
O tão aguardado plano da China para estimular o consumo doméstico finalmente saiu do papel. Embora os detalhes ainda não tenham sido completamente revelados, a grande diferença em relação ao pacote de 2024 é que, desta vez, o governo parece estar mirando diretamente a raiz do problema: a incerteza dos consumidores em relação ao futuro. O mercado já deu seu primeiro sinal de aprovação na última sexta-feira (14), impulsionando alguns ativos, incluindo os brasileiros. Hoje (17), ajustes podem ocorrer, mas a sinalização geral foi positiva, especialmente em uma semana carregada de tensão devido às reuniões de política monetária ao redor do mundo.
Nos próximos dias, pelo menos cinco grandes bancos centrais terão suas decisões anunciadas — Brasil, EUA, Reino Unido, Japão e China — cada um navegando por expectativas distintas. Como de costume, no caso do Brasil e dos EUA, o que realmente importa é o tom da comunicação, já que as decisões em si estão amplamente precificadas (manutenção de juros lá fora e alta por aqui). No tabuleiro geopolítico, o destaque vai para a possível aceitação, por parte da Rússia, do acordo de cessar-fogo na Ucrânia proposto pelos EUA. O desfecho da questão pode ganhar novos contornos esta semana, quando Putin e Trump devem finalmente conversar.
· 00:56 — Força dos ativos locais
No Brasil, todas as atenções da semana se voltam para o Banco Central, que entre terça e quarta-feira (18 e 19) pode dar os primeiros sinais de que o ciclo de alta da Selic está chegando ao fim, depois de atingir 14,25%. Isso não significa que não teremos novos aumentos, mas a tendência é que a intensidade dos próximos passos seja menor e que a taxa terminal fique abaixo das projeções mais pessimistas do final do ano passado. Os motivos para isso já estão se acumulando: sinais claros de desaceleração da atividade econômica, evidenciados pelos três indicadores de atividade divulgados na semana passada, todos abaixo das expectativas.
A perspectiva de um fim do aperto monetário abre espaço para o início, ainda que distante, da conversa sobre cortes de juros. Isso ajudou a dar ânimo aos mercados na última semana, somado ao pacote de estímulos da China, ao potencial ganho relativo do Brasil com a guerra comercial de Donald Trump (já que outros países podem redirecionar suas compras para produtos brasileiros, fugindo das tarifas americanas) e à continuidade da rotação setorial global entre mercados emergentes.
Como já discutimos, depois de um 2024 desastroso para os ativos domésticos, 2025 tinha boas chances de ser um ano relativamente mais forte quase por inércia — com valuations muito descontados, um comparativo extremamente baixo e um posicionamento técnico favorável. Até o câmbio entrou na dança: o dólar fechou a sexta-feira (17) abaixo de R$ 5,75, e a aposta estrangeira contra o real caiu abaixo de US$ 50 bilhões pela primeira vez em um ano e meio. O problema, como sempre, está na política.
O estresse em Brasília por conta da inflação já está evidente — e com razão. Na base anual, os preços ao produtor subiram 9,69%, a maior alta desde setembro de 2022, o que aponta para uma inflação ao consumidor mais complicada nos próximos meses. O governo, no entanto, responde da pior maneira possível: dobrando a aposta em medidas populistas. O desespero do presidente Lula em tentar recuperar popularidade a qualquer custo se traduz no envio da proposta de isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil. Não é que não exista mérito em uma reforma tributária sobre a renda, mas a forma como está sendo conduzida é um desastre anunciado.
A desorganização vai além: mesmo sem ter aprovado o Orçamento para 2025 — cuja votação já deve ficar para abril —, o governo segue avançando com medidas eleitoreiras. A única coisa positiva nesse caos é que a chance de mudança do pêndulo político em 2026 só cresce. O próprio Bolsonaro já admite que sua candidatura serve como “para-raios” para Tarcísio — e, por mais que não precisasse expor isso publicamente, o raciocínio faz sentido. Como já falamos antes, é bom para Tarcísio não se tornar vidraça tão cedo. O trajeto até lá, porém, deve ser tudo menos simples.
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· 01:43 — Aguardando o Fed
Nos EUA, os investidores decidiram encarar a correção do S&P 500 (queda superior a 10% desde a máxima) como uma oportunidade de compra na sexta-feira. Ainda assim, o saldo da semana foi amargo: os índices recuaram até 3%, refletindo a incerteza gerada, mais uma vez, pelo estilo errático de Donald Trump. Na recuperação, todos os 11 principais setores do S&P 500 fecharam em alta, mas o alívio pode ser passageiro.
Agora, o foco se volta para o Federal Reserve, que deve manter seu tom cauteloso na decisão desta semana. Os dirigentes do Fed, incluindo Jerome Powell, já deixaram claro que a incerteza gerada pelas políticas tarifárias de Trump é um fator de preocupação. Os cortes de juros ainda estão na mesa para o segundo semestre, mas dependerão dos próximos indicadores econômicos. Na sexta-feira (14), por exemplo, o índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan caiu pelo terceiro mês consecutivo em março, enquanto as expectativas de inflação para o ano seguinte dispararam para o maior patamar desde novembro de 2022.
Pelo menos, uma boa notícia: o Congresso americano conseguiu evitar um shutdown do governo. Com tanta coisa dando errado por lá, é quase um alívio saber que, desta vez, eles conseguiram cumprir o básico.
