Investimentos

EUA divulga índice de preços ao produtor nesta quinta (13), após Fed reiterar a possibilidade de dois cortes de juros ainda em 2024

A agenda europeia inclui os preços atacadistas alemães de maio e declarações de membros do BCE.

Por Matheus Spiess

13 jun 2024, 09:28 - atualizado em 13 jun 2024, 09:28

Mercado em 5 minutos - temores bancários
Imagem: Freepik

Bom dia, pessoal. Os mercados globais apresentam comportamentos variados nesta manhã. Na Ásia, onde o pregão já se encerrou, o dia foi positivo para os ativos de risco, que subiram acompanhando o movimento das ações americanas.

Esse otimismo persistiu mesmo após o Federal Reserve (Fed) reduzir suas expectativas de cortes nas taxas de juros para este ano. O impulso positivo deve-se, em grande parte, ao dado de inflação americana, que veio abaixo do esperado em um contexto em que o Fed se mostra dependente de dados.

Além disso, o presidente do Fed, Jerome Powell, reiterou a possibilidade de dois cortes de juros ainda este ano em sua coletiva de imprensa, apesar da expectativa predominante do comitê ser de apenas um corte.

Após a divulgação do índice de preços ao consumidor nos EUA, hoje será a vez dos preços ao produtor. Embora este dado tenha uma função mais complementar, ele pode reforçar o sentimento de que a inflação está finalmente convergindo para um nível mais saudável, próximo da meta informal do Fed.

Por outro lado, os mercados europeus corrigem nesta manhã, pois estavam fechados ontem durante a conclusão do comitê de política monetária nos EUA.

A agenda europeia inclui os preços atacadistas alemães de maio e declarações de membros do BCE. Como esperado, a União Europeia impôs mais impostos aos seus consumidores, desta vez direcionados aos veículos elétricos chineses.

O Brasil, por sua vez, segue sua própria dinâmica.

A ver…

· 00:56 — O que resta ao governo?

Nesta semana, o cenário financeiro local foi marcado por quedas acentuadas em nossos ativos, contrastando com a tendência positiva global impulsionada pela inflação ao consumidor nos EUA, que veio abaixo do esperado.

O Ibovespa caiu 1,40%, ficando abaixo dos 120 mil pontos, refletindo as preocupações de que o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, até então visto como o principal articulador das políticas econômicas e uma voz racional dentro do PT, está perdendo influência para a ala política (Rui Costa e cia). Uma verdadeira fritura bem executada.

O Brasil, que antes se beneficiava da expectativa de queda dos juros nos EUA, agora enfrenta desafios internos críticos. Haddad apresentou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva medidas essenciais de contenção fiscal, mas parece haver resistência do presidente em adotá-las, apesar da urgência em controlar os gastos públicos. Sem essa contenção, nosso já fragilizado quadro fiscal corre o risco de colapsar.

Ontem, as principais propostas de Haddad — desvincular os benefícios temporários do INSS do salário mínimo e os gastos obrigatórios com saúde e educação do aumento das receitas — foram rejeitadas pela ministra Simone Tebet.

Para piorar, em um evento no Rio de Janeiro, o presidente Lula criticou a compensação pela desoneração da folha de pagamento, alfinetando diretamente Haddad, e reiterou que o aumento da arrecadação, impulsionado pelo crescimento econômico e pela queda dos juros, permitiria a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público.

No entanto, o ajuste fiscal focado apenas no aumento da arrecadação parece ter atingido seu limite, como evidenciado pela rejeição recente pelo Congresso da Medida Provisória do PIS/Cofins.

Estamos em um ponto crítico: ou o governo cede e começa a revisar os gastos, ou corre o risco de romper o arcabouço, colocando Brasília em uma trajetória semelhante à crise de 2015. Esse cenário poderia rapidamente transformar o governo Lula III em uma repetição do governo Dilma II, cujo desfecho já conhecemos. Enquanto Haddad permanecer isolado, as perspectivas de melhora no ambiente continuarão baixas.

· 01:48 — “Hawk” pero no mucho

Nos EUA, o pregão de ontem começou com uma inflação abaixo do esperado, alimentando as expectativas dos investidores para dois cortes de juros ainda este ano.

O índice de preços ao consumidor manteve-se quase estável em maio, subindo apenas 0,00575%, em comparação com a previsão consensual de um aumento de 0,1%. Isso elevou o aumento anual para 3,3%.

O otimismo resultante fez com que os índices S&P e Nasdaq renovassem suas máximas históricas no fechamento, além de impulsionar a Apple, que retomou o posto de empresa mais valiosa do mundo ao ultrapassar a Microsoft, após revelar seus planos de IA.

Apesar de um início de dia promissor, restava a conclusão do Comitê Federal de Mercado Aberto. E ela veio rigorosa (“hawkish”), como esperado. Confesso que até mais do que o previsto. Os membros optaram por manter inalterada a taxa de juros entre 5,25% e 5,5% na sua sétima reunião consecutiva, o nível mais alto em 23 anos. Sem surpresas até aqui. O comunicado foi conservador e cauteloso. Novamente, sem grandes novidades. A mudança significativa veio no Sumário de Projeções Econômicas, que reúne as opiniões dos membros do comitê. Eles não só elevaram as expectativas de inflação, como também passaram a prever apenas um corte este ano (ainda há quem acredite em dois cortes, mas essa visão não é mais majoritária, embora a divisão seja pequena).

