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EUA aguarda leitura final do PIB do 1º tri e inflação de preços ao consumidor nesta quinta (27)

No Brasil, o foco está no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje cedo, com base no IPCA-15 publicado ontem (26).

Por Matheus Spiess

27 jun 2024, 08:40 - atualizado em 27 jun 2024, 08:42

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Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. O dia começa com uma tendência negativa vinda da Ásia, onde as ações de tecnologia seguem a fraqueza de seus pares nos EUA, após o guidance desanimador da grande fabricante de chips Micron.

As ações chinesas registraram perdas prolongadas, devido a dados fracos dos lucros industriais, que pioraram ainda mais o sentimento em relação ao país.

Na Europa, o cenário é de desempenho misto entre as bolsas, enquanto os futuros americanos caem.

Na agenda do dia, temos a leitura final do PIB do primeiro trimestre nos EUA e, no contexto internacional, o dado mais importante da semana: o PCE americano de maio, a medida favorita de inflação do Fed.

Um ponto de curiosidade, mais do que um fator de preço (pelo menos por enquanto), é o primeiro debate entre Joe Biden (81 anos) e Donald Trump (78 anos), que deverá atrair cada vez mais a atenção do mercado para as eleições de novembro deste ano — ao que tudo indica, Trump é o favorito.

A ver…

· 00:56 — Uma sinalização positiva, mas insuficiente

No Brasil, o foco está no Relatório Trimestral de Inflação, divulgado hoje cedo. Este relatório segue a divulgação da prévia da inflação de junho, que ficou abaixo das expectativas — o IPCA-15 aumentou 0,39% no mês, acumulando uma alta de 4,10% nos últimos 12 meses, uma aceleração anual menor do que a prevista.

Vale destacar que, apesar dessa moderação no índice de preços, o dia foi desfavorável para os mercados de juros e câmbio, impactados pelas declarações recentes do presidente Lula.

Estabelecer uma meta contínua de inflação de 3% para um horizonte de 12 meses é positivo, sem dúvida, mas será insuficiente se a retórica do governo não evoluir.

O principal desafio do Brasil, conforme discutido anteriormente, é de natureza fiscal, não monetária. Atualmente, enfrentamos um déficit primário de aproximadamente US$ 61 bilhões em maio, o segundo pior resultado para o mês desde o início da série histórica em 1997, principalmente devido aos gastos da Previdência Social, que necessita urgentemente de uma nova reforma.

Nos últimos 12 meses, esse déficit representa 2,36% do Produto Interno Bruto (PIB), mesmo com a meta do governo de zerar o déficit este ano. A situação fiscal é nitidamente grave e preocupante.

Para reverter a tendência negativa dos ativos nacionais, serão necessárias medidas fiscais concretas, críveis e viáveis. Pequenos sinais positivos não serão suficientes para uma recuperação real.

A situação é agravada pelo adiamento do relatório final da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 para depois do recesso parlamentar, destacando a urgência de ações efetivas. O tempo é um fator crítico neste cenário.

· 01:47 — O ponto ótimo

Nos EUA, o S&P 500 fechou ontem em alta de 0,2%, enquanto o Nasdaq Composite, focado em tecnologia, subiu 0,5%. Isso aconteceu em meio a novos dados do Departamento de Comércio indicando uma queda nas vendas de novas residências unifamiliares em maio. As vendas caíram 11,3% em relação a abril, alcançando uma taxa ajustada sazonalmente de 619 mil, abaixo da expectativa de 647,5 mil.

O desafio agora é encontrar um equilíbrio entre uma desaceleração saudável e evitar uma recessão. Dados econômicos fracos são importantes para justificar um corte de juros em setembro, mas uma economia excessivamente enfraquecida aumenta o temor de uma recessão. Portanto, é crucial monitorar a terceira e última estimativa do crescimento do PIB do primeiro trimestre dos EUA, que deve ser divulgada hoje.

A expectativa é que o PIB tenha crescido a uma taxa anual ajustada sazonalmente de 1,3%, sem mudanças em relação à estimativa anterior. Além disso, teremos a divulgação do relatório de bens duráveis e do Índice de Vendas Pendentes de Casas.

· 02:31 — Quem fala mais?

O presidente Joe Biden passou os últimos dias isolado em Camp David, se preparando intensamente para o debate desta noite, quinta-feira, com Donald Trump. Uma preocupação central para a equipe de Biden são as questões sobre sua idade.

Como muitos lembram, os debates de 2020 foram caóticos. Embora ambos os candidatos sejam mais velhos, Trump tem mostrado uma energia recente que contrasta com alguns momentos embaraçosos de Biden, capturados em vídeos.

O objetivo de Biden no debate será demonstrar que está apto para mais quatro anos no cargo. Embora ele tenha tido um bom desempenho no State of the Union deste ano, esse era um discurso preparado e lido.

