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Dados de inflação dos EUA, Musk pode comprar o TikTok e alta nos preços do petróleo: veja os destaques desta terça-feira (14)

Nesta terça-feira (14), a divulgação do PPI aumenta os anseios dos investidores internacionais. Confira.

Por Matheus Spiess

14 jan 2025, 09:30 - atualizado em 14 jan 2025, 09:31

tiktok rede social eua musk

Imagem: iStock/ 5./15 WEST

A agenda econômica desta terça-feira (14) ganha destaque com a divulgação do índice de preços ao produtor (PPI) de dezembro dos Estados Unidos, um prenúncio do muito aguardado índice de preços ao consumidor (CPI), que será revelado amanhã (15) e é o principal indicador da semana no cenário global.

A recente alta nos preços do petróleo tem atraído a atenção do mercado, pois tende a se refletir nos índices inflacionários, enquanto os dados robustos da economia americana, evidenciados pelo relatório de empregos da semana passada, continuam alimentando o nervosismo dos investidores. Acrescente-se a isso a imprevisibilidade em torno do governo Trump, especialmente no que diz respeito às suas políticas comercial e imigratória, e o resultado é um aumento nos yields dos Treasuries, que agora rondam a marca de 5%. Esse movimento sugere uma precificação mais cautelosa em relação aos cortes de juros pelo Federal Reserve, o que, por sua vez, tem exercido pressão sobre o mercado acionário.

No cenário asiático, as bolsas chinesas encerraram a sessão com forte recuperação, impulsionadas por declarações de autoridades que reafirmaram o compromisso em estabilizar o mercado acionário local. Nos bastidores, rumores de que Elon Musk estaria avaliando a compra das operações do TikTok nos EUA, caso o aplicativo seja banido, também movimentaram o mercado.

Em contrapartida, no Japão, que retornou de um feriado, os índices fecharam em queda após o vice-presidente do Banco do Japão sinalizar a possibilidade de uma elevação nos juros na próxima semana, ampliando a cautela dos investidores.

Enquanto isso, os mercados europeus operam em alta nesta manhã, recuperando-se das recentes perdas, sustentados por um calendário cheio de discursos de autoridades monetárias regionais, incluindo o economista-chefe do Banco Central Europeu, Philip Lane. Nos Estados Unidos, os futuros de Wall Street também avançam, sugerindo um início de pregão positivo, mas ainda sob o peso das incertezas macroeconômicas globais.

· 00:51 — Pode esperar sentado

No Brasil, o desempenho do Ibovespa na segunda-feira (13)não convenceu. Apesar de recuperar o patamar dos 119 mil pontos, o movimento foi sustentado por apenas 37 das 86 ações do índice, refletindo uma clara falta de uniformidade no humor dos investidores. Basicamente, alguns papéis de maior peso foram responsáveis por puxar o índice, mas a alta não inspira confiança. Isso porque, sem uma sinalização fiscal concreta e positiva, os ativos locais permanecem sem sustentação, propensos a episódios de valorização esporádica que mais se assemelham a voos de galinha.

Enquanto isso, as expectativas continuam a se deteriorar. A mais recente edição do Boletim Focus reforçou o pessimismo. Tudo indica que o limite superior da meta de inflação será novamente ultrapassado em 2025, o que, por sua vez, justifica um ciclo de aperto monetário que pode levar a Selic para além dos 15%. No entanto, como já dito, sem um esforço fiscal, ajustes na política monetária não terão o impacto desejado.

Nesse contexto, surgiram ontem sinais iniciais de alívio. Dario Durigan, secretário executivo do Ministério da Fazenda, afirmou que o governo implementará novas medidas de corte de despesas neste ano para garantir a preservação do arcabouço fiscal. Embora a retórica de “afetar o andar de cima” ainda pareça ressoar junto à opinião pública, sabemos que tais medidas são insuficientes para enfrentar os desafios fiscais de maneira robusta. Há, no entanto, alguma expectativa de que novas propostas sejam apresentadas após a aprovação do Orçamento de 2025 pelo Congresso, prevista para fevereiro. Contudo, a ala política do governo — tradicionalmente atrasada e avessa a reformas — já sinalizou resistência a qualquer ajuste fiscal antes de abril. 

