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Cheiro de ansiedade no ar abre os mercados nesta terça-feira (13) no aguardo dos dados de inflação dos EUA

Enquanto o mercado quer manter a recuperação de ontem, as expectativas em cima do Fed poderão ser moldadas com os dados de inflação nos EUA.

Por Matheus Spiess

13 ago 2024, 09:22 - atualizado em 13 ago 2024, 09:23

bolsas globais

Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Entre os investidores globais, há uma vontade implícita de manter a recuperação observada após a última segunda-feira (12). No entanto, a ansiedade é palpável antes da divulgação dos principais dados de inflação nos EUA nesta semana, que serão cruciais para moldar as expectativas em relação ao Federal Reserve.

Além disso, o nervosismo é exacerbado pelos recentes desenvolvimentos geopolíticos, como o aumento do preço do petróleo, que voltou a superar os US$ 80, impulsionado pela possibilidade de um ataque iraniano contra Israel.

Apesar desse clima de incerteza, todos os principais índices asiáticos fecharam em alta nesta terça-feira (13), embora de forma modesta em alguns casos. O destaque foi Tóquio, que subiu mais de 3% após o retorno do feriado de segunda-feira.

O otimismo se deve à expectativa de que o Fed corte sua taxa de juros em setembro. Já os mercados europeus começaram o dia com um tom mais cauteloso, digerindo os dados do mercado de trabalho do Reino Unido e as pesquisas de sentimento empresarial na Zona do Euro, especialmente o índice ZEW da Alemanha. Enquanto isso, os futuros americanos tentam buscar uma trajetória de alta.

A ver…

· 00:56 — Cinco altas seguidas

Ontem, o Ibovespa superou a marca dos 131 mil pontos, registrando seu quinto dia consecutivo de alta, impulsionado principalmente pelo forte desempenho da Petrobras (PETR4). O avanço nos preços do petróleo, motivado pelo aumento das tensões entre Irã e Israel, foi um fator decisivo, assim como a recuperação das ações da estatal após a queda registrada na sexta-feira anterior.

Simultaneamente, o dólar encerrou o dia abaixo de R$ 5,50, aliviando as preocupações de que uma valorização prolongada da moeda pudesse pressionar o Banco Central a elevar a taxa Selic — uma possibilidade que sempre considerei pouco provável. Esse cenário é parcialmente explicado pela ausência de intervenções cambiais do Banco Central nos últimos meses, conforme enfatizado por Gabriel Galípolo, diretor de política monetária da instituição.

Caso os dados de inflação dos EUA desta semana venham abaixo das expectativas, isso poderá abrir ainda mais espaço para a valorização do real.

No que diz respeito a Galípolo, seu recente discurso reforçou o tom assertivo das declarações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Ambos demonstram estar alinhados na missão de combater a inflação e reancorar as expectativas econômicas do país.

Essa postura firme sugere que, mesmo após a possível saída de Campos Neto em dezembro, o Copom continuará comprometido com o controle da inflação, com Galípolo sendo o principal candidato para sucedê-lo.

Além disso, os próximos dados sobre a atividade econômica, como o volume de serviços de junho, que deve apresentar um crescimento de 0,9% em relação ao mês anterior, serão essenciais para uma compreensão mais aprofundada do atual cenário econômico brasileiro. Esse crescimento reflete um dos aspectos mais promissores do Brasil no momento: um desempenho econômico que tem superado as expectativas.

Nesse contexto, o ministro da Fazenda Haddad indicou que o governo pretende revisar para cima a projeção de crescimento do PIB para 2024, atualmente fixada em 2,5%, o que evidencia uma performance econômica mais robusta do que inicialmente prevista.

· 01:47 — Sem direcionamento claro

Nos EUA, ontem foi um dia de negociações intensas, marcando o início de uma semana que promete ser ainda mais movimentada. O S&P 500 fechou exatamente no mesmo nível em que começou, mantendo-se estável em 5.344 pontos. Enquanto isso, o Dow Jones Industrial Average recuou 0,4%, e o Nasdaq Composite subiu 0,2%. Essa falta de direção no mercado reflete a ansiedade dos investidores em relação aos dados de inflação que serão divulgados hoje e nos próximos dias. 

Nesta terça-feira (13), por exemplo, será divulgado o índice de preços ao produtor (PPI) de julho. As expectativas do mercado indicam um aumento de 0,2% em relação ao mês anterior, o que estaria em linha com o crescimento registrado em junho e representaria um aumento de 2,3% em relação ao ano passado.

O PPI principal, que exclui os preços de alimentos e energia, também deve registrar um aumento de 0,2% em julho, abaixo do crescimento de 0,4% observado em junho. Isso resultaria em um ganho anual de 2,7%, inferior aos 3% registrados nos 12 meses até junho. Dados que mostrem uma desaceleração ou que fiquem ligeiramente abaixo do consenso seriam positivos, embora uma queda muito acentuada possa gerar preocupações sobre uma possível recessão. 

Embora o PPI de hoje seja importante, o foco principal estará nos dados de inflação ao consumidor que serão divulgados amanhã, os quais têm um peso ainda maior nas expectativas do mercado.

· 02:38 — Vibrações eleitorais

Na noite de ontem (12), o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, realizou um evento com Elon Musk, CEO da Tesla.

Com a corrida eleitoral americana se tornando cada vez mais incerta, os investidores estão direcionando maior atenção à política.

Nos últimos dias, após a saída de Joe Biden da disputa presidencial, Kamala Harris conseguiu revitalizar a campanha democrata, diminuindo o favoritismo de Trump.

