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Mercado em 5 minutos

Encontro de Lula com lideranças mundiais, criação de moeda única e balanços nos EUA pautam mercado nesta segunda (23)

Confira tudo o que você precisa saber sobre o mercado financeiro nesta segunda-feira (23)

Por Matheus Spiess

23 jan 2023, 08:53 - atualizado em 23 jan 2023, 08:53

mercado em 5 minutos - moeda única?

Bom dia, pessoal. Embora a maioria dos mercados asiáticos esteja fechada para as comemorações do Ano Novo Lunar chinês, as praças que permaneceram abertas, como a japonesa e a indiana, encerram as negociações em alta nesta segunda-feira, acompanhando as movimentações dos mercados globais na sexta-feira. Como não poderia deixar de ser, o otimismo sobre a economia chinesa após a reabertura também ajudou. 

Os mercados europeus e os futuros americanos dão continuidade ao bom humor da semana passada, começando a semana em alta. Os próximos dias serão importantes, com a temporada de resultados ganhando corpo e várias autoridades monetárias falando sobre as perspectivas futuras para os juros, os quais devem permanecer em patamares elevados por mais tempo. No Brasil, os ruídos envolvendo o CMN continuam. 

A ver… 

· 00:29 — Alckmin, o presidente em exercício 

Por aqui, Lula viaja para o exterior para seus primeiros encontros formais com as lideranças mundiais, deixando a presidência nas mãos de Alckmin até sua volta (ufa).  

O mercado ainda repercute a possibilidade de intervenção do Executivo nas decisões do Conselho Monetário Nacional (CMN), que terá seu primeiro encontro no governo Lula nesta quinta-feira (26), com a participação de Simone Tebet, Fernando Haddad e Roberto Campos Neto. Fora isso, ganhou os holofotes no final de semana os estudos de uma criação de moeda entre Brasil e Argentina, destino da viagem do presidente. 

Mas é isso mesmo? A bobagem da criação de uma ideia entre os países não é nova, tendo sido defendida no passado pelo próprio Paulo Guedes (ainda bem que, como muitos outros projetos do ex-ministro, esse também não foi pra frente). O problema foi que agora o tema ganhou relevância por conta de uma matéria repleta de erros do Financial Times. Vamos lá. 

Em primeiro lugar, não há qualquer “início de preparação”, mas, sim, início de estudos para a viabilidade. Em segundo lugar, a estratégia não seria a adoção de uma moeda única latino-americana, nos moldes do euro (levou 35 anos para sair do papel), mas uma moeda virtual para ser usada bilateralmente em transações financeiras e comerciais (a fraqueza e volatilidade do peso tornam problemáticas as trocas comerciais).  

Além disso, é difícil ver viabilidade política do tema (não é prioridade e não há apoio). Não há concordância dentro do governo sobre o tema, quanto mais no Congresso que assumirá em fevereiro, como uma ala direitista mais forte. Por fim, a retórica parece que só se tornou mais evidente porque as fontes do governo argentino usaram a bandeira para fins eleitorais (há eleição presidencial neste ano). Ou seja, fiquem tranquilos, uma aberração como essa dificilmente seria concluída. Pelo menos ficamos com boas piadas sobre o nome da moeda: gosto de Surreal, o Real do Sul. 

· 01:44 — Os resultados americanos 

Os investidores estão cada vez mais cautelosos com uma possível recessão nos EUA este ano, à medida que o país enfrenta um forte aumento nas taxas de juros. Com isso, espera-se que os resultados corporativos lancem mais luz sobre essa tendência. Até agora, a maior parte dos ganhos vieram dos grandes bancos. Os líderes dessas empresas financeiras têm sido cautelosos em suas falas.  

Mais empresas de primeira linha divulgarão os resultados do quarto trimestre esta semana, podendo fornecer orientações sobre o primeiro trimestre de 2023 e além. Os titãs da tecnologia ocupam o centro do palco, com nomes como Tesla, Microsoft, Texas Instruments, Intel e IBM. Essas empresas de tecnologia, em especial as FAANGs, foram as líderes do mercado na última década. Agora o jogo parece estar mudando. 

