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De ressaca depois do Copom e Fed, o que pode agitar o mercado nesta quinta-feira (1º)?

Depois das decisões de políticas monetárias aguardadas pelo Fed e Banco Central, veja os principais eventos do mercado financeiro hoje (1º).

Por Matheus Spiess

01 ago 2024, 08:55 - atualizado em 01 ago 2024, 08:57

federa reserve eua usa dolar
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. O dia de hoje será crucial para os investidores ajustarem suas posições após a Super Quarta. Embora ainda existam decisões de políticas monetárias aguardadas, como a do Reino Unido, podemos afirmar que, para nós, brasileiros, o mais importante já foi decidido.

O Fed não reduziu os juros, mas sinalizou um tom mais flexível, indicando a possibilidade de um corte em setembro, dependendo dos dados econômicos até lá.

Enquanto isso, no Brasil, a Selic foi mantida inalterada, conforme esperado, com um comunicado firme acompanhando a decisão. Esse cenário parece direcionado para um desfecho positivo em relação à política macroeconômica. Mesmo que os juros não sejam reduzidos, o segundo semestre ainda pode ser promissor. Neste contexto, qualquer medalha de bronze pode ser encarada como de ouro.

Na Ásia, a maioria das ações registrou queda nesta quinta-feira, com as ações japonesas despencando após o Banco do Japão indicar novos aumentos nas taxas de juros. Ao mesmo tempo, a recuperação nos mercados chineses estagnou devido a dados decepcionantes de atividade empresarial.

Os mercados europeus também recuam, apesar da sinalização do Fed em relação à redução dos juros, o que poderia abrir espaço para cortes de juros na Europa. A difícil decisão de política monetária do Reino Unido pode estar contribuindo para essa incerteza.

Enquanto aguardamos alguns dados de sentimento, nada parece captar tanto a atenção dos investidores. A temporada de resultados corporativos continua intensa, com a recente divulgação dos números da Meta (M1TA34) e a expectativa pelos resultados da Apple (AAPL34) e Amazon (AMZO34).

A ver…

· 00:58 — Duro, porém não tanto quanto se esperava

No Brasil, o Ibovespa encerrou o dia com uma expressiva alta, impulsionado pelo otimismo internacional gerado pelas sinalizações do Federal Reserve de que um corte de juros poderia estar próximo. No entanto, o potencial de valorização do mercado foi parcialmente reduzido pela alta do dólar em relação ao real, em grande parte devido ao fortalecimento do iene após o Banco do Japão aumentar suas taxas de juros.

Como mencionei ontem, não havia grandes expectativas em relação à decisão do Banco Central, que acabou mantendo a taxa Selic em 10,50% ao ano. A principal dúvida era sobre o tom do comunicado do Banco Central, com receios de que uma postura excessivamente agressiva pudesse ser adotada, o que, felizmente, não ocorreu.

O comunicado manteve a firmeza do anterior, aumentando ligeiramente a inclinação contracionista. Comparativamente, embora o documento tenha mantido uma postura hawkish, ele foi um pouco mais dovish do que o esperado.

Entre os destaques, estão o agravamento das projeções de inflação, a extensão do horizonte necessário para a estabilização da inflação — indicando a necessidade de juros altos por um período mais longo — e uma perspectiva mais negativa dos cenários internacional e nacional. Apesar da postura mais cautelosa do Banco Central, não houve mudanças significativas na estratégia.

Será fundamental acompanhar os detalhes que serão apresentados na ata da reunião, prevista para divulgação na próxima semana. Minha expectativa é que a Selic permaneça nesse nível por um período consideravelmente longo, com uma possível redução apenas em 2025.

· 01:46 — O dia depois do Fed

Nos EUA, o Federal Reserve não surpreendeu na conclusão da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto realizada ontem. No entanto, o Fed agora está oficialmente preparando o terreno para um possível corte de juros em setembro. Esse direcionamento não foi explicitamente mencionado no comunicado que acompanhou a decisão de manter as taxas de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, apesar de alguns sinais sutilmente mais “dovish” presentes no material, como a preocupação com o impacto excessivo da política monetária sobre o mercado de trabalho.

A verdadeira mudança de tom veio durante a coletiva de imprensa de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, logo após o término da reunião.

Durante a coletiva, Powell demonstrou estar muito mais à vontade com a evolução do mercado de trabalho, que não apresenta mais sinais de superaquecimento, como se temia no primeiro trimestre. Além disso, a inflação não é mais uma grande preocupação, com a recente normalização permitindo considerar um corte de juros em um futuro próximo.

Embora a decisão ainda dependa dos dados econômicos que serão divulgados, a série de indicadores prevista até setembro poderá trazer mais clareza sobre essa possibilidade. Powell também destacou sua preocupação em não exagerar na dose de medidas contracionistas. Em outras palavras, há uma expectativa concreta de que um corte de juros possa ocorrer em setembro.

