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EUA e Colômbia fecham acordo, IA chinesa balança Vale do Silício e mais: veja destaques da semana

Uma nova ferramenta de IA desenvolvida por startup chinesa em rivalidade com o ChatGPT balançou Big Techs. Leia mais.

Por Matheus Spiess

27 jan 2025, 09:34 - atualizado em 27 jan 2025, 09:34

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Imagem: iStock/ traffic_analyzer

Se você pensou que Donald Trump ficaria menos presente no nosso dia a dia após o intenso destaque de sua posse na semana passada, você pensou errado. Apesar do tom menos agressivo na prática — ainda que não necessariamente na retórica — nos dias subsequentes à posse, o fim de semana deixou claro que o presidente americano não está para brincadeiras.

A imposição de uma tarifa de 25% à Colômbia, em resposta à recusa do país em aceitar o voo de deportação de imigrantes, foi um movimento ousado que já rendeu frutos para Trump. O recuo quase imediato do governo colombiano mostrou que a estratégia de pressão máxima surtiu efeito.

Enquanto isso, do outro lado do mundo, os chineses também estão mostrando que não estão para brincadeiras. O lançamento de uma nova ferramenta de inteligência artificial generativa pela startup DeepSeek, rival direta do ChatGPT, está sob os holofotes. A inovação tecnológica chinesa está causando um impacto direto no pre-market, derrubando as ações das principais empresas de tecnologia. É um dos eventos mais relevantes do dia, indicando que a disputa pela liderança em IA será acirrada.

Para complicar ainda mais o cenário, a liquidez dos mercados globais está reduzida nesta semana por conta do feriado do Ano Novo Lunar na China. Além disso, os próximos dias serão cheios de eventos importantes: nos Estados Unidos, a temporada de resultados corporativos ganha força, com grandes nomes do setor de tecnologia apresentando seus balanços nos próximos dias. Também teremos dados cruciais de inflação e atividade econômica que poderão influenciar as expectativas do mercado sobre a trajetória de juros. E falando no Federal Reserve, a pausa no ciclo de flexibilização monetária parece iminente, adicionando mais tensão ao panorama econômico global. Prepare-se, porque a semana promete ser tudo, menos tranquila.

· 00:52 — Será que eles vão dobrar a aposta?

No Brasil, com Brasília presa em ruídos e testes de balão de ensaio sem substância, seguimos reféns do cenário internacional. Felizmente, o câmbio encontrou algum alívio nesse contexto, mas a mesma sorte não se aplicou à Bolsa e aos juros. Ambos sofreram com a ressaca deixada pela polêmica envolvendo o PIX, que desestabilizou o governo, e pelo perigoso flerte com medidas heterodoxas para conter os preços dos alimentos. Quando o ministro da Casa Civil precisa ir a público negar rumores sobre intervenções como subsídios à produção, controle de preços ou até mesmo prorrogação de validade dos alimentos, já fica claro que há uma grave falha de credibilidade — situações como essa nem deveriam precisar ser desmentidas.

A prévia da inflação divulgada na sexta-feira (24) apenas reforçou que o cenário tende a piorar. O IPCA-15 registrou alta de 0,11% em janeiro, enquanto o mercado esperava queda de 0,01%. No acumulado de 12 meses, o índice está em 4,5%. Qualitativamente, o quadro foi ainda mais preocupante: os núcleos de inflação mostram tendência de aceleração e a difusão alcançou alarmantes 70%. E isso com fatores temporariamente positivos, como o pagamento do bônus de Itaipu e a bandeira tarifária verde em dezembro. Sem alternativa, o BC precisará continuar subindo os juros.

Nesta quarta-feira, o Copom deve elevar a Selic em 100 pontos-base e, possivelmente, já sinalizar novos aumentos, não apenas para março, mas também para maio. O problema é que a política monetária sozinha não será suficiente para conter a inflação. É fundamental que o governo assuma sua responsabilidade no campo fiscal. No entanto, essa disposição parece incerta, especialmente diante da confirmação de que a aprovação de Lula caiu 5 pontos, para 47%, enquanto a desaprovação subiu para 49%.