Essa procrastinação, característica de uma gestão marcada pela mediocridade, apenas agrava a percepção negativa, tanto no mercado quanto na sociedade. Parte desse jogo político envolve os bastidores da Reforma Ministerial, que deverá ser negociada em conjunto com os ajustes fiscais. Já se fala, por exemplo, na possível substituição de Alexandre Silveira no Ministério de Minas e Energia. Contudo, enquanto o governo insiste em adiar decisões importantes, a popularidade do presidente segue se desgastando. O grande temor é que, ao sentir a possibilidade concreta de uma mudança do pêndulo político em 2026, o governo adote uma postura ainda mais populista, à semelhança dos erros da era Dilma, aprofundando os problemas.

Por outro lado, medidas desastrosas hoje podem pavimentar o caminho para o fortalecimento de uma candidatura fiscalista e pró-mercado nas próximas eleições, algo que traria perspectivas mais promissoras para o país. Como venho reiterando, 2025 é apenas uma ponte, não o destino final. É o ano em que o governo enfrentará o dilema de ajustar suas políticas paralelamente a uma crescente rejeição, enquanto o mercado começa a antecipar o que poderá ser o próximo capítulo político e econômico do Brasil.

· 01:46 — Fôlego

Nos Estados Unidos, o S&P 500 apresentou uma leve recuperação no pregão de ontem (13), encerrando o dia com alta de 0,2%. O movimento foi especialmente notável considerando que o índice chegou a operar com queda de 0,9% ao longo do dia, marcando sua maior reversão intradiária de território negativo para positivo desde setembro. No entanto, o setor de tecnologia ficou entre os principais perdedores do dia, pressionado por uma nova ação do governo Biden para ampliar as restrições relacionadas a chips de inteligência artificial. Essas medidas incluem a exigência de licenças ou a imposição de limites à exportação para mais de 120 países, além da China. Apesar da notícia negativa, há uma trégua temporária: as novas regras não entrarão em vigor antes de um período de 120 dias, o que abre espaço para o governo Trump, ao assumir, revisar ou até revogar a política implementada por Biden.

Com esse elemento político ainda em aberto, o foco dos investidores retorna ao que realmente importa no momento: os dados de inflação. Hoje, a atenção se volta para o índice de preços ao produtor (PPI), que, embora menos significativo do que o índice de preços ao consumidor (CPI) que será divulgado amanhã, ainda carrega relevância. A expectativa para o PPI é de desaceleração, com alta de 0,3% em dezembro, em comparação a 0,4% em novembro. O núcleo do indicador, que exclui itens mais voláteis, deve manter um avanço de 0,2%. Na base anual, projeta-se que o índice cheio registre 3%, enquanto o núcleo deve atingir 3,8%. Dado o nervosismo dos mercados em relação ao impacto da inflação sobre o rumo da política monetária e das taxas de juros, esses próximos dois dias prometem ser agitados.

· 02:34 — A tese do “Trump moderado” tem ganhado força

A menos de uma semana da posse do novo presidente dos Estados Unidos, membros da equipe econômica de Donald Trump discutem a implementação de um aumento gradual nas tarifas de importação, buscando equilibrar duas prioridades: aumentar a alavancagem em negociações comerciais e mitigar os riscos de um salto inflacionário abrupto, semelhante ao ocorrido durante o primeiro mandato do magnata, mas desta vez em proporções ainda maiores. Entre as ideias em pauta está a aplicação de tarifas que cresceriam mensalmente entre 2% e 5%, utilizando a autoridade concedida pela Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional para implementação.

A notícia trouxe certo alívio aos mercados, em parte porque essa possibilidade já havia sido ventilada anteriormente. Na semana passada, houve um vazamento ao Washington Post que sinalizava uma direção semelhante, o que contribuiu para moldar expectativas mais positivas entre os investidores. Agora, essa percepção pode ganhar ainda mais força, especialmente à luz das escolhas estratégicas de Trump para sua equipe econômica, que têm gerado certo otimismo.

