Bom dia, pessoal. Lá fora, a maioria dos mercados asiáticos negociou em queda, ainda que marginal, nesta terça-feira (18), com os temores de aumento das taxas de juros nos EUA compensando amplamente o otimismo sobre o crescimento econômico chinês mais forte do que o esperado. A notícia na região, em si, foi bem positiva, com o crescimento do PIB no primeiro trimestre da China alcançando a marca de 4,5% na comparação anual, acima das projeções — o varejo foi o grande responsável. Por outro lado, a produção industrial ficou levemente abaixo do esperado, nivelando o sentimento.
Os mercados europeus e os futuros americanos estão em alta nesta manhã, acompanhando um bom humor que deveria ter sido sentido nos mercados asiáticos. As commodities metálicas vão melhor que as energéticas, pelo menos por enquanto, o que poderá ser refletido no desempenho brasileiro. Internacionalmente, falas de autoridades monetárias, em especial do Federal Reserve, estão pressionando as expectativas, prometendo mais juros. Por aqui, na falta de indicadores, a discussão volta ao tema central: a entrega do texto do arcabouço fiscal.
A ver…
· 00:51 — Revisões positivas
No Brasil, era para ter sido no final de março (só tivemos a ideia geral, sem as especificações), depois ficou para o início de abril e então para a semana passada. Bem, devemos receber hoje (finalmente) o texto do arcabouço fiscal que substituirá o teto de gastos na entrega do projeto ao Congresso. O atraso pode ser compensado pelo fato de que estamos com o cronograma geral adiantado; além disso, o entendimento é de que a demora para conhecermos a formalização e os pormenores se deve às revisões mais ortodoxas da ala econômica. Se for isso, tudo bem.
Falta combinar com a ala radical, histérica e sem preparo técnico do PT, que adora fazer barulho, promete desafiar Haddad e pode ser um empecilho ao projeto no Congresso — sim, o partido do governo vai atrapalhar a proposta do governo; coerência em primeiro lugar, afinal. De qualquer forma, o texto deve ter sua defesa já planejada para eventuais perversões da ala política — há uma tentativa de blindar os valores de referência, que foram incorporados desde já à lei complementar (exige a maioria absoluta dos parlamentares). Quanto antes virarmos essa página, melhor.
· 01:48 — Entre mais resultados corporativos e a dívida pública americana
Nos EUA, a temporada de resultados costuma atrair a atenção dos investidores para os fundamentos, que deveriam ser o que realmente importa. Com os grandes bancos, pelo menos até agora, surpreendendo positivamente, há um otimismo crescente sobre os resultados. Ao mesmo tempo, há uma atenção especial ao teto da dívida e da crescente ameaça de um impasse prolongado em Washington, podendo provocar estresse sobre a curva de juros e, consequentemente, as ações.
Os republicanos se negam a aprovar um aumento no limite da dívida sem compromisso fiscalista por parte de Biden, o governo americano mais expansionista da história recente. Em outras palavras, a oposição à Casa Branca quer usar as negociações do limite da dívida como uma oportunidade para examinar as finanças dos EUA. A ideia é excelente, uma vez que o que foi praticado até aqui se mostra insustentável no longo prazo. Não só os EUA, mas todos os países precisam revisar suas finanças.
Enquanto esperamos a definição desta saga, contamos com o resultado de grandes nomes dos EUA como Bank of America, Bank of New York Mellon, Goldman Sachs, Johnson & Johnson, Lockheed Martin, Netflix e United Airlines. Há quem diga que possamos ter o melhor início de temporada para um primeiro trimestre em mais de 10 anos, o que surpreende positivamente e chama a atenção dos investidores. Dados do mercado imobiliário também são aguardados, mas com contornos secundários.
· 02:57 — Problemas europeus
No Reino Unido, os dados do mercado de trabalho de fevereiro e março mostraram uma taxa de desemprego mais alta, enquanto os ganhos médios (excluindo pagamentos de bônus) ficaram estáveis. Tal como acontece com a maioria das economias desenvolvidas, a esperança é que o crescimento dos salários nominais modere mais lentamente do que a inflação. Poderá ser o grande trunfo do Federal Reserve nos EUA, por exemplo, se é que ele ainda almeja o tão sonhado “soft landing”.
Paralelamente, a pesquisa de sentimento empresarial ZEW da Alemanha de abril veio abaixo do esperado. Sim, uma atividade econômica mais fraca pode moderar a inflação aquecida das diferentes regiões do mundo. Entretanto, a possibilidade de uma recessão nas economias centrais fica cada vez mais elevada. A notícia não afetou negativamente os mercados europeus nesta manhã, mas ao longo dos próximos meses, as notícias negativas podem realmente ter um efeito ruim sobre os mercados.
· 03:43 — Um bom crescimento
A economia chinesa cresceu 4,5% na comparação anual no primeiro trimestre de 2023, um valor acima do esperado, ajudada em grande parte pelo levantamento das restrições anti-Covid entre o final de 2022 e o início deste ano. O motor desse crescimento foi o varejo, que teve suas vendas crescendo 10,6% em março.
Para 2023, o crescimento do PIB deve subir para 5,4%, de 3,0% no ano passado, um de seus piores desempenhos em quase meio século devido à pandemia. O governo da China estabeleceu uma meta de 5% de crescimento econômico para este ano, depois de não cumprir a meta de 2022. Se superar, poderá ser bom para as commodities.
Mas enquanto a leitura mostrava que uma recuperação econômica no país estava a caminho, outros dados destacavam uma recuperação desigual. A produção industrial, por exemplo, ficou abaixo das estimativas pelo segundo mês consecutivo em março, mostrando que o enorme setor manufatureiro do país ainda enfrenta dificuldades.
· 04:29 — O custo das tensões geopolíticas
As recentes tensões entre a China e os EUA sobre a produção de semicondutores fazem parte de uma tendência mais ampla que pode diminuir substancialmente a prosperidade mundial, conforme o que argumentou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um relatório recente. Lembre-se que os EUA aprovaram leis para trazer a produção de semicondutores de volta ao país e impedir que empresas fabriquem ou desenvolvam chips de ponta na China, encorajando os aliados a fazerem o mesmo.
Isso equivale a barreiras ao investimento estrangeiro direto e está acontecendo em várias áreas à medida que as cadeias de suprimentos mais amigáveis se tornam mais populares (a ideia seria a de manter a produção em casa ou apenas em países confiáveis). Essa fragmentação, contudo, acabará prejudicando o output econômico, podendo reduzir a produção global em cerca de 2% no longo prazo. Os mercados emergentes provavelmente serão mais atingidos do que os desenvolvidos.