Para piorar, o Ministério da Fazenda esclareceu que o ministro Fernando Haddad não pretende apresentar propostas concretas nos próximos dias para tranquilizar o mercado. Este é um péssimo sinal. A grande preocupação é que, em vez de adotar medidas estruturais, o governo opte por dobrar a aposta em medidas paliativas ou populistas. Caso isso aconteça, o cenário pode se deteriorar ainda mais.

Por outro lado, esse ambiente tumultuado reforça a possibilidade de um reposicionamento político em 2026. O desgaste crescente da atual administração e a perda de credibilidade abrem caminho para um pêndulo político que favoreça um governo mais pró-mercado e fiscalmente responsável. Resta saber se a oposição será capaz de se organizar ao redor de um nome viável e evitar erros que comprometam essa oportunidade de alternância no poder. Lembrem-se: 2025 é apenas uma ponte.

· 01:41 — Pressão americana

Nos Estados Unidos, os mercados encerraram a semana passada em alta, impulsionados por um Donald Trump mais moderado do que se temia em relação às tarifas e pela força da temporada de resultados corporativos, que continua positiva até aqui. Grandes nomes como Microsoft (MSFT34), Meta Platforms (M1TA34), Tesla (TSLAC34) e Apple (AAPL34) estão entre os mais aguardados nos próximos dias. No entanto, o clima desta segunda-feira é de tensão.

O índice VIX, conhecido como o “medidor do medo” de Wall Street, disparou 33,20%, ultrapassando a marca de 19 pontos. O aumento reflete a apreensão dos investidores diante da notícia de que a DeepSeek, da China, desenvolveu um modelo de aprendizado de linguagem de código aberto com desempenho equivalente ao GPT-4, mas com menor necessidade de poder computacional — um movimento que pode abalar a hegemonia tecnológica dos EUA. Algo ainda a ser testado.

Além disso, os investidores estão atentos aos resultados corporativos, aos dados de inflação e atividade econômica, e, principalmente, à decisão de política monetária do Federal Reserve nesta semana. O consenso é de que o Fed pausará o ciclo de flexibilização, mas a grande questão é se o comunicado trará sinais de novos cortes de juros ainda em 2025. Minha aposta é que a sinalização será positiva, o que pode ajudar a reduzir as incertezas e reacender o otimismo nos mercados.

· 02:37 — O DeepSeek

Os futuros do Nasdaq 100 despencam nesta manhã, refletindo as crescentes preocupações de que os modelos de inteligência artificial da startup chinesa DeepSeek possam abalar o domínio tecnológico dos Estados Unidos. O foco dos investidores está no potencial impacto que essa novidade pode ter sobre as avaliações elevadas do Vale do Silício. Marc Andreessen, renomado investidor e ex-engenheiro de software, classificou o lançamento do modelo R1 da DeepSeek como um dos avanços mais impressionantes e significativos da tecnologia recente — o modelo já se tornou o aplicativo mais popular nas paradas de downloads do iPhone.

A DeepSeek foi fundada em 2023 por Liang Wenfeng, ex-gestor de hedge fund chinês, com a ambiciosa missão de tornar a Inteligência Artificial Geral (AGI) uma realidade — um objetivo similar ao da OpenAI. Este avanço surge em um momento em que a Meta Platforms, controladora do Facebook, anunciou um investimento de até US$ 65 bilhões em inteligência artificial ao longo deste ano. O montante será destinado à construção de um novo data center gigante e ao fortalecimento das equipes de IA, consolidando sua aposta em um setor que tem gerado enorme entusiasmo no mercado.

Embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas sobre a profundidade e eficácia do modelo, o desenvolvimento já lança dúvidas sobre as vencedoras até agora consolidadas nesta corrida tecnológica, cujas ações experimentaram uma valorização exponencial desde 2023. Por um lado, um modelo mais acessível e eficiente poderia revolucionar a produtividade com custos reduzidos. Por outro, isso pode representar uma disrupção para empresas estabelecidas, cujos valuations estão esticados.

