Iniciamos a semana após um começo de mês marcado por alta volatilidade nos mercados globais, um cenário que também impactou o Brasil.
Nos Estados Unidos, mais relevante do que declarações pontuais de autoridades monetárias, os dados de emprego trouxeram sinais mais claros ao mercado sobre o próximo movimento do Federal Reserve, que provavelmente será um corte de 25 pontos-base na taxa de juros, conforme já antecipado por aqui. O relatório de empregos divulgado na última sexta-feira (4) reforçou essa expectativa.
Enquanto isso, no Oriente Médio, chegamos hoje (7) ao aniversário de um ano dos terríveis atentados terroristas contra Israel, com a região voltando a enfrentar tensões, especialmente diante da possível intervenção direta do Irã, cuja situação permanece incerta.
Nos mercados asiáticos e europeus, o início da semana é marcado por um sentimento misto, com ceticismo sobre os esperados estímulos econômicos na China. Na Europa, o Banco Central Europeu é aguardado para um possível corte de juros no final deste mês, mas, ao contrário dos EUA, os dados econômicos recentes da região não afastam o risco de uma recessão. Nos Estados Unidos, a correção nos futuros está mais evidente nesta manhã, com os investidores já se preparando para os próximos dados oficiais de inflação e o início da temporada de resultados corporativos do terceiro trimestre.
Já no Brasil, após o primeiro turno das eleições municipais, as atenções continuam voltadas para a pauta fiscal, que segue sendo a principal discussão.
A ver…
· 00:51 — Pés no chão
Após a surpresa causada pelo upgrade do rating de crédito do Brasil pela Moody’s, que elevou a classificação para Ba1, deixando o país a um passo do grau de investimento, iniciamos a semana com uma postura mais cautelosa. O mercado se mostrou cético em relação à reavaliação da agência, que parece ter dado peso excessivo ao crescimento econômico atual — que, vale destacar, pode não ser sustentável — e parece estar mais focada no desempenho passado do que nas perspectivas futuras.
O fato é que os desafios fiscais continuam relevantes, as expectativas inflacionárias seguem desancoradas e estamos flertando com uma aceleração da inflação nesta reta final de ano, agravada pela adoção da bandeira 2 nas tarifas de energia elétrica.
No que tange à inflação, é importante ficar de olho no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de setembro, que será divulgado na próxima quarta-feira. As projeções do mercado apontam para uma alta mensal de 0,46%, o que colocaria o índice em 4,45% no acumulado de 12 meses, acelerando em relação à deflação de -0,02% registrada em agosto. O aumento dos preços de alimentos e passagens aéreas é o principal responsável por essa aceleração.
Esse cenário de inflação está intrinsecamente ligado ao debate sobre a Selic. Em uma reunião com diretores do Banco Central na última sexta-feira, economistas discutiram a necessidade de elevação da taxa básica de juros para garantir a convergência das expectativas de longo prazo ao centro da meta de 3%. Atualmente, 12% é considerado o piso, mas há uma percepção de que um patamar de 12,5% possa ser suficiente para esse ajuste, não sendo necessário que cheguemos aos temidos 13%.
· 01:47 — Sobre as eleições municipais
Brasília se prepara para uma dinâmica política mais intensa após as eleições municipais, com a expectativa de que as atividades legislativas ganhem maior tração, especialmente após o segundo turno no fim do mês. Com a maioria das prefeituras já definidas e os vereadores eleitos, é provável que as discussões no Congresso Nacional se tornem mais focadas e objetivas.
Na última sexta-feira (7), o governo reforçou a urgência na tramitação do Projeto de Lei da reforma tributária, já aprovado na Câmara dos Deputados e agora em análise no Senado. Esse senso de urgência vinha paralisando outras pautas no Senado desde 22 de setembro, gerando incertezas sobre o impacto na sabatina de Gabriel Galípolo, indicado para a presidência do Banco Central, marcada para a próxima terça-feira.
As eleições municipais trouxeram resultados importantes. Conforme esperado, os partidos de centro e de direita obtiveram sucesso nas principais cidades, consolidando o bolsonarismo no primeiro teste eleitoral desde que Jair Bolsonaro foi declarado inelegível.
Esse cenário reforça a dependência do governo Lula em relação a essas forças políticas e sugere desafios significativos para a esquerda nas eleições de 2026, com os resultados indicando a necessidade de uma abordagem fiscal mais rigorosa (o preço para apoio vai ficar mais alto e dificilmente haverá espaço para aumento de arrecadação, restando ajuste pelo corte de gasto, algo que o mercado cobra há um tempo). Para aqueles que projetam um rali eleitoral pró-mercado em 2025, foi positivo.
O partido do presidente Lula teve um desempenho modesto, não conseguindo vencer em nenhuma capital no primeiro turno e não figurando como favorito em nenhuma das quatro capitais onde disputará o segundo turno (Fortaleza, Cuiabá, Natal e Porto Alegre). Por outro lado, o PL, partido de Bolsonaro, conquistou vitórias expressivas, vencendo em duas capitais no primeiro turno e avançando para o segundo turno em nove outras, largando na frente em sete delas, incluindo colégios eleitorais importantes como Belo Horizonte. Partidos como PSD, União, MDB, PP e Republicanos também mostraram força.
Em São Paulo, onde as eleições assumiram contornos caricatos, o governador Tarcísio de Freitas emergiu como um dos grandes vencedores ao dobrar sua aposta em Ricardo Nunes, que superou desafios internos da direita e agora é o favorito contra Guilherme Boulos no segundo turno.
