Investimentos

Clima desfavorável prevalece nos mercados internacionais no começo desta sexta (21); petróleo e minério de ferro caem

No Brasil, a alta de ontem do Ibovespa foi modesta, refletindo o quanto um BC conservador é necessário, mas não suficiente para melhorar o sentimento local.

Por Matheus Spiess

21 jun 2024, 09:10 - atualizado em 21 jun 2024, 09:16

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. A sexta-feira começa com um clima desfavorável nos mercados internacionais. As bolsas de valores da Ásia encerraram o último pregão da semana em queda, pressionadas principalmente pelas ações de tecnologia, refletindo a correção observada ontem nos EUA após o feriado.

Alguns dados econômicos chamam a atenção: a inflação ao consumidor no Japão em maio aumentou devido aos custos de energia, embora tenha ficado ligeiramente abaixo do previsto, e as exportações sul-coreanas no início de junho mostraram força, impulsionadas pelas vendas de tecnologia para a China e os EUA.

Na Europa, os mercados também estão em baixa, após a divulgação de um crescimento nas vendas no varejo do Reino Unido, que superou significativamente as estimativas do consenso, complicando a redução das taxas de juros no país. Nem mesmo a queda do PMI na região conseguiu trazer alívio.

As decisões de ontem dos bancos centrais, no entanto, indicam uma tendência de manter a inflação sob controle. O Banco da Inglaterra associou futuros cortes de juros à redução da inflação, tornando um corte em agosto cada vez mais provável. Se isso ocorrer, poderia abrir caminho para o Fed cortar as taxas em setembro, caso os dados americanos permitam.

Discursos de autoridades monetárias estão no radar, o que pode gerar volatilidade, especialmente em um dia de exercício de opções nos EUA. As principais commodities, como petróleo e minério de ferro, também registram quedas nesta manhã. Portanto, do ponto de vista internacional, a sexta-feira não promete ser das melhores.

A ver…

· 00:54 — Uma nova novela começou

No Brasil, a alta de ontem do Ibovespa foi modesta, refletindo o que já mencionamos anteriormente: um Banco Central conservador é uma condição necessária, mas não suficiente, para melhorar o sentimento local. Pelo menos, ajuda a evitar uma deterioração maior.

A unanimidade na decisão e a sinalização de juros altos por mais tempo podem contribuir para a reancoragem das expectativas de inflação. No entanto, a incerteza agora repousa na sucessão de Roberto Campos Neto à frente do BC. Mais declarações agressivas de Lula, como as feitas durante a entrevista de terça-feira, podem surgir e piorar o ambiente.

Para ilustrar, Lula, ao expressar indignação com os dividendos pagos aos acionistas da Petrobras, apesar de ser o principal acionista e precisar desse dinheiro, está claramente jogando para a torcida. Declarações semelhantes sobre o Banco Central e a política monetária seriam prejudiciais.

No segundo semestre, teremos três novos diretores do Banco Central, incluindo o novo presidente.

Embora tenha votado junto com Campos Neto, Galípolo ainda parece ser o nome favorito da equipe econômica, que considerou a unanimidade no Copom acertada para evitar uma crise.

Inicialmente, pensei que Lula poderia indicar alguém mais ortodoxo que Galípolo, o que seria um grande acerto. Hoje, diante dos nomes que surgiram nos últimos dias, a escolha de Galípolo seria uma vitória. A ala petista tem defendido André Lara Resende, uma escolha preocupante.

Ainda temos tempo até a troca, e serão necessárias mais reuniões votando pela manutenção dos juros com unanimidade. Caberá à equipe econômica afastar nomes mais heterodoxos.

Política monetária não deve ser tratada levianamente. Os danos podem ser significativos.

· 01:49 — Outras coisas para termos em mente

O Brasil enfrenta desafios que vão além da política monetária, abrangendo questões fiscais de grande relevância. Em um cenário macroeconômico turbulento, foram indicados progressos na revisão dos gastos públicos. Aliás, o calcanhar de Aquiles brasileiro é a questão fiscal, não a monetária.

Nesta semana, Fernando Haddad e Simone Tebet apresentaram a Lula propostas para a revisão de despesas com benefícios assistenciais, com a previsão de economizar entre R$ 20 bilhões e R$ 30 bilhões em 2025. Esse valor é essencial para equilibrar o orçamento do próximo ano e atingir a meta estabelecida no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA).

A estratégia envolve uma auditoria rigorosa para identificar fraudes, especialmente no Benefício de Prestação Continuada (BPC), além de revisar os cadastros de benefícios como seguro-desemprego e Proagro, seguindo o exemplo do Bolsa Família.

Adicionalmente, foram discutidas medidas como a revisão da previdência dos militares e o corte de supersalários, devido ao significativo desequilíbrio fiscal nessas áreas.

