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Decisão de juros no Brasil e nos EUA, Putin inflexível ao cessar-fogo e novo pacote de gastos na Alemanha: confira as principais notícias desta Super Quarta (19)

Chegou a Super Quarta: as muito esperadas decisões de política monetária do Brasil e dos EUA serão definidas até o final do dia.

Por Matheus Spiess

19 mar 2025, 09:30 - atualizado em 19 mar 2025, 09:30

Copom taxa de juros onde investir

Imagem: iStock/Rmcarvalho

A Super Quarta chegou com as aguardadas decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, mas, como de costume, o espetáculo mesmo fica por conta do que será dito sobre os próximos passos. No Brasil, a alta da Selic vem acompanhado da dúvida sobre o ritmo daqui para frente, já que o Banco Central começa a mirar uma taxa terminal. Do outro lado do hemisfério, o Fed segue no jogo da paciência, sem pressa para retomar o ciclo de afrouxamento – e o mercado, ansioso como sempre, devora as projeções do SEP na tentativa de mapear qualquer chance de corte de juros.

Enquanto isso, o Japão manteve sua taxa inalterada em 0,50%, mas segue naquele eterno flerte com uma nova alta – o que pressionou os mercados asiáticos. E se já não bastassem os receios de recessão que assombram os dirigentes do Fed, temos ainda as tarifas de Trump, adicionando mais uma camada de incerteza geopolítica. Na Europa, as bolsas operam sem rumo definido, mas a maioria amarga perdas depois da euforia causada pelo pacote de gastos aprovado na Alemanha. Nos mercados emergentes, a prisão do prefeito de Istambul adiciona mais um fator de instabilidade a um ambiente já volátil, pressionando os ativos de economias em desenvolvimento.

· 00:58 — A decisão brasileira

O Ibovespa seguiu sua trajetória de alta ontem, ultrapassando os 131 mil pontos. Hoje, o foco se volta para a decisão do Banco Central, que deve elevar a taxa Selic em 100 pontos-base, chegando a 14,25% ao ano — um ajuste previamente sinalizado por Roberto Campos Neto antes de sua saída no fim do ano passado. O verdadeiro debate, no entanto, não está nesse movimento já precificado, mas sim no que virá a seguir, especialmente diante dos sinais cada vez mais evidentes de desaceleração.

Dado esse cenário, cresce a possibilidade de um tom mais dovish por parte da autoridade monetária, sugerindo um ritmo mais contido no aperto monetário e até mesmo insinuando o desfecho do ciclo, possivelmente por volta de 15% — bem abaixo dos patamares temidos no ano passado. Com isso, já começam as especulações sobre o timing do primeiro corte de juros (final do ano?), o que naturalmente impulsiona os ativos de risco. Não por acaso, a percepção de que o Brasil pode superar seus pares na América Latina, como o México, tem ganhado força entre os gestores. Em março, mais de 60% das casas consultadas pelo Bank of America passaram a acreditar nesse cenário, um salto expressivo em relação aos 45% registrados no mês anterior.

Essa melhora, claro, não vem apenas de fatores internos. O fluxo global de recursos, com investidores reposicionando carteiras diante da correção americana, também tem seu peso. Mas há elementos domésticos em jogo, como o iminente encerramento do ciclo de aperto e, cada vez mais, o chamado trade eleitoral. E é aí que as variáveis políticas entram na equação. O governo atual, como sempre, flerta com medidas populistas para conter seu próprio desgaste. Enquanto isso, o principal nome da oposição, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, caminha sobre um campo minado. Nos últimos dias, sua postura tem sido questionada. Qualquer deslize pode custar caro. Ele precisa evitar tanto a percepção de traição quanto a adesão excessiva ao bolsonarismo, um equilíbrio difícil. Até agora, não vejo nada de fato comprometedor, mas a linha entre um erro tolerável e um tropeço grave é perigosamente tênue.

