A semana começa com a importante notícia de que Haddad cancelou sua viagem à Europa para focar em assuntos domésticos relacionados à questão fiscal. Isso é um bom sinal, mas ainda falta a concretização das medidas. Se o pacote de contenção de gastos for anunciado nesta semana, seria mais um motivo para o mercado ficar mais tranquilo.
No cenário internacional, o foco está na eleição presidencial dos EUA, que acontece na terça-feira (5). A disputa está extremamente acirrada nos estados-pêndulo, e qualquer um dos dois candidatos pode vencer, embora o mercado tenha observado um aumento nas chances de vitória de Trump nos últimos dias, algo que diminuiu a partir do fim de semana passado. A eleição torna a reunião do Fed um tema secundário nesta semana, mas ainda assim importante, com conclusão marcada para quinta-feira (7).
As bolsas asiáticas encerraram a sessão desta segunda-feira em alta, com investidores acreditando que os líderes reunidos no Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo da China devem anunciar novas medidas para estimular a economia do país na sexta-feira (8), ao término da reunião.
As bolsas europeias são favorecidas pelo setor de energia, após a Opep+ adiar os planos de aumentar a produção. Os futuros americanos sobem nesta manhã, com investidores aguardando mais resultados corporativos e ainda digerindo os dados de emprego distorcidos divulgados na última sexta-feira (1º).
Por aqui, além da questão fiscal, também temos a monetária, com o BC devendo elevar os juros na quarta-feira (6) na prófima reunião do Copom. Além disso, o mercado de ações brasileiro passará a fechar hoje às 18 horas, devido ao fim do horário de verão nos EUA.
· 00:58 — Fica, vai ter bolo
O cenário econômico brasileiro atual é marcado por um profundo pessimismo. As projeções de um aumento expressivo nas despesas obrigatórias para os próximos anos preocupam tanto o governo quanto o mercado, colocando em dúvida a sustentabilidade do arcabouço fiscal do país.
Os juros nominais já superam 13% em vários vértices, e o mercado precifica um ciclo de aperto monetário ainda mais rígido que o anterior, com a Selic podendo atingir quase 14%. Paralelamente, o dólar à vista fechou em cerca de R$ 5,87, o segundo valor mais alto da história em relação ao real, ficando atrás apenas do recorde de R$ 5,90 registrado em 13 de maio de 2020, no auge da pandemia. Estamos no epicentro de uma crise econômica, e tanto os juros quanto o dólar poderiam recuar caso as prometidas medidas de contenção de gastos se concretizem.
Diante dessa situação crítica, o Ministro Haddad cancelou sua viagem à Europa para focar na elaboração do pacote de contenção de despesas. Embora sua permanência no país tenha trazido algum alívio, ainda é insuficiente para tranquilizar o mercado. Qualquer frustração com relação a esses cortes pode piorar ainda mais o quadro. Na manhã de hoje, o presidente Lula e seus principais ministros das áreas econômica e política reúnem-se para discutir o plano de ajuste fiscal.
Entre os itens da pauta, destacam-se duas Propostas de Emenda à Constituição (PECs) fundamentais para o ajuste: uma que propõe incluir todos os gastos obrigatórios, exceto salário mínimo e Previdência, dentro do limite de 2,5% do arcabouço fiscal; e outra que visa à desvinculação de receitas, em um modelo semelhante à antiga DRU (Desvinculação das Receitas da União) do Plano Real. Espera-se, ainda, a apresentação de outras medidas em um projeto de lei, incluindo limites para o número de beneficiários de programas sociais e alterações nos critérios de acesso ao BPC e ao seguro-desemprego. Até o momento, tudo isso permanece especulativo, e o mercado aguarda ações concretas para restabelecer a confiança. Quer ver para crer.
· 01:45 — Mais um corte
Nos EUA, além das atenções voltadas para a eleição presidencial, os investidores aguardam novos resultados da temporada e analisam os últimos dados de emprego, pouco antes da reunião do Federal Reserve marcada para esta semana. Desde o corte de 50 pontos-base na taxa de juros do banco central em setembro, os dados recebidos indicaram uma contínua deterioração no mercado de trabalho, uma economia que ainda mantém algum avanço e uma situação inflacionária que pode não estar totalmente sob controle. Esses fatores mantêm o Fed no caminho para realizar outro corte de juros, esperado para 25 pontos-base.
O relatório de empregos divulgado na última sexta-feira trouxe resultados decepcionantes, mas a expectativa de um corte maior de 50 pontos-base é improvável, devido às distorções causadas por fatores como greves e furacões. A economia dos EUA criou apenas 12 mil empregos no mês, bem abaixo da expectativa de mais de 100 mil. Os rendimentos dos títulos do Tesouro caíram inicialmente com o relatório de empregos, refletindo preocupações com o crescimento, mas logo se recuperaram. Além disso, a taxa de desemprego permaneceu estável em 4,1%, e o crescimento anual dos salários continuou acima da inflação, registrando 4%.
