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O dia será marcado por decisões cruciais de política monetária, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Por aqui, a definição sobre a taxa de juros só será conhecida à noite, após o fechamento do mercado, com a expectativa de uma nova elevação da Selic. Já no cenário externo, o Federal Reserve deve manter os juros inalterados, interrompendo temporariamente o ciclo de cortes no intervalo de 4,25% a 4,50%.
Essa pausa, no entanto, não significa o fim da flexibilização monetária em 2025, mas reflete a postura cautelosa do Fed, que opta por aguardar novos dados econômicos e avaliar os impactos das primeiras medidas do novo governo de Donald Trump. Diante disso, a coletiva de imprensa programada para a tarde será fundamental, pois os investidores esperam obter indicações mais claras sobre os próximos passos.
Enquanto isso, no mercado global, os ativos têm uma boa manhã. As ações europeias iniciam o dia em alta, impulsionadas pela divulgação de encomendas trimestrais surpreendentemente fortes da ASML, gigante holandesa fabricante de equipamentos para chips. Esse otimismo também está presente nos futuros americanos.
O movimento segue a tendência observada no Japão, que teve um pregão positivo, consolidando-se como a única grande bolsa asiática aberta no dia. Isso porque os mercados da China e de outros países da região seguem fechados para as comemorações do Ano Novo Lunar, que segue retirando liquidez do mercado global.
· 00:53 — Momento de cautela
No Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) já indicou que a reunião de hoje resultará em uma elevação de 100 pontos-base na Selic, levando-a para 13,25%. No entanto, a grande expectativa recai sobre o comunicado que acompanhará a decisão, já que será a primeira sob o comando de Gabriel Galípolo. Aliás, vale lembrar que, a partir deste encontro, nove dos onze votos do colegiado já terão sido indicados pelo presidente Lula. Quero ver para quem Gleisi Hoffmann vai reclamar agora.
Independentemente das disputas políticas, será essencial que o novo Banco Central reforce seu compromisso com a meta de inflação e sinalize alinhamento com o mercado. Embora um novo aumento de mesma magnitude para maio pareça improvável, o comunicado deve indicar que o ciclo de alta pode se estender além de março, dependendo dos próximos dados econômicos, da postura do governo em relação à política fiscal e do cenário externo cada vez mais conturbado.
A expectativa de continuidade do aperto monetário tem sustentado a valorização do real, reforçando a importância de uma âncora monetária forte neste momento. Por outro lado, esse movimento agrava o quadro fiscal ao ampliar o déficit nominal, algo que não pode ser ignorado. Ou seja, o Banco Central não pode enfrentar essa batalha sozinho. O governo também precisa fazer sua parte. Não adianta apenas apresentar recordes de arrecadação, como o divulgado ontem, com um total de R$ 2,653 trilhões em 2024, um crescimento de 9,62% na comparação anual. O problema segue sendo o crescimento dos gastos públicos, que ainda não foi contido. E não adianta vir com um resultado primário maquiado. Segundo cálculos de Marcos Mendes, o déficit primário real em 2024 foi de 2,1% do PIB, bem distante dos 0,1% comemorados pelo governo.
Apesar desse cenário desafiador, o mercado de ações brasileiro segue extremamente descontado. Hoje (29), as ações locais negociam com um desconto de aproximadamente 40% em relação a outros mercados emergentes, reflexo direto da deterioração fiscal e da incerteza política. Isso significa que qualquer sinal minimamente positivo pode gerar uma valorização expressiva dos ativos. Para quem souber aproveitar, os valuations atuais oferecem oportunidades raras, desde que acompanhados de uma gestão de risco bem calibrada e um olhar atento para o longo prazo. 2025 é apenas uma ponte…
· 01:46 — Pausa para tomar fôlego
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve tomará hoje (29) sua decisão sobre a taxa de juros, e o consenso de mercado aponta para a manutenção da faixa atual entre 4,25% e 4,50%. Embora o presidente Donald Trump defenda abertamente cortes nas taxas, o Fed deve manter sua postura independente, sem ceder à pressão política – ainda que essa discordância possa gerar ruídos ao longo de 2025.
A perspectiva para os juros nos EUA continua desafiadora. O banco central precisa equilibrar os impactos das restrições de gastos do governo sobre o crescimento econômico e, ao mesmo tempo, avaliar o efeito inflacionário das tarifas comerciais que podem ser implementadas por Trump. Esta será a primeira manutenção dos juros desde o início do ciclo de cortes, em setembro do ano passado, e embora o mercado ainda espere mais dois cortes ao longo de 2025, esse ajuste não deve ocorrer agora.
Enquanto isso, o mercado de ações segue em recuperação após a queda observada na segunda-feira, impulsionada pela surpresa no setor de inteligência artificial. O novo modelo da DeepSeek, da China, apresentou um avanço tecnológico significativo, reacendendo discussões sobre a competitividade do setor. A possibilidade de que a IA esteja se tornando mais barata e mais eficiente levanta questionamentos sobre o impacto para fabricantes de chips de ponta, como a Nvidia (NVDC34). Por um lado, isso pode pressionar empresas do setor de semicondutores; por outro, uma IA mais acessível pode acelerar sua adoção em larga escala, beneficiando diversos setores da economia.
Seja como for, o mercado acompanhará de perto essa questão ao longo do dia, especialmente com a divulgação dos resultados trimestrais de grandes empresas de tecnologia como Meta (M1TA34), Microsoft (MSFT34), IBM (IBMB34) e Tesla (TSLA34). Os números apresentados na noite de hoje podem trazer novos direcionamentos para o setor e para os mercados globais.
