Há uma expectativa crescente de que, após 25 anos de negociações, o tão aguardado acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia (UE) possa finalmente ser concluído hoje, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul. Este desfecho, se concretizado, será um marco significativo e merece atenção especial. Enquanto isso, os mercados europeus iniciaram esta sexta-feira (6) sem uma direção clara, refletindo uma combinação de fatores contrastantes.
A sequência positiva dos últimos dias, impulsionada pela expectativa de mais um corte de juros pelo BCE na próxima semana, deu lugar a incertezas. É provável que a turbulência política na França, que até agora impactou mais o euro do que as ações, comece a pesar também sobre os mercados de capitais — há esperanças de um acordo entre o presidente Emmanuel Macron e a direita política após a queda do primeiro-ministro Michel Barnier nesta semana (Barnier deve permanecer no cargo até que um sucessor seja definido).
Esse movimento de incerteza nos mercados europeus ecoa o desempenho misto observado nos índices asiáticos nesta sexta-feira (6). Na China, os investidores aguardam com expectativa a Conferência Central de Trabalho Econômico na próxima semana, que pode trazer anúncios de novos estímulos para impulsionar a economia local, em meio aos desafios globais e internos.Nos Estados Unidos, os futuros registram queda nesta manhã, enquanto os mercados aguardam a divulgação do payroll, o relatório de emprego, que é amplamente considerado o dado econômico internacional mais relevante da semana. Este indicador será fundamental para calibrar as expectativas em relação à continuidade do ciclo de cortes de juros pelo Federal Reserve. Caso o afrouxamento monetário persista, é provável que 2025 se configure como mais um ano promissor para as ações americanas, prolongando o rali já observado em 2023 e 2024.
· 00:53 — Chance de melhorar
No Brasil, o foco permanece firmemente no cenário fiscal. Ontem (5), observamos uma leve trégua após dias de intensa pressão. O alívio foi sentido nos mercados: as ações registraram alta, o dólar recuou, e a curva de juros apresentou uma ligeira queda — embora continue em patamares insustentavelmente elevados. Esse movimento foi sustentado, em grande parte, pela percepção de que o pacote de “corte” de gastos poderá avançar com relativa rapidez no Congresso após a aprovação do regime de urgência. No entanto, é importante ressaltar que, em termos práticos, não houve qualquer mudança substancial no quadro fiscal.
Hoje, além das definições locais sobre o pacote fiscal, nossa curva de juros será influenciada pelo relatório de emprego nos EUA. Um cenário de continuidade na redução das taxas de juros americanas seria, sem dúvida, favorável para nós. Ainda assim, o contexto doméstico será determinante. Embora não acredite que a Selic alcançará 15%, parece provável que supere os 13%. O quão próximo chegaremos de 14% dependerá, em grande medida, de Brasília.
Nesse sentido, quanto mais o Congresso fortalecer as regras fiscais e quanto mais o governo apresentar medidas adicionais de contenção, melhor será a resposta do mercado. No entanto, é evidente que a confiança na equipe econômica já não é a mesma. Parte disso se deve ao fato de que o mercado enxerga o Ministério da Fazenda como refém da ala política mais intervencionista do governo, o que gera ceticismo quanto à capacidade de implementar ajustes efetivos.
Diante desse cenário, as expectativas de uma política monetária mais agressiva vêm ganhando força. É consenso que será necessário um aperto monetário robusto para restaurar a confiança e sinalizar comprometimento com a estabilidade econômica. Apesar disso, o momento atual oferece oportunidades atrativas: raramente na história vimos juros reais superiores a 7% ao ano — algo que ocorreu em menos de 3% do tempo. Para investidores que estão dispostos a carregar títulos até o vencimento, esse nível de remuneração real apresenta um diferencial significativo.
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· 01:45 — Esse acordo sai ou não sai?
O Mercosul e a União Europeia (UE) tentam concretizar um acordo de livre comércio há 25 anos, cujo desfecho pode finalmente ocorrer nesta sexta-feira, durante a Cúpula de Chefes de Estado do bloco sul-americano, em Montevidéu. A presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, intensificou as expectativas de um entendimento histórico entre as duas partes. Esse acordo tem uma longa trajetória, iniciada em 1994, quando surgiu a iniciativa pela Área de Livre Comércio das Américas (Alca) — os europeus não queriam perder para os americanos por aqui.
Contudo, o avanço foi interrompido em 2005, quando lideranças latino-americanas, incluindo Lula na época, bloquearam a conclusão da Alca, principalmente por pressões internas contrárias às políticas de abertura comercial (a boa e velha mentalidade atrasada da esquerda latino-americana). Desde então, as negociações com a Europa seguiram um ritmo lento, até ganharem novo fôlego após o fortalecimento de políticas protecionistas por parte de Donald Trump, depois de sua primeira vitória em 2016.
Em 2019, a ideia de um acordo foi reintroduzida, mas encontrou resistência significativa de setores protecionistas europeus, especialmente ligados ao agronegócio. O agro francês, notoriamente, tem sido uma das vozes mais ferrenhas contra o avanço do pacto, repetindo o mesmo padrão de oposição que ajudou a travar as discussões depois de 2005.