Isso é desfavorável para o mercado, mas não significa que não possa mudar, como o próprio presidente do Fed, Jerome Powell, deixou claro em sua coletiva. Se os dados entre junho e agosto permitirem, podemos ver dois cortes ainda, um em setembro e outro em dezembro, ambos de 25 pontos-base. Esse seria o melhor cenário daqui para frente e poderia melhorar o desempenho dos mercados emergentes no segundo semestre.

· 02:35 — A imigração

Os EUA são, inegavelmente, uma nação de imigrantes, mas suas origens e as leis que regulam a entrada de pessoas mudaram significativamente nos últimos 150 anos. Uma questão fundamental para as perspectivas econômicas dos EUA após as eleições de novembro é o impacto contínuo do aumento da imigração, que tem contribuído para os ganhos de emprego e a robustez da economia. O Goldman Sachs, por exemplo, aponta que, se Donald Trump vencer, haverá uma ampla gama de resultados potenciais. Trump prometeu medidas ainda mais drásticas do que as recentemente adotadas pelo presidente Joe Biden para restringir o número de requerentes de asilo, incluindo deportações em massa.

Embora esses planos enfrentem desafios legais e logísticos, como a resistência de algumas agências governamentais estaduais e locais, além de empregadores, já sinalizam uma direção clara. No cenário mais otimista, a imigração poderia continuar acima da tendência, atingindo 1,5 milhão em 2025. No cenário mais pessimista, poderia cair abaixo da média de 700 mil entre 2017 e 2019, mas é improvável que a imigração líquida seja negativa anualmente. À medida que se aproximam as eleições de 2024, a imigração se destaca como uma das questões mais importantes e polarizadoras na vida americana.

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· 03:29 — Projetos megalomaníacos

A fala de Lula ontem ocorreu durante um evento promovido pelo Future Investment Initiative Institute, uma organização sem fins lucrativos vinculada ao poderoso Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita (PIF), que possui investimentos na ordem de US$ 925 bilhões. Certamente, um país com tantos recursos possui inúmeros projetos em andamento, e eles não estão perdendo tempo. As iniciativas variam desde um arranha-céu de 170 quilômetros de extensão no meio do deserto até uma cidade inteligente linear. É sobre este último ponto que quero comentar.

Neom, o megadesenvolvimento futurista planejado pela Arábia Saudita, está enfrentando alguns obstáculos em seu caminho. Engenheiros, arquitetos e executivos estão lidando com custos crescentes e tarefas aparentemente impossíveis ao tentar construir dois arranha-céus, cada um com a extensão de Delaware e a altura do Empire State Building. Os planos iniciais previam que 1,5 milhão de residentes se mudassem para a primeira fase do projeto até 2030, mas de acordo com os executivos da Neom, é mais provável que esse número fique entre 200 mil e 300 mil.

Além disso, os custos excessivos e os atrasos na construção são agravados pela necessidade de mais infraestrutura para acomodar os 100 mil trabalhadores no local. No fundo, Neom simboliza a tentativa do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman de diversificar a economia da Arábia Saudita, afastando-a do petróleo e impulsionando o turismo. No entanto, o custo total, que deve superar os 2 trilhões de dólares quando concluído, pode ser muito elevado, mesmo para um dos maiores exportadores de petróleo do mundo.

· 04:12 — Ajuda do G7 e mais sanções 

Lula partiu para a Europa para participar de um encontro da Organização Internacional do Trabalho em Genebra e da cúpula do G7 na Itália. E é sobre o G7 que quero comentar. Os líderes do Grupo dos Sete devem chegar a um acordo político para fornecer à Ucrânia 50 bilhões de dólares em ajuda, utilizando os lucros gerados pelos ativos soberanos russos congelados. Isso mesmo, eles planejam usar as reservas russas – apenas os juros pagos com os investimentos, não o principal. A ideia é proteger a Ucrânia no caso de uma vitória de Trump, que já prometeu cessar a ajuda que Biden tem fornecido.

No entanto, os detalhes técnicos do acordo ainda precisam ser finalizados após a cúpula. Ao mesmo tempo, a administração do presidente Joe Biden está expandindo o uso de sanções secundárias para restringir a venda de semicondutores e outros bens para a Rússia, visando vendedores terceiros na China e em outros lugares, numa tentativa de sufocar ainda mais a guerra de Vladimir Putin. Além disso, autoridades norte-americanas alertam que um número crescente de adversários, liderados pela Rússia, está tentando influenciar as eleições presidenciais de 2024 através de empresas comerciais contratadas e do uso de inteligência artificial generativa.

· 05:04 — Valeu a pena vender relativamente “barato”?

Nesta semana, a Eletrobras (ELET6), uma recomendação já apresentada neste espaço, juntamente com suas subsidiárias Eletronorte e Furnas, finalizou a venda de seu portfólio de ativos termoelétricos para o grupo Âmbar Energia. A transação totalizou R$ 4,7 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões foram pagos à vista e R$ 1,2 bilhão por meio de earn-outs, que são pagamentos condicionados ao cumprimento de metas de desempenho. O acordo abrange todos os ativos termoelétricos operacionais da Eletrobras, incluindo 12 usinas térmicas e um projeto adicional, totalizando uma capacidade instalada de 2,06 gigawatts. A dúvida: valeu a pena?

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.