rotação setorial observada em julho. Esse movimento resultou na realocação de investimentos que antes estavam concentrados nas grandes empresas de tecnologia para setores menos valorizados, como as empresas de menor capitalização, as chamadas “small caps“. Esse ajuste foi impulsionado, entre outros fatores, pelo crescente pessimismo em relação aos altos custos associados ao desenvolvimento de tecnologias de inteligência artificial.

A “tempestade perfeita” que ocorreu na semana passada, composta por temores de recessão, resultados corporativos abaixo das expectativas no setor de tecnologia, uma concentração excessiva de investimentos em um pequeno grupo de empresas e o fim do financiamento a juro zero fornecido pelo iene, aprofundou ainda mais essa correção. No entanto, isso não significa que o movimento tenha chegado ao fim…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.