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EUA aguarda divulgação do payroll de junho nesta sexta (5), relatório que pode influenciar as perspectivas para os juros americanos

Os índices futuros nos EUA estão em alta nesta manhã, enquanto as principais commodities recuaram, ajustando-se após o retorno do feriado.

Por Matheus Spiess

05 jul 2024, 09:24 - atualizado em 05 jul 2024, 09:24

Imagem representando o payroll ibovespa big techs apple amazon meta
Payroll

Bom dia, pessoal. Com o retorno dos Estados Unidos do feriado, os mercados estão atentos à divulgação do relatório de payroll de junho, um indicador crucial que pode influenciar as expectativas para os juros americanos. Se os números indicarem desaceleração ou ficarem abaixo das previsões, poderá se fortalecer a tese de um possível corte de juros em setembro.

Enquanto isso, as bolsas asiáticas encerraram a última sexta-feira com desempenhos mistos. Em destaque, as ações chinesas caíram devido à imposição de tarifas europeias mais altas sobre importações chinesas, refletindo as tensões comerciais entre as regiões.

Na Europa, os mercados acionários subiram em resposta aos resultados das eleições gerais no Reino Unido. A vitória decisiva do Partido Trabalhista, que encerrou um longo período de governo conservador, animou as bolsas. No entanto, com a ala centrista dos trabalhistas prevalecendo, são esperadas poucas mudanças na política econômica do país.

Nos Estados Unidos, os índices futuros estão em alta nesta manhã, enquanto as principais commodities recuaram, ajustando-se após o retorno do feriado.

A ver…

· 00:52 — ”Markets stop panicking when central banks start panicking”

O ditado popular em Wall Street, frequentemente citado pelo estrategista-chefe do Bank of America Merrill Lynch, Michael Hartnett, afirma que “os mercados só se acalmam quando os responsáveis pelas políticas começam a se preocupar”. Esta observação se aplica perfeitamente aos recentes acontecimentos econômicos no Brasil.

Desde a última quarta-feira (3), o mercado reagiu positivamente ao compromisso renovado do presidente Lula com a estabilidade fiscal. Essa mudança se refletiu na valorização do Ibovespa, que alcançou 126 mil pontos, e na queda do dólar, que recuou para abaixo de R$ 5,50.

Essas melhorias ocorreram após o governo anunciar um plano de austeridade que inclui um corte significativo de quase R$ 26 bilhões em gastos.

Os detalhes desse plano de austeridade, que serão delineados no Projeto de Lei Orçamentária Anual a ser apresentado até 31 de agosto, e no relatório bimestral de receitas e despesas previsto para 22 de julho, estão sendo aguardados com grande expectativa. Este relatório incluirá um contingenciamento planejado de R$ 10 bilhões.

É importante destacar que cortes nos benefícios sociais podem ser necessários ainda este ano. Além disso, embora o corte de R$ 25,9 bilhões seja suficiente para equilibrar o orçamento de 2025, o ano de 2026 exigirá novas medidas. Este período será crucial para o futuro político e econômico do Brasil.

O mercado parece disposto a aceitar esse ajuste temporário nas contas públicas, na esperança de uma guinada pró-mercado nas eleições de 2026, o que poderia resultar em uma presidência mais reformista a partir de 2027.

Embora significativo, o corte proposto para o próximo ano não resolve os problemas fiscais de longo prazo do país, que são de natureza estrutural. No entanto, a promessa de redução dos gastos foi bem recebida pelo mercado local, aliviando a pressão imediata.

Com isso, espera-se que o segundo semestre de 2024 seja substancialmente mais promissor do que o primeiro, com o dólar possivelmente recuando para algo entre R$ 5,10 e R$ 5,20 nas próximas semanas.

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· 01:43 — E essa reforma tributária?

Os avanços na regulamentação da reforma tributária no Brasil também têm contribuído com o clima de otimismo no mercado. Ontem, o governo solicitou à Câmara dos Deputados a tramitação em regime de urgência constitucional para o primeiro projeto de lei da regulamentação.

Essa medida visa permitir que o projeto seja votado diretamente no plenário, sem passar pelas comissões, acelerando sua aprovação antes do recesso parlamentar que começa em 17 de julho. O grupo de trabalho responsável pela proposta já apresentou um relatório preliminar, e a expectativa é que a votação ocorra até a próxima quinta-feira.

Este projeto inicial define a estrutura principal da reforma tributária, introduzindo o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) e o Imposto Seletivo (IS), que juntos formarão o novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) no Brasil. Esses novos tributos substituirão cinco impostos atualmente aplicados sobre o consumo — PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS —, sendo que o texto também trata de temas como a isenção de impostos para itens da cesta básica e políticas de cashback.

Uma inovação significativa do projeto é a inclusão de veículos elétricos no Imposto Seletivo, enquanto os caminhões foram excluídos para evitar o aumento do custo do frete. Outros itens, como jogos de azar, refrigerantes, bebidas alcoólicas e cigarros, serão sujeitos ao chamado “imposto do pecado”. No entanto, a carne não foi incluída na lista de produtos da cesta básica com isenção de impostos. O segundo projeto de regulamentação, que abordará as normas do Comitê Gestor e a distribuição da receita do IBS entre estados e municípios, será discutido em agosto.

