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Mercado em 5 minutos

Crise no Credit Suisse domina mercado nesta quinta (16); veja os destaques do dia

Tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro para esta quinta-feira, 16 de março

Por Matheus Spiess

16 mar 2023, 08:53 - atualizado em 16 mar 2023, 08:53

Crise Credit Suisse CDBs mercado em 5 minutos
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados de ações asiáticos caíram nesta quinta-feira depois que os ativos em Wall Street afundaram ontem, com destaque para a queda nas ações do Credit Suisse, que reacendeu as preocupações sobre uma possível crise bancária após a quebra de dois bancos nos EUA — as ações em Xangai, Tóquio, Hong Kong e Sydney caíram, revertendo os ganhos de quarta-feira.  

Na Europa, a manhã é de recuperação, ao menos por enquanto, momento em que a maior parte dos futuros americanos cai. Na quarta-feira, o índice S&P 500 perdeu 0,7% depois de chegar a cair até cerca de 2,1% no dia, quando as ações do Credit Suisse caíram 30%, percentual que foi se diluindo ao longo da tarde. Há um nervosismo sobre a força dos bancos globais que estão sob pressão dos aumentos das taxas de juros. 

A queda do Credit Suisse abala o já fragilizado humor dos investidores. Podemos dizer que pagamos o preço do estresse gerado pelo aumento dos juros, depois de muitos anos com política monetária demasiadamente frouxa, o que deixou os mercados e os investidores viciados em liquidez. Os ativos brasileiros acompanham os movimentos de estresse internacional, enquanto esperam pela apresentação do novo arcabouço fiscal. 

A ver… 

· 00:52 — O Senhor Mistério 

Por aqui, os investidores operam cautelosamente, em compasso de espera pela semana que vem, quando teremos a nossa reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), e pela apresentação da regra que substituirá o teto de gastos. Enquanto isso, acompanhamos o humor internacional, que nos levou de voltar aos 100 mil pontos ontem, antes de conseguirmos nos recuperar de volta para os 102 mil pontos. O estresse levou o dólar para novas máximas, num típico movimento de aversão ao risco. 

Nos bastidores, esperamos novidades sobre o debate em plenário da taxa Selic, que acontecerá no Senado com a presença de Campos Neto, Haddad, Tebet e economistas, ainda sem data confirmada. Ainda nesta quinta-feira, alguns agentes devem acompanhar o depoimento de Miguel Gutierrez, ex-CEO da Americana que comandou a companhia por 20 anos, na CVM. Gutierrez é considerado um sujeito bastante misterioso (para se ter uma ideia, há apenas uma foto dele na internet). Curiosamente, ele é quem pode esclarecer os detalhes da história, já que é até hoje o maior acionista pessoa física, depois do pessoal da 3G. 

· 01:36 — Para além dos bancos regionais 

Nos EUA, o S&P 500 terminou a quarta-feira em baixa de 0,7%, depois de cair mais de 2% no início da tarde. A notícia do dia foi uma crise em curso no Credit Suisse, o segundo maior credor da Suíça e um banco de investimento global, responsável pela gestão de patrimônio com clientes em vários continentes. O estresse atingiu os grandes bancos dos EUA, como Morgan Stanley, JPMorgan e Goldman Sachs. 

As ações do Credit Suisse, que atingiram seu pico acima de US$ 75 por ação em 2007, antes da crise financeira global, entraram no ano de 2023 em torno de US$ 3 e fecharam em US$ 2,16 ontem, uma queda de 14%. Outros bancos europeus também caíram muito, como o Société Générale, que caiu 12%, o Deutsche Bank, que cedeu 7%, e o UBS Group, que perdeu 6,3%.  

O gatilho para a queda generalizada foi a identificação de fraquezas materiais nos relatórios financeiros de 2021 e 2022 do Credit Suisse, além da notícia de hoje de que o Saudi National Bank não forneceria mais capital para manter sua participação abaixo de 10%. O aperto do ano passado está claramente tendo um impacto nos mercados financeiros e de empréstimos, que eventualmente flui para a economia real. 