· 02:31 — A reta final das eleições
A disputa pela presidência dos Estados Unidos promete ser especialmente acirrada. Embora Kamala Harris possa conquistar a maioria dos votos populares, a verdadeira batalha será pela maioria dos delegados nos estados decisivos — Pensilvânia, Geórgia, Carolina do Norte, Michigan, Arizona, Wisconsin e Nevada — como eu tenho ressaltado continuamente nos últimos meses. Recentemente, o “Trump Trade” vivenciou um rali, mas o último fim de semana trouxe uma leve mudança nas previsões, com uma redução nas chances de vitória de Trump em favor de Harris, embora ele ainda mantenha uma vantagem discreta nas casas de apostas.
O motivo? Bem, duas pesquisas recentes trouxeram resultados contrastantes. A AtlasIntel, conhecida pela precisão nas previsões dos principais estados em 2020, apontou para uma consolidação da vantagem de Trump. Já a pesquisa de Ann Selzer, respeitada por suas previsões certeiras no estado de Iowa em 2020 — um estado onde Trump é favorito —, mostrou uma vantagem inesperada para Harris. Este resultado é importante, pois, se Trump vencer em Iowa, a reputação de Selzer pode ser questionada. No entanto, se ela estiver correta, isso pode ser um alerta para Trump, já que o perfil demográfico de Iowa se assemelha ao de outros estados decisivos.
O dólar iniciou a semana em queda frente às principais moedas internacionais, refletindo as oscilações no cenário eleitoral. Contudo, vale lembrar que as pesquisas nem sempre capturam totalmente o cenário real (o problema é o comparecimento, muito difícil de ser antecipado). Em 2016 e 2020, o apoio a Trump foi subestimado, enquanto nas eleições de meio de mandato de 2022, o apoio ao Partido Republicano foi superestimado. É possível que estejamos vendo uma situação similar às eleições anteriores, com o apoio a Trump novamente subestimado, o que o torna favorito. Seja como for, o resultado final das eleições ainda pode levar algum tempo para ser completamente conhecido.
· 03:24 — Mais um congresso chinês
A reunião do Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo, órgão legislativo chinês, começa hoje (4) e se estenderá até sexta-feira (8), e as expectativas giram em torno de um possível anúncio de novo pacote de estímulos econômicos.
A projeção é que esse pacote alcance até 10 trilhões de yuans (cerca de US$ 1,4 trilhão), com cerca de 60% desse montante sendo financiado por meio da emissão de títulos soberanos. Esse conjunto de estímulos, equivalente a 8% do PIB da China, deverá ser implementado ao longo de três a cinco anos. Além disso, no fim de semana, o governo chinês revisou e flexibilizou normas para atrair investimentos estrangeiros em empresas listadas, visando promover uma base de capitais de longo prazo e de alto valor agregado.
Essas iniciativas devem gerar um impulso adicional ao mercado de commodities, especialmente ao petróleo, que já sente os efeitos das tensões no Oriente Médio. A Opep+ adiou o aumento de produção planejado para dezembro, e há rumores de que o Irã pode estar organizando um novo e possivelmente mais intenso ataque a Israel. Contudo, especulações apontam que o Irã avalia o impacto de uma resposta americana sobre o cenário eleitoral nos EUA, possivelmente preferindo a vitória de Kamala Harris a um retorno de Donald Trump. Esses fatores combinados devem sustentar os preços elevados do petróleo.
· 04:12 — Crise de liderança
A ausência de uma liderança global eficaz está se tornando cada vez mais evidente, especialmente nos conflitos em curso na Ucrânia e no Oriente Médio. Embora todos declarem buscar a paz, faltam esforços concretos e capacidade real para alcançá-la. No Oriente Médio, os Estados Unidos, a maior potência com influência sobre Israel, têm falhado em impedir a escalada da violência, que já envolve também o Líbano e o Irã. Enquanto isso, a China, com seu poder na Eurásia, não consegue exercer a pressão necessária sobre a Rússia para conter a guerra na Ucrânia.
Esse recuo das principais potências mundiais tem criado um vácuo perigoso, promovendo um nível crescente de instabilidade global. Sem um caminho visível para uma resolução duradoura em nenhum desses conflitos, enfrentamos um ciclo de crises interligadas que apenas se intensificam. O que realmente deve nos preocupar não é o embate de forças entre Estados Unidos e China, mas a abdicação mútua de suas responsabilidades como líderes globais. Essa ausência de liderança em momentos tão críticos agrava ainda mais os desafios profundos que enfrentamos.
· 05:07 — Sinais na Petrobras
Hoje, após o fechamento do mercado, será divulgado o balanço do Itaú (iTUB4), seguido pela Petrobras na quinta-feira. Em relação à Petrobras (PETR4), não tenho expectativas especialmente altas para este trimestre, embora a taxa de câmbio favorável possa dar uma leve contribuição positiva aos resultados financeiros da companhia. Meu interesse, porém, vai além dos números trimestrais e se concentra em duas questões estratégicas: a possibilidade de um pagamento de dividendos extraordinários e as perspectivas de exploração na Margem Equatorial.