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Dados de inflação de fevereiro nos EUA e no Brasil são destaques nesta semana; veja o que esperar

No Brasil, a projeção é que o IPCA, que será divulgado na terça-feira, acelere 0,78% em fevereiro

Por Matheus Spiess

11 mar 2024, 09:32 - atualizado em 11 mar 2024, 09:32

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Bom dia, pessoal. Na última sexta-feira, as bolsas de valores de Wall Street experimentaram um dia de altas volatilidades, encerrando em território negativo, impactadas pela correção no setor de tecnologia e por reações a um relatório de empregos nos EUA com resultados mistos. Pessoalmente, interpreto os dados de emprego de forma mais otimista. Em suma, a combinação dos resultados variados de fevereiro e a revisão para baixo dos expressivos números de criação de empregos de janeiro aliviaram as preocupações dos investidores quanto a um possível endurecimento das taxas de juros americanas, minimizando a importância das declarações recentes de Jerome Powell. Este cenário coincide com o primeiro aniversário da crise bancária regional nos Estados Unidos, destacada pela falência do Silicon Valley Bank. Agora, observamos com cautela para ver se problemas no New York Community Bancorp não se transformarão em uma nova grande preocupação.

Para esta semana, a atenção se volta para o índice de preços ao consumidor de fevereiro, tanto nos EUA quanto no Brasil. Resultados abaixo do esperado podem oferecer ainda mais clareza aos investidores na antecipação de cortes nas taxas de juros americanas, o que beneficiaria o ciclo de flexibilização monetária no Brasil. Na Europa, há expectativas, segundo o Goldman Sachs, de que os primeiros cortes de juros ocorram em junho. No Brasil, a temporada de divulgação de resultados financeiros prossegue até o fim do mês. Internacionalmente, a temporada de balanços dá sinais de desaceleração, embora ainda tenhamos relatórios importantes a serem divulgados por empresas como Oracle, Dollar Tree, Kohl’s e Dick’s Sporting Goods. Os mercados iniciam a semana com tendência de baixa, intensificando a correção após alcançarem máximas recentes.

A ver…

· 00:51 — A dor de cabeça fiscal

No Brasil, com o início do horário de verão nos Estados Unidos, o pregão nas bolsas norte-americanas ocorrerá das 10h30 às 17h, horário de Brasília. Os investidores brasileiros, por sua vez, buscam se recuperar do impacto negativo causado pela queda expressiva nas ações da Petrobras na última sexta-feira, um movimento alinhado às expectativas mencionadas anteriormente, principalmente devido à insatisfação com os resultados apresentados pela empresa e, especialmente, pela decepção com a ausência de dividendos extraordinários. Nesse contexto, aguarda-se com grande expectativa a divulgação do IPCA de fevereiro, prevista para amanhã. A projeção é de que o índice acelere de 0,42% em janeiro para 0,78% em fevereiro, com possíveis surpresas podendo influenciar significativamente o mercado. Um resultado abaixo do esperado seria crucial, sustentando a esperança de um corte adicional de 50 pontos base na taxa de juros em junho, seguido de ajustes mais moderados de 25 pontos base nos cortes subsequentes.

Em Brasília, o cenário é complicado, especialmente após a recente queda na popularidade do presidente Lula. Em um momento em que a equipe econômica se esforça para reduzir o déficit público, o apelo por aumento de gastos soa como um gesto de desespero. Recorrer ao populismo tem sido uma estratégia comum entre líderes latino-americanos diante da perda de apoio popular, porém, o espaço fiscal para novos gastos é praticamente inexistente. Para exemplificar, apesar da celebração de uma receita robusta em janeiro, o crescimento das despesas foi, em termos reais, quase duas vezes maior que o da receita, uma dinâmica insustentável a longo prazo. O déficit nominal atual se assemelha ao registrado durante a pandemia, período em que as despesas com juros giravam em torno de R$ 315 bilhões ao ano, enquanto atualmente essa cifra alcança aproximadamente R$ 745 bilhões ao ano. Esta situação explica a elevada taxa de juros projetada para os títulos NTN-B, superior a 5,5% ao ano, um nível considerado insustentável para a economia no longo prazo.

· 01:49 — O Brasil não está convencendo

Na última sexta-feira, a bolsa brasileira registrou uma queda de aproximadamente 1% devido à forte reação negativa ao resultado divulgado pela Petrobras. Este ano, o movimento de capitais estrangeiros tem sido desfavorável: em contraste com a entrada de R$ 49 bilhões em 2022, em 2024 observou-se apenas R$ 11 bilhões de entrada, e, até o momento, houve uma saída superior a R$ 20 bilhões, sem incluir os dados da última sexta-feira. A queda na popularidade do presidente Lula, conforme apontam as pesquisas, gera preocupações no mercado sobre o risco de políticas fiscais populistas, que podem aumentar as tensões sobre as finanças públicas. Diante desse cenário de incerteza fiscal, parece cada vez mais justificável que o Banco Central adote uma postura mais cautelosa na flexibilização monetária, buscando manter alguma estabilidade. O ministro da Fazenda, Haddad, almeja apresentar um plano fiscal robusto até maio, permitindo que a taxa Selic inicie o segundo semestre já em um patamar de um dígito, algo que não acontece desde fevereiro de 2022.

