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Divulgação da inflação de preços ao consumidor nos EUA é principal evento desta quinta (11), enquanto reforma tributária caminha no Brasil

À espera desses dados, os mercados europeus operam em alta nesta manhã, enquanto os futuros americanos registram queda, pelo menos por enquanto.

Por Matheus Spiess

11 jul 2024, 09:04 - atualizado em 11 jul 2024, 09:04

inflação ao consumidor
Fonte: Unsplash

Bom dia, pessoal. Chegamos ao grande dia da semana na agenda internacional, com a divulgação dos aguardados dados de inflação de preços ao consumidor nos EUA para o mês de junho.

Um resultado em linha com o esperado, desacelerando na comparação anual, ou abaixo do consenso de mercado pode reforçar a tese de um corte de juros em setembro, o que seria extremamente positivo para ativos de risco globais.

Afinal, conforme afirmou o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, não é necessário que a inflação retorne a 2% para que a taxa de juros comece a ser reduzida.

À espera desses dados, os mercados europeus operam em alta nesta manhã, enquanto os futuros americanos registram queda, pelo menos por enquanto.

Na Ásia, as ações subiram nesta quinta-feira, impulsionadas pela recuperação das ações de tecnologia após números positivos de receita da gigante de chips TSMC, que geraram mais otimismo em relação à inteligência artificial.

As recentes declarações de Powell também repercutiram positivamente na região, alimentando o otimismo sobre um pouso suave para a economia dos EUA e a perspectiva de queda nas taxas de juros ainda este ano.

No Japão, os ganhos impulsionaram o índice Nikkei 225 a um novo recorde.

A ver…

· 00:51 — Arrumando a casa

No Brasil, o Ibovespa conseguiu evitar uma correção, fechando em 127.218 pontos após registrar sua oitava alta consecutiva.

No entanto, o ritmo dessa ascensão tem desacelerado, pois correções são esperadas nesse tipo de movimento.

O destaque do dia foi a divulgação da inflação de junho: o IPCA subiu 0,21% no mês, desacelerando em relação aos 0,46% de maio e ficando abaixo das expectativas do mercado, que previam um aumento de 0,30%. Anualmente, a inflação atingiu 4,23%.

Qualitativamente, os resultados foram encorajadores, com o núcleo da inflação abaixo de 3% ao ano e o índice de difusão recuando para 53%.

Isso diminuiu as chances de uma elevação dos juros em 2024, apesar dessas previsões serem anteriormente vistas como reflexo de tensões recentes no mercado local. No entanto, a batalha contra a inflação ainda não está vencida.

Enquanto isso, em Brasília, a agenda econômica está centrada em quatro temas cruciais: a reforma tributária, a compensação pela desoneração da folha de pagamento, a dívida dos estados e os detalhes dos cortes de gastos.

Em relação à compensação, o Senado tem até 16 de julho para aprovar as medidas necessárias, pois este é o prazo final estabelecido pelo STF para manter o benefício com fontes de financiamento identificadas.

A equipe econômica debate entre compensar ou aumentar as taxas novamente, mas o Senado tem se mostrado reticente, postura que também permeia as discussões sobre as dívidas estaduais. Isso evidencia a crescente influência do Congresso nos destinos econômicos do país.

Portanto, será crucial observar as negociações sobre a sucessão de Arthur Lira na Câmara dos Deputados, pois essas definirão a direção das políticas. Organizar essas questões não será uma tarefa simples.

· 01:45 — A reforma está caminhando…

Recentemente, a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou o primeiro projeto de regulamentação da reforma tributária, marcando um avanço significativo no processo legislativo.

Um dos pontos mais debatidos e finalmente aprovados foi a inclusão de diversos itens na cesta básica isenta de impostos, como carnes, peixes, queijo, sal, óleo de milho, aveia, farinhas, molho e extrato de tomate. Esta decisão, tomada após semanas de discussões intensas, representa uma ampliação considerável dos produtos isentos de tributação.

Entretanto, é importante notar que cada nova isenção contribui para o aumento da alíquota do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). Para mitigar esse impacto, foi incluída no projeto uma medida preventiva: um limite que impede a alíquota do IVA de ultrapassar 26,5%.

Esta restrição entrará em vigor em 2033, após o período de transição da reforma. Se a alíquota exceder esse limite, o governo será obrigado a, junto com o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), formular um projeto de lei complementar para reduzir a carga tributária.

Essa medida oferece uma garantia significativa aos contribuintes, assegurando que o governo reavaliará desonerações e incentivos fiscais de maneira similar aos mecanismos de controle fiscal que impõem cortes de despesas caso as metas de resultado primário não sejam atingidas. Isso ressalta a importância de uma gestão fiscal transparente e responsável, criando um ambiente mais previsível para futuros ajustes fiscais.

O projeto de lei, aprovado com 336 votos a favor e 142 contra, segue agora para o Senado, onde será deliberado após o recesso parlamentar. Além disso, uma segunda proposta de regulamentação, focada na criação do Comitê Gestor do IBS, está agendada para discussão no início de agosto. Apesar dos desafios, especialmente em um contexto eleitoral, é crucial acompanhar de perto essas iniciativas para entender as futuras direções políticas e econômicas do Brasil.