Os bancos, sem dúvida, serão mais cautelosos a partir daqui, dificultando a obtenção de crédito e desacelerando o crescimento. Essa é a política de taxa de juros do Fed em ação. O Comitê Federal de Mercado Aberto se reúne na próxima semana para determinar para onde essas taxas vão. As autoridades do Fed deixaram claro que querem errar para o lado de apertar demais, em vez de apertar de menos.  

· 02:50 — Quem poderá nos defender? 

Depois do caos iniciado nas primeiras horas de ontem em Zurique, o Credit Suisse, um banco global sistemicamente importante, recorreu à reguladora suíça, a Finma, para que ela demonstrasse apoio público às contas do banco. Dito e feito. No final do dia, o órgão garantiu ao mercado que o Credit Suisse atende às exigências de capital e liquidez. Além disso, o Banco Central da Suíça admitiu que forneceria liquidez ao Credit Suisse. E foi exatamente isso que aconteceu. 

Ainda na noite de ontem, o Credit Suisse disse que usaria um suporte do banco central suíço e tomaria empréstimos (linha de liquidez) de até 50 bilhões de francos suíços (US$ 53,7 bilhões). A notícia traz um pouco mais de calma aos mercados. O Credit Suisse tem lutado contra problemas há anos, incluindo perdas relacionadas ao colapso em 2021 da empresa de investimentos Archegos Capital. A crise recente dos bancos regionais nos EUA apenas reacendeu as preocupações com os setores financeiros. Há quem diga que, para solucionar a questão, uma fusão entre UBS e CS pode acontecer. 

· 03:37 — Uma reunião difícil 

O Banco Central Europeu (BCE) reúne-se hoje para tratar de sua política monetária. Será uma reunião difícil, considerando que o Credit Suisse acabou de acessar a liquidez do Swiss National Bank. Ainda assim, a autoridade monetária deverá aumentar as taxas de juros em 50 pontos-base para 3,5%. Em outras palavras, é improvável que o súbito colapso de uma série de bancos dos EUA e o próprio nervosismo com o CS coloque em xeque a alteração da taxa, prometida no mês passado. 

Na sequência da divulgação da decisão, a presidente do BCE, Christine Lagarde, concede entrevista coletiva, podendo dar mais detalhes sobre o ritmo da política monetária nos próximos meses, bem como esclarecer seu posicionamento em relação aos riscos dos bancos nos EUA e na Europa. Por enquanto, o contágio nos mercados europeus foi limitado. O ponto principal é que o BCE está em uma luta determinada contra a inflação e não pode se dar ao luxo de se distrair. 

· 04:19 — Os efeitos sobre o consumidor 

A presidente do BCE, Christine Lagarde, já declarou mais de uma vez o seu desejo de combater a inflação custe o que custar. Geralmente, porém, é o consumidor que está sujeito ao trauma contundente do endurecimento das políticas monetárias. As taxas de juros mais altas aumentam os custos da dívida existentes. Isso pode limitar a capacidade dos consumidores de gastar, já que uma parte maior de sua renda é usada para pagar dívidas existentes. 

Ao mesmo tempo, taxas mais altas desencorajam novos empréstimos dependendo se o consumidor está conscientemente ou inconscientemente pedindo dinheiro emprestado. Se um consumidor decidir conscientemente pedir dinheiro emprestado para fazer uma compra, é provável que taxas mais altas desacelerem o crédito. Se um consumidor está contraindo empréstimos inconscientemente, é menos provável que as mudanças nas taxas de juros desacelerem o crédito. 

A decisão de pedir dinheiro emprestado é “forçada” pelo desejo de manter os padrões de vida quando os salários reais não crescem. Os empréstimos recentes do consumidor tornaram-se cada vez mais inconscientes. Para retardar o endividamento inconsciente, os aumentos das taxas podem ser menos eficazes. Por isso ainda não vimos as autoridades monetárias dos países centrais diminuindo o ritmo do aperto.   

Um abraço, 

Matheus Spiess 

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.