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Está chegando o payroll dos EUA: veja as notícias mais importantes desta sexta-feira (6)

O foco do mercado hoje (6) está no aguardado relatório de emprego dos Estados Unidos, o payroll, que deve alinhar as expectativas do corte na taxa de juros do Federal Reserve,

Por Matheus Spiess

06 set 2024, 09:10 - atualizado em 06 set 2024, 09:10

wall street s&p 500 estados unidos eua

Imagem: Pexels

O foco atual do mercado está voltado para o aguardado relatório de emprego dos Estados Unidos, que deve alinhar as expectativas quanto ao primeiro corte na taxa de juros, marcando o início do ciclo de flexibilização da política monetária do Federal Reserve, previsto para começar em setembro.

Nesse cenário, após a divulgação de dados recentes que apontaram fragilidade no mercado de trabalho americano, os investidores adotaram uma postura mais cautelosa, evidenciando um aumento na aversão ao risco. Como consequência, os principais índices europeus e os futuros das bolsas americanas estão operando em queda, ao menos por enquanto.

O ponto crucial, no entanto, é que os dados de emprego não devem ser excessivamente fracos, para evitar preocupações maiores sobre o risco de uma recessão. Um exemplo claro disso ocorreu no mês passado, quando os investidores entraram em pânico devido a um sinal enganoso do mercado de trabalho, que havia sido distorcido por fatores sazonais.

De modo semelhante ao comportamento dos índices acionários, as commodities estão sendo negociadas de forma cautelosa, com pouca convicção. No entanto, o petróleo apresenta uma leve tendência de alta.

A ver…

· 00:56 — Espaço para mais do tom construtivo

No Brasil, o mercado de ações local voltou a fechar em alta ontem, impulsionado principalmente pelo bom desempenho da Vale e do setor financeiro tradicional, que evitaram um cenário mais negativo para o Ibovespa. É interessante notar que, para nós brasileiros, será crucial acompanhar a divulgação dos dados de emprego nos Estados Unidos (payroll) nesta sexta-feira (6). Esses números podem fornecer pistas sobre a magnitude dos cortes de juros que o Federal Reserve deve implementar nas próximas reuniões de política monetária. O comportamento dos ativos brasileiros continua fortemente vinculado às flutuações nas taxas de juros americanas.

Nesse contexto, na ausência de uma recessão, os períodos de queda nos juros dos EUA têm historicamente favorecido o desempenho do mercado de juros no Brasil. Há também uma narrativa em torno de uma rotação setorial, que vem realocando recursos do setor de tecnologia nos EUA (considerado caro) para ações brasileiras (avaliadas como mais baratas), movimento que temos observado desde julho.

Entretanto, nem tudo é positivo. Na quinta-feira, por exemplo, foi divulgado que o Governo Central registrou um déficit de R$ 9,3 bilhões em julho, um resultado pior do que a mediana das projeções de economistas ouvidos pelo Broadcast, que estimavam um déficit de R$ 7,1 bilhões. No acumulado do ano, até julho, o déficit atingiu R$ 77,8 bilhões. É evidente que o governo precisará ajustar sua estrutura de gastos, pois da forma como está, a situação é insustentável.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, chegou a mencionar possíveis cortes na previdência dos militares das Forças Armadas, mas é pouco provável que isso se concretize no atual governo, apesar de ser uma medida necessária (já estamos, inclusive, precisando de uma nova reforma da previdência). Os esforços do Ministério da Fazenda em revisar programas como o Auxílio-gás são passos importantes. Caso contrário, veremos novamente a curva de juros sofrer pressões, como ocorreu no segundo trimestre deste ano.

· 01:43 — 25 ou 50?

Nos Estados Unidos, o índice S&P 500 registrou uma queda de 0,3% ontem, marcando sua terceira sessão consecutiva de perdas. Esse movimento reflete claramente o nervosismo dos investidores diante de um calendário macroeconômico bastante movimentado, que inclui o aguardado relatório de emprego de hoje, os dados de inflação da próxima semana e a decisão de juros do Federal Reserve no dia 18.

Todas as atenções agora estão voltadas para o relatório de emprego de agosto, que projeta a criação de 160 mil novas vagas não agrícolas. Além disso, espera-se que a taxa de desemprego caia ligeiramente, de 4,3% para 4,2%. Este será o último conjunto de dados sobre o mercado de trabalho que as autoridades do Fed terão à disposição antes do tão aguardado relatório de setembro. Após isso, só teremos atualizações sobre preços e atividade econômica, sem novos dados de emprego.

Caso o relatório de agosto apresente resultados significativamente abaixo do esperado, com poucas contratações ou um aumento na taxa de desemprego, isso poderia aumentar as chances de um corte mais agressivo de 0,5 ponto percentual na reunião de setembro. No entanto, isso não seria necessariamente uma boa notícia, pois reforçaria os temores de recessão e a percepção de que o Fed estaria agindo com atraso.

Por outro lado, um relatório robusto seria positivo para a economia, mas também daria ao Fed motivos para adotar uma postura mais cautelosa em setembro. Entre essas duas possibilidades, prefiro a segunda opção, já que o corte nos juros acontecerá de qualquer maneira. Em geral, sou favorável a uma abordagem mais gradual e moderada, e uma sequência de cortes menores, de 25 pontos-base, não seria algo negativo.