Entre as indicações destacadas estão nomes como Scott Bessent, designado para o Departamento do Tesouro, Howard Lutnick e Jamieson Greer no Departamento de Comércio, Kevin Hassett liderando o Conselho Econômico Nacional e Stephen Miran e Peter Navarro em posições consultivas cruciais. Essa composição sugere uma abordagem menos agressiva e mais orientada por pragmatismo econômico, com um “Trump moderado” trazendo um alívio necessário para os mercados globais. 

· 03:27 — Entre o cessar-fogo e novas sanções

As negociações entre Israel e o Hamas para pôr fim aos 15 meses de guerra em Gaza estão avançando, com tratativas focadas na troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos e na ampliação da assistência humanitária à região. Há otimismo de que um acordo possa ser fechado ainda esta semana, especialmente porque Israel ameaçou intensificar sua ofensiva caso não haja avanços antes da posse de Donald Trump.

Essa perspectiva de cessar-fogo está contribuindo para a estabilização dos preços do petróleo, que recuaram para a faixa de US$ 80 por barril, após terem superado os US$ 81 ontem. O mercado segue atento aos possíveis impactos das sanções contra a Rússia no fornecimento para China e Índia. Apesar do recuo, a commodity permanece próxima de suas máximas em meses, reacendendo discussões sobre a necessidade de reajustes nos preços dos combustíveis praticados pela Petrobras, que estão defasados em 22% no caso do diesel e 13% na gasolina, de acordo com a Abicom.

O diesel está sem reajuste nas refinarias há impressionantes 383 dias, enquanto a gasolina permanece estável há 188 dias. Caso a estatal opte por manter essa política, poderá transmitir ao mercado um sinal de manipulação artificial, lembrando práticas adotadas na era Dilma. Esse cenário será crucial para acompanhar nas próximas semanas, dada sua relevância e o potencial impacto na credibilidade da empresa.

·04:19 — Musk em mais uma rede social?

Com o tempo se esgotando para a implementação do banimento completo do TikTok nos EUA, a China está explorando uma estratégia de contingência. Agora, autoridades em Pequim consideram a possibilidade de Elon Musk adquirir a operação americana do aplicativo, caso a ByteDance, sua controladora, não consiga reverter a proibição judicialmente. A ByteDance já apelou à Suprema Corte dos EUA, mas os juízes indicaram que é provável que mantenham a lei em vigor.

As discussões em Pequim apontam que o futuro do TikTok pode ter escapado do controle exclusivo da ByteDance, destacando a complexidade das tensões bilaterais. Nos EUA, o presidente eleito Donald Trump, que assumirá o cargo em 20 de janeiro, tenta ganhar tempo para reavaliar a medida. Contudo, a proibição está programada para entrar em vigor em 19 de janeiro, gerando uma corrida contra o relógio.

Enquanto isso, os consumidores americanos já começam a migrar para alternativas: Xiaohongshu e Lemon8, dois aplicativos chineses, lideraram as paradas de download na App Store da Apple nos EUA, evidenciando que os usuários estão buscando opções diante da incerteza. Este episódio é mais um reflexo do crescente embate econômico e tecnológico entre as duas maiores potências globais, marcando um novo capítulo na rivalidade entre China e Estados Unidos.

· 05:03 — Em um mundo de incertezas…

A rivalidade entre os EUA e a China segue dominando os holofotes geopolíticos, mas um fenômeno igualmente relevante tem ganhado tração: o fortalecimento das alianças entre estados párias. Um exemplo claro é a recente intensificação das relações entre Rússia, Coreia do Norte e Irã. Dois meses após o presidente russo Vladimir Putin assinar um tratado de defesa mútua com a Coreia do Norte, ele agora se prepara para receber o presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, para formalizar um acordo de parceria estratégica abrangente.

Este pacto incluirá comércio, transporte, logística, cooperação humanitária e alinhamento em questões regionais e internacionais, em um esforço conjunto para resistir às sanções ocidentais…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.