A situação fiscal do Brasil é grave, como evidenciado pelas críticas das agências de rating, que geralmente demoram a reagir. A Fitch Ratings, por exemplo, apontou uma deterioração contínua do cenário fiscal desde julho do ano passado, mesmo após uma melhoria na avaliação de crédito do país. Esse contexto é ainda mais desafiador devido a outras prioridades do governo, como a urgência em aprovar a regulamentação da reforma tributária na primeira semana de julho, uma tarefa ambiciosa considerando os inúmeros fatores em jogo.

Outro aspecto crucial é o Plano Safra 2024/2025, que promete ser recorde, com um foco no aumento dos recursos destinados ao crédito rural.

A apresentação do valor do plano a Lula está marcada para a próxima semana, com expectativa de anúncio entre os dias 25 e 26, podendo chegar a cerca de R$ 570 bilhões. Dada a importância deste setor para a economia, a evolução desse plano é vital e merece atenção especial.

· 02:35 — Bruxaria

Nos Estados Unidos, os principais índices de mercado corrigiram na quinta-feira após o feriado, depois de terem alcançado vários recordes consecutivos nos últimos dias, com exceção do Dow Jones Industrial Average, que conseguiu manter-se positivo. Esse desempenho ocorreu enquanto os investidores assimilavam uma série de dados econômicos.

No Reino Unido, o Banco da Inglaterra manteve as taxas de juros inalteradas, aparentemente seguindo o exemplo do Federal Reserve.

De volta ao cenário americano, os pedidos semanais de auxílio-desemprego diminuíram em relação ao máximo das últimas 10 semanas, mas ainda foram ligeiramente superiores ao esperado.

Além disso, a construção de novas moradias caiu 5,5% em maio, sinais positivos para uma possível redução de juros.

No final do dia, o vencimento das opções nos Estados Unidos – conhecido como “bruxaria tripla” – pode proporcionar oportunidades para investidores que buscam volatilidade.

· 03:28 — Fuga de capitais

Não é apenas o Brasil que enfrenta a fuga de capitais; o Reino Unido também está vivenciando um êxodo recorde de milionários neste ano.

A turbulência política e a perspectiva de impostos mais altos sob um futuro governo trabalhista estão diminuindo o apelo do Reino Unido, que outrora foi um dos principais destinos para os ricos.

Estima-se que cerca de 9.500 pessoas com pelo menos 1 milhão de dólares em ativos líquidos e investíveis deixarão o país, mais que o dobro do número que saiu em 2023, de acordo com um relatório provisório da Henley & Partners.

Esses números refletem uma acumulação constante de fatores que prejudicam a atratividade do Reino Unido para indivíduos de alto patrimônio.

A ressaca do Brexit continua a ser sentida, com a cidade de Londres já não sendo vista como o centro financeiro do mundo.

O êxodo contínuo do Reino Unido – 16.500 milionários partiram entre 2017 e 2023 – faz parte de uma migração global em massa dos ricos que parece estar se acelerando.

O relatório Henley Private Wealth Migration descobriu que 128 mil milionários deverão mudar-se este ano, batendo o recorde do ano passado em 8 mil.

· 04:11 — O futuro indiano

Em 2030, a Índia será a terceira maior economia do mundo, mesmo segundo as estimativas mais conservadoras. Este avanço é resultado de uma série de reformas implementadas ao longo dos últimos 10 anos.

Embora esta não seja a primeira vez que a Índia apresenta uma taxa de crescimento superior a 7%, a grande diferença é que, antes de 2019, esse crescimento não se refletia na confiança das empresas nem dos consumidores. Agora, o otimismo parece ser compartilhado por ambos. 

No entanto, o que mais tem deixado o mercado otimista não é o que já foi realizado, mas o que o governo planeja fazer nos próximos cinco anos. Durante seu primeiro mandato, o atual governo não conseguiu avançar com firmeza nas reformas fundiárias e trabalhistas. Se essas reformas forem concretizadas agora, a Índia poderá passar por uma transformação significativa. O desafio é que Modi não obteve a maioria necessária para promover essas mudanças mais ousadas. Resta ver se o sucesso será mantido.

· 05:05 — Teses de defesa continuam ganhando relevância

Neste espaço, tenho constantemente abordado a entrada do mundo em uma nova era geopolítica marcada pela formação de alianças entre nações, configurando um cenário complexo e desafiador para a diplomacia nas próximas décadas.

Observadores têm descrito esta fase como uma espécie de Nova Guerra Fria, evidenciada pelo aumento significativo nos investimentos em defesa e armamentos.

Embora tais investimentos não resolvam os conflitos, eles parecem indispensáveis nesta nova fase de tensões geopolíticas.

Paralelamente, o Ocidente enfrenta desafios como a diminuição do recrutamento militar e o crescimento das taxas de juros e das dívidas nacionais, exigindo ajustes consideráveis para adaptar-se a este novo ambiente global.

Na Europa e no Canadá, por exemplo…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.