Por isso, este é um tema que exige monitoramento atento por parte dos investidores. A chegada de um novo player de peso no setor de inteligência artificial não apenas reconfigura o cenário competitivo, mas também pode colocar em xeque os valuations exuberantes de empresas norte-americanas que têm liderado o mercado até agora.

· 03:23 — Humilhação

Uma breve, mas significativa, crise diplomática entre os Estados Unidos e a Colômbia eclodiu no domingo (26), quando o presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas e outras sanções ao país sul-americano. O estopim foi a resistência do presidente colombiano, Gustavo Petro, aos planos de deportação de migrantes promovidos por Trump. No entanto, ao longo do dia, a Colômbia acabou cedendo às exigências americanas, evitando assim uma guerra comercial que poderia ser desastrosa para sua economia.

O episódio marcou uma humilhação pública para Petro, que já enfrenta uma popularidade em queda livre e vê sua reeleição em 2026 cada vez mais improvável. Este caso reforça a tese de uma mudança no pêndulo político, com a rejeição de governos incumbentes e uma guinada em direção a lideranças mais pró-mercado.

Além disso, o episódio deve servir como um alerta valioso para o governo brasileiro: desafiar diretamente o governo Trump em questões delicadas pode ser uma estratégia de alto risco. Como ficou evidente com a Colômbia, resistir publicamente às pressões do presidente americano pode resultar em consequências econômicas severas e rápidas. Trata-se de um momento em que o equilíbrio e a diplomacia devem ser priorizados para evitar desgastes desnecessários e potenciais crises comerciais.

· 04:18 — Vai sair?

Na semana passada, em Davos, o presidente da Argentina, Javier Milei, fez uma declaração que chamou atenção ao afirmar que deseja “Tornar o Ocidente Grande Novamente”, em uma evidente adaptação do famoso slogan de Donald Trump. A fala ocorreu após sua participação na posse do presidente americano e veio acompanhada de uma sinalização contundente: a Argentina poderia considerar deixar o Mercosul caso isso fosse necessário para viabilizar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Ainda assim, Milei enfatizou que sua intenção é buscar um consenso sem recorrer a medidas tão extremas.

Embora a possibilidade de uma saída argentina do bloco sul-americano pareça improvável — até porque o impacto econômico de tal decisão seria questionável para o país —, o posicionamento de Milei reflete uma tendência mais ampla no cenário internacional. O multilateralismo, outrora dominante, está perdendo espaço para abordagens mais bilateralistas e pragmáticas, onde parcerias específicas e estratégicas têm maior apelo do que compromissos amplos e muitas vezes engessados de blocos regionais.

Essa postura também reforça o alinhamento de Milei com líderes conservadores e pró-mercado, como Trump, e aponta para uma mudança no equilíbrio diplomático da região. A Argentina, sob sua liderança, parece disposta a romper paradigmas tradicionais da política externa sul-americana em busca de maior protagonismo e melhores condições econômicas em suas relações comerciais. O que está claro, contudo, é que o bilateralismo está ganhando força como a nova regra do jogo global, deixando o multilateralismo em segundo plano.

· 05:05 — Surpreendeu

Na semana passada, a Novo Nordisk registrou sua maior valorização desde agosto de 2023, após divulgar resultados promissores de sua injeção experimental para perda de peso. O medicamento, ainda em estágio inicial de testes, demonstrou ser capaz de proporcionar até 22% de redução no peso dos participantes, colocando a farmacêutica novamente em destaque na acirrada competição pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para obesidade.

Em resposta, as ações da Novo Nordisk saltaram até 14%, revertendo parcialmente uma queda de quase 20% acumulada nos últimos 12 meses. Por outro lado, a rival Eli Lilly viu seus papéis recuarem diante do impacto da notícia.

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.