· 02:32 — As tarifas vem ou não?
O otimismo inicial dos investidores quanto a uma abordagem mais gradualista do presidente Donald Trump em relação às tarifas pode ter se mostrado equivocado. Já na segunda semana de mandato, o episódio envolvendo a Colômbia deixou claro que Trump está disposto a utilizar tarifas como ferramenta de pressão política, mesmo em questões sem qualquer relação direta com comércio. Esse movimento acende um alerta sobre a possibilidade de o governo americano adotar uma postura ainda mais agressiva nesse campo, especialmente considerando a experiência adquirida durante o primeiro mandato. O problema é que, dessa vez, a magnitude das tarifas em discussão é pelo menos cinco vezes maior do que a aplicada anteriormente, o que pode gerar impactos significativamente mais severos sobre o comércio global.
Neste contexto, sob a presidência de Trump, os Estados Unidos devem seguir atraindo capital estrangeiro, com um crescimento econômico superior ao de outras economias desenvolvidas e taxas de juros relativamente elevadas. Essa combinação fortalece ainda mais o dólar, tornando o ambiente externo mais desafiador para mercados emergentes. Com a valorização do dólar e a resiliência da economia americana, o fluxo de recursos tende a permanecer nos EUA, dificultando a saída de capital para outras regiões. Embora, num primeiro momento, as novas tarifas não tenham causado o estrago que Trump prometia durante a campanha, elas seguem como uma ameaça persistente para economias dependentes do comércio global. Por isso, será fundamental acompanhar neste sábado (1º de fevereiro) o início da aplicação das novas tarifas sobre produtos importados do México e do Canadá, um teste inicial para entender os desdobramentos dessa política e seus impactos nos mercados globais.
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· 03:28 — Os aguardados números da Tesla
Grandes empresas do setor de tecnologia nos Estados Unidos divulgarão seus resultados corporativos entre hoje e amanhã, com atenção especial para a Tesla, que apresentará seus números na noite de hoje (29). Este será o primeiro balanço da companhia desde a reeleição do presidente Donald Trump, adicionando um elemento extra de interesse ao evento.
Elon Musk, que lidera a Tesla desde 2008, participou de praticamente todas as conferências de resultados desde que a fabricante de veículos elétricos abriu capital em 2010. No entanto, desta vez, sua participação pode ser diferente, já que ele assumiu um papel ativo no novo governo Trump, comandando o chamado Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), um esforço focado em corte de custos e otimização de processos na administração pública.
O resultado do quarto trimestre de 2024 terá um peso ainda maior, pois tradicionalmente serve como um indicativo das perspectivas para o ano seguinte. O mercado estará atento às sinalizações sobre o futuro da Tesla, principalmente após declarações recentes de Musk, que afirmou acreditar que a empresa pode alcançar um crescimento de 20% a 30% na produção de veículos em 2025. Além disso, ele reiterou sua visão de que a Tesla se tornará a empresa mais valiosa do mundo, embora não tenha dado um prazo concreto para essa projeção se concretizar.
O que se sabe é que essa ambição está diretamente atrelada ao reposicionamento estratégico da Tesla. A empresa tem se afastado da imagem de uma simples montadora de veículos elétricos e busca cada vez mais se firmar como uma gigante da robótica e da inteligência artificial, expandindo sua atuação para além do setor automotivo. O que Musk apresentará hoje pode ser crucial para reforçar essa tese.
· 04:14 — Um Estado pária
A Rússia consolidou sua posição como a principal potência pária no mundo, isolada por uma ampla margem da comunidade internacional. Em 2025, Vladimir Putin deve aprofundar sua estratégia de confrontação, adotando medidas que desafiam e minam a ordem global liderada pelos Estados Unidos. Isso inclui uma postura ainda mais agressiva contra os países da União Europeia, por meio de ataques cibernéticos e outras sabotagens, além do fortalecimento de suas parcerias estratégicas com o Irã e a Coreia do Norte no setor militar. Se há um fator de estabilidade nesse cenário, é a provável concretização do cessar-fogo na Ucrânia, uma promessa de campanha de Donald Trump, que, após quase três anos de guerra e mais de 600 mil baixas russas, pode finalmente ser alcançada. No entanto, os termos do acordo devem ser favoráveis a Moscou, consolidando o controle de fato da Rússia sobre os territórios ocupados.
Isso significa que, embora um cessar-fogo possa ser estabelecido, ele será frágil e instável, sustentado, no melhor dos cenários, até o final de 2025. Enquanto isso, a União Europeia deve manter suas sanções econômicas à Rússia, reforçando ainda mais os incentivos para que Putin continue interferindo na política interna de seus adversários. O uso de operações cibernéticas e campanhas de desinformação continuará sendo uma ferramenta central do Kremlin, assim como foi observado durante as eleições da Romênia em novembro de 2024. A instabilidade geopolítica permanecerá elevada, e a Rússia seguirá explorando todas as oportunidades para desafiar o Ocidente e expandir sua influência de forma não convencional.
· 05:08 — O ruído geopolítico vai continuar
Embora possa haver um esforço geopolítico para reduzir os conflitos mais evidentes ao redor do mundo, os problemas estruturais permanecem inalterados, e a Nova Guerra Fria continua a se aprofundar. Esse cenário reforça a importância da proteção de portfólio, especialmente em tempos de instabilidade global.
Uma das formas mais tradicionais de proteção são os metais preciosos, particularmente o ouro, que segue sendo um ativo estratégico tanto para investidores quanto para bancos centrais…