 · 01:49 — Justa, mas letal: como a isenção pode custar caro a Lula

O governo assiste, impotente, à sua popularidade desabar a cada nova pesquisa. Lula nunca se viu em um cenário tão desfavorável. E não é só o mercado que demonstra insatisfação – a irritação se espalha pela sociedade, atingindo até mesmo redutos historicamente petistas, como o eleitorado nordestino e feminino. Os números falam por si: na pesquisa mais recente do PoderData, divulgada hoje, a desaprovação do presidente alcança 53%, e para 44% dos eleitores, Lula é pior do que Bolsonaro. Diante desse desgaste, o governo corre para lançar medidas que recuperem o terreno perdido. Uma delas é a ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, acompanhada de propostas para compensar a arrecadação perdida.

A ideia não surpreende. Desde o ano passado, já se esperava que algo do tipo fosse apresentado, especialmente após a sequência de falhas de comunicação e o caos organizacional que estressaram os mercados no final de 2024. Como a medida já estava precificada, o anúncio não teve impacto relevante nos ativos. Agora, o foco se desloca para o Congresso e para o inevitável desgaste político da tramitação.

O esboço do projeto propõe que quem ganha até R$ 5 mil por mês fique isento, enquanto aqueles com rendimentos entre R$ 5 mil e R$ 7 mil recebam um crédito tributário para reduzir o imposto devido. Quem ganha acima de R$ 7 mil segue sob as regras atuais. Dado o congelamento da tabela do IR há anos, há um consenso sobre a necessidade da correção. Até a Receita Federal apoia a medida, e sua aprovação deve ser tranquila. O problema, como sempre, está na conta que vem junto.

Para compensar a perda de arrecadação, o governo propõe um IR mínimo para quem recebe mais de R$ 50 mil mensais (R$ 600 mil ao ano), com alíquotas progressivas até 10% para rendimentos acima de R$ 100 mil por mês (R$ 1,2 milhão ao ano). Parece razoável, mas a proposta esconde armadilhas. Primeiro, não há garantia de que o ajuste feche a conta – e o Congresso dificilmente aprovará a compensação integralmente. O próprio presidente da Câmara, Hugo Motta, já adiantou que o texto sofrerá mudanças. Segundo, há o risco de evasão de divisas, agravado por um sistema tributário já excessivamente oneroso. Além disso, como a compensação dificilmente cobrirá integralmente a renúncia fiscal, o déficit aumentará, pressionando ainda mais a inflação.Terceiro, o aumento da renda disponível para quem ganha até R$ 5 mil inevitavelmente alimentará a inflação, sobretudo dos alimentos – um presente indigesto para o governo em pleno ano eleitoral. 

E o maior paradoxo: ao fim desse arranjo, apenas 10% da população continuará contribuindo com o Imposto de Renda. Isso escancara uma distorção estrutural. Com poucos cidadãos contribuindo sobre a renda, o peso da arrecadação recai sobre o consumo – uma tributação regressiva que penaliza justamente os mais pobres, razão pela qual a alíquota do IVA na reforma tributária tende a ser tão alta. Essa distorção não apenas agrava as fragilidades do modelo fiscal brasileiro, mas também impõe um custo político relevante para Lula. De um lado, o governo terá de abrir novas concessões ao Centrão, que já se mostra impaciente e descrente, vide a desordem na Reforma Ministerial (que não veio). De outro, a medida pode gerar o efeito oposto ao desejado para 2026: impulsionar a inflação, fragilizar ainda mais o equilíbrio fiscal e, no fim das contas, corroer ainda mais a popularidade presidencial.

· 02:37 — Cauteloso

Nos Estados Unidos, ninguém espera surpresas: o FOMC deve manter o tom de cautela, refletindo as preocupações com uma possível recessão. Os dirigentes do Fed vêm martelando esse discurso sempre que têm oportunidade, destacando a incerteza adicionada pelas novas tarifas comerciais. O mercado, por sua vez, já entrou no modo defensivo. Ontem (18), as bolsas interromperam uma sequência de alta e fecharam em queda, em um movimento típico de espera antes da decisão do Federal Reserve. Nem mesmo o anúncio da Nvidia (NVDC34), que revelou novos chips de inteligência artificial durante sua conferência anual, foi capaz de animar suas ações ou impulsionar o setor.