· 02:35 — Esperando o payroll

Os Estados Unidos retornam do feriado hoje, embora o movimento nos mercados deva ser reduzido, já que muitos aproveitaram para prolongar a folga até o fim de semana.

A principal atenção está voltada para o relatório de payroll de junho, que é o dado econômico mais esperado da semana. A expectativa é a criação de 200 mil empregos em junho, comparado a 272 mil em maio, com a taxa de desemprego mantida em 4%. Espera-se também um recuo no aumento do salário médio por hora trabalhada, de 0,4% em maio para 0,3% em junho.

Caso os números venham em linha, desacelerando, ou abaixo do esperado, a tese de um corte de juros em setembro será fortalecida, beneficiando ativos de risco tanto americanos quanto globais.

Paralelamente, o presidente Joe Biden enfrenta dias cruciais para sua carreira política, buscando restaurar a confiança de eleitores, doadores e líderes do partido, que estão cada vez mais céticos sobre sua capacidade de governar.

Em sua primeira entrevista após o debate presidencial de 2024, Biden admitiu que “estragou tudo”, mas afirmou que não pretende desistir. Desde ontem, Biden tem tentado tranquilizar governadores e congressistas democratas.

Pessoalmente, acredito que ele acabará desistindo de sua candidatura. Caso contrário, a vitória de Trump parece inevitável. Mesmo que os democratas substituam o candidato, a perspectiva para a Casa Branca não deve mudar significativamente, com Trump tendo grandes chances de retornar à presidência.

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· 03:27 — De volta ao poder

No Reino Unido, o Partido Trabalhista conquistou uma vitória decisiva, desbancando os Conservadores do poder. Com uma vitória expressiva, os trabalhistas asseguraram 410 das 650 cadeiras do Parlamento britânico, superando o número mágico de 326 assentos necessários para a maioria na Câmara dos Comuns, encerrando um ciclo de 14 anos de governos conservadores.

Keir Starmer assumirá como novo primeiro-ministro, substituindo Rishi Sunak. Esse resultado, amplamente esperado, marca a maior vitória desde a de Tony Blair em 1997. Até Liz Truss, ex-primeira-ministra conservadora, perdeu sua cadeira, o que é particularmente vergonhoso para o partido.

Starmer passou o último ano construindo uma relação sólida com a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, com o objetivo de restabelecer os laços com a UE por meio de uma política externa de cooperação expandida.

No curto prazo, ele planeja propor um amplo pacto de segurança entre o Reino Unido e a UE, além de acordos bilaterais de defesa com a Alemanha e a França. A longo prazo, seu objetivo é retornar a algo semelhante a uma união aduaneira, mesmo que não seja formalmente chamada assim.

Fora essa abordagem em relação à União Europeia, a política econômica do Reino Unido não deve mudar significativamente, já que a ala de Starmer, que venceu a corrida eleitoral, é de centro, e não de esquerda.

· 04:14 — E na França?

Independentemente do partido que vencer nas eleições parlamentares francesas de domingo, alguns investidores acreditam que a votação sinaliza o início de um período mais turbulento para os mercados de ações e títulos do país.

Há uma crescente confiança entre os investidores de que o pior cenário, com uma maioria absoluta na câmara baixa da França para o Rally Nacional de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, será evitado. Esse receio surge devido à percepção de que o partido é menos responsável fiscalmente (populista).

No entanto, a esquerda não é vista como uma alternativa muito melhor. Na verdade, o único candidato com preocupações fiscais claras é Macron, que sofreu uma grande derrota nestas eleições.

Mesmo assim, o resultado mais provável é um impasse político (ruim também, uma vez que vai paralisar qualquer chance de reforma). O grupo de extrema-direita e seus aliados devem conquistar entre 190 e 250 dos 577 assentos na Assembleia Nacional. Esse número fica bem abaixo dos 289 necessários para aprovar facilmente projetos de lei e avançar com sua agenda.

O partido de Le Pen liderou o primeiro turno de votação no último domingo, recebendo cerca de um terço dos votos franceses, o melhor resultado na história de meio século do partido. Para todos os efeitos, Le Pen é a grande vencedora. No entanto, agora seu partido terá a responsabilidade de governar, o que pode não ser favorável à sua possível candidatura à presidência em 2027.

· 05:09 — O portfólio de Deus

Nesta semana, Bruno Mérola, chefe da nossa equipe de gestão de fundos de investimento, trouxe à tona uma reflexão sobre o intrigante conceito do “portfólio de Deus”. Wesley Gray, da Alpha Architect, em 2016, argumentou que até uma entidade onisciente como Deus seria demitida várias vezes se atuasse como um investidor ativo no mercado financeiro. Essa observação revela como as percepções mudam conforme o mercado alterna entre alta e baixa.

O “portfólio de Deus” refere-se a uma carteira teórica composta pelas 50 ações…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.