
Imagem: iStock/ traffic_analyzer
Se você pensou que Donald Trump ficaria menos presente no nosso dia a dia após o intenso destaque de sua posse na semana passada, você pensou errado. Apesar do tom menos agressivo na prática — ainda que não necessariamente na retórica — nos dias subsequentes à posse, o fim de semana deixou claro que o presidente americano não está para brincadeiras.
A imposição de uma tarifa de 25% à Colômbia, em resposta à recusa do país em aceitar o voo de deportação de imigrantes, foi um movimento ousado que já rendeu frutos para Trump. O recuo quase imediato do governo colombiano mostrou que a estratégia de pressão máxima surtiu efeito.
Enquanto isso, do outro lado do mundo, os chineses também estão mostrando que não estão para brincadeiras. O lançamento de uma nova ferramenta de inteligência artificial generativa pela startup DeepSeek, rival direta do ChatGPT, está sob os holofotes. A inovação tecnológica chinesa está causando um impacto direto no pre-market, derrubando as ações das principais empresas de tecnologia. É um dos eventos mais relevantes do dia, indicando que a disputa pela liderança em IA será acirrada.
Para complicar ainda mais o cenário, a liquidez dos mercados globais está reduzida nesta semana por conta do feriado do Ano Novo Lunar na China. Além disso, os próximos dias serão cheios de eventos importantes: nos Estados Unidos, a temporada de resultados corporativos ganha força, com grandes nomes do setor de tecnologia apresentando seus balanços nos próximos dias. Também teremos dados cruciais de inflação e atividade econômica que poderão influenciar as expectativas do mercado sobre a trajetória de juros. E falando no Federal Reserve, a pausa no ciclo de flexibilização monetária parece iminente, adicionando mais tensão ao panorama econômico global. Prepare-se, porque a semana promete ser tudo, menos tranquila.
· 00:52 — Será que eles vão dobrar a aposta?
No Brasil, com Brasília presa em ruídos e testes de balão de ensaio sem substância, seguimos reféns do cenário internacional. Felizmente, o câmbio encontrou algum alívio nesse contexto, mas a mesma sorte não se aplicou à Bolsa e aos juros. Ambos sofreram com a ressaca deixada pela polêmica envolvendo o PIX, que desestabilizou o governo, e pelo perigoso flerte com medidas heterodoxas para conter os preços dos alimentos. Quando o ministro da Casa Civil precisa ir a público negar rumores sobre intervenções como subsídios à produção, controle de preços ou até mesmo prorrogação de validade dos alimentos, já fica claro que há uma grave falha de credibilidade — situações como essa nem deveriam precisar ser desmentidas.
A prévia da inflação divulgada na sexta-feira (24) apenas reforçou que o cenário tende a piorar. O IPCA-15 registrou alta de 0,11% em janeiro, enquanto o mercado esperava queda de 0,01%. No acumulado de 12 meses, o índice está em 4,5%. Qualitativamente, o quadro foi ainda mais preocupante: os núcleos de inflação mostram tendência de aceleração e a difusão alcançou alarmantes 70%. E isso com fatores temporariamente positivos, como o pagamento do bônus de Itaipu e a bandeira tarifária verde em dezembro. Sem alternativa, o BC precisará continuar subindo os juros.
Nesta quarta-feira, o Copom deve elevar a Selic em 100 pontos-base e, possivelmente, já sinalizar novos aumentos, não apenas para março, mas também para maio. O problema é que a política monetária sozinha não será suficiente para conter a inflação. É fundamental que o governo assuma sua responsabilidade no campo fiscal. No entanto, essa disposição parece incerta, especialmente diante da confirmação de que a aprovação de Lula caiu 5 pontos, para 47%, enquanto a desaprovação subiu para 49%.
