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Depois do arcabouço, vem aí a reforma tributária; confira este e outros destaques

Além disso, o andamento da dívida americana ainda causa preocupação. Por outro lado, a Nvidia divulgou resultados mais fortes que o esperado, o que elevou as ações em 26% no after-hours.

Por Matheus Spiess

25 maio 2023, 09:11 - atualizado em 25 maio 2023, 09:11

Depois do arcabouço vem a reforma tributária
Imagem: Unsplash

Bom dia, pessoal. Lá fora, as ações asiáticas caíram para a mínima de dois meses nesta quinta-feira, enquanto o dólar subiu internacionalmente, mesmo com o impasse nas negociações para aumentar o teto da dívida minando os ativos de risco, devido às preocupações com o impacto na economia global caso o governo dos EUA não honre sua dívida (sem resolução à vista, os investidores permaneceram cautelosos). Acompanhando a dinâmica mais pessimista global, o índice mais amplo da MSCI de ações da Ásia-Pacífico atingiu sua menor cotação desde 21 de março, caminhando para o segundo mês consecutivo de perdas. 

Os mercados europeus apresentam uma manhã mista, sem um movimento uníssono entre os índices da região, enquanto os futuros americanos conseguem sustentar um tom predominantemente positivo, impulsionado pela alta dos futuros do índice Nasdaq. A alta é puxada por grandes nomes do segmento de tecnologia, em especial Nvidia, que surpreendeu o mercado com suas projeções relacionadas com inteligência artificial. Paralelamente, os negociadores do presidente democrata Joe Biden e do republicano Kevin McCarthy mantiveram o que ambos os lados chamaram de conversas produtivas, correndo para chegar a um acordo sobre o teto da dívida. 

A ver… 

· 00:50 — Depois do arcabouço temos a Reforma Tributária 

No Brasil, vimos o arcabouço fiscal derrubar os destaques e seguir para o Senado Federal, depois de ter o texto aprovado por 372 votos, ante 257 necessários. Com isso, também esperamos uma tramitação rápida na outra casa legislativa — o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quer levar o tema à votação diretamente no plenário. Quanto antes, melhor. Foi notável o trabalho dos parlamentares sobre a questão, com o fortalecimento da equipe econômica de Haddad. Só não sabemos se o ritmo será mantido para o próximo grande tema: a Reforma Tributária (ainda mais problemática). 

Fora a agenda política, contamos hoje com alguns dados econômicos interessantes, como a segunda prévia do PIB do primeiro trimestre e a prévia da inflação oficial de maio, o IPCA-15. Sobre o segundo, devemos observar uma alta de 0,65% em maio, o que se traduz em uma aceleração frente ao mês de abril. Ainda assim, no acumulado de 12 meses, o índice deve desacelerar para 4,16%. A partir do segundo semestre, a inflação em 12 meses deverá acelerar novamente. O dado de hoje, caso venha abaixo do esperado, pode ajudar o BC a criar uma narrativa para a queda dos juros. 

· 01:41 — A dor de cabeça americana 

Ontem, o Dow Jones Industrial Average caiu pela quarta sessão consecutiva, com os investidores se preparando para a turbulência em meio às negociações em andamento sobre o teto da dívida. O presidente da Câmara, Kevin McCarthy, disse que os republicanos e a Casa Branca estão muito distantes de um acordo sobre os gastos, embora tenha dito também aos membros da Câmara que fiquem perto da capital durante o final de semana caso um acordo seja alcançado. 

Restrições de tempo e pressões políticas forçando os democratas a se aproximarem da posição republicana nos níveis de gastos e aceitar cortes orçamentários maiores do que eles esperavam é o caminho mais provável para um acordo nesta fase. A demora na criação de uma resolução, no entanto, pressiona os ativos. Não ajudou a ata da reunião do Federal Reserve de 2 a 3 de maio, uma vez que o documento mostrou uma autoridade monetária dividida sobre o caminho a seguir. 