· 02:39 — Não sei se eu ficaria tão confortável assim…

Recentemente, a Fitch reafirmou o rating de crédito dos Estados Unidos em ‘AA+’, com perspectiva estável. De acordo com a agência de classificação de risco, essa nota é sustentada pela alta renda per capita do país, por um ambiente de negócios dinâmico e pela forte capacidade de financiamento.

Embora o vigor da economia americana seja inegável, não vejo espaço para elevações nessa classificação devido ao elevado déficit fiscal dos EUA. Além disso, o país apresenta um padrão de governança inferior ao de outros países com a mesma nota de crédito “AA”, agravado pela constante fragmentação política, que periodicamente ameaça os acordos sobre o teto da dívida americana. Por isso, ao contrário da Fitch, eu teria mais cautela. A delicada situação fiscal dos EUA não apresenta sinais de solução no curto prazo.

A realidade é que o governo tem falhado em abordar de forma significativa os grandes déficits fiscais, o crescente fardo da dívida e o aumento iminente dos gastos relacionados ao envelhecimento populacional. Projeta-se que a relação dívida/PIB dos Estados Unidos aumente para 124,4% até o final de 2026, comparado aos 114% registrados em 2023. Trata-se de uma trajetória preocupante, que dificilmente será corrigida a tempo.

· 03:25 — O medo do iene

As operações de carry trade envolvendo o iene continuam sendo uma fonte significativa de risco para os mercados financeiros dos Estados Unidos e outras economias globais. Aproximadamente um mês atrás, a liquidação dessas operações foi um dos principais fatores que contribuíram para a queda de 12,4% no índice de ações japonês, além de desencadear uma correção generalizada nos mercados de ações ao redor do mundo.

A preocupação central reside na possibilidade de que grande parte da recente valorização das ações americanas tenha sido impulsionada por empréstimos facilitados por essas operações de carry trade. Com o Banco do Japão (BoJ) mantendo as taxas de juros extremamente baixas por anos, muitos investidores se aproveitaram do iene para financiar aquisições de ações e outros ativos em mercados internacionais.

O fortalecimento recente do iene aumenta os receios de que a desmontagem dessas posições ainda esteja em andamento. Se o BoJ decidir aumentar as taxas de juros novamente, o impacto poderá reverberar globalmente, com efeitos potencialmente profundos nos mercados financeiros. Seja por uma possível desaceleração econômica nos EUA ou por decisões de bancos centrais em outras partes do mundo, a volatilidade do mercado permanece elevada, sugerindo que novos choques financeiros podem estar à espreita.

· 04:12 — Outra gigante de tecnologia

A OpenAI está em negociações para uma nova rodada de financiamento que pode avaliar a empresa em mais de US$ 100 bilhões, consolidando sua posição como a quarta empresa privada mais valiosa do mundo, atrás apenas da ByteDance (US$ 220 bilhões), Ant Group (US$ 150 bilhões) e SpaceX (US$ 125 bilhões).

A Thrive Capital está liderando essa rodada, e espera-se que a Microsoft (MSFT34) amplie sua já significativa participação, atualmente em US$ 13 bilhões. Além disso, a Apple (AAPL34) e a Nvidia (NVDC34) também estão em conversas para investir na criadora do ChatGPT. A Nvidia é fornecedora dos chips usados pela OpenAI para treinar e operar seus modelos, enquanto a Apple planeja integrar o ChatGPT ao seu próximo sistema de inteligência artificial, o Apple Intelligence, que será lançado com os novos iPhones.

Em 2023, a OpenAI foi avaliada em aproximadamente US$ 80 bilhões, após uma rodada de financiamento que permitiu aos funcionários venderem suas ações. Embora ainda não esteja claro se a empresa considera uma oferta pública inicial, isso pode se tornar necessário num futuro próximo, dado o alto custo do desenvolvimento contínuo de modelos de IA cada vez mais avançados. A OpenAI afirma agora ter 200 milhões de usuários semanais do ChatGPT, o dobro em comparação com o ano anterior. Além disso, 92% das empresas da Fortune 500 utilizam seus produtos para tarefas de escrita, codificação e apoio organizacional. Sem dúvida, a OpenAI se posiciona como uma nova gigante no cenário tecnológico global.

· 05:07 — O impacto dos incêndios

Nas últimas semanas, discutimos o período excepcionalmente severo de queimadas que o Brasil tem enfrentado. A Raízen (RAIZ4), subsidiária da Cosan (CSAN3), relatou incêndios em diversas áreas de seus canaviais, tanto em propriedades próprias quanto em terras de fornecedores, com incidência significativa no Estado de São Paulo.

A empresa estima que cerca de 1,8 milhão de toneladas de cana-de-açúcar, incluindo tanto sua produção quanto a de terceiros, foram afetadas, o que representa aproximadamente 2% do volume total projetado para a safra de 2024/25, com base em uma premissa conservadora de moagem.

Diante desse cenário, a questão central é: qual é o impacto desse evento na tese de investimento na Cosan?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.