Para piorar, o Ministério da Fazenda esclareceu que o ministro Fernando Haddad não pretende apresentar propostas concretas nos próximos dias para tranquilizar o mercado. Este é um péssimo sinal. A grande preocupação é que, em vez de adotar medidas estruturais, o governo opte por dobrar a aposta em medidas paliativas ou populistas. Caso isso aconteça, o cenário pode se deteriorar ainda mais.
Por outro lado, esse ambiente tumultuado reforça a possibilidade de um reposicionamento político em 2026. O desgaste crescente da atual administração e a perda de credibilidade abrem caminho para um pêndulo político que favoreça um governo mais pró-mercado e fiscalmente responsável. Resta saber se a oposição será capaz de se organizar ao redor de um nome viável e evitar erros que comprometam essa oportunidade de alternância no poder. Lembrem-se: 2025 é apenas uma ponte.
· 01:41 — Pressão americana
Nos Estados Unidos, os mercados encerraram a semana passada em alta, impulsionados por um Donald Trump mais moderado do que se temia em relação às tarifas e pela força da temporada de resultados corporativos, que continua positiva até aqui. Grandes nomes como Microsoft (MSFT34), Meta Platforms (M1TA34), Tesla (TSLAC34) e Apple (AAPL34) estão entre os mais aguardados nos próximos dias. No entanto, o clima desta segunda-feira é de tensão.
O índice VIX, conhecido como o “medidor do medo” de Wall Street, disparou 33,20%, ultrapassando a marca de 19 pontos. O aumento reflete a apreensão dos investidores diante da notícia de que a DeepSeek, da China, desenvolveu um modelo de aprendizado de linguagem de código aberto com desempenho equivalente ao GPT-4, mas com menor necessidade de poder computacional — um movimento que pode abalar a hegemonia tecnológica dos EUA. Algo ainda a ser testado.
Além disso, os investidores estão atentos aos resultados corporativos, aos dados de inflação e atividade econômica, e, principalmente, à decisão de política monetária do Federal Reserve nesta semana. O consenso é de que o Fed pausará o ciclo de flexibilização, mas a grande questão é se o comunicado trará sinais de novos cortes de juros ainda em 2025. Minha aposta é que a sinalização será positiva, o que pode ajudar a reduzir as incertezas e reacender o otimismo nos mercados.
· 02:37 — O DeepSeek
Os futuros do Nasdaq 100 despencam nesta manhã, refletindo as crescentes preocupações de que os modelos de inteligência artificial da startup chinesa DeepSeek possam abalar o domínio tecnológico dos Estados Unidos. O foco dos investidores está no potencial impacto que essa novidade pode ter sobre as avaliações elevadas do Vale do Silício. Marc Andreessen, renomado investidor e ex-engenheiro de software, classificou o lançamento do modelo R1 da DeepSeek como um dos avanços mais impressionantes e significativos da tecnologia recente — o modelo já se tornou o aplicativo mais popular nas paradas de downloads do iPhone.
A DeepSeek foi fundada em 2023 por Liang Wenfeng, ex-gestor de hedge fund chinês, com a ambiciosa missão de tornar a Inteligência Artificial Geral (AGI) uma realidade — um objetivo similar ao da OpenAI. Este avanço surge em um momento em que a Meta Platforms, controladora do Facebook, anunciou um investimento de até US$ 65 bilhões em inteligência artificial ao longo deste ano. O montante será destinado à construção de um novo data center gigante e ao fortalecimento das equipes de IA, consolidando sua aposta em um setor que tem gerado enorme entusiasmo no mercado.
Embora ainda seja cedo para tirar conclusões definitivas sobre a profundidade e eficácia do modelo, o desenvolvimento já lança dúvidas sobre as vencedoras até agora consolidadas nesta corrida tecnológica, cujas ações experimentaram uma valorização exponencial desde 2023. Por um lado, um modelo mais acessível e eficiente poderia revolucionar a produtividade com custos reduzidos. Por outro, isso pode representar uma disrupção para empresas estabelecidas, cujos valuations estão esticados.