Outros nomes da semana são Verizon, Johnson & Johnson, Travelers, 3M, Boeing, Dow, Visa, Chevron e American Express. Adicionalmente, outro foco desta semana está nos dados do PIB dos EUA do quarto trimestre, que serão divulgados na quinta-feira. Espera-se que a leitura mostre que o crescimento no final de 2022, podendo estabelecer um precedente fraco para 2023. 

· 02:29 — O teto da dívida 

Ainda nos EUA, a histórica batalha recente para eleger o deputado republicano Kevin McCarthy como presidente da Câmara foi um sinal de que este 118º Congresso será desafiador; afinal, eleger um presidente da Câmara em apenas uma votação tem sido quase uma regra desde a Guerra Civil Americana.  

O problema principal de 2023 muito provavelmente será aumentar o teto da dívida. Se trata de um limite de quanto o governo dos EUA pode tomar emprestado para pagar suas contas. E como o governo incorre em déficits orçamentários, ele precisa regularmente tomar mais dinheiro emprestado para evitar a inadimplência do crédito, o que seria um cenário desastroso. 

Se um calote potencial se materializar devido à paralisia do Congresso, isso poderia causar uma cratera nos mercados globais e mergulhar os EUA em uma recessão. Em 2021, o Congresso elevou o teto da dívida em US$ 2,5 trilhões, mas isso só nos levará até agosto, quando os legisladores precisarão elevar o teto novamente para evitar um calote. O problema? A pequena facção de republicanos linha-dura que impediu a eleição de McCarthy como presidente poderia, na verdade, manter o teto da dívida “refém” ao obter suas demandas – especificamente, cortes de gastos. 

· 03:16 — A fala de Lagarde 

A presidenta do BCE, Christine Lagarde, falará ao mercado algumas vezes durante a semana. Começamos hoje na Alemanha, teremos amanhã na Croácia e na sexta-feira em território alemão novamente. Provavelmente, assim como tem feito em outras oportunidades, a autoridade deve indicar que não pretende afrouxar o ritmo de aperto monetário verificado até aqui. 

Os dados de inflação de preços ao consumidor de dezembro de 2022 na área do euro e nos EUA foram moderados, já que as mudanças nos preços das commodities tornaram-se menos significativas. Para 2023, os investidores de inflação precisam começar a observar a importância relativa de diferentes partes da cesta de inflação, que muda a cada ano. As mudanças de 2023 podem empurrar a inflação para baixo.  

Por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia, os europeus gastaram mais dinheiro em energia em 2022. Isso significa que o peso aplicado aos preços da energia aumentará em 2023, justamente quando o preço da energia está crescendo mais lentamente do que a inflação plena. 

Nos Estados Unidos, os consumidores se entregaram a uma orgia de gastos com bens duráveis, o que aumentará significativamente a importância dos bens duráveis no cálculo da inflação em 2023 – justamente quando as mudanças nos preços dos bens duráveis se tornaram negativas. Ou seja, os índices de inflação passarão a dar mais ênfase aos preços que estão enfraquecendo. 

· 04:10 — Feriadão 

A maioria dos mercados asiáticos estava fechada para o feriado do Ano Novo Lunar. Ainda assim, os investidores estão apostando que a economia chinesa será substancialmente impulsionada pelo feriado de uma semana, especialmente depois que o país suspendeu a maioria das restrições anti-COVID e reabriu suas fronteiras. 

O aumento das viagens sugere um nível de medo reduzido, o que é importante para a economia. Uma recuperação econômica chinesa é um bom presságio para os mercados asiáticos, uma vez que a maioria das economias regionais depende fortemente do país como destino comercial. 

O impacto global da reabertura econômica da China provavelmente só será visível após o feriadão. Os focos são a intensidade do crescimento das commodities (infraestrutura ou consumo), padrões de gastos da classe média e o ressurgimento do turismo (o governo pode, em vez disso, encorajar os gastos domésticos). 

Um abraço, 

Matheus Spiess 

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.