· 02:23 — E o que fazer em junho? 

A dúvida que fica para o mercado é a seguinte: o Federal Reserve aumentará as taxas de juros em sua próxima reunião em junho pela 11ª vez consecutiva ou fará uma pausa? Por enquanto, os investidores parecem estar apostando no último, assim como eu entendo que seja o mais provável. Uma série de dados econômicos recentes, entretanto, veio mais forte do que o esperado. 

Os gastos no varejo se recuperaram em abril, após dois meses de quedas, sugerindo que os consumidores ainda estão gastando, apesar de apertarem o bolso. Ao mesmo tempo, os pedidos de auxílio-desemprego caíram mais do que o esperado na semana encerrada em 13 de maio, ficando abaixo das médias históricas. Pior ainda foi a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, que pesou sobre os investidores. 

Em um painel com o ex-chefe do Fed, Ben Bernanke, Powell disse que a incerteza permanece em torno de quanto a demanda diminuirá com as condições de crédito mais apertadas e os efeitos defasados do aumento das taxas. Ainda assim, parece improvável que o Fed aumente as taxas em junho — o aumento dos juros flui pela economia com atraso, levando meses para que o efeito se manifeste na economia.  

· 03:16 — O poder da inteligência artificial 

A Nvidia divulgou os resultados do primeiro trimestre na quarta-feira, com uma previsão mais forte do que o esperado, o que elevou as ações em 26% no after-hours. Antes da alta após o expediente de ontem, as ações da Nvidia já subiam 109% até agora em 2023, impulsionadas principalmente pelo otimismo decorrente da posição de liderança da empresa no mercado de chips de inteligência artificial. 

O CEO da Nvidia, Jensen Huang, disse que a empresa está vendo uma demanda crescente por seus produtos de data center. Tanto é verdade que o grupo registrou vendas de US$ 4,28 bilhões, contra expectativas de US$ 3,9 bilhões, um aumento anual de 14%. O desempenho foi impulsionado pela demanda por seus chips de GPU de fornecedores de nuvem, bem como grandes empresas de internet de consumo, que usam chips da Nvidia para treinar e implantar aplicativos de inteligência artificial (IA). 

A perspectiva positiva da Nvidia iluminou as perspectivas para o setor de fabricação de chips, que está enfrentando uma possível desaceleração da demanda diante da piora das condições econômicas globais. A empresa de semicondutores disse que está aumentando a oferta para atender à crescente demanda por seus chips de inteligência artificial, usados para alimentar o ChatGPT e muitos serviços semelhantes. 

· 04:11 — E a regulação? 

À medida que os sistemas generativos de IA tomam conta de muitos setores, os alertas têm crescido sobre a necessidade de regular as ferramentas emergentes e abordar as possíveis desvantagens da tecnologia. Recentemente, o CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT, testemunhou ao Congresso sobre a necessidade de intervenção do governo para mitigar os riscos de modelos de inteligência artificial cada vez mais poderosos. Embora os legisladores não tenham chegado a nenhuma proposta específica na primeira audiência de IA, várias ideias foram levantadas e mais estão no horizonte. 

Com isso, o governo Biden está dando novos passos para avançar na “inteligência artificial responsável”. A primeira é atualizar seu roteiro, chamado Plano Estratégico Nacional de P&D de IA, que descreve as principais prioridades e metas para investimentos federais em pesquisa e desenvolvimento de IA. Ele também lançou um novo pedido de opinião pública sobre questões críticas da IA, como a proteção dos direitos e a segurança dos indivíduos.  

As redes sociais passaram por escrutínio semelhante durante seus estágios de crescimento na década de 2010. Sob o microscópio estavam o comportamento viciante, os distúrbios decorrentes da comparação social e a privacidade de dados e desinformação. A diferença desta vez é que as empresas de IA pedem maior regulamentação à medida que interrompem os modelos atuais, em comparação com resistência das empresas regulamentadas anteriormente.  

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.