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Decisão do Copom sobre a taxa Selic é principal evento desta quarta (19); veja o que esperar

Nos EUA, a liquidez está reduzida por conta de um feriado local; ontem (18) foi dia de alta do Ibovespa e das Bolsas de NY.

Por Matheus Spiess

19 jun 2024, 09:08 - atualizado em 19 jun 2024, 09:08

Selic Day One
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. No cenário internacional, os responsáveis pelo Federal Reserve reafirmaram a necessidade de mais evidências de arrefecimento da inflação antes de reduzirem as taxas.

Até aqui, nenhuma novidade. Precisamos de mais dados que mostrem uma desaceleração da inflação para que o Fed considere cortar os juros. Se o consenso estiver correto, ainda podemos ver uma redução de 25 pontos-base em setembro.

No entanto, a força da economia americana tem sido o principal argumento daqueles que não veem espaço para cortes em 2024.

Vale lembrar que, na semana passada, através do gráfico de pontos, as autoridades do Fed previram apenas um corte para 2024, em contraste com os três previstos em março. Embora suas opiniões possam mudar, não será uma tarefa fácil.

Com o mercado americano fechado devido ao feriado, observamos uma liquidez bastante reduzida globalmente.

As bolsas europeias estão em queda, apesar da inflação no Reino Unido ter voltado à meta do Banco da Inglaterra, enquanto as ações de tecnologia brilharam na sessão asiática desta quarta-feira.

Na China, tanto a bolsa de Xangai quanto a de Shenzhen caíram devido à decisão do regulador de valores mobiliários de fortalecer a supervisão de todas as atividades financeiras para prevenir possíveis riscos.

No Brasil, o destaque é o Copom, que deve manter inalterada a taxa básica de juros em 10,50% ao ano. Não há muito para onde fugir: se queremos juros mais baixos no futuro, precisamos mantê-los altos agora.

A ver…

· 00:55 — Parece querer brigar, o que é péssimo

Por aqui, o Ibovespa em alta ontem não conta toda a verdade. O desempenho de alguns pesos pesados, em especial de Petrobras, acabou criando um distanciamento do índice da realidade, que foi pior do que a tímida valorização de ontem.

Nos bastidores, os investidores ainda aguardam a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sobre a taxa de juros.

A situação ficou bem pior depois das novas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do BC, Roberto Campos Neto, que está no final do seu mandato.

Mais um conflito agora, em meio às preocupações fiscais, não deverá soar bem, principalmente com essa ideia de que Lula quer um novo presidente do BC com compromisso com o desenvolvimento do país.

Muitos temem que isso possa afetar o placar da decisão de hoje. Se isso de fato acontecer, o resultado para o mercado pode ser ainda pior que o da reunião de maio. Com o movimento, Lula parece convocar as forças de Brasília contra Campos Neto.

O PT já começou a falar duramente contra (sem novidades aqui), reforçado pela fala do senador Renan Calheiros, que aproveitou a audiência da PEC do BC na CCJ para também criticar o atual presidente. É um clima péssimo que se cria, principalmente se a taxa for mantida inalterada hoje.

A verdade é que o jantar com o governo Tarcísio chamou muita atenção de maneira negativa. Deu munição para o petismo. Vale lembrar que a agenda de corte de gastos também é fundamental.

· 01:47 — Conservadorismo

Espero que o Copom conclua essa primeira etapa do ciclo de redução da taxa Selic na reunião de hoje, mantendo a taxa básica em 10,50% ao ano.

De acordo com a ata de maio, apesar da dissidência significativa (5×4), todos os membros do comitê concordaram em adotar uma política monetária mais contracionista e cautelosa, sem fornecer orientação futura.

Um paradoxo curioso: se queremos juros mais baixos no futuro, precisamos de juros mais altos agora, para reancorar as expectativas.

Outro paradoxo: se desejamos um Banco Central que possa cortar mais juros em 2025, é necessário escolher um novo presidente mais conservador e cauteloso. A credibilidade é crucial quando se trata de política monetária. O receio atual é que não haja unanimidade por interferência política. Seria uma leitura terrível.

Até segunda-feira, parecia claro que todos votariam juntos pela manutenção da taxa com um discurso conservador.

No entanto, Lula parece não querer que seus indicados votem pela manutenção, o que abre a possibilidade de que Galípolo e Pichetti, já dentro do comitê, percam espaço para alguém de fora, ainda desconhecido. Ontem, devido a esse risco, novos nomes, como o de Luiz Awazu, surgiram como potenciais candidatos.

Se seguir nessa direção, o mercado pode se estressar ainda mais. Ainda acredito que o Copom manterá a taxa com unanimidade, o que é necessário, embora não suficiente, para reconstruir a credibilidade gradualmente. Se não houver essa unanimidade hoje à noite, podemos esperar uma reação negativa do mercado amanhã.