Por isso, este é um tema que exige monitoramento atento por parte dos investidores. A chegada de um novo player de peso no setor de inteligência artificial não apenas reconfigura o cenário competitivo, mas também pode colocar em xeque os valuations exuberantes de empresas norte-americanas que têm liderado o mercado até agora.
· 03:23 — Humilhação
Uma breve, mas significativa, crise diplomática entre os Estados Unidos e a Colômbia eclodiu no domingo (26), quando o presidente Donald Trump ameaçou impor tarifas e outras sanções ao país sul-americano. O estopim foi a resistência do presidente colombiano, Gustavo Petro, aos planos de deportação de migrantes promovidos por Trump. No entanto, ao longo do dia, a Colômbia acabou cedendo às exigências americanas, evitando assim uma guerra comercial que poderia ser desastrosa para sua economia.
O episódio marcou uma humilhação pública para Petro, que já enfrenta uma popularidade em queda livre e vê sua reeleição em 2026 cada vez mais improvável. Este caso reforça a tese de uma mudança no pêndulo político, com a rejeição de governos incumbentes e uma guinada em direção a lideranças mais pró-mercado.
Além disso, o episódio deve servir como um alerta valioso para o governo brasileiro: desafiar diretamente o governo Trump em questões delicadas pode ser uma estratégia de alto risco. Como ficou evidente com a Colômbia, resistir publicamente às pressões do presidente americano pode resultar em consequências econômicas severas e rápidas. Trata-se de um momento em que o equilíbrio e a diplomacia devem ser priorizados para evitar desgastes desnecessários e potenciais crises comerciais.
· 04:18 — Vai sair?
Na semana passada, em Davos, o presidente da Argentina, Javier Milei, fez uma declaração que chamou atenção ao afirmar que deseja “Tornar o Ocidente Grande Novamente”, em uma evidente adaptação do famoso slogan de Donald Trump. A fala ocorreu após sua participação na posse do presidente americano e veio acompanhada de uma sinalização contundente: a Argentina poderia considerar deixar o Mercosul caso isso fosse necessário para viabilizar um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Ainda assim, Milei enfatizou que sua intenção é buscar um consenso sem recorrer a medidas tão extremas.
Embora a possibilidade de uma saída argentina do bloco sul-americano pareça improvável — até porque o impacto econômico de tal decisão seria questionável para o país —, o posicionamento de Milei reflete uma tendência mais ampla no cenário internacional. O multilateralismo, outrora dominante, está perdendo espaço para abordagens mais bilateralistas e pragmáticas, onde parcerias específicas e estratégicas têm maior apelo do que compromissos amplos e muitas vezes engessados de blocos regionais.
Essa postura também reforça o alinhamento de Milei com líderes conservadores e pró-mercado, como Trump, e aponta para uma mudança no equilíbrio diplomático da região. A Argentina, sob sua liderança, parece disposta a romper paradigmas tradicionais da política externa sul-americana em busca de maior protagonismo e melhores condições econômicas em suas relações comerciais. O que está claro, contudo, é que o bilateralismo está ganhando força como a nova regra do jogo global, deixando o multilateralismo em segundo plano.
· 05:05 — Surpreendeu
Na semana passada, a Novo Nordisk registrou sua maior valorização desde agosto de 2023, após divulgar resultados promissores de sua injeção experimental para perda de peso. O medicamento, ainda em estágio inicial de testes, demonstrou ser capaz de proporcionar até 22% de redução no peso dos participantes, colocando a farmacêutica novamente em destaque na acirrada competição pelo desenvolvimento de soluções inovadoras para obesidade.
Em resposta, as ações da Novo Nordisk saltaram até 14%, revertendo parcialmente uma queda de quase 20% acumulada nos últimos 12 meses. Por outro lado, a rival Eli Lilly viu seus papéis recuarem diante do impacto da notícia.