Durante o evento, Trump adotou um tom mais favorável aos veículos elétricos, influenciado pela presença de Musk. Recentemente, as opiniões de Trump sobre o Federal Reserve ganharam destaque no mercado.

Contrariando declarações feitas anteriormente em entrevista à Bloomberg, divulgada após o atentado contra sua vida, o ex-presidente reiterou sua visão de que o governo deveria ter influência sobre a política monetária. Essa visão é equivocada. Nos mercados desenvolvidos, a prática comum é a independência das autoridades monetárias, algo que o Brasil aprendeu bem, após sofrer com interferências no Banco Central.

Para nós, brasileiros, é importante refletir sobre como uma possível reeleição de Trump poderia afetar as relações entre os EUA e o Brasil. O presidente Lula, que já criticou Trump, mantém uma retórica ambígua e, em alguns casos, ligeiramente antiamericana, reforçada por suas relações diplomáticas com países como Irã, China, Rússia, Cuba e outros. No entanto, acredito sinceramente que, apesar da falta de afinidade entre os dois líderes, o impacto nas políticas bilaterais seria mínimo.

Tome como exemplo a Argentina: mesmo sem diálogo entre os líderes, as relações comerciais permaneceram inalteradas. Com Trump, isso tende a ser ainda mais verdade; afinal, ele parece menos preocupado com retórica, valores ou alianças, desde que o que ele considera um “preço justo” seja pago no relacionamento bilateral. Para Trump, tudo se resume a um contrato.

· 03:24 — Anistia?

Dias após reivindicar vitória sem apresentar evidências concretas na disputada eleição da Venezuela, o líder socialista Nicolás Maduro continua firme em sua postura. Em vez de recuar, ele intensificou a perseguição a seus opositores, iniciando investigações criminais contra a líder da oposição Maria Corina Machado e o candidato Edmundo González.

Em outras palavras, Maduro segue resistindo aos efeitos colaterais do que aparenta ser uma eleição fraudulenta, buscando intimidar a oposição sem desencadear uma crise que possa sair de seu controle. Além disso, continua ignorando as pressões para apresentar provas de sua contestada vitória, mesmo após apelos de aliados moderados da esquerda latino-americana.

Um fator que fortalece Maduro é o apoio de importantes aliados externos, como Rússia, China e Irã, países que têm colaborado com a Venezuela por meio de acordos energéticos ou cooperação militar. Diante dessa flagrante fraude eleitoral, os EUA e a UE provavelmente aumentarão a pressão sobre a Venezuela, isolando ainda mais o regime. Isso, por sua vez, torna Maduro mais dependente desses aliados estrangeiros. Por exemplo, empresas petrolíferas chinesas e russas podem ampliar suas operações na Venezuela se os EUA endurecerem as sanções contra a produção do país.

Brasil, Colômbia e México estão liderando esforços diplomáticos para estabelecer uma auditoria imparcial dos resultados eleitorais, contando com amplo apoio nas Américas e na Europa. Os termos de um possível acordo podem incluir a concessão de anistia a Nicolás Maduro e seus aliados próximos em troca de sua renúncia ao poder.

Esta seria a única maneira de encerrar a ditadura bolivariana chavista, que há tanto tempo aflige a Venezuela, sem recorrer a uma intervenção direta, que poderia agravar ainda mais a situação do país e de sua população. A demora na resolução dessa crise compromete a credibilidade da diplomacia brasileira. No entanto, tudo indica que o governo do Brasil não se unirá ao grupo de países que reconheceu o resultado desta eleição.

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· 04:15 — Nova rodada de tensões

Os preços do petróleo recuam nesta manhã, interrompendo uma sequência de cinco dias consecutivos de alta, em meio a sinais de enfraquecimento da demanda global. Essa queda na demanda, apesar das crescentes tensões no Oriente Médio, levou a OPEP+ a revisar para baixo suas previsões para este ano e o próximo, pressionando temporariamente os preços para baixo.

Essa correção ocorre mesmo diante da possibilidade de uma escalada militar, com o Irã ainda distante de um cessar-fogo com o Hamas. Além disso, as tensões na fronteira entre Israel e o Líbano se agravam, intensificadas pelo lançamento de múltiplos drones explosivos pelo Hezbollah no norte de Israel.

Em outra frente geopolítica, Rússia e Ucrânia se esforçam para manter o fluxo de gás natural através do principal gasoduto que abastece a Europa, apesar dos combates próximos a um importante ponto de trânsito na fronteira.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, confirmou uma ofensiva significativa na região de Kursk, na Rússia, marcando a incursão mais profunda em território russo desde o início da invasão em fevereiro de 2022. As forças ucranianas avançaram mais de 16 quilômetros dentro da Rússia, resultando na evacuação de mais de 76 mil pessoas das áreas afetadas.

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia emitiu um alerta sobre uma “resposta dura” à incursão. Esses acontecimentos adicionam incerteza e volatilidade ao mercado de petróleo, mantendo os preços instáveis.

· 05:02 — Afinal, o resultado da Petrobras foi bom ou ruim?

As ações da Petrobras (PETR4) têm mostrado volatilidade desde a divulgação dos resultados da empresa na última quinta-feira. Essa instabilidade é amplamente atribuída aos números do segundo trimestre de 2024, que foram significativamente impactados por fatores extraordinários, como o acordo com o Carf e a revisão do Plano de Saúde.

Além disso, a ausência de anúncio de dividendos extraordinários para o trimestre gerou incerteza entre os investidores. No entanto, muitos acreditam que o resultado não foi tão negativo quanto as manchetes sugerem, o que foi corroborado pela alta significativa das ações impulsionada pelo aumento dos preços do petróleo.

Mas a questão permanece: o desempenho foi realmente ruim?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.