
Imagem: iStock.com/narvikk
Os mercados financeiros viveram um verdadeiro carrossel de emoções ontem (7), impulsionados por rumores infundados sobre uma suposta suspensão de 90 dias nas tarifas comerciais impostas pelos EUA. A comoção revelou um problema maior: a política comercial errática da Casa Branca criou um ambiente propício para alarmes falsos, no qual qualquer boato reverbera com intensidade desproporcional. De um lado, a reação do mercado evidencia o caminho que o governo americano deveria seguir — um alívio tarifário imediato e abrangente. De outro, pode passar a mensagem equivocada de que dá para continuar esticando a corda sem consequências graves, já que os ativos globais parecem se recuperar com rapidez dos choques mais recentes.
Entre uma trégua ilusória e novas ameaças de retaliação, o impasse continua. O presidente Donald Trump deu até o fim da tarde de hoje (8) para que a China remova a tarifa de 34% imposta em retaliação às tarifas americanas de mesmo valor. Caso contrário, uma nova rodada será disparada: mais 50% de tarifa adicional, de forma cumulativa — o que elevaria a taxa total para espantosos 104%, se somarmos aos 20% já aplicados em março, sob o pretexto do tráfico de opioides. O degrau da escalada tarifária impressiona, e o jogo diplomático entra numa fase decisiva.
No entanto, há outras frentes que merecem atenção. O Japão deve ser o primeiro grande país a sentar-se com os EUA para negociar. Se esse diálogo sinalizar alguma abertura para acordos, os mercados podem encontrar estabilidade nas próximas semanas. De fato, os índices asiáticos encerraram o pregão de forma majoritariamente positiva, com destaque para as bolsas de Tóquio e Xangai. Taiwan e Indonésia, por outro lado, destoaram do tom mais otimista. Na Europa, os mercados tentam uma recuperação ainda tímida nesta manhã, refletindo a incerteza do cenário, mas aliviados — ao menos temporariamente — pela ausência de novos choques imediatos.
· 00:52 — Cortina de fumaça
No Brasil, os mercados continuam extremamente sensíveis ao cenário externo. Ontem, o Ibovespa chegou a ensaiar uma recuperação com os rumores de uma suposta trégua de 90 dias na guerra comercial global, mas bastou a narrativa perder força para que a bolsa voltasse a mergulhar, acumulando uma queda de 3,27% em apenas dois pregões. A busca por proteção empurrou o dólar para cima, que já está em R$ 5,91 novamente, num reflexo claro do aumento da aversão ao risco.
No front doméstico, o pessimismo foi amplificado por mais um capítulo da novela Petrobras (PETR4). Com o barril de petróleo em queda, puxado pelo receio crescente de recessão global, o governo aproveitou para intensificar a pressão sobre a estatal, insinuando — sem muita sutileza — uma nova rodada de cortes no preço dos combustíveis. Em outras palavras, a guerra comercial internacional não apenas serve como conveniente cortina de fumaça para a falta de direção clara no governo, como também pode, de quebra, ajudar a reduzir a inflação por vias externas. Claro que, com o dólar em disparada, a estratégia perde força — mas eles vão tentar mesmo assim.
Se der certo, esse mix de desinflação importada e pacotes de estímulo internos pode funcionar como colchão político, atenuando a queda de popularidade de Lula, que já vinha rondando seu piso. Para o mercado, no entanto, esse movimento é tudo menos animador. Afinal, quanto mais o governo conseguir se manter em pé artificialmente, menor a chance de que 2026 traga a esperada guinada na política econômica. Nem mesmo a aparente boa vontade do presidente da Câmara, Hugo Motta, ao propor discutir cortes nas emendas parlamentares como sinal de compromisso fiscal, foi suficiente para melhorar o humor local. O mercado quer ajuste de verdade…
- VEJA MAIS: Enquanto o Ibovespa subiu 1,8%, este robô automatizado disparou 40,8% em 1 mês; entenda como a ferramenta busca lucro mesmo com quedas da bolsa
· 01:42 — Volátil
Nos EUA, os mercados continuam presos à instabilidade crônica da guerra comercial. Depois da hecatombe da semana passada, quando trilhões evaporaram das bolsas em reação ao tarifaço, a segunda-feira (7) trouxe novo baque, interrompendo qualquer tentativa de retomada. E o mais irônico: bastou um rumor infundado sobre uma possível pausa de 90 dias nas tarifas para que, em questão de minutos, quase US$ 4 trilhões fossem magicamente “reacendidos” no S&P 500, como se toda a lógica de valuation pudesse ser reprogramada por uma manchete. Mas o suspiro durou pouco. A tensão já voltou à cena com o risco crescente de nova escalada protecionista.
Visto com alguma distância, o maior aumento tarifário de nossas vidas parece cada vez mais próximo de se concretizar — e, pior, sem um plano claro de reversão. É possível que parte dessas tarifas funcione como alavanca de negociação, e que, após as concessões desejadas, venha algum alívio. Mas isso pressupõe uma racionalidade que a política comercial atual parece ter abandonado. Se a maior parte dessas tarifas permanecer ativa por apenas nove meses, já será o suficiente para provocar estragos econômicos substanciais. E aí, não será boato de trégua que apagará o dano.