Por outro lado, existem indicadores econômicos encorajadores. Os dados de crédito indicam um aumento nas concessões, as contas externas apresentam um quadro sólido, e o crescimento econômico mostra sinais de continuidade. Contudo, o país enfrenta dificuldades para capturar o interesse dos investidores, em parte devido às altas taxas de juros e ao avanço tecnológico nos Estados Unidos. Além disso, o Brasil ainda tem diversos desafios internos a superar. A recente decisão da Petrobras de não distribuir dividendos extraordinários, embora esteja em linha com sua política histórica, agrava a percepção negativa do mercado, evidenciada pela queda de mais de 10% em suas ações. É imperativo que o governo reformule sua comunicação e políticas. Sem isso, há o risco de se distanciar do eleitorado moderado que foi crucial para sua eleição.

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· 02:35 — E essa inflação vem como?

Nos Estados Unidos, o foco desta semana estará voltado para o índice de preços ao consumidor, que será divulgado amanhã pela manhã. Após um relatório ambíguo sobre a situação do emprego divulgado na semana passada, a atenção dos investidores agora se volta para os dados de inflação, que serão determinantes nas decisões sobre possíveis ajustes nas projeções para os títulos do Tesouro. Em relação ao relatório de empregos, observou-se uma moderação no aumento dos salários, com um acréscimo de apenas 0,1% em fevereiro, marcando o ritmo mais lento de crescimento desde março de 2021. Adicionalmente, houve um aumento na taxa de desemprego. Pessoalmente, interpreto esses indicadores de forma mais otimista do que pessimista.

Os indicadores que serão divulgados amanhã servirão para verificar se a inflação está recuando de maneira estável o suficiente para que o Federal Reserve possa iniciar o processo de relaxamento de sua política monetária, conforme as expectativas atuais do mercado. Atualmente, antecipa-se três reduções de 25 pontos base nas taxas de juros a partir de junho (junho, setembro e dezembro). Uma mudança para uma política mais acomodatícia seria positiva para os ativos de risco de forma geral, embora tal ajuste pareça improvável no momento. Diante desse cenário, minha inclinação é por manter a estratégia vigente por enquanto.

· 03:22 — A inflação chinesa

No extremo oriental do globo, o destaque deste fim de semana foi marcado por um aumento na inflação chinesa. Esse fenômeno resultou em uma noite positiva para o mercado de ações da China, mantendo a tendência de recuperação dos ativos chineses que começou em fevereiro. Diferentemente de outras partes do mundo, onde a inflação elevada geralmente suscita preocupações, o aumento dos índices inflacionários na China é recebido com otimismo. Isso se deve ao fato de que, no contexto chinês, onde a inflação estava preocupantemente baixa, indicando uma demanda fraca, um incremento na inflação pode sinalizar um reaquecimento da demanda e um retorno ao crescimento econômico normalizado.

Esse foi o primeiro avanço nos preços ao consumidor na China desde agosto do ano anterior, interrompendo uma sequência de deflação que ameaçava o potencial de expansão da segunda maior economia mundial. A elevação nos preços foi impulsionada, em parte, pelo feriado do Ano Novo Lunar, que tradicionalmente aumenta a demanda de forma temporária. Agora, observa-se com expectativa para ver se essa tendência inflacionária positiva se manterá nos meses vindouros.

· 04:17 — Banindo o TikTok… E se a moda pegar?

Na última semana, um comitê do Congresso dos EUA decidiu unanimemente avançar com um projeto de lei que poderia levar à proibição do TikTok no país, afetando os 170 milhões de usuários americanos da plataforma. Legisladores americanos têm consistentemente levantado preocupações sobre o impacto do TikTok, acusando sua empresa mãe, a ByteDance, de ter vínculos com o governo chinês – alegações que ambas as entidades refutam.

O ímpeto para acelerar a discussão do projeto de lei ganhou força após o TikTok incentivar seus usuários a entrar em contato com seus representantes no Congresso, pedindo que não prosseguissem com a proibição. Essa mobilização resultou em uma avalanche de chamadas, marcando um dos maiores efeitos contraproducentes já vistos nas redes sociais. O objetivo do projeto, que conta com apoio de ambos os partidos, é assegurar a segurança nacional dos EUA contra potenciais ameaças oriundas de aplicativos sob controle de governos adversários. O texto propõe à ByteDance um ultimato: vender o TikTok para uma empresa americana em até seis meses ou encerrar suas operações no país. Esse desenvolvimento é mais um indicativo do crescente clima de tensão global, reminiscente de uma nova Guerra Fria.

· 05:06 — Acima de US$ 71 mil: ajustando posições

O Bitcoin superou recentemente o marco de US$ 71 mil, um avanço que aconteceu paralelamente ao atingimento de uma nova alta histórica pelo ouro. Esses desenvolvimentos ocorrem em um contexto onde a inflação mostra sinais de arrefecimento, e o dólar americano mantém-se relativamente estável. Tanto o ouro quanto o Bitcoin costumam se valorizar em períodos de enfraquecimento marcante da moeda americana. Um impulsionador significativo para o aumento do valor do Bitcoin tem sido o lançamento de fundos negociados em bolsa (ETFs) baseados na criptomoeda, facilitando o acesso dos investidores a esse ativo digital através de fundos geridos por importantes administradores de recursos, como BlackRock, Fidelity e ARK Invest. Esta inovação resultou em substanciais aportes de capital, elevando os preços das criptomoedas.

Com relação ao futuro, minha visão sobre…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.