Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas fecharam mistas nesta segunda-feira, em um começo de semana cauteloso, com os investidores ainda avaliando o impacto dos problemas bancários nos EUA e na Europa. Na sexta-feira, o Deutsche Bank encerrou a semana vendo a queda de suas ações listadas nos EUA, depois que o CDS (uma espécie de seguro contra calote para credores) do banco alemão alcançou patamares elevados, aumentando os temores de contágio da turbulência observada no setor bancário.
Os mercados europeus e os futuros americanos sobem nesta manhã, com alguns investidores esperançosos com a recuperação depois que as autoridades financeiras tomaram medidas destinadas a prevenir o contágio do colapso dos credores regionais. Mas o sentimento piorou após as decisões dos bancos centrais dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Suíça de aumentar as taxas de juros. No Brasil, diante do cancelamento da viagem de Lula, renascem as expectativas pelo arcabouço fiscal.
A ver…
· 00:44 — Vai sair ou não?
Por aqui, a semana será importante para o mercado, porque além da possibilidade de voltarmos a discutir a nova regra fiscal, já que Lula cancelou sua viagem para a China por causa de uma pneumonia, temos também a ata do Copom, prevista para amanhã, e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), na quinta-feira, com direito à coletiva de imprensa do Roberto Campos Neto na sequência. A ideia é que o Banco Central possa se valer das duas oportunidades para suavizar, ainda que marginalmente, o tom duro do comunicado da semana passada, que gerou ruído com o Executivo.
Enquanto isso, o cronograma do Congresso está travado por conta do racha entre o presidente da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco. Lula vem tentando desde o final da semana passada construir uma ponte entre os dois, mas ainda sem sucesso. É problemático porque o arcabouço fiscal vai precisar passar pela mão dos dois. Com o circo armado, dificilmente teremos alguma celeridade na aprovação de pautas importantes. Ao mesmo tempo, Lira e Pacheco podem servir de contenção para uma regra muito flexível, que dê muito poder ao Lula.
· 01:41 — Alguns dados americanos para ficarmos acompanhando
Nos EUA, um dos presidentes regionais do Federal Reserve dos EUA, Neel Kashkari, observou que os riscos de recessão aumentaram após a volatilidade recente no sistema financeiro. Apesar de ser uma realidade com a qual já lidamos há algum tempo, o reconhecimento de uma autoridade sempre é importante para o mercado. De qualquer forma, pode-se argumentar que o Fed já apertou bastante a sua política (o aperto monetário pode desacelerar a inflação, mas causa danos no processo).
Para os próximos dias, vale acompanhar as falas de autoridades como o vice-presidente do Fed para supervisão, Michael Barr, e o presidente da Federal Deposit Insurance Corp. (FDIC, na sigla em inglês, que funciona como um fundo garantidor), Martin Gruenberg, ambos na quarta-feira perante o Comitê de Serviços Financeiros da Câmara dos EUA — eles discutirão os colapsos do Silicon Valley Bank e do Signature Bank. Fora isso, teremos alguns dados sobre o consumo e o mercado imobiliário.
· 02:35 — A situação dos bancos
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e autoridades europeias tentaram acalmar os investidores. Mais recentemente, as preocupações foram desencadeadas pelo Deutsche Bank. Tanto é verdade que o chanceler alemão, Olaf Scholz, assegurou aos investidores que o Deutsche Bank é seguro e lucrativo depois que as ações do banco caíram 14 por cento (fecharam em queda de 8,5% na sexta-feira).
Vale lembrar que o banco alemão voltou à saúde financeira em 2022, após uma grande reestruturação após anos de problemas. Entendemos que seja improvável que o governo alemão permita que o Deutsche Bank entre em colapso ou enfrente uma nova reestruturação. Ainda assim, a situação mostra a pressão contínua e crescente sobre o sistema bancário entre as principais economias ocidentais.
Afinal, nenhum banco está imune ao clima atual.
· 03:24 — E a demanda por petróleo?
A demanda mundial por petróleo está a caminho de atingir o patamar mais alto já registrado, graças à recuperação da demanda chinesa. A procura por essa commodity por parte da China vai crescer ao longo do ano e acelerar a demanda por algumas centenas de milhares de barris agora no primeiro trimestre, crescendo à medida que entramos no terceiro e quarto trimestre.
Com isso, a demanda global de petróleo em 2023 deve atingir um recorde. Não somente na China, mas a demanda da Ásia deve crescer ao longo de 2023, podendo servir de suporte para os preços do barril, que sofreram bastante nas últimas semanas, com o contrato Brent negociado por volta de US$ 75 por barril e o WTI próximo de US$ 70. Uma sustentação mais firme pode ajudar a balança comercial brasileira.
· 04:01 — Mas afinal, a recuperação chinesa está acontecendo?
Segundo a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, a China está mostrando sinais de recuperação econômica robusta. Em comentários proferidos no Fórum de Desenvolvimento da China de 2023, a previsão de janeiro do FMI coloca o crescimento do PIB da China em 5,2% neste ano, um aumento considerável de mais de 2 pontos percentuais em relação à taxa de 2022. Teria sido ótimo se a visita da comitiva brasileira tivesse acontecido como esperado. Uma pena.
Isso é importante para a China e é importante para o mundo, uma vez que o país deve responder por cerca de um terço do crescimento global em 2023. A análise do FMI também observou que um aumento de um ponto percentual no crescimento do PIB na China pode levar a um aumento de 0,3 ponto percentual no crescimento de outras economias asiáticas, em média. Com uma recuperação tão robusta, a China agora pode aproveitar o momento positivo e permanecer no caminho do crescimento rumo à convergência com as economias avançadas.
Um abraço,
Matheus Spiess