· 02:37 — Subiu o tom
O presidente Trump elevou novamente o tom na guerra comercial com a China, ameaçando impor uma tarifa adicional de 50% — o que, somado às taxas anteriores, pode levar a tarifa total contra os produtos chineses a inacreditáveis 104%. Tudo isso porque Pequim ousou retaliar com uma tarifa de 34% sobre importações dos EUA, respondendo à última rodada de provocações de Washington. Em resposta, o governo chinês classificou a ameaça como “um erro em cima de um erro” e prometeu “lutar até o fim”. O tom dramático não parou por aí: a Embaixada da China nos EUA chegou ao ponto de desenterrar um discurso de Ronald Reagan de 1987, no qual o então presidente criticava abertamente o protecionismo tarifário. A ironia histórica é irresistível. Aquela brincadeira que fiz ontem, sobre estarmos vivendo numa realidade alternativa na qual a China se transforma em defensora do livre comércio enquanto os EUA defendem tarifas e muros, está cada vez menos piada e mais diagnóstico.
Enquanto isso, outros países tentam, com graus variados de sucesso, manter algum diálogo com Washington. O Vietnã, um dos alvos mais penalizados pelas tarifas de Trump simplesmente por ter superávit comercial com os EUA — o novo critério mágico de “injustiça” —, ofereceu eliminar todas as tarifas sobre produtos americanos. A resposta? Peter Navarro, conselheiro comercial da Casa Branca, disse que isso ainda não era suficiente. Não ficou claro o que mais o Vietnã deveria fazer. A lógica é tão tortuosa que parece que até o governo perdeu o fio da meada, especialmente depois do impacto negativo nos mercados.
Já a União Europeia, tentando demonstrar boa vontade, propôs um acordo de “tarifa zero por tarifa zero” para produtos industriais. Nem isso adiantou. A recusa americana deve agora empurrar os europeus para o campo das retaliações. Em resumo: a disposição da Casa Branca para negociar parece diretamente proporcional ao grau de caos que ela mesma conseguiu provocar.
- LEIA MAIS: Ele sobreviveu a um acidente, largou a carreira militar e fez seu primeiro milhão antes dos 30; conheça a história de Scalper
· 03:25 — Medo de desaceleração
As tarifas de Donald Trump vêm colecionando cada vez mais desafetos entre os figurões do mercado financeiro americano. Após o colapso da semana passada e uma nova rodada de quedas que ontem chegou a empurrar o S&P 500 para o território de bear market, nomes de peso começaram a verbalizar o desconforto. Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, usou sua carta anual aos acionistas para fazer um alerta claro: quanto mais rápido essa disputa comercial for resolvida, melhor — do contrário, o risco de desaceleração do crescimento econômico se intensifica. Péssimo sinal.
Larry Fink, CEO da BlackRock, engrossou o coro ao afirmar que, entre os executivos com quem conversa, a maioria já vê a recessão como um fato consumado. E Stanley Druckenmiller, bilionário veterano dos mercados e crítico tanto de Trump quanto de Kamala Harris, foi direto ao ponto: é contra qualquer tarifa acima de 10%, ponto. Os alertas não param por aí. As tarifas não apenas ameaçam o crescimento, mas acendem de imediato o risco inflacionário — algo que o mercado, já fragilizado, não está exatamente em condição de absorver com serenidade. E o timing não poderia ser mais incômodo: a temporada de resultados começa agora, e os comentários dos CEOs sobre o primeiro trimestre devem adicionar combustível a esse barril de pólvora. Ou seja, não bastasse o ruído de fundo criado por Washington, vem aí mais uma rodada de declarações corporativas para manter a tensão em ponto de ebulição.
· 04:18 — E novas ameaças chinesas
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, subiu o tom e declarou que o país “vai revidar até o fim” caso os Estados Unidos insistam em aprofundar a escalada tarifária. A retórica, ainda mais agressiva que o habitual, escancara o caminho para novos capítulos do conflito — e deixa claro que ninguém pretende recuar tão cedo. Do lado americano, Scott Bessent, secretário do Tesouro, tentou adotar um tom mais pragmático ao afirmar que as tarifas são “negociáveis” e podem até ser retiradas para os parceiros que não retaliem. Mas é difícil levar isso muito a sério quando a postura geral da Casa Branca parece ser a do caos como método.
Enquanto isso, Pequim começa a se movimentar: afrouxou o controle sobre o yuan para estimular suas exportações, mobilizou a chamada “equipe nacional” — um grupo de fundos estatais — para comprar ativos e prometeu empréstimos emergenciais para estabilizar o mercado. Cogita-se, inclusive, antecipar pacotes de estímulo. O efeito imediato foi uma recuperação nas bolsas chinesas. Mas o contra-ataque mais efetivo pode vir por outras frentes: a China avalia impor restrições adicionais sobre as importações agrícolas americanas, o que, curiosamente, abre mais uma janela de oportunidade para o Brasil. Nem o setor de entretenimento escaparia ileso: rumores indicam que filmes americano podem ser os próximos alvos. E assim, entre bravatas diplomáticas e ataques comerciais cruzados, vamos apenas assistindo ao primeiro ato de uma guerra que promete muitos desdobramentos — e pouca racionalidade.
· 05:09 — Se protegendo das tarifas
O Bank of America elaborou uma lista de ações globais que, segundo seus critérios, oferecem proteção contra os efeitos negativos das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos — são chamadas de “tariff-shelter stocks”. A seleção contempla apenas empresas com grande market cap (superior a US$ 10 bilhões) e elevada liquidez (média diária de negociação acima de US$ 10 milhões)…