· 02:38 — Mais um recorde

Nos EUA, o S&P 500 ultrapassou a marca de 5.600 pela primeira vez, registrando uma alta de 1% e marcando seu sétimo dia consecutivo de ganhos, atingindo seu 37º recorde do ano. Os títulos do Tesouro mantiveram-se relativamente estáveis após uma significativa venda de US$ 39 bilhões em obrigações de 10 anos. Enquanto Wall Street se preparava para o índice de preços ao consumidor, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que não é necessário que a inflação caia abaixo de 2% antes de considerar cortes nas taxas de juros. Ele também observou que o mercado de trabalho está esfriando de maneira considerável.

A curva de juros está precificando dois cortes nas taxas para 2024, com uma maior probabilidade de que o primeiro ocorra em setembro. O dado de hoje pode ser crucial para essa expectativa. A estimativa de consenso prevê um aumento de 0,1% no mês, após o índice ter se mantido estável em maio. Espera-se que o aumento anual desacelere para 3,1%. O núcleo do IPC, que exclui alimentos e energia, deve subir 0,2% em junho e 3,5% em relação ao ano anterior. Números em linha com o esperado, ou abaixo, podem reforçar a tese de um corte nas taxas de juros. Bom para os ativos de risco, em especial os sensíveis aos juros americanos.

03:24 — Revisando o acordo

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) trabalhou por anos para negociar um acordo entre seus países membros, visando fechar brechas que permitem que grandes multinacionais evitem pagar até 240 bilhões de dólares em impostos anualmente. Em 2021, a OCDE alcançou um acordo que todas as partes assinaram. Conhecida como reforma do “Pilar 1”, essa medida exige que as empresas paguem impostos no país onde obtêm receita, independentemente de onde estejam sediadas. Chegar a esse consenso exigiu mais de uma década de trabalho da OCDE e das partes envolvidas.

O problema surgiu quando a reforma do Pilar 1 precisou ser ratificada até 30 de junho, mas isso não aconteceu. Embora a administração Biden apoie amplamente o plano, a oposição dos republicanos no Senado, em um cenário de divisão política, impediu a ratificação pelos EUA. Esse impasse ameaça desmantelar um acordo fiscal histórico, meticulosamente elaborado entre 140 países ao longo de quase uma década. Alguns especialistas alertam que a incapacidade dos Estados Unidos de ratificar o acordo poderia desencadear uma guerra fiscal entre as nações mais ricas, impactando duramente gigantes da tecnologia (Google, Apple, Meta e Amazon…). Péssimo sinal.

Donald Trump já declarou que, se for eleito, não participará de nenhum acordo desse tipo. Caso um acordo global não entre em vigor, é provável que os países comecem a competir pelas receitas das grandes multinacionais, reduzindo os impostos – esta é a “guerra fiscal” mencionada. Isso também significará que as grandes empresas tecnológicas enfrentarão códigos fiscais inconsistentes ao redor do mundo, à medida que os impostos nacionais proliferem. Mais incerteza se traduz em um menor grau de investimento. Os parlamentares em Washington correm para encontrar uma solução.

· 04:10 — Uma nova frente

Em visita à Rússia, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, apelou a Vladimir Putin para buscar uma solução pacífica para a guerra na Ucrânia, um dia após um ataque mortal de mísseis russos contra um hospital infantil em Kiev gerar indignação. Há quem diga que a resolução do conflito não pode ser alcançada no campo de batalha; a paz deve ser perseguida através do diálogo e da diplomacia. Putin mencionou que eles discutiram a guerra durante conversas informais no jantar e agradeceu a Modi por seus esforços em encontrar maneiras de resolver o conflito. A visita de Modi acendeu um sinal de alerta no Ocidente, que se reúne nesta semana para a reunião anual da OTAN, que completou 75 anos (já conversamos sobre o tema nesta semana).

Para contrapor a aliança ocidental, o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou uma proposta para uma nova arquitetura de segurança na Eurásia, fundamentada no fortalecimento do acordo entre Moscou e Pequim, com o objetivo de desafiar a ordem pós-Guerra Fria na Europa, dominada pelos EUA e seus aliados. A meta da Rússia é substituir os modelos eurocêntricos e euro-atlânticos que favoreceram os EUA. Essa iniciativa foi discutida na recente cúpula de segurança em Astana, Cazaquistão. Ora, é um equívoco pensar que esses assuntos estão distantes de nós. A geopolítica está se tornando cada vez mais crucial para a alocação de recursos internacionais, especialmente se a tese do falecido Henry Kissinger estiver correta: estamos no início de uma Segunda Guerra Fria.

· 05:07 — Gigante cada vez maior

No setor tecnológico asiático, as ações tiveram um desempenho excepcional, com destaque para os fabricantes de semicondutores, especialmente a Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC, NYSE: TSM).

A TSMC, maior fabricante de chips por contrato do mundo, superou significativamente as expectativas de receita para o segundo trimestre, impulsionando suas ações a novos recordes após a divulgação de resultados impressionantes em junho.

A crescente demanda por chips, impulsionada pelos avanços na inteligência artificial, beneficiou consideravelmente a TSMC, cujas ações subiram mais de 67% em dólares desde que foram recomendadas aqui em meados de janeiro deste ano.

A pergunta que fica é: ainda vale a pena manter essa ação na carteira?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.