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Crise de credibilidade? Ibovespa e dólar sobem enquanto mercado chinês segue volátil; fique por dentro dos destaques da semana

Apesar da leve recuperação do Ibovespa ontem (10), fatores como a valorização do dólar podem indicar uma crise de credibilidade econômica no país.

Por Matheus Spiess

11 out 2024, 09:09 - atualizado em 11 out 2024, 09:09

Dólar como hedge

Fonte: Pixabay

As ações chinesas encerraram a semana de forma turbulenta, após dias já marcados por alta volatilidade, com os investidores expressando decepção em relação ao pacote de estímulos divulgado pelo governo.

Agora, todas as atenções estão voltadas para a coletiva de imprensa marcada para este sábado (12), onde se espera que o ministro das finanças da China anuncie novas medidas de suporte para revitalizar uma economia que vem perdendo fôlego. Analistas e investidores aguardam que Pequim apresente um pacote de estímulos fiscais que pode chegar a US$ 283 bilhões, como parte dos esforços para acelerar o crescimento econômico e restaurar a confiança no mercado.

Enquanto isso, as bolsas europeias operam de forma mista, sem uma direção clara, e os futuros americanos registram quedas na manhã de hoje, com o mercado de olho no início da temporada de resultados corporativos. Os balanços do JPMorgan e Wells Fargo, que serão divulgados antes da abertura do mercado, darão início à temporada de resultados do terceiro trimestre, em paralelo à publicação do índice de preços ao produtor de setembro, logo após a inflação ao consumidor nos Estados Unidos ter surpreendido ao vir acima das expectativas ontem (10).

Um ponto que merece destaque é a rara ocorrência do S&P 500 atingir tantas máximas históricas em um ano em que o VIX, o chamado “índice do medo”, permanece em níveis tão elevados. Excluindo o rali impulsionado pelos estímulos relacionados à pandemia, entre 2020 e 2021, é incomum ver o S&P bater recordes em um ambiente de ansiedade tão acentuada. Historicamente, o nível médio do VIX em momentos de máximas no S&P costuma ser cerca de 50% inferior ao atual, o que gera certa inquietação no mercado.

· 00:54 — Crise de credibilidade

No Brasil, a agenda econômica de hoje (11) traz os dados do setor de serviços referentes a agosto, que devem mostrar uma desaceleração, com crescimento de apenas 0,1%, após uma expansão de 1,2% registrada em julho.

Esses números seguem a divulgação dos resultados do varejo, que apresentaram uma queda de 0,3% em agosto na comparação mensal, superando as expectativas do mercado, que previa uma retração de 0,6%. Com esse desempenho, o carryover estatístico para o comércio varejista aponta para estabilidade no terceiro trimestre de 2024, tanto nas vendas do varejo restrito quanto no varejo ampliado.

No entanto, esses resultados não devem alterar o curso do ciclo de aperto monetário em andamento. Se os dados vierem mais fortes do que o previsto, como aconteceu ontem, isso pode servir como mais uma justificativa para a elevação da Selic.

Nesse cenário, mesmo com uma leve recuperação do Ibovespa ontem (10), a correção no mercado, somada ao aumento dos juros e à valorização do dólar, reflete o que pode ser descrito como uma crise de credibilidade econômica no país. Acontece que, sem uma âncora fiscal sólida, o Brasil tem se apoiado exclusivamente na âncora monetária para tentar manter a estabilidade.

No entanto, confiar apenas nisso não é uma solução sustentável a longo prazo. O caminho para contornar a situação atual exige, no mínimo, um compromisso claro com a responsabilidade fiscal por parte do governo.

· 01:42 — Nervosismo no ar

Nos EUA, as ações fecharam em queda na quinta-feira, enquanto os investidores analisavam os mais recentes dados de inflação e aguardavam os resultados dos grandes bancos, programados para hoje (11), com destaque para NY Mellon, BlackRock, JPMorgan e Wells Fargo.

O índice geral de preços ao consumidor subiu 2,4% em termos anuais, com uma taxa mensal de inflação moderada, registrando alta de apenas 0,2%. No entanto, o núcleo da inflação, que exclui os voláteis preços de alimentos e energia, subiu de 3,2% para 3,3%, superando as expectativas do mercado e indicando uma persistência preocupante da inflação.

Além do início da temporada de resultados, o dia de hoje reserva a divulgação do índice de sentimento do consumidor para outubro e o índice de preços ao produtor referente a setembro. Vale lembrar que uma economia muito aquecida, junto com uma inflação resiliente, pode até aliviar o temor de recessão, mas ao mesmo tempo prejudica as expectativas de novos cortes nas taxas de juros.

Outro ponto de atenção continua sendo a avaliação dos danos causados pelo furacão Milton, que atingiu a costa da Flórida na noite de quarta-feira, como categoria 3. Estima-se que os estragos possam chegar a US$ 75 bilhões, embora o impacto econômico mais amplo seja considerado limitado.