Diante desse cenário, todas as atenções se voltam para Jerome Powell. O presidente do Fed terá hoje (19) a missão de decidir se joga um balde de água fria no nervosismo dos investidores ou se reforça a incerteza. A expectativa majoritária é de que o banco central mantenha a pausa no ciclo de juros, mas a grande questão está no que vem depois. Para isso, o chamado “dot plot” – o gráfico de pontos que revela as projeções individuais dos membros do comitê – será peça-chave. Ele servirá de bússola para o mercado interpretar o futuro da política monetária e calcular novos cortes de juros.

· 03:22 — Ligação relativamente bem-sucedida

Vladimir Putin segue inflexível em relação a um cessar-fogo na guerra contra a Ucrânia, mas ao menos concordou em restringir os ataques à infraestrutura energética do país. Com esse pequeno avanço, a Casa Branca e o Kremlin darão início imediato às negociações para um possível cessar-fogo marítimo no Mar Negro — a Ucrânia conseguiu alguns de seus maiores êxitos militares justamente ao atingir a infraestrutura energética e a frota naval russa na região. Ainda assim, qualquer acordo duradouro vem com um preço. Putin impôs condições que, na prática, limitam a capacidade de defesa ucraniana. Entre elas, a suspensão do envio de armas e do suporte de inteligência ocidental a Kiev, além da interrupção na mobilização de novos recrutas. 

Para os críticos da diplomacia de Trump, que tem se mostrado receptivo aos termos russos, essa exigência não passa de uma estratégia para que Moscou ganhe tempo para se rearmar, enquanto a Ucrânia ficaria vulnerável e sem reposição de tropas. Kiev, por sua vez, vê com desconfiança o que parece um caminho pavimentado para sua própria capitulação. Para complicar ainda mais o quadro, Trump tomou uma série de medidas que podem dificultar qualquer tentativa de responsabilizar Putin por crimes de guerra – o líder russo continua sendo alvo de um mandado do Tribunal Penal Internacional por supostas deportações forçadas de crianças ucranianas.

No curto prazo, a mera possibilidade de uma resolução alivia as tensões geopolíticas e contribui para a queda do preço do petróleo. Mas o custo de longo prazo pode ser muito mais alto do que se imagina. Se a guerra for congelada nessas condições, a Rússia ganha fôlego para consolidar suas conquistas territoriais e se preparar para futuros avanços, enquanto o Ocidente pode acabar, inadvertidamente, entregando a Putin exatamente o que ele queria desde o início.

· 04:16 — Aprovado

Os legisladores alemães aprovaram um pacote de gastos sem precedentes, abrindo caminho para a liberação de centenas de bilhões de euros em financiamento por meio de dívida, com foco em defesa e infraestrutura. A medida representa um rompimento histórico com décadas de rigidez fiscal e, na prática, remove as restrições de endividamento para despesas militares, criando um fluxo de recursos praticamente ilimitado para o rearmamento e a dissuasão da Rússia. Mas a grande questão permanece: isso será suficiente para revigorar a economia europeia?

Alguns agentes econômicos acreditam que o aumento dos gastos com defesa pode gerar um efeito colateral positivo, impulsionando ganhos de produtividade de maneira similar ao que ocorreu nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. A lógica é que, ao direcionar volumes massivos de capital para setores estratégicos, a Europa poderia reviver sua competitividade industrial e tecnológica. Proporcionalmente, os montantes em jogo agora são ainda mais expressivos do que os do Plano Marshall.

No entanto, essa aposta tem seus riscos. O ambiente atual é muito diferente do período pós-guerra, e a capacidade da Europa de transformar gastos militares em crescimento sustentável ainda precisa ser comprovada. O real efeito dessa guinada fiscal só ficará claro nos próximos anos – e, até lá, o continente precisará equilibrar a necessidade de segurança com o risco de se afundar em um ciclo de endividamento.

· 05:04 — Repercutindo boas notícias em terras brasileiras

A Eletrobras (ELET6), já recomendada neste espaço, divulgou recentemente seus resultados do quarto trimestre de 2024 abaixo do esperado. No entanto, trouxe surpresas positivas em pontos estratégicos, como a distribuição de dividendos e a performance da área de comercialização de energia. A grande questão: esses fatores compensam o desempenho aquém do esperado e justificam a manutenção do papel?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.