· 02:39 — Ansiedade com os resultados

Depois de uma certa decepção com os números divulgados pela Microsoft (MSFT34) no início da semana, que seguiram a mesma linha dos resultados de Alphabet (GOGL34) e Tesla (TSLA34) da semana passada, finalmente tivemos boas notícias entre as grandes empresas de tecnologia dos EUA.

A Meta Platforms, proprietária do Facebook, Instagram e WhatsApp, relatou vendas superiores às expectativas no segundo trimestre, fornecendo evidências de que seus investimentos em inteligência artificial estão ajudando a impulsionar a venda de anúncios mais direcionados e personalizados.

Como resultado, as ações da empresa estão subindo no pre-market. No entanto, as novidades não param por aí. Hoje, mais resultados de gigantes como Apple e Amazon serão divulgados, e qualquer informação sobre o aumento dos custos relacionados à IA poderá ser de grande importância.

Vale destacar que o otimismo em torno da inteligência artificial tem sido, sem dúvida, um dos principais fatores que impulsionaram os índices de mercado a atingirem recordes contínuos nos últimos tempos. As principais empresas de tecnologia estão repletas de recursos financeiros, portanto, faz sentido investir capital em áreas que elas enxergam como o próximo motor de crescimento.

Além disso, seus negócios principais continuam a ter um bom desempenho, o que justifica o foco no longo prazo e o investimento na infraestrutura necessária para a revolução tecnológica que se aproxima. Contudo, os investidores agora desejam entender melhor como todos esses investimentos em IA resultarão em lucros e quais serão os casos de uso práticos de inteligência artificial e modelos de produtividade. Embora os gigantes da Big Tech ainda não precisem necessariamente apresentar receitas significativas relacionadas à IA, eles deveriam estar começando a delinear esse cenário de maneira mais clara.

· 03:21 — Mais horas trabalhadas

Depois de acompanharmos o desenvolvimento da semana de quatro dias úteis, surge uma nova proposta: a semana de seis dias úteis. Recentes regulamentações implementadas na Grécia estendem a tradicional semana de trabalho de 40 horas para 48 horas para empresas privadas que operam 24 horas por dia. Essas são as primeiras regras desse tipo na União Europeia e fazem parte de um esforço para impulsionar a economia grega, que só recentemente começou a se recuperar de uma recessão de uma década.

Embora essa prática já seja comum na China, onde alguns trabalhadores nunca param, e em certos segmentos de Nova York, que operam normalmente seis dias por semana (como o mercado financeiro), na Europa essa medida representa uma mudança significativa em relação às práticas atuais.

O governo grego justifica a mudança como necessária para lidar com a escassez de trabalhadores qualificados e combater as horas extras não remuneradas.

No entanto, os sindicatos condenaram a medida, classificando-a como “bárbara”. Para alguns trabalhadores, contudo, essa mudança pode não ser tão impactante, considerando que os gregos já registram mais horas de trabalho do que qualquer outra nação da UE, superando até mesmo os notoriamente workaholics dos EUA e Japão.

Em 2022, os trabalhadores na Grécia tiveram uma média de 1.886 horas de trabalho, em comparação com 1.811 nos EUA e 1.571 em toda a UE. As novas regulamentações gregas contrastam com a tendência mais ampla de redução da semana de trabalho. Nos EUA, por exemplo, quase um terço das empresas está considerando a adoção de semanas de trabalho mais curtas (o movimento deve ganhar força com a IA).

· 04:14 — Stalemate?

Stalemate, ou impasse, refere-se a uma situação em que qualquer ação ou progresso adicional por partes opostas ou concorrentes parece impossível. Muitos acreditam que este é o estado atual da invasão russa no território ucraniano.

Um ano e meio atrás, a Rússia estava em uma situação precária: Moscou enfrentava dificuldades para reabastecer suas tropas nas linhas de frente, sua frota naval no Mar Negro havia sido dizimada e as estimativas de baixas chegavam a até meio milhão. No entanto, uma contraofensiva ucraniana decepcionante e um atraso de meses na chegada de ajuda militar crucial dos EUA permitiram à Rússia uma oportunidade para se reorganizar.

Como resultado, nos últimos meses, a Rússia conseguiu capturar territórios em um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento da guerra. Em um sinal claro da deterioração da situação, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, cancelou abruptamente todas as viagens internacionais para se concentrar na ofensiva russa.

Isso representa um grande problema para um líder que precisa pressionar governos por assistência militar e econômica de forma individual. Embora não se possa afirmar que a invasão russa tenha sido um sucesso, especialmente considerando a adesão da Suécia e da Finlândia à OTAN, entre outros fatores, parece cada vez mais provável que este conflito específico acabe resultando na divisão da Ucrânia como a única solução.

· 05:02 — Prestação de contas

Desde outubro do ano passado, temos desenvolvido este espaço chamado de M5M+, onde dedico um minuto adicional na newsletter “Mercado em 5 Minutos” para discutir oportunidades de investimento.

Embora não haja um controle formal de carteira, já que se trata de uma série de ideias livres, meu objetivo é fornecer recomendações coerentes dentro de um contexto de alocação para diferentes perfis de investidores…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.