· 02:31 — O anúncio da Tesla

Na noite de ontem, conforme mencionei aqui, Elon Musk finalmente apresentou os tão aguardados protótipos do robotaxi da Tesla (TSLA34), denominado “Cybercab.” Ele anunciou que a produção pode começar em 2026 e estimou que o veículo terá um preço inferior a US$ 30 mil. Além disso, Musk revelou o conceito do “Robovan”, um veículo de aparência futurista capaz de transportar até 20 pessoas simultaneamente.

No entanto, a apresentação não trouxe detalhes técnicos sobre como a Tesla pretende evoluir o sistema de assistência ao motorista, conhecido como “piloto automático completo”, para que os consumidores possam utilizá-lo sem a necessidade de supervisão. Musk afirmou que espera disponibilizar essa capacidade para os proprietários dos modelos Model 3 e Model Y no Texas e na Califórnia já no próximo ano.

Com a Tesla perdendo espaço para concorrentes tanto na China quanto nos Estados Unidos — sua participação no mercado de carros elétricos nos EUA caiu abaixo de 50% este ano —, Musk está apostando fortemente no avanço da tecnologia de direção autônoma e inteligência artificial como o futuro da empresa. Vale destacar que a Tesla está correndo para recuperar o tempo perdido, já que a Waymo, de propriedade da Alphabet (GOGL34), opera táxis autônomos há anos e atualmente oferece mais de 100 mil viagens semanais em cidades como São Francisco, Phoenix e Los Angeles. A Cruise, subsidiária da General Motors, também já lançou seus táxis robóticos. Essas iniciativas recentes demonstram o esforço da Tesla em reafirmar sua posição como uma líder em tecnologia, indo além de sua reputação como uma mera fabricante de veículos.

· 03:29 — E por falar em IA…

A Lei de Inteligência Artificial da União Europeia, que entrou em vigor em agosto, estabelece novas diretrizes para o uso de IA em setores considerados de alto risco, como educação e aplicação da lei, e proíbe o uso de IA para pontuação social e policiamento preditivo. No entanto, a maioria das suas disposições só começará a valer a partir de 2026, permitindo que as grandes empresas de tecnologia tenham tempo para se adaptar às novas exigências. Microsoft (MSFT34) e Google já se comprometeram a seguir as regulamentações, enquanto a Meta (M1TA34), que desenvolveu o modelo de código aberto Llama para ser utilizado livremente por desenvolvedores, adotou uma postura diferente, optando por não assinar o compromisso.

Nos Estados Unidos, também há esforços para regulamentar IA. No ano passado, o presidente Joe Biden emitiu um decreto que visa estudar os impactos da IA no mercado de trabalho e exigir avaliações de segurança para essa tecnologia. Apesar disso, ainda não há uma legislação federal específica para IA, e a regulamentação tem sido deixada para os estados. O resultado tem sido variado: o governador da Califórnia, Gavin Newsom, vetou recentemente um projeto de lei que tratava da regulamentação da IA, enquanto estados como Colorado e Illinois aprovaram regulamentações limitadas. No entanto, o debate sobre uma regulação responsável e abrangente para a tecnologia ainda está longe de acompanhar a velocidade com que a IA avança, colocando-nos em uma situação de atraso preocupante.

· 04:18 — Frustrações?

O hidrogênio tem sido amplamente celebrado como uma peça-chave na transição para energias limpas, mas ainda enfrenta barreiras significativas, principalmente devido ao elevado custo de produção. Nos últimos meses, várias empresas líderes no desenvolvimento desse combustível optaram por cancelar projetos, reduzir encomendas e diminuir seus investimentos, impactadas pelos custos proibitivos do hidrogênio de baixo carbono, especialmente no caso do hidrogênio verde. Produzido a partir de eletricidade renovável que separa os átomos de hidrogênio, o hidrogênio verde oferece uma alternativa limpa ao hidrogênio derivado de fontes fósseis, amplamente utilizado atualmente nas indústrias química e de refino de petróleo.

Apesar dessas dificuldades, minha perspectiva para o setor permanece otimista. O afastamento de algumas empresas pode, de fato, ser benéfico, pois introduz mais realismo no mercado, permitindo que os recursos — sejam tempo, capital ou talento — sejam direcionados para projetos mais viáveis e promissores. A produção de hidrogênio limpo deve aumentar mais de 40%, atingindo 1 milhão de toneladas em breve. No entanto, essa quantidade ainda representa apenas cerca de 1% da atual demanda global por hidrogênio, destacando o longo caminho que ainda há pela frente para que essa tecnologia atinja todo o seu potencial no mercado energético global.

· 05:06 — Investimentos em infraestrutura

Como já tenho discutido frequentemente com vocês, os fatores geopolíticos continuam desempenhando um papel central na volatilidade dos mercados, especialmente à medida que os EUA se aproximam das eleições presidenciais em novembro.

Nesse cenário, os investidores podem adotar estratégias que ajudem a lidar com a incerteza, focando em temas de investimento que demonstrem resiliência, independentemente dos resultados eleitorais. Entre os temas que venho destacando estão a tecnologia de defesa e a energia nuclear.

Agora, acredito ser importante acrescentar mais um: a infraestrutura americana

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.