Apesar das críticas nas redes sociais, especialmente da ala mais fervorosa que apoiou Pablo Marçal, Tarcísio sai fortalecido dessa eleição, consolidando-se como uma figura proeminente para 2026, ao lado de nomes como Ronaldo Caiado, Romeu Zema e Ratinho Jr. Paralelamente, as vitórias de João Campos, prefeito do Recife, e Eduardo Paes, prefeito do Rio de Janeiro, ambos eleitos com margem confortável no primeiro turno, os posicionam como fortes candidatos para as disputas estaduais de 2026 (governo). Em resumo, portanto, os resultados das eleições municipais devem ser vistos com bons olhos pelos investidores, refletindo o fortalecimento de visões mais pró-mercado (centro e direita).
· 02:35 — E essa inflação
Nos EUA, o principal evento econômico da semana será a divulgação do relatório de inflação de setembro. A expectativa é de que a taxa de inflação básica permaneça estável em 3,2% no acumulado de 12 meses e registre um aumento de 0,3% no mês. No entanto, a impressão geral é de que os dados não serão nem fracos nem fortes o suficiente para influenciar significativamente a magnitude do próximo corte de juros do Federal Reserve. A tendência é de que o Fed prossiga com um corte de 25 pontos-base, conforme sugerido pelos dados de emprego divulgados na semana passada, que mostraram o melhor crescimento do mercado de trabalho em seis meses, acompanhado por uma queda surpreendente na taxa de desemprego, o que fez os rendimentos dos títulos do Tesouro dispararem na sexta-feira.
Com a inflação se aproximando da meta de 2% do Fed, o pleno emprego aparentemente consolidado, o crescimento consistente da produtividade e o produto interno bruto (PIB) expandindo a uma taxa anual de 3%, o cenário caminha para um soft landing, dentro de uma conjuntura de “Goldilocks”, ou seja, de equilíbrio econômico. Além disso, a temporada de resultados corporativos também se inicia, com os grandes bancos divulgando seus números referentes ao trimestre passado. No setor de tecnologia, eventos voltados para inteligência artificial (IA) por empresas como Nvidia, AMD e Hewlett Packard estão no radar dos investidores. Entretanto, há preocupações no horizonte, com novos furacões ameaçando a região do Golfo do México, o que pode trazer turbulências adicionais para o mercado.
· 03:29 — Um ano
No Oriente Médio, o dia 7 de outubro marca um ano da guerra que começou com os atentados terroristas do Hamas contra Israel, quando extremistas invadiram o território israelense, resultando na morte de cerca de 1.200 pessoas e na captura de 250 reféns, dos quais 97 ainda permanecem em cativeiro em Gaza. Israel reagiu com uma ofensiva total em Gaza, com o objetivo de eliminar o Hamas.
A escalada do conflito também levou os confrontos para o norte do país, envolvendo o Hezbollah, no Líbano, outro grupo extremista apoiado pelo Irã. Na última semana, inclusive, como conversamos aqui, o Irã ameaçou um envolvimento mais direto no conflito, o que seria catastrófico não apenas para a região, mas para o cenário global.
Nesse contexto, Israel enfrenta uma guerra multifrontal sem uma resolução clara à vista. Em meio às tensões crescentes, o preço do petróleo voltou a subir nesta manhã, flertando novamente com a marca dos US$ 80 por barril, impulsionado pelos riscos que essa situação impõe à cadeia global de suprimentos.
· 04:16 — Novas eleições
Shigeru Ishiba, o novo primeiro-ministro do Japão, anunciou oficialmente a convocação de uma eleição antecipada para 27 de outubro, um ano antes do término do mandato atual, com o objetivo de reafirmar sua confiança junto à população. Após sua posse em 1º de outubro, a dissolução da Câmara dos Representantes está prevista para ocorrer em 9 de outubro, com o anúncio formal da eleição no dia 15 e a votação no dia 27. Esse será um grande desafio para Ishiba, pois desde o início do século, a economia japonesa tem oscilado entre esperanças de recuperação e sucessivas frustrações. A recente troca de liderança no país reacende esses temores.
Nos anos 2000, o governo de Junichiro Koizumi conseguiu estabilizar o setor financeiro do Japão, e o crescimento do PIB começou a ganhar tração. No entanto, a crise financeira global interrompeu esse progresso, e a produção industrial do país ainda não se recuperou plenamente desse golpe devastador. Posteriormente, sob o programa de revalorização econômica conhecido como “Abenomics”, implementado por Shinzo Abe, a economia japonesa voltou a crescer em 2013. No entanto, um aumento inoportuno no imposto sobre vendas em 2014 freou esse ímpeto. Ainda assim, algumas das reformas estruturais promovidas por Abe, como a modernização da governança corporativa, começam a mostrar resultados positivos.
O fato de Shigeru Ishiba ser um rival de longa data de Abe pode indicar uma mudança de rumo em direção à austeridade fiscal, o que, ao menos, seria positivo para a trajetória da dívida do país.
· 05:04 — Expandindo os horizontes
A Petrobras está em avançadas negociações para adquirir participações em blocos de exploração na África, pertencentes a empresas como Exxon, Shell, TotalEnergies e Equinor. As conversas envolvem blocos localizados em países como Namíbia, África do Sul e Angola, abrangendo até 10 oportunidades de parceria com grandes petrolíferas…