· 02:32 — A ligação
Donald Trump anunciou que conversará amanhã (18) com Vladimir Putin, enquanto os EUA seguem pressionando por um acordo na Ucrânia. Questionado sobre quais concessões pretende negociar, Trump não fez rodeios: o foco será a cessão de territórios. O roteiro já parece escrito. Antecipando-se a um dos principais desejos do Kremlin, o secretário-geral da OTAN, Mark Rutte, confirmou que a adesão da Ucrânia à aliança militar foi “retirada da mesa” — um gesto claro de acomodação às exigências russas, embora Rutte tenha tentado disfarçar, dizendo que a pressão sobre Moscou continuará.
Enquanto isso, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, anunciou que 25 líderes aliados endurecerão as sanções contra a economia russa. Mas essa retórica dura esbarra na realidade das negociações: tudo indica que os principais players do Ocidente já começaram a preparar o terreno para um cessar-fogo nos termos de Putin.
Para os mercados, o impacto é imediato, especialmente no petróleo. O vai e vem das declarações de Putin levanta dúvidas sobre sua real intenção: ele está genuinamente disposto a negociar ou apenas ganhando tempo e manipulando Trump? O fato é que, se o cessar-fogo sair, os ruídos geopolíticos devem diminuir no curto prazo, aliviando a pressão sobre os preços do barril. Mas o jogo está longe de acabar.
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· 03:27 — Rejeição ao incumbente
Mark Carney assumiu o cargo de 24º primeiro-ministro do Canadá, levando um ex-banqueiro central ao comando do país em meio a uma guerra comercial com os EUA. Aos 59 anos, Carney tomou posse em uma cerimônia em Ottawa na sexta-feira (14), apenas alguns dias depois de esmagar a concorrência na disputa interna do Partido Liberal e assumir a liderança no lugar de Justin Trudeau. Em sua primeira coletiva de imprensa como chefe de governo, tentou adotar um tom conciliador, afirmando que houve progresso nas negociações com os EUA após semanas de tensão tarifária.
A ascensão de Carney já produziu um efeito imediato nas pesquisas, que antes apontavam uma vitória certa dos Conservadores após quase uma década longe do poder. Mas aqui vem a pergunta: se os Liberais conseguirem se manter no governo, isso significa que a mudança do pêndulo político perdeu força? A resposta é não. No parlamentarismo, a lógica é diferente. O que derrubou Trudeau não foi a oposição, mas sim a rejeição interna a seu nome dentro do próprio partido. No presidencialismo, essa opção não existe — a menos que aconteça um impeachment, um processo longo, desgastante e que paralisa o país institucionalmente. Já no sistema canadense, a troca de liderança pode acontecer sem traumas, e foi exatamente isso que os Liberais fizeram ao colocar Carney como novo líder. Exemplo de rejeição ao incumbente.
E a mudança não é apenas de nome, mas também de perfil. Diferente de Trudeau, que era visto como mais inclinado à esquerda, Carney se posiciona no centro, com um viés mais técnico e pragmático. Formado em economia por Harvard, com mestrado e doutorado em Oxford, Carney passou mais de uma década no mercado financeiro, no Goldman Sachs, antes de presidir os Bancos Centrais do Canadá e do Reino Unido (sim, os dois). Ou seja, sua escolha já representa, por si só, um ajuste no pêndulo político, com o Partido Liberal se reposicionando para onde o eleitorado está migrando. O mesmo fenômeno ocorreu no Reino Unido, onde Keir Starmer puxou o Partido Trabalhista para uma posição muito mais moderada do que a era radical de Corbyn.
Agora, resta saber se Carney aproveitará o embalo e antecipará as eleições, que podem acontecer até outubro deste ano. Independentemente disso, sua ascensão é mais um exemplo claro de como a rejeição ao incumbente pode forçar uma guinada política — um cenário que pode muito bem se repetir no Brasil em 2026.
· 04:19 — A put do Xi: esteroides anabolizantes chineses
Após anos digerindo o colapso do setor imobiliário e lidando com uma abordagem ultrarrigorosa contra a pandemia, a China finalmente dá sinais mais claros de recuperação. O governo, que por muito tempo hesitou em agir de forma mais agressiva, agora parece decidido a evitar novas ondas de desaceleração econômica. E o que antes era apenas especulação começa a ganhar forma: Pequim detalhou um ambicioso plano para reaquecer o consumo interno, um movimento que indica que o governo percebeu o tamanho do buraco em que a demanda doméstica foi parar.
As medidas anunciadas incluem aumento de renda, subsídios para cuidados infantis, incentivos ao financiamento e ampliação do crédito ao consumidor. Há também a promessa de ajustes no salário mínimo, na tentativa de estimular os chineses a voltarem a gastar, depois de anos de incerteza que reduziram drasticamente sua propensão ao consumo. Afinal, a conjunção de uma crise imobiliária prolongada e os impactos da Covid-19 criou uma tempestade perfeita para um comportamento financeiro mais conservador, alimentando uma tendência deflacionária no país.
Agora, os próximos dados econômicos devem mostrar se essas iniciativas começam a surtir efeito. As projeções indicam um janeiro e fevereiro relativamente resilientes, com alta nas vendas do varejo e estabilidade nos investimentos em relação aos números de 2024. O mercado já parece reagir positivamente, antecipando que Pequim finalmente decidiu jogar para ganhar. Se dessa vez o governo chinês cumprir, o impacto poderá ser significativo — não só para a economia local, mas para os mercados globais.
· 05:04 — Chegamos aos US$ 3.000… E agora?
O ouro ultrapassou a impressionante marca de US$ 3.000 por onça na sexta-feira, um feito inédito e emblemático para quem, como eu, vem batendo na tecla do metal precioso há tempos. Desde que recomendei sua compra no final de 2023, o ouro dobrou de valor, consolidando-se como uma bela recomendação neste período. E o que está por trás dessa disparada? Uma mistura de compras …