Apesar das resistências, há muito em jogo para ambos os lados. O acordo promete criar um mercado comum robusto, abrangendo mais de 700 milhões de pessoas e um PIB combinado de US$ 22,3 trilhões. Essa potencial integração econômica pode trazer benefícios significativos para as economias de ambas as regiões, ainda que o contexto global seja muito diferente daquele dos anos 1990 e início dos anos 2000, período em que a globalização era vista como o principal motor de crescimento e cooperação internacional. Ironicamente, o mesmo Lula que desempenhou um papel importante em frear o avanço do acordo no passado, agora assume uma postura de liderança para viabilizá-lo. Caso seja alcançado, será um marco importante na relação entre Mercosul e União Europeia, mas o caminho até a implementação será repleto de desafios. Acredito que seja muito bom…
· 02:31 — O forte mercado de trabalho
Nos Estados Unidos, após as máximas recordes alcançadas, os principais índices de ações recuaram ontem em um dia de negociações relativamente calmo, enquanto os investidores aguardam com expectativa o relatório de empregos que será divulgado hoje. A previsão é de um aumento de 207,5 mil vagas nas folhas de pagamento não agrícolas, contrastando com o ganho modesto de apenas 12 mil registrado em outubro. A taxa de desemprego, por sua vez, deve permanecer estável em 4,1%.
Este relatório é particularmente aguardado porque a edição anterior, referente a outubro, apresentou uma série de distorções que dificultaram a leitura dos dados. Dois grandes furacões e uma greve envolvendo dezenas de milhares de trabalhadores da Boeing impactaram significativamente os números, tornando o cenário nebuloso. Com isso, os dados de novembro são esperados como uma oportunidade para uma avaliação mais clara e precisa, além de indicar uma possível recuperação do mercado de trabalho.
O resultado deste relatório será crucial para moldar as expectativas em relação à trajetória dos juros. Especificamente, ele poderá oferecer pistas sobre a probabilidade de um novo corte na taxa de juros na próxima reunião do Federal Reserve, em dezembro — que acredito ser de 25 pontos-base. Além disso, o relatório ajudará a desenhar um panorama mais claro para a economia em 2025, influenciando o tom do banco central em sua abordagem para o próximo ano.
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· 03:24 — Um excelente nome
O empresário David Sacks foi escolhido para liderar os setores de inteligência artificial e criptomoedas na Casa Branca, uma decisão que sinaliza um forte alinhamento com o mercado e promete trazer avanços significativos nessas áreas estratégicas. Ex-CEO do PayPal e atualmente ativo no segmento de venture capital, Sacks é conhecido por seu histórico de investimentos em empresas de peso, como Facebook, Uber, SpaceX, Palantir Technologies e Airbnb — uma lista que reflete sua visão arrojada e capacidade de identificar oportunidades de impacto global.
A escolha de Sacks reforça uma tendência observada no governo, alinhada a nomeações como a de Elon Musk, encarregado de iniciativas voltadas para eficiência e redução de custos governamentais. Essa abordagem pragmática, focada em inovação e mercado, tem o apoio do presidente da Câmara dos EUA, Mike Johnson, que declarou recentemente estar comprometido em eliminar ativos imobiliários desnecessários, cortar custos operacionais e reduzir a burocracia que compromete a produtividade do setor público. Essa nova ala de liderança no governo, marcadamente pró-mercado, desperta grande entusiasmo e expectativa.
· 04:16 — Uma eleição fora do radar
Gana, uma das democracias mais estáveis da África Subsaariana, se prepara para ir às urnas neste sábado em uma eleição altamente disputada. Na corrida presidencial estão dois candidatos principais: o atual vice-presidente Mahamudu Bawumia, representante do Novo Partido Patriótico (NPP), de centro-direita, e o ex-presidente John Dramani Mahama, do Congresso Democrático Nacional (NDC), de centro-esquerda. As pesquisas apontam um empate técnico entre os dois concorrentes, evidenciando o clima acirrado da disputa.
Desde a redemocratização em 1992, nenhum partido governista em Gana conseguiu garantir um terceiro mandato consecutivo, um desafio histórico que o Novo Partido Patriótico de Bawumia tenta superar. Contudo, o vice-presidente enfrenta obstáculos significativos, incluindo o desencanto dos eleitores com o aumento do custo de vida, o alto desemprego juvenil em uma população de 34 milhões de pessoas e o agravamento dos níveis de pobreza.
Embora Gana mantenha um notável histórico de 40 anos de crescimento econômico positivo — algo que se destaca em comparação aos vizinhos economicamente mais instáveis — o ritmo de recuperação no pós-pandemia tem sido lento. Bawumia promete continuar as políticas econômicas do governo atual, com foco em redução da dívida e controle da inflação, buscando consolidar as conquistas alcançadas até o momento. Já Mahama propõe uma abordagem mais expansionista e heterodoxa, com políticas fiscais voltadas para impulsionar o crescimento econômico e atender às demandas sociais de forma mais imediata. No entanto, para muitos investidores, a prioridade será a garantia de maior consolidação fiscal e contenção, elementos cruciais para manter a estabilidade econômica de Gana.
· 05:07 — Temática energética
Como já discutido anteriormente neste espaço, a construção de carteiras mais avançadas exige a formulação de alocações voltadas para teses temáticas, alternativas e estruturais. Essas estratégias geralmente ocupam uma parcela modesta da carteira, dado seu maior nível de risco, e são projetadas para amadurecer ao longo de horizontes temporais mais longos, tipicamente entre três e cinco anos…