· 02:31 — Novas máximas históricas

Nos EUA, antes do feriado de hoje, os índices americanos fecharam em novas máximas históricas. O S&P 500 subiu 0,3%, atingindo seu sexto recorde de fechamento em sete sessões. O Nasdaq Composite teve um desempenho ainda melhor, subindo menos de 0,1% e alcançando seu sétimo recorde consecutivo, a sequência mais longa de recordes desde 2021.

A sessão de ontem foi marcada pela divulgação dos dados de vendas no varejo, que vieram mais fracos do que o esperado. Esse dado reflete uma maior cautela por parte dos consumidores, o que pode ser positivo para a inflação.

Além disso, vários funcionários do Federal Reserve expressaram suas opiniões sobre a economia e o sistema monetário. Embora o “fedspeak” frequentemente influencie o sentimento do mercado, nenhum dos discursos de terça-feira teve um grande impacto nos traders.

Isso se deve, em grande parte, ao fato de que os banqueiros centrais estão, em sua maioria, alinhados: as futuras decisões sobre as taxas dependerão dos dados dos próximos meses. Se junho, julho e agosto mostrarem uma desaceleração da inflação, um corte de juros em setembro não é impossível.

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· 03:26 — A máquina de déficits

A previsão do déficit orçamentário dos Estados Unidos para este ano indica um aumento significativo de 27%, alcançando quase US$ 2 trilhões.

Esse crescimento substancial nos gastos federais, bem acima das estimativas iniciais de fevereiro, é impulsionado pelos novos aportes financeiros destinados à Ucrânia e Israel, segundo o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO).

Especificamente, o déficit deve atingir US$ 1,92 trilhão em 2024, um aumento notável em relação aos US$ 1,69 trilhão de 2023 e substancialmente acima dos US$ 1,5 trilhão inicialmente previstos.

O incremento nos gastos decorre principalmente de um projeto de lei recentemente aprovado pelo Congresso, que aloca US$ 95 bilhões para assistência à Ucrânia, Israel e nações do Indo-Pacífico. Projetado para a próxima década, este pacote legislativo adicionará cerca de US$ 900 bilhões ao orçamento federal.

Em termos percentuais, o déficit em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA é esperado para crescer para 6,7% no ano fiscal de 2024, que se encerra em setembro, superando tanto a estimativa anterior de 5,3% quanto os 6,3% observados em 2023.

Este cenário configura um agravamento considerável da situação fiscal dos Estados Unidos, uma questão que, até o momento, parece não ter sido adequadamente abordada por políticas corretivas. Tal negligência pode se transformar em um problema crônico, potencialmente desencadeando sérias complicações econômicas no futuro.

· 04:19 — Mudança na Otan? Nem tanto…

Ontem, a Hungria retirou seu veto à nomeação de Mark Rutte, atual primeiro-ministro da Holanda em fim de mandato, para liderar a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Rutte, um político pragmático de 57 anos, está prestes a se tornar o 14º chefe da aliança militar.

A posição será aberta em breve com o término do mandato de Jens Stoltenberg, o atual secretário-geral norueguês. Rutte continuará como primeiro-ministro da Holanda, cargo que ocupa desde 2010, até que Dick Schoof assuma o posto no início de julho.

Agora, resta apenas a desistência de Klaus Iohannis, presidente da Romênia, que está interessado em uma posição em Bruxelas após concluir seu segundo mandato de cinco anos. Espera-se que ele siga os outros 31 países membros da OTAN em apoio a Rutte.

Na semana passada, Stoltenberg negociou com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, um acordo que isenta a Hungria de participar de operações ou esforços relacionados à Ucrânia, resultando na retirada do veto húngaro a iniciativas semelhantes da aliança.

Orbán, conhecido por suas estreitas relações com a Rússia e sua admiração por Vladimir Putin, concordou com a proposta. Com Rutte no comando da OTAN, a liderança da organização deverá continuar sem grandes mudanças em relação à direção atual.

· 05:02 — No topo do mundo

Confirmando minha previsão feita há algum tempo, a Nvidia (NVDA) se tornou ontem a empresa mais valiosa do mundo. Esta é a primeira vez desde 2019 que a maior empresa em valor de mercado não é Microsoft ou Apple. A Nvidia subiu 3,5% ontem, elevando seu valor de mercado para US$ 3,335 trilhões, superando os US$ 3,317 trilhões da Microsoft. No início deste mês, a Nvidia ultrapassou a Apple ao atingir a marca de US$ 3 trilhões, ocupando a segunda posição. Agora, surge a pergunta: após alcançar o topo, ainda há espaço para crescer? Vamos analisar…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.