O debate é um desafio diferente, onde qualquer deslize pode ser politicamente desastroso, aprofundando a chance de Trump ganhar a corrida.

Até agora, os investidores não têm dado muita atenção às eleições americanas, e por bons motivos. Historicamente, os anos de eleições presidenciais são geralmente positivos para os mercados. Desde 1952, o S&P 500 registrou um retorno médio de 7% durante anos eleitorais. Quando o presidente em exercício busca a reeleição, essa média sobe para 12,2%. Este ano, o índice já superou significativamente essas médias.

Então, por que este ciclo eleitoral é diferente dos anteriores? Os ganhos tendem a ser mais elevados quando os presidentes em exercício concorrem à reeleição, provavelmente porque os investidores buscam estabilidade.

Esta eleição é particularmente única porque é a primeira desde 1892 em que os candidatos dos dois principais partidos já ocuparam a Casa Branca. Se a presença de um ex-titular reduz a incerteza, a de dois ex-titulares reduz ainda mais.

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· 03:29 — Outra eleição no velho continente

Tenho falado bastante ultimamente sobre as eleições na França, marcadas para este final de semana (primeiro turno).

No entanto, não podemos esquecer que o Reino Unido também enfrentará sua eleição nos próximos dias.

O primeiro-ministro conservador Rishi Sunak e Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista, se enfrentarão nas eleições gerais britânicas em 4 de julho. Sunak é o quinto primeiro-ministro em 14 anos de governo conservador. Ele convocou as eleições no mês passado, sabendo que teria que fazê-lo antes do final do ano, esperando se beneficiar de notícias positivas sobre a queda da inflação. Mas isso não aconteceu.

Starmer, por sua vez, é um advogado de direitos humanos que se tornou político e, nos últimos quatro anos, transformou o Partido Trabalhista de uma postura muito esquerdista para uma mais centrista.

Sunak, cuja campanha está atrás do Partido Trabalhista por dois dígitos nos últimos seis meses, parece ter falhado em sua tentativa de capitalizar os ganhos recentes da economia. No entanto, não colocaria toda a culpa nele, já que ele é um primeiro-ministro competente.

Os problemas começaram antes, com a confusão do Brexit, os escândalos de Boris Johnson e a desastrosa (e breve) gestão de Liz Truss. Starmer provavelmente se tornará primeiro-ministro do Reino Unido, mas o mercado não vê isso com maus olhos. No limite, ele é visto como um Tony Blair com bem menos carisma. Sem grande mudança na economia no horizonte.

· 04:15 — Os golpistas bolivianos desistiram do golpe de Estado depois que descobriram que teriam que governar… a Bolívia!

Ontem, a América Latina viveu mais um episódio de tensão, algo que tem sido frequente nos últimos tempos. O ex-comandante-geral do Exército da Bolívia, Juan José Zúñiga, atualmente preso, fez um pronunciamento inflamado, exigindo a formação de um novo governo e declarando que a Bolívia “não pode continuar assim”. Esse pronunciamento ocorreu poucas horas após sua demissão. Durante uma transmissão ao vivo, Zúñiga afirmou que tomaria “todas as medidas necessárias” para impedir o possível retorno de Evo Morales à presidência, uma possibilidade ainda incerta.

Zúñiga mobilizou algumas unidades militares e ocupou a Plaza Murillo em La Paz, onde fica o palácio presidencial. O atual presidente, Lucho Arce, confrontou Zúñiga pessoalmente. Em seguida, os militares recuaram e abandonaram a tentativa de golpe, cientes da falta de apoio político local e internacional a Zúñiga. Esse incidente não tem relação com teorias conspiratórias envolvendo o lítio boliviano ou Elon Musk, que circulam nas redes sociais. Na verdade, a Bolívia tem uma longa história de insurreições militares, com variados graus de sucesso, como evidenciado pelo fracasso de ontem. Esses episódios são lamentáveis e reforçam uma imagem negativa da América Latina, desafiando a ideia de que somos um continente pacífico.

· 05:03 — A notícia que tanto esperávamos?

Há tempos venho apontando a Cosan (CSAN3) como uma opção de investimento promissora. Essa holding brasileira, que opera em uma variedade de setores de infraestrutura, enfrentou recentemente desafios que depreciaram suas ações em cerca de 30%.

Contudo, perspectivas de recuperação começam a surgir, especialmente com o planejado IPO de suas subsidiárias, Moove e Compass, que são cruciais para atenuar este desconto.

Recentemente, este potencial começou a se concretizar com o anúncio da possibilidade de IPO da Moove nos Estados Unidos, um movimento que reacendeu o debate sobre a solidez de Cosan como investimento.

Então, mesmo com essas novidades, ainda vale a pena manter as ações da Cosan?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.