Bom dia, pessoal. Lá fora, os mercados asiáticos fecharam de forma mista nesta sexta-feira (21), seguindo parcialmente as movimentações negativas de Wall Street verificadas durante o pregão de ontem, com os investidores permanecendo cautelosos, já que as preocupações com as perspectivas para as taxas de juros continuam pessimistas. O dia não começou bem na Europa e entre os futuros americanos, com as ações nos EUA caminhando para o terceiro dia de queda consecutivo. Os yields (rendimentos) dos títulos americanos continuam a subir e o mercado debate a temporada de resultados corporativos, que até agora não conseguiu definir uma predominância entre surpresas positivas e negativas (o divisor de águas poderá ser a semana que vem, com a entrega dos números das grandes empresas de tecnologia). Ontem, chamou a atenção a continuidade da força do mercado de trabalho nos EUA, o que deixa espaço para o Federal Reserve continuar subindo os juros. A ver… |
00:44 — O descolamento brasileiro e a possibilidade de um Novo Marco fiscal |
Na ausência de uma agenda relevante no ambiente local, os investidores se preparam para acompanhar o noticiário internacional, a temporada de resultados americana e o vetor técnico de exercício das opções na B3. Nesta semana, ainda que os últimos dois dias tenham sido ruins lá fora, o Brasil conseguiu se descolar bem do humor global (o Ibovespa, mais precisamente), principalmente com a alta de empresas de commodities e estatais, animadas com a força dos preços lá fora e na possibilidade de vitória de Bolsonaro, respectivamente. Independente de quem ganhar, o desafio para 2023 é relevante, não apenas pela complexidade do mundo atual, cada vez mais volátil, mas também pelo panorama fiscal brasileiro. O próprio governo já planeja uma proposta para mudar a dinâmica orçamentária brasileira, que não se sustenta mais da maneira como temos hoje. Muito provavelmente, portanto, qualquer que seja o vitorioso no dia 30 de outubro, o teto de gastos deverá ser alterado. O próprio Paulo Guedes parece vincular sua permanência no governo, em caso de vitória bolsonarista, à aprovação do que ele chama de Novo Marco Fiscal, que desvincula, desindexa e desobriga o orçamento. Importante para a curva de juros e para as perspectivas futuras do país. |
01:44 — O aperto monetário e a temporada de resultado |
Ontem, nos EUA, a queda dos pedidos de auxílio-desemprego manteve os rendimentos dos títulos do tesouro americano elevados (mais atividade econômica requer mais juros). Muito provavelmente, o Federal Reserve está disposto a atingir o mercado de trabalho e os lucros das empresas para controlar a inflação, mas os problemas de comunicação da gestão de Powell geram dúvidas no mercado. Hoje, o mercado parece concordar com uma continuidade de alta, com o rendimento do Tesouro de 2 anos atingindo 4,6% e o rendimento de 10 anos se aproximando dos níveis vistos pela última vez apenas em 2008. Dessa forma, devemos ver pelo menos mais um aumento de 75 pontos-base na reunião de novembro, daqui pouco mais de 10 dias — o mercado precifica uma taxa terminal de 5% em até nove meses. Enquanto isso, os resultados corporativos seguem chamando a atenção. Depois de hoje, quase 90 empresas no S&P 500 já terão reportado os lucros do terceiro trimestre, sendo que, pelo menos por enquanto, cerca de 75% deves veio em linha ou acima do esperado (historicamente, nos EUA, os lucros geralmente superam as expectativas — desde 1994, a taxa de superação histórica é de 66%). Sim, até aqui os resultados foram melhores do que se temia, mas ainda há muita água para rolar. |
02:47 — Luz no fim do túnel |
Como especulamos já há algum tempo, a primeira-ministra do Reino Unido não permaneceu no cargo. Ontem, sua renúncia foi recebida com um grande alívio, tornando-a a pessoa que por menos tempo ocupou o cargo (45 até ontem, sendo que vai ocupar o cargo até que um sucessor seja definido, provavelmente até o final deste mês). Ainda que ajude, os problemas do Reino Unido estão longe de acabar. De qualquer forma, pelo menos temos uma luz no fim do túnel. Não necessariamente será um terror sem fim a crise atual na Grã-Bretanha — note como o parlamentarismo resolve rapidamente os problemas (imagine se Liz Truss tivesse sido eleita presidente, que caos seria). Gradualmente, os mercados devem reduzir o prêmio de risco, principalmente se Rishi Sunak for escolhido primeiro-ministro (se Boris Johnson voltar, dificilmente o mercado ficaria tranquilo). Independente de quem for, terá que lidar com uma economia fraca e inflação alta. |
03:32 — Vibrações asiáticas |
Na Ásia, a inflação de preços ao consumidor japonês em setembro veio em linha com o esperado, registrando 3% na comparação anual — apesar de acima da meta de 2% do Banco Central, o número parece não trazer preocupação. Ainda assim, o mercado fechou em baixa, acompanhando o desempenho dos pares asiáticos. Enquanto isso, a China caminha para o final do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, devendo colocar Xi Jinping em seu terceiro mandato muito em breve. Paralelamente, por lá, o governo começou a relaxar algumas restrições de quarentena, afastando-se um pouco de sua política de zero Covid, apesar da forma elogiosa com que se referiu a ela durante o congresso. Isso pode ajudar o crescimento. |
04:08 — E os veículos elétricos? |
Chamou a atenção o resultado abaixo do esperado da Tesla, que jogou para baixo o preço das ações da companhia. Ainda que o trimestre não tenha sido tão bom para a Tesla, especificamente, as perspectivas para o mercado são cada vez melhores. Segundo o relatório “Acompanhamento do Progresso da Energia Limpa” da Agência Internacional de Energia (AIE), que visa acompanhar as iniciativas que buscam limitar o aumento das temperaturas globais a 1,5°C (emissões zero até 2050), há uma longa avenida de crescimento pela frente para a indústria. Para se ter uma ideia, as vendas de veículos elétricos dobraram em todo o mundo no ano passado, representando quase 9% do mercado total de carros. A tendência está se recuperando novamente este ano, uma vez que já vimos as vendas de 2 milhões de veículos elétricos durante o primeiro trimestre, marcando um aumento de 75% em relação aos primeiros três meses de 2021. De fato, a AIE espera ver outra alta histórica para as vendas de veículos elétricos em 2022, elevando-as para 13% do total de vendas de veículos leves globalmente. Entende-se que os veículos elétricos sejam a tecnologia chave para descarbonizar o transporte rodoviário, setor que responde por 16% das emissões globais. O cenário de zero emissões líquidas até 2050 prevê uma frota de carros elétricos de mais de 300 milhões em 2030 e carros elétricos representando 60% das vendas de carros novos. Cada vez mais será normal vermos carros elétricos ao redor do mundo, primeiro nas